— Não é possível — resmungou, passando os dedos pela nuca repentinamente e rodando no próprio eixo, encarando cada canto do apartamento.Alex o encarou, um pouco assustada, deixando de lado as frutas para prestar atenção no jogador, com anéis de guardanapo nas mãos e com os olhos verdes arregalados em sobressalto. — O que foi? — Seus olhos correram pelas mãos dele, buscando um corte improvável ou uma taça caída ao chão.— Eu não tenho uma lareira — ele falou irritado, olhando por toda a sala, como se encarar cada parede branca do cômodo fosse fazer uma lareira de pedras se materializar ali de repente.— Lareira? — Alexandria franziu o cenho para ele, estava, de fato, frio, mas o frio comum de Londres, o qual ambos já estavam adaptados. — Para que você quer uma lareira, Haus? Não me diga que pretende queimar marshmallows. Ele riu, não respondeu de imediato, ao invés disso, girou os calcanhares para pegar um conjunto de cinco tigelas cinzas de formatos irregulares num armário alto at
Teddy Tapper podia esperar qualquer coisa vinda de Alexandria pela manhã: um bom dia genérico e raso, um sorriso alegre, uma feição de mau humor, até mesmo uma grosseria que ele julgaria como gratuita por um momento antes de refletir o que tinha feito para merecer aquilo, só não conseguia esperar que, quando batesse na porta da filha, uma voz masculina de sotaque espanhol respondesse.— Pode entrar — disse o rapaz.Ele também não esperava ver Harry Zhao jogado no tapete ao lado da cama, ou Lauren Hummels, pelo menos não àquela hora, rabiscando um papel apoiado em uma prancheta rosa choque, muito menos Andrew Skögen nos pés da cama, onde Alexandria estava deitada nas pernas de Keegan Asper.Teddy parou por um segundo, encarando cada um dos seus jogadores ali e mantendo o olhar fixo em Harry por fim.— Vocês não deveriam estar indo para o CT? — perguntou sem uma nota de confusão na voz, mesmo que o semblante parecesse extremamente chocado.— Não se preocupe, Sr. Tapper. Estaremos lá no
Uma daquelas estações culturais estava sintonizada, daquelas que te dão dicas do que ver no cinema ou teatro, citam frases famosas e te forçam a pensar num dilema moral durante todo o dia. Havia uma música clássica tocada por saxofone preenchendo a cozinha e, assim que ela acabou, um radialista com voz grave anunciou a frase daquela manhã.“Com o amor consegue-se viver mesmo sem felicidade.” Outra música antiga voltou a tocar e Andrew ergueu os olhos para Harry na mesma hora, os dois estavam sorrindo, como se compartilhassem um segredo. — Isso é… — Drew começou a falar, com o rosto corando. — Dostoievski — Harry completou — Eu sei, meu amor. Eu sou capaz de identificar cada frase dele só por sua causa. Vocês dois me mudaram no primeiro dia que eu te vi. — E foi assim que eu conheci seu pai, jovem Regie — Keegan imitou a voz de um idoso, olhando para o nada e acariciando os cabelos de uma criança imaginária.— Regie? — Andrew tinha um semblante desgostoso no rosto.— É o nome do Elt
”As mulheres querem saber se o jogador favorito delas está bonito, Alex.”Alexandria bateu a porta do escritório da equipe de marketing quando Carl completou a frase, ignorando os insistentes chamados de Cole pelo seu nome. Estava cada dia mais próxima de surtar e pedir demissão, e para confirmar a teoria de que “nada é tão ruim que não possa piorar”, quando virou o corredor para subir até sua sala e se trancar lá pelo resto do dia, sentiu seu corpo se chocar com outro vindo na direção contrária.— Eu sinto muito. — A voz de Christian Peña ecoou em seu ouvido antes que ela pudesse se desvencilhar dos braços dele que a seguraram. — Alex? O que aconteceu?Alexandria o empurrou para longe de si. Não queria mais sentir o toque dele em seu corpo, mesmo que acidental.Estava com raiva da equipe de marketing e, mesmo que estivesse indo muito bem com a tarefa de pensar o mínimo possível em Christian Peña, estava com raiva dele. — Não é da sua conta — respondeu rude.— Cariño… — sua voz era d
