Assim que Florence voltou para Águas Serenas, dormiu profundamente, como se o mundo tivesse parado. Acabou sendo acordada pela fome. Sem conseguir se mover com facilidade, chamou em direção à porta: — Mãe? Tio? Ninguém respondeu. Ela achou que sua voz havia sido baixa demais e que Lyra e Bryan não tinham escutado. Quando esticou a mão para pegar o celular, viu um bilhete deixado sobre o criado-mudo. [Saí para acompanhar seu tio em um compromisso. Deixei alguns petiscos para você. Se estiver com fome, coma.]Florence abriu o prato coberto e encontrou três pequenos petiscos. Pelo visto, Lyra realmente a considerava alguém com o apetite de um passarinho. Três petiscos. Florence devorou tudo em duas mordidas, mas seu estômago continuava roncando alto. Sem outra opção, pegou o telefone interno ao lado da cama e ligou para a cozinha. — Hana, tem algo que eu possa comer? — O chef já foi embora. — Respondeu Hana, a empregada, com um tom desinteressado. Ela finalizou com um bocejo,
Ela abriu a boca para falar, mas antes que pudesse dizer algo, ele cobriu seus lábios com a mão. O rosto dele se aproximou, tão próximo que Florence conseguia sentir o calor de sua respiração. Sob a luz da lua, os traços profundos de Lucian pareciam ainda mais marcantes, e seus olhos escuros, como um abismo sem fim, exalavam perigo e uma aura de domínio. Florence tentou puxar a mão dele com força, mas ele permaneceu imóvel, inabalável. Ela o encarou irritada e, sem pensar duas vezes, mordeu os dedos dele. Lucian apenas franziu as sobrancelhas, mas não a soltou. Do lado de fora, no corredor, duas vozes começaram a se aproximar. — Quem está aí? — Será que é a Florence roubando alguma coisa? Mais cedo ela ligou pedindo comida. No meio da noite, nem deveria se atrever. Ela acha mesmo que tem esse direito? Roubar? Esse era o lugar que Florence ocupava na família Avery. Para eles, ela não tinha nenhum direito. Qualquer coisa que pegasse era vista como roubo. Os dentes de Floren
Enquanto Florence ainda estava presa às imagens que lhe vinham à mente, o aroma de um café calmante pairou no ar. Quando levantou o olhar, uma xícara fumegante já estava ao alcance de suas mãos. Ela ficou imóvel por alguns segundos, olhando de novo para Lucian. Ele segurava uma colher com uma das mãos, enquanto a outra permanecia casualmente no bolso da calça. A camisa impecavelmente ajustada destacava seus ombros largos e cintura estreita, criando uma figura que parecia inatingível. Essa imagem de cozinhar contrastava completamente com o homem que ela tinha em sua memória. Florence tomou dois goles do café em silêncio. Algum tempo depois, Lucian colocou um prato de macarrão quente à sua frente. — Coma. O tom de voz dele a trouxe de volta à realidade. Florence apertou os lábios e balançou a cabeça: — Não precisa. Eu não estou com fome... No entanto, o som alto de seu estômago roncando a traiu na mesma hora, fazendo com que suas bochechas ficassem ruborizadas. Lucian ergue
— Srta. Florence, algo deu errado. Não há ninguém no salão reservado, e o garçom disse que todos saíram há mais de duas horas. — Quem organizou esse encontro hoje? — Florence perguntou, preocupada. — Foi a Sra. Nina, a mãe da Srta. Daphne. Ela disse que era para apresentar um grande cliente e pedir desculpas a você. — Pedir desculpas para mim? E nem sequer me convidaram para estar presente? Que tipo de pedido de desculpas é esse? — Florence ignorou a dor no pé e se levantou rapidamente. — Vá falar com o gerente agora. Peça para ele salvar as imagens das câmeras de segurança. Na casa, há algum motorista de confiança seu? — Sim, há. — Peça para ele me levar até lá imediatamente. — Entendido, Srta. Florence. Depois de desligar, Florence vestiu o casaco e, mancando, caminhou apressada até a entrada da mansão, onde o motorista já a esperava. Assim que entrou no carro, o veículo arrancou em alta velocidade em direção ao restaurante. Cláudio, que estava prestes a sair em out
