SAVANNAHOs meus dias a viver com a Harper são um verdadeiro misto de emoções. Quando ela está por perto, a casa enche-se de risos, conversas e distrações. Arranjamos sempre algo para fazer: desde maratonas de séries, a experiências culinárias falhadas, a passeios espontâneos pelo bairro. Mas, quando ela sai para o consultório, para cuidar dos animais, ou quando a noite cai e me deito na cama, o silêncio pesa. É nesses momentos que o coração aperta, que a saudade do rancho me assalta sem piedade.Sinto falta de tudo: do resmungo da Beth logo pela manhã, do carinho e cuidado da Rose, do Bear sempre atrás de mim a pedir carinhos, das discussões e tontices dos irmãos Sawyer… especialmente de um deles. Mas quem mais pesa agora no meu coração, quem me faz sentir aquela culpa miudinha, é a Rose. Agora que a distância e o ciúme já não me toldam a cabeça, percebo o quanto fui injusta com ela. Sempre me tratou como uma filha, sempre me acolheu com um abraço e um sorriso, e eu… eu só consegui f
SAVANNAHO Ryder está sentado à minha frente, mas parece distante, com um receio que raramente lhe vejo. O meu coração bate tão forte que quase o sinto na garganta. Tento preparar-me para o pior — será que ele decidiu que já não quer estar comigo? Não o culparia, tenho agido como uma criança ultimamente, deixei o orgulho e o ciúme tomarem conta de mim.Ele inspira fundo, olha-me nos olhos.— Savannah, se é para sermos sinceros, eu vou fazer de tudo para que confies em mim.Assinto, tentando mostrar-lhe que estou pronta para ouvir, mesmo que não esteja.Ele começa devagar, como se pesasse cada palavra.— Ontem, depois de sair daqui, a Andie ligou-me. O carro dela avariou no meio da estrada e pediu-me ajuda. Fui buscá-la. Depois ela convidou-me para jantar em casa dela, como forma de agradecimento, e eu aceitei.Fico imóvel, a tentar controlar a expressão. Ele continua, sem me dar tempo para reagir.— Entretanto, a mãe dela ligou. Disse que o pai da Andie tinha tido um enfarte. — Sinto
SAVANNAH O caminho até ao rancho faz-se mais rápido do que esperava. No carro, o ambiente é surpreendentemente leve. A música animada do rádio serve de pano de fundo para as histórias que Ryder me conta sobre os dias em que estive ausente. Rio-me das peripécias dos irmãos Sawyer, das tentativas falhadas de Hunter de cozinhar, das discussões entre Landon e Isaiah sobre quem trabalha mais. Sinto o peito a aliviar-se, como se cada gargalhada me devolvesse um bocadinho daquilo que deixei para trás.Quando dou por mim, já estamos a entrar na estrada de terra batida que leva à casa principal. O tempo passou a voar aqui dentro do carro, mas agora que vejo o rancho à minha frente, um nervoso miudinho instala-se na minha barriga. Aperto a caixa da torta de cereja com mais força do que devia. Sei que tenho de falar com Rose e, apesar de saber que é o certo, o medo de não ser perdoada pesa-me.Ryder estaciona o carro mesmo em frente à varanda. Fico sentada, a olhar para a casa, a tentar ganhar
RYDERO sábado amanhece cheio de energia no rancho. Hoje é o aniversário da minha mãe e, desde cedo, a casa pulsa com um entusiasmo diferente. Mãe, vovó Beth, Harper e Savannah estão fechadas na cozinha desde o nascer do sol, entre tachos, risos e discussões sobre receitas. O cheiro doce e quente que sai dali denuncia que hoje ninguém vai passar fome. As vozes delas misturam-se com o som das colheres de pau e das panelas, e só de imaginar o que estão a preparar, já me cresce água na boca.Eu, o Hunter, o Landon e o Isaiah tratámos dos animais logo de manhã. Mas hoje não há pressas nem reclamações. Antes do almoço, largamos o trabalho e dedicamo-nos a preparar tudo para a festa: mesas e cadeiras cá fora, a churrasqueira já a deitar fumo, luzes penduradas nas árvores, e a fogueira pronta para ser acesa ao final do dia, quando o céu se pintar de laranja e as estrelas começarem a aparecer.Os convidados começam a chegar, um atrás do outro, com abraços, gargalhadas e mais comida. Amigos de
