Bryan rapidamente pegou a bandeja e a entregou para Florence, com um sorriso que quase parecia malicioso. — Que tal você levar a comida para o Lucian? Ele trabalhou a manhã inteira e ainda não comeu. Florence olhou para a tigela de canja de galinha, que ainda soltava vapor quente. Não havia mais como recuar. Se era para arriscar, que fosse agora. — Tudo bem. — Ela segurou a bandeja com firmeza e seguiu em direção à escada. Quando chegou à porta do quarto, suas mãos estavam suadas. Ela hesitou, sem saber se entrava ou não. Foi nesse momento que ouviu uma voz grave e rouca vinda de dentro do quarto. — Pode entrar... Florence. Ao ouvir isso, ela quase deixou a bandeja cair. Era como se ela fosse invisível para Lucian, como se ele enxergasse através dela com facilidade. Como poderia enfrentá-lo se ele sempre parecia estar um passo à frente? Mas Florence não queria desistir. Mesmo que perdesse no final, ela tinha que tentar lutar. Ela respirou fundo, reuniu coragem e abriu
Os olhos de Florence congelaram por um instante ao perceber que, sem querer, havia deixado escapar algo sobre sua vida passada. Ela tentou puxar a mão que ele segurava, mas Lucian apertou ainda mais. — Fala. — Ordenou Lucian, com a voz firme. — Porque... Antes, toda vez que você tossia, eu sentia o cheiro de folhas de hortelã em você. — respondeu Florence, tentando se desvencilhar. — Está doendo. Lucian não soltou sua mão, mas diminuiu a força. Ele inclinou-se um pouco mais, com uma expressão que misturava curiosidade e algo mais intenso. — Toda vez? — Repetiu ele, claramente interessado. Florence mordeu os lábios e percebeu que tinha se enfiado ainda mais fundo no buraco que ela mesma havia cavado. Ela virou o rosto, recusando-se a dizer qualquer outra palavra. O olhar de Lucian tornou-se mais penetrante. Seu corpo, que já estava febril, parecia ainda mais quente. Ele a encarava fixamente, com uma intensidade crescente, como se tentasse decifrá-la por completo. Florence
Enquanto falava, Florence correu para o outro lado da cama, pegou os documentos caídos, organizou tudo com cuidado e colocou de volta sobre a cama. Quando voltou para o lado de Lucian, ela percebeu que ele já tinha desabotoado metade da camisa. Seus olhos caíram involuntariamente sobre os músculos definidos do abdômen dele, e por um momento ela sentiu a boca seca. Fechando os olhos rapidamente, ela terminou de desabotoar os botões restantes, limpou a pele dele de forma rápida e um tanto desajeitada. — Pronto. Já terminei. Meu horário de trabalho está quase começando, eu vou indo. — Florence. — Chamou Lucian, em um tom calmo e baixo. — Você veio até aqui para me ver? Florence apertou os punhos, mas respondeu com leveza: — Não, eu vim trazer o almoço do Bryan. Só aproveitei para passar e ver como você está. Assim que terminou de falar, ela saiu apressada do quarto, quase correndo. Lucian olhou para a porta agora vazia. — Teimosa. De repente, ele se lembrou de algo que
Na manhã seguinte, uma fina chuva de outono caía do céu. As gotas, leves e geladas como uma névoa fria, atingiam o rosto de Florence, fazendo-a estremecer involuntariamente. Ela carregava o café da manhã recém-comprado enquanto caminhava em direção ao hospital. No momento em que chegou ao prédio da ala de internação, seu celular começou a tocar. Era Lyra, que parecia desesperada. Assim que Florence atendeu, a voz da mãe soou urgente: — Você viu os trending topics? — Não, não vi. — Respondeu Florence, sem dar muita atenção, continuando a caminhar. — Vá olhar agora! — Insistiu Lyra, pela primeira vez usando um tom tão firme com Florence. Florence parou por alguns segundos, surpresa, mas pegou o celular e abriu a lista de assuntos mais comentados. Seus olhos caíram no título em destaque, e, no instante seguinte, sua visão pareceu tremer. O café da manhã escorregou de suas mãos e caiu no chão, espalhando-se por toda parte. [Grupo Avery sofre golpe e perde maior contrato do an
