O trânsito de Londres era caótico, para dizer o mínimo, era, de longe, um dos piores do mundo, talvez melhor do que o de Salvador, apenas talvez. Mas excepcionalmente naquele dia, o universo parecia conspirar, um pouco, a seu favor. As ruas estavam vazias, raros carros ocupavam a pista. Lauren Hummel já estava sentada do lado de fora do restaurante francês quando Alexandria chegou. Estacionou a scooter a poucos metros do guard rail de vidro fumê que delimitava o espaço do estabelecimento antes de se livrar do capacete branco e se dirigir à mesa onde a amiga estava. Não era difícil enxergar Lauren, ainda que todos os lugares estivessem ocupados. O coque laranja feito com mais de meio quilo de box braids se destacava na multidão. Ela não pareceu perceber a chegada da brasileira, os olhos escuros focados no celular dobrável em suas mãos. A pele estava coberta por uma base de pelo menos dois tons acima da cor dos seus braços, era típico dela. Sua marca favorita de maquiagem não fabr
A ruiva assentiu, ainda calada. A julgar pelo jeito com que os olhos castanhos vagavam sobre o prato, todas as engrenagens da sua mente funcionavam ao mesmo tempo. Gotas de chuva atingiram a calçada próxima a elas. Era apenas uma garoa, e por isso, a tenda transparente sobre a área externa do restaurante parecia funcionar bem o suficiente, sem espantar nenhum cliente que optava pela brisa fresca do lado de fora. Alex olhou para cima. O dia tão cinzento quanto seus pensamentos. Podia ver as gotículas de chuva perdendo a trajetória quando batiam no plástico sobre si, o destino de atingir o solo momentaneamente interrompido. Tirou a câmera fotográfica da bolsa e direcionou-a para cima. Um clique e lá estava, uma foto que a fez sorrir.— Sadie me convidou para ser madrinha do casamento dela — Lauren levou o garfo à boca, mastigando um pedaço do seu nhoque quase intacto no prato e isso fez Alex suspirar. Sua mente, mais uma vez rápida demais para seu autocontrole, se lembrou de Christi
— Quando vamos dar a festa de boas-vindas aos novatos? — Jaden rompeu o silêncio, pronunciando as palavras entre uma mastigação e outra — É uma tradição.— Eu não sou o maior adepto de festas no momento, então… — Drew deu ombros, as feições vacilando minimamente como alguém que acabara de ver um fantasma antes de voltar para sua constante impassividade. Christian ignorou a conversa pelo máximo de tempo que pôde, mantendo a boca ocupada com garfadas consecutivas. Os olhos escuros do inglês estavam sobre si, fixos, irritantemente insistentes.— Você é, provavelmente, a pessoa mais insuportável que eu já conheci — falou, se dando por vencido. — Mas sem muitas bebidas, sem som alto e sem strippers. Só alguns caras do time vendo um filme e conversando.Andrew riu. O canto dos lábios suspenso na sugestão de um sorriso verdadeiro, do tipo que ele dava esporadicamente quando algo o agradava e ele não sentia obrigação de externalizar sobre aquilo. O norueguês terminou a refeição o mais rápid
A não ser pelos três carros esportivos pretos — e muito caros — estacionados, a garagem de Christian era uma completa bagunça. Algumas caixas empoeiradas ocupavam a parte dos fundos do cômodo escuro. Era uma casa com um custo alto demais, em um condomínio caro demais, para ter uma garagem daquele jeito, mas aquilo não era da conta dela. Tocou a campainha, hesitante. Não tinha certeza se aquela era uma boa ideia, principalmente quando não sabia como sua situação com o dono da casa estava. Alex olhou para o relógio em seu pulso, o ponteiro grande girando mais lento que o normal, como de costume quando você quer que algo seja rápido. Cinquenta segundos sem resposta. Alex considerou veementemente girar em seus calcanhares e voltar por onde veio, era provavelmente a melhor escolha. — O Jay trancou a porra da porta e esqueceu onde tinha colocado a chave — Keegan Asper sorriu, deixando claro que as férias não tinham acabado com seu hábito de boca suja. A cada frase que o espanhol falava, a
