Eu estava indo até o hospital, doente eu não estava, óbvio. Já estava sentindo que Ethan estava meio desconfiado o que era muito perigoso, e eu sequer tinha alguma coisa, eu precisava de algo imediatamente. Caminhei pelo corredor enquanto olhava de um lado para o outro atenta para que ninguém me visse, eu esperei por um horário que o Ethan não estivesse mais atendendo, é óbvio. Me abaixei ao pé da porta do consultório dele, tirei dois grampos que escondi no cabelo e os enfiei na fechadura os mexendo até que ela estivesse destrancada. Fechei a porta e então caminhei até à mesa dele, abri as gavetas enquanto vasculhava os papéis. Usei os grampos para abrir uma das gavetas que tinha fechadura e quando a abri não havia nada de tão interessante. Idiotice, vasculhar o consultório era inútil, é claro que ele não iria deixar nada que o incriminasse ali. Há pessoas que passam por ali toda hora, seria idiota demais. Mexendo naqueles papéis inúteis, entre eles havia um número de t
Talvez eu estivesse enlouquecendo por passar tanto tempo sozinho, preciso de alguém para dividir a vida. Me sentindo exausto desse trabalho de médico, fico impaciente e o desânimo não vai embora. Aperto o botão da caneta um milhão de vezes ouvindo o barulhinho dela enquanto dezenas de pacientes me esperam lá fora, mas meu ânimo não está me ajudando para começar a atendê-los. Tento me controlar, não sair enlouquecendo por qualquer coisa e principalmente por causa de uma garota. Quando finalmente o dia acaba, dirijo pelas ruas chuvosas, estaciono o carro e entro em casa. Sentei na minha poltrona de frente para a janela e fiquei lá como todos os dias, no escuro. Quando você passa a ter tudo o que quer, as coisas começam a perder a graça ou talvez seja apenas o seu cérebro tentando te manipular e fazendo você pensar besteiras. Pego um telefone de fio em cima da mesa ao lado da janela, disco o número que decorei pelo tédio e então espero. Espero uns segundos até que do outro lado da l
Meu ponto de vista de um casal invejável, é de um casal no qual faria qualquer coisa um pelo outro. Esse ponto de vista representa o gosto das mulheres, a realidade masculina é bem diferente. Homens anseiam por garotas fodas, malucas, cheias de energia e adrenalina, mas que também aceitem tudo caladas, que sejam delicadas mas que também saibam como ser indelicadas quando é eles quem falham, porque até para surtar, precisa ser do jeito que agrada a eles. Não só isso, eles anseiam por garotas, não por mulheres. Querem uma garota que se vista de forma infantil e aja de forma infantilizada, porque foi dessa maneira que os homens foram educados, para cultuarem corpos infantis, corpos sem estrias, sem pelos, sem celulites, sem excesso de gordura e sem membros flácidos. Talvez os sociopatas não sejam nenhum pouco diferente disso, afinal, ainda se tratam de homens. Minha vida é uma completa farsa, e a dele também. Mas homens gostam disso, gostam de viver de farsas, de se sentir no topo do
O perfume de Sammy exalava e preenchia o carro inteiro, o cheiro dela era doce, feminino demais. Me deixava tonto, mas em um bom sentido. Cheirava a rosas, ela por completo já era uma flor. Queria olhar para ela por horas, mas se o fizesse, também iria querer tocá-la e ela não quer que eu a toque sexualmente, mesmo que não pareça, as minhas intenções não são nada sexuais. — Caso eu não tenha dito antes, está muito lindo. Meu sorriso desaparece, não porque tenha me incomodado. Mas porque eu gostei, meu estômago formigou e senti as mãos soarem um pouco. — Ah… obrigado. — Abri a boca diversas vezes para falar mas não sabia o que dizer enquanto a olhava de soslaio. — Me pediu para não ser promíscuo hoje, então não posso comentar sobre você, me desculpa. Sammy sorriu enquanto tocava minha mão sobre a alavanca de câmbio me fazendo olhar para ela de canto de olho. A beleza dela é tão pura que dói o coração, olhar para ela preenche um vazio meu que eu não sabia que tinha. Eu estava me