— Se você ousar destruir o Grupo Nunes, eu também vou acabar com você novamente. Novamente? O que ela queria dizer com isso? Florence olhou para Melissa com desconfiança. Ela não se preocupou primeiro com Ronaldo, mas sim com o Grupo Nunes. Florence estava prestes a dizer algo, mas Ronaldo, de repente, se levantou da cama e interrompeu. — Flor, chega. Não faça isso. Mãe, a Flor me ajudou. Não fale assim com ela. Por favor, saia e espere lá fora. Ronaldo empurrou Melissa suavemente em direção à porta. Melissa lançou um olhar afiado e cheio de aviso para Florence antes de sair do quarto, deixando a porta fechar atrás de si. Agora, restavam apenas Florence e Ronaldo no quarto. Ronaldo estendeu a mão para Florence, mas ela se afastou, recusando o contato. — Ronaldo, você não tem nada para me explicar? — Perguntou ela, com a voz fria. O rosto de Ronaldo ficou sério. Ele abaixou a mão e respondeu: — Flor, você não entende. — Eu não entendo? Então isso te dá o direito de me
PÁ! A mão de Florence acertou o rosto de Ronaldo com força, fazendo sua cabeça virar para o lado. O rosto dele se contorceu de raiva, assumindo uma expressão assustadoramente ameaçadora. No segundo seguinte, ele agarrou o pulso de Florence e a puxou para mais perto. — Você também fez isso com ele? — Ronaldo perguntou, com a voz grave, carregada de ressentimento. — Me solta! — Florence gritou, tentando se desvencilhar. Ela lutou para escapar, mas Ronaldo a empurrou com força sobre a cama. Por causa da força do movimento, o impacto fez com que ela varresse com o braço os documentos que estavam no pé da cama, espalhando papéis pelo chão. Seus olhos caíram sobre uma das folhas, onde viu a assinatura de Ronaldo. Algo naquilo chamou sua atenção. Ignorando a dor em seu corpo, ela pegou o papel e começou a examiná-lo repetidamente. — Essa assinatura é sua? — Florence apontou para a palavra “Avery” no documento. — É. — Ronaldo confirmou, despreocupado, percebendo que era apenas um
Ela sempre acreditou que era Lucian quem não queria vê-las, ela e sua mãe. Para evitar que Estela fosse envolvida ou sofresse as consequências de sua presença, Florence fazia questão de manter distância, levando a filha para longe sempre que possível. Enquanto esses pensamentos tomavam conta de sua mente, um raio cortou o céu, iluminando a capela da família com uma luz sombria e pesada. O som do trovão que veio logo em seguida parecia ecoar direto em seu peito. Florence sentiu como se seu coração tivesse sido perfurado, e a sensação de caos em suas veias a deixou atordoada, como se o sangue estivesse prestes a explodir de tanta pressão. Quando percebeu novamente o que estava acontecendo, Lyra já a havia levado de volta para dentro da casa. Uma toalha seca passava por seus cabelos, limpando a água da chuva que ainda pingava. — Vá logo para o quarto trocar de roupa. — Disse Lyra, com firmeza. Mas, assim que terminou de falar, Lyra se lembrou de que Florence havia se mudado. Para
A capela da família era composta por duas áreas e ficava localizada no ponto mais alto de Águas Serenas. A arquitetura imponente, com vigas de teto altas e majestosas, refletia a grandiosidade do local. Todos os anos, uma fina camada de ouro era aplicada para manter o brilho que simbolizava o poder e a tradição da família. Diante do altar, Theo, que sempre fora um homem rígido e austero, exibia uma expressão de raiva rara e assustadora. Seus olhos frios estavam fixos em Lucian, que permanecia no centro da capela, imóvel. — Você me decepcionou profundamente desta vez! — Theo vociferou, apontando para ele. — Quem vazou o conteúdo do contrato? Lucian, com seus traços marcantes e um olhar distante, parecia alheio ao caos que a tempestade lá fora trazia. A chuva torrencial, que batia forte contra as janelas da capela, parecia incapaz de atingir a frieza que emanava dele. — Ninguém vazou. Foi um descuido meu, e a família Nunes aproveitou a oportunidade. — Você! — Theo gritou, os ol