— A minha mãe quer que eu faça uma merda de aula de valsa — a voz nasalada de Tony DuBois fez Andrew rolar os olhos. — Agora me diz, para que porra? Para a menininha que ela chama de “professor” ter uma desculpa para passar a mão em mim?Jaden viu quando Andrew fez uma careta de nojo e começou a bater os pés no chão, inquieto. Se sentia péssimo desde a última vez que conversaram e sabia que era tudo culpa sua. Ele não queria julgar o amigo, ele amava Andrew do jeito que era, mas se sentia completamente imbecil por não ter sido capaz de falar aquilo quando o norueguês precisou.— Eu acho que uma mulher não tocaria em você nem que ela fosse paga para isso, imagina um cara tendo, sei lá, Luke Evans e Ricky Martin como exemplo de beleza. — Jaden Ramsey falou sem levantar do banco em que estava sentado. — Acha mesmo que você seria atraente para ele?— Ficou ofendidinho, Ramsey? Sua namorada sabe que você tem apreço pelos…— Escolhe as próximas palavras com muito cuidado, Tony — ele levanto
— Eu preciso da sua ajuda — Harry Zhao se aproximou de Alex, concentrada demais nas fotos que tirava de Tommy e seu novo cabelo, ainda mais loiro, para virar e encarar o egípcio. Alexandria assentiu sem tirar os olhos do belga que treinava seus chutes a gol na marca do pênalti. Harry se manteve calado por alguns segundos, o suficiente para a curiosidade da fotógrafa fazê-la abandonar a câmera pendurada pelas alças em seu pescoço e virar para o jogador. — É só falar — ela sorriu como se incentivasse ele a continuar.— Eu preciso da sua ajuda para sair do armário — ele sussurrou, olhando ao redor a cada palavra que saía dos lábios perfeitamente desenhados. Alex franziu o cenho, os pensamentos desordenados sendo transparentes em cada feição — Publicamente, mas só para o time. — pontuou, como se não tivesse ficado claro antes. Alexandria piscou algumas vezes tentando se recuperar do choque inicial. Involuntariamente, sua mente listou os poucos jogadores gays de que se tinha notícia —
Os olhos esmeralda de Lukas Haus estavam arregalados, uma sugestão contida de sorriso marcava os lábios dele enquanto as orbes tinham a expressão de choque. Foi a primeira vez que Alexandria o viu, genuinamente sem palavras.Ele assentiu lentamente. O impacto inicial dissipou do seu corpo e Lukas teve vontade de gritar, não só para Teddy, sentado coçando a nuca encarando o tablet nas mãos, gesto que o camisa 19 interpretou como preocupação, mas para o mundo inteiro ouvir que Alex Tapper estava dizendo sim a ele.— Nós podemos atravessar esse campo e falar agora mesmo se for a sua vontade — ele falou em um tom ofegante, quase exasperado, de alguém que estava segurando a respiração há algum tempo. Alex sorriu, sentindo suas bochechas corarem violentamente e, sem se preocupar se alguém poderia vê-los, levou os dedos à bochecha de Lukas, acariciando o lugar com o polegar. Ele fazia o estômago dela revirar. — Que tal um almoço? — Ela perguntou sem tirar os olhos dele dessa vez. Estava c
Harry estava mordendo a tampa de uma caneta há mais de cinco minutos, mas eram os olhos escuros encarando o nada pela janela que deixavam Alexandria inquieta. Estavam desde as oito pensando em como fazer o egípcio se assumir para o elenco do KRS, mas o relógio informava que já haviam passado uma hora e meia ali, meramente encarando os cantos da casa de Harry.Alexandria passou os dedos entre as sobrancelhas tentando forçar o cérebro a trabalhar, mas nada adiantava. Eles queriam que fosse pessoal, honesto e o menos arriscado possível de se tornar uma fofoca internacional, mas depois de tanto tempo sem nenhuma boa ideia, Harry levantou e andou até a cozinha.Alex viu ele colocando água e pó de café no dispenser da cafeteira de duas xícaras sobre um dos armários. Ele olhou para ela por cima da península que separava a sala da cozinha e a viu sorrir com o cheiro de café que subiu imediatamente. O silêncio se estendeu por alguns minutos e foi o egípcio quem o rompeu.— Nos conhecemos há um