SAVANNAHA festa de aniversário da Rose está a ser das mais divertidas de que tenho memória. Adoro crianças, e fazer pinturas faciais nelas foi um dos pontos altos do meu dia. Entre pincéis, tintas e gargalhadas, deixei-me levar pela leveza do momento. Hoje sinto o Ryder ainda mais próximo de mim. Ele não para de ficar colado a mim, atento a cada gesto, cada sorriso. Acho que quer provar-me, sem palavras, que eu importo para ele. E esse gesto faz-me sorrir sem conseguir evitar.A noite já caiu, a luz dourada do pôr do sol deu lugar ao brilho laranja da fogueira que crepita no centro do jardim. As pessoas começam a despedir-se, os convidados vão partindo aos poucos, mas um pequeno grupo ficou para contemplar a fogueira e aproveitar a música suave que toca ao fundo. Sento-me num tronco, distraída nos meus pensamentos, sentindo o calor das chamas e o cheiro a madeira queimada.De repente, ouço Hunter a resmungar com Harper enquanto se aproximam da fogueira. Pelo tom, percebo que ele não
RYDERSeguimos para o The Country Bar em Creekville, de mãos dadas, eu e a Savannah. Só largo a mão dela quando preciso de mudar de velocidade, e mesmo assim, só por segundos. Há algo de certo, de completo, quando estou com ela assim, como se tudo o resto do mundo pudesse esperar. Sinto-me feliz, inteiro, e sei que ela sente o mesmo. O silêncio entre nós é confortável, só interrompido pela música country que toca na rádio e pelas luzes da estrada a passarem devagar.Quando chegamos ao bar, o ambiente já está animado. Uma banda toca clássicos country no palco, e vejo os meus irmãos numa mesa no canto, rodeados de copos, risos e aquela energia que só uma noite destas traz. Para minha pouca sorte, Paul e Andie também estão sentados com eles. Noto logo o desconforto de Savannah ao ver Andie, e isso incomoda-me. Gostava de lhe poupar a esse tipo de situações, mas não posso controlar quem aparece.Paul é um amigo de família de longa data. Os pais dele eram grandes amigos dos meus, mesmo dep
RYDERAcordo antes mesmo do sol nascer. O céu ainda está escuro, mas o rancho já começa a dar sinais de vida com os primeiros sons dos animais ao longe. Sinto uma sensação boa, tranquila, ao perceber Savannah a dormir ao meu lado, o cabelo espalhado na almofada, a respiração leve. Fomos para a cama tarde, mas não me importo de acordar cedo quando é assim, com ela aqui. Tento sair da cama com o máximo de cuidado para não a acordar, movendo-me devagar, como se qualquer movimento brusco pudesse desfazer este momento de paz.Vou até à casa de banho e tomo um duche rápido, tentando ser o mais silencioso possível. A água quente ajuda-me a acordar, mas a cabeça já está cheia de pensamentos sobre o dia que se avizinha. Visto-me depressa, calças de ganga, t-shirt e camisa aberta, pronto para mais um dia no rancho.Quando saio do duche, Bear já me espera à porta, a abanar a cauda, ansioso pela rotina da manhã. Sigo para a cozinha com ele atrás de mim, fiel como sempre. Coloco ração na tigela e
SAVANNAHAcordo quando sinto os raios de sol a entrarem pela janela e a baterem-me no rosto. Espreguiço-me, ainda meio adormecida, e só então noto que Ryder já não está ao meu lado. O quarto está silencioso, só se ouvem os sons do rancho a despertar lá fora. Pego no telemóvel e, ao ver as horas, sobressalto-me - já passa da hora de começar a trabalhar.Levanto-me num ápice, tomo um duche rápido e visto-me à pressa. Quando entro na cozinha, vejo um bilhete de Ryder pousado ao lado da cafeteira. Aproximo-me para ler, sorrindo ao ver as palavras dele escritas com aquela letra apressada:Bom dia, dorminhoca. Fui tratar dos animais. O café está feito. Vemo-nos já. Sorrio, sentindo o peito aquecer. Bebo o café que ele deixou preparado, saboreando cada gole enquanto penso nas últimas horas que passámos juntos. Sinto-me leve, feliz, como se tudo à minha volta fizesse finalmente sentido.Desço para o exterior e cruzo-me com Hunter, que não perde tempo a bombardear-me com tarefas.- Savannah,