Vamos relembrar um pouco do antes? Me lembro perfeitamente do dia em que o mundo desabou. O enterro do meu pai, o Agente Especial Hernandez. O cemitério estava repleto de rostos sérios e desconhecidos, todos prestigiando o homem que dedicou sua vida à justiça e morreu em uma das missões. Depois de horas que o enterro havia encerrado, eu ainda estava lá, paralisada, segurando um buquê de flores brancas, olhando fixamente para a cova fechada. Meu coração estava despedaçado, como se cada batida me machucasse e fosse uma dor insuportável. Um daqueles homens se aproximou, mesma altura que a do meu pai, óculos de armação preta e não podia faltar o paletó muito bem modelado com cara de que havia custado rios de dinheiro. — Sinto muito. Seu pai era um herói. — Ele disse com um tom de voz confortador, mas nada poderia me confortar naquele momento. Ainda me lembro das lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto, o vento soprava e refrescava minha pele molhada, lembro da sensação de vazio e d
Observo ela comer, Sammy me olha de vez em quando e sorri. Aquele sorriso lindo de menininha que me encantava. As mãos pequenas segurando os talheres gigantes perto dela, come normalmente em nenhum momento aparentando ter dificuldade em saber o que fazer. Bebo um pouco de vinho e ponho a taça novamente em cima da mesa, a encaro enquanto ela ergue uma sobrancelha me olhando curiosa. — O que foi? — Questiona rindo consigo mesma. — Onde conseguiu o vestido? — Perguntei dando uma garfada na sobremesa e levando à boca. — Que pergunta mais invasiva de se fazer. — Ela brincou copiando a minha fala no carro. — É veludo. É um tecido bem caro. — Ergui a sobrancelha rapidamente enquanto falava. — Peguei emprestado. — Sammy deu de ombros. — Já teve namorado? — Mudei de assunto terminando de comer e me arrumando na cadeira para ver ela comer. Sammy fez uma careta me encarando com o olhar cheio de indignação. — Você me perguntou se eu já fui casado, mas não posso perguntar se você já teve na
— Está tudo bem, Ethan? — Questionei notando como ele parecia tenso.— Sim. — Ele respondeu mais firme, então dei de ombros, se ele disse que está tudo bem é porque está tudo bem.As vezes eu entro tanto no personagem, que esqueço quem eu sou de verdade, porque eu me torno apenas um personagem. Será que quando tudo isso acabar eu vou conseguir sentir alívio? Ou só irei sentir culpa? Olho para ele de relance enquanto dirige nervoso, e o questionamento me vem à cabeça. Ele está nervoso porque teme, ou por que tem medo que eu descubra o que ele não quer que eu descubra? As vezes eu também prefiro fingir para mim mesma que não sei de nada, que não estou aqui fingindo apenas para prejudicar ele. Quando olho para ele eu não consigo o odiar, não consigo ver alguém ruim por trás daqueles olhos azuis, o jeito que ele me olha possui tanta verdade, tanta ternura, tanto sentimento. Comecei a tomar comprimido para não precisar mais usar camisinha com ele, isso soa estranho, não soa? Isso não e
Encaro meu reflexo no espelho, prestando atenção aos mínimos detalhes. Faço questão de enaltecer cada um deles, mas sem parecer madura demais. Dou uma sacudida nos cabelos ondulados graças ao babyliss bem caprichado, do outro lado do quarto Eric me observa com seu olhar de admiração deitado sobre o colchão. — Está bonita. — Ele elogia voltando a fitar o teto com o corpo estremecido e cheio de agonia. — Esse é o propósito. — Meu tom de voz saiu meio irônico. — Ei. — Chamei sua atenção fazendo com que ele olhasse para mim outra vez. — Está tudo bem, pare de ser ciumento. Eric me encara com o rosto tenso aparentemente sentindo incômodo, mas se contendo ao máximo. Ele pega uma bola de beisebol dentro do criado mudo ao lado da cama e arremessa no teto a pegando de volta quando cai, acredito que foi o jeito dele de controlar a própria raiva. — Para você está tudo bem, não é você que está vendo a sua namorada se arrumar toda para encontrar um médico. — Fez um drama, levantou da cam