Florence seguiu as placas em direção ao salão reservado. Michel a apoiava enquanto olhava para os lados, atento: — Srta. Florence, e se o gerente continuar se recusando a ajudar? No momento seguinte, Florence parou diante da porta do salão, com um olhar firme e determinado. — Hoje, quer ele queira ou não, ele vai colaborar! Dizendo isso, ela caminhou até o alarme de evacuação do hotel e bateu nele com força. De repente, o som estridente do alarme tomou conta de todo o prédio, e as pessoas começaram a correr em direção à saída. Enquanto isso, Florence e Michel foram em direção oposta, procurando por pistas no interior do hotel. Eles passaram por vários salões, mas, mesmo indo até o último, não encontraram nenhum sinal de Bryan ou Lyra, nem mesmo uma única pessoa conhecida. — Srta. Florence, ainda não consigo encontrá-los. As palmas das mãos de Florence estavam suadas, e seu corpo começava a fraquejar. Será que sua nova chance de vida não seria suficiente para mudar o desti
Cláudio recuou, afastando-se para o lado. Um homem vestido inteiramente de preto se aproximou. Sob a luz pálida, ele parecia conter alguma emoção explosiva, exalando um perigo palpável. Ele lançou um olhar para Florence, caída no chão, e estendeu a mão para puxá-la com firmeza. Florence franziu a testa de dor. A pele de suas palmas, já arranhada, parecia queimar. Lucian baixou o olhar para as mãos machucadas dela e, com a voz rouca e baixa, disse: — Eu estou aqui… — Mas a minha mãe e o meu tio... — Florence tentou soltar a mão para entrar no depósito e resgatá-los. Lucian lançou um olhar para Michel e Cláudio, que imediatamente correram para dentro do depósito. Ele segurou Florence com mais força e a puxou para trás de si, protegendo-a: — Assim, você não consegue salvar ninguém. Fique aqui e espere. Lucian girou o anel em seu dedo enquanto caminhava calmamente até o gerente. Seu olhar, profundo como um abismo, carregava um brilho ameaçador, quase sanguinário. O gere
Do outro lado da linha, Daphne soltou uma risada despreocupada, cheia de maldade. — O que eu quero? Não é culpa sua não entender. Afinal, como uma mulher insignificante e de origens tão baixas como a sua mãe poderia criar uma filha decente? Claro que você só poderia se tornar uma vagabunda que sabe apenas seduzir homens. Você não acha que, como futura esposa do Lucian, eu tenho o dever de limpar essa sujeira? Gosta tanto de pegar o que não é seu? Pois agora vai aprender a devolver tudo da mesma forma que pegou! Está sofrendo? Bem feito! Isso é o que você merece, sua desgraçada! Daphne gargalhou alto, como se quisesse transformar cada palavra em uma faca afiada para dilacerar Florence. Não havia o menor vestígio da mulher recatada e elegante que o público costumava ver. Florence abaixou o olhar, sua voz soando fria: — Falou tanto e ainda não disse exatamente o que quer. — É simples. Desista de entrar no estúdio da Valentina. Se você fizer isso, eu prometo ser gentil com você e
Ao se virar, Florence deu de cara com os olhos frios de Lucian. — Não chame a polícia. — A voz dele soou firme, carregada de uma autoridade inegável. Sob a luz branca, os olhos escuros de Lucian destacavam ainda mais seus traços perigosamente belos. Sua presença era tão intimidadora quanto gelada. Florence cerrou os punhos, os ombros tremendo de contenção. Com todo o autocontrole que conseguiu reunir, ela perguntou, com a voz trêmula: — Por quê? Só porque ela faz parte da família Gonçalves? Nós merecemos isso? Por que sempre que algo acontece, quem é sacrificado sou eu? Uma vez, duas vezes... Lucian permaneceu em silêncio, seu olhar inexpressivo, como se nada pudesse abalar sua calma. Florence, por outro lado, parecia à beira de um colapso. Ela abaixou os olhos, fixando-os nos sapatos de ambos. Um par de tênis comuns, o outro, sapatos de couro feitos à mão, sofisticados. A diferença entre eles era insuperável. Ela deixou escapar um sorriso amargo, zombando de si mesma. Era