— Você tá certa — falou — Eu não posso reclamar de você e do Haus, nós não temos nada, quer dizer, temos, e é incrível, eu nunca tive nada assim. O que eu quero dizer é que o amo… — ele fez uma pausa e Alex sentiu seu coração fibrilar. — Eu amo o que a gente tem, eu amo poder tocar em você, eu amo te beijar, mas eu também sei que não existe exclusividade na nossa relação, nem nada do tipo. Fui eu quem pediu isso e não me sinto pronto pra mudar, acho que você também não. — Ela quis contrapor, talvez quisesse ao menos tentar, mas deixou as palavras morrerem no fundo da sua garganta. — Então eu sinto muito, não tenho o direito de me incomodar com você e o Lukas. Você é livre, Alex. Tem o direito de flertar com quem quiser, de sair, beijar, ou sei lá, transar com ele se for o que você quer. Eu só não quero que me corte da sua vida. Não quero que me substitua.Ela não respondeu nada. Apenas assentiu minimamente com a cabeça, não sabendo ao certo se concordava com tudo o que foi dito ali ou
Alexandria riu, um sorriso largo e viu os lábios de Lukas se contraírem. Ele queria sorrir junto com ela, talvez seu riso o contagiasse. A fotógrafa afastou o pensamento. Deu alguns passos para trás, abrindo uma das gavetas pretas do armário e tirando duas colheres. — Nos conhecemos há menos de vinte e quatro horas, Haus, é mais do que normal que eu seja uma incógnita. Não tivemos tempo de nos conhecer de verdade.Ela ofereceu uma das colheres para ele, que aceitou imediatamente. Alex abriu a tampa do pote, enfiando a própria colher sem cerimônia e levando à boca. Lukas a encarou por um tempo, os lábios mexendo sem emitir nenhum som, como se quisesse falar algo.— Tem uma coisa — falou de uma só vez antes de ocupar a boca com sorvete — Tem uma coisa que eu preciso saber antes de te conhecer do jeito que eu quero. — Ela assentiu, divertidamente empurrando a colher dele para longe do pote — Você e Christian Peña, é algo sério?Ela hesitou. Parte de si não queria admitir a verdade, apes
Era uma ameaça infundada, mas ninguém precisava saber daquilo. Ele, Christian, Keegan e Lukas eram os únicos jogadores que não haviam tocado em um mililitro sequer de bebidas alcoólicas, mas, mesmo que desejasse do fundo do coração fazer algo que deixasse Harry Zhao irritado consigo para tirá-lo da cabeça o mais rápido possível, não poderia ferrar Jaden no processo.Menos de quarenta e cinco segundos depois, a maioria dos rapazes se despedia de Christian, agradecendo a hospitalidade e planejando novos encontros como aquele. — Você não vai dirigir de jeito nenhum — Alexandria falou séria, puxando as chaves de um Camaro das mãos levemente trêmulas de Harry e entregando a Andrew, que ergueu a sobrancelha contrariado — O Drew tá sem carro, ele te leva e amanhã eu passo para te buscar antes do treino. Andrew arregalou os olhos escuros e se posicionou bem atrás de Harry para que ele não pudesse vê-lo negando incessantemente com a cabeça. Alex fingiu que não viu os movimentos exacerbados d
(04.01.2023) É cientificamente comprovado que dormir abraçado com alguém, na famigerada posição de conchinha, diminui os níveis de cortisol, o hormônio vinculado ao estresse, da corrente sanguínea. Talvez tenha sido por isso que Alexandria acordou com um pequeno sorriso nos lábios, enquanto o braço de Christian rodeava sua cintura e a respiração dele tocava sutilmente sua nuca. Ou talvez tenha sido pelo sonho que teve naquela noite com um certo belga de olhos incrivelmente verdes. O sorriso sumiu tão rápido quanto apareceu. As palavras de Keegan reverberaram em sua cabeça, martelando com força. Talvez ele estivesse certo, ela merecia mais, não era justo aceitar algo menos do que era digna só para agradar o equatoriano. Alex sabia melhor do que ninguém que relacionamentos de mão única não acabavam bem, longe disso.Christian grunhiu ao seu lado, como se a luz vinda da janela o estivesse incomodando. O despertador não havia tocado ainda. Ela levantou com cuidado, tirando a mão dele