Capítulo 4: O Passado de Olívia

A festa estava em pleno vapor, mas Alan sentia que, a cada risada que ouvia, uma parte dele se distanciava ainda mais da realidade. Ele caminhou pela mansão, tentando encontrar um pouco de espaço para respirar, mas sua mente estava consumida por imagens de Olívia. A força dela, a segurança que emanava, era isso que ele desejava para sua própria vida.

Enquanto isso, na mesa dos Ventura, Olívia observava o casamento de Bianca e Alan. Ela estava cercada por familiares e amigos, mas sua mente estava longe dali. Para ela, o evento era um lembrete constante do peso que carregava desde a infância. Sem que ninguém percebesse, ela mergulhou em pensamentos que a transportou para um tempo muito diferente.

A cena se desenrolou em um amplo jardim na mansão Ventura, anos atrás. Olívia, uma criança de apenas oito anos, estava em meio a flores coloridas e arbustos bem cuidados. A brisa suave balançava seu cabelo preto, enquanto ela tentava acalmar Bianca, que chorava por ter perdido uma boneca.

— Irmã, onde está a minha boneca? — Gritou Bianca, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

— Calma, Bianca! Vamos procurar. Eu prometo que a encontraremos, — Respondeu Olívia, tomando a mão da irmã e puxando-a para fora. Desde pequena, Olívia sempre foi a protetora, a responsável, mesmo quando não deveria carregar esse peso. Ela olhou para os olhos da irmã, buscando transmitir coragem, enquanto o coração dela se apertava.

O verão trazia consigo dias longos e ensolarados, mas, por trás do brilho, havia sempre a sombra da responsabilidade. Olívia se lembrava das aulas de balé, das lições de piano e das reuniões familiares, onde as expectativas eram altas. — Seja perfeita, Olívia. Você é a mais velha, — sua mãe sempre dizia, com um olhar que misturava amor e pressão.

O tempo passou, e o papel de Olívia se expandiu. Com doze anos, ela se via frequentemente cuidando de Bianca, ajudando-a a fazer as lições de casa e preparando lanches. Ela não se importava, mas sentia que tinha que ser a força da família. O peso das expectativas se tornava cada vez mais pesado, e ela aprendia a esconder suas próprias emoções, a se tornar fria e inabalável.

Em uma das noites, enquanto observava sua mãe, Lily, discutir os negócios da família com o pai, Ethan, Olívia percebeu que a segurança da família dependia dela. O olhar de sua mãe, uma mistura de orgulho e preocupação, ecoava em sua mente. — Olívia, você precisa ser forte. O mundo lá fora não é gentil, — Disse Lily uma vez, e essas palavras tornaram-se um mantra em sua vida.

Mas, por trás daquela fortaleza, havia um desejo fervoroso de ser livre, de ser apenas uma menina. Em um momento de rebeldia, ela se lembrou de como se sentiu ao dançar sob a luz da lua no jardim, sem se preocupar com o que os outros pensavam. Era ali que ela se sentia viva, não como uma líder ou uma protetora, mas como uma sonhadora.

A lembrança se tornou mais vívida. Olívia havia feito uma promessa a si mesma naquela noite: ela não se tornaria uma sombra do que as pessoas esperavam dela. Ela desejava ser uma mulher forte e independente, mas o peso da responsabilidade muitas vezes a fazia parecer fria e distante. — As pessoas não podem saber o que sinto. Elas precisam de mim forte, — ela frequentemente se dizia.

O som da festa a trouxe de volta à realidade. Olívia olhou ao redor e viu os rostos sorridentes dos convidados, mas, para ela, tudo parecia uma encenação. O casamento de Bianca era um espetáculo, uma exibição de sorrisos e roupas de gala, mas por trás da beleza estava a certeza de que suas próprias emoções estavam reprimidas.

Quando seus olhos encontraram os de Alan novamente, um misto de sentimentos a envolveu. Ela sabia que ele estava lutando com suas próprias batalhas. Havia algo em seu olhar que espelhava suas inseguranças e desejos, e isso a atraía de forma irresistível.

Olívia desviou o olhar, reconhecendo a complexidade de seus próprios sentimentos. Ela tinha que ser a forte, a inabalável, mas a presença de Alan fazia com que ela questionasse o que realmente queria. Enquanto todos ao seu redor celebravam, o vazio que Alan sentia também pulsava dentro dela, uma conexão silenciosa que os ligava.

No fundo de sua alma, Olívia desejava um futuro em que pudesse ser mais do que apenas uma figura forte. Ela queria ser amada, ser compreendida. Mas isso parecia impossível enquanto carregava o peso de sua família e as expectativas que lhe foram impostas.

— Olívia! — a voz de Bianca a interrompeu novamente. — Você não pode ficar aí parada! Venha dançar comigo!

Com um suspiro, Olívia se levantou, deixando o passado para trás por um momento. Ela se juntou à festa, mas a imagem de Alan e suas conversas profundas permaneciam em sua mente. Havia algo ali, algo que a desafiava a abrir seu coração, a se libertar do passado. Mas como poderia fazer isso quando tudo ao seu redor a lembrava de quem ela deveria ser?

A noite continuava, e enquanto as luzes brilhavam e a música tocava, Olívia dançou, mas em seu coração, uma batalha silenciosa se desenrolava. Ela queria ser livre, mas a segurança da família, o amor pela irmã e suas próprias expectativas eram correntes que a prendiam.

E naquele momento, entre sorrisos e danças, a dúvida sobre seu futuro e o desejo de ser feliz coexistiam, deixando-a em um estado de confusão que não sabia como resolver.

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