Na manhã seguinte, uma fina chuva de outono caía do céu. As gotas, leves e geladas como uma névoa fria, atingiam o rosto de Florence, fazendo-a estremecer involuntariamente. Ela carregava o café da manhã recém-comprado enquanto caminhava em direção ao hospital. No momento em que chegou ao prédio da ala de internação, seu celular começou a tocar. Era Lyra, que parecia desesperada. Assim que Florence atendeu, a voz da mãe soou urgente: — Você viu os trending topics? — Não, não vi. — Respondeu Florence, sem dar muita atenção, continuando a caminhar. — Vá olhar agora! — Insistiu Lyra, pela primeira vez usando um tom tão firme com Florence. Florence parou por alguns segundos, surpresa, mas pegou o celular e abriu a lista de assuntos mais comentados. Seus olhos caíram no título em destaque, e, no instante seguinte, sua visão pareceu tremer. O café da manhã escorregou de suas mãos e caiu no chão, espalhando-se por toda parte. [Grupo Avery sofre golpe e perde maior contrato do an
— Se você ousar destruir o Grupo Nunes, eu também vou acabar com você novamente. Novamente? O que ela queria dizer com isso? Florence olhou para Melissa com desconfiança. Ela não se preocupou primeiro com Ronaldo, mas sim com o Grupo Nunes. Florence estava prestes a dizer algo, mas Ronaldo, de repente, se levantou da cama e interrompeu. — Flor, chega. Não faça isso. Mãe, a Flor me ajudou. Não fale assim com ela. Por favor, saia e espere lá fora. Ronaldo empurrou Melissa suavemente em direção à porta. Melissa lançou um olhar afiado e cheio de aviso para Florence antes de sair do quarto, deixando a porta fechar atrás de si. Agora, restavam apenas Florence e Ronaldo no quarto. Ronaldo estendeu a mão para Florence, mas ela se afastou, recusando o contato. — Ronaldo, você não tem nada para me explicar? — Perguntou ela, com a voz fria. O rosto de Ronaldo ficou sério. Ele abaixou a mão e respondeu: — Flor, você não entende. — Eu não entendo? Então isso te dá o direito de me
PÁ! A mão de Florence acertou o rosto de Ronaldo com força, fazendo sua cabeça virar para o lado. O rosto dele se contorceu de raiva, assumindo uma expressão assustadoramente ameaçadora. No segundo seguinte, ele agarrou o pulso de Florence e a puxou para mais perto. — Você também fez isso com ele? — Ronaldo perguntou, com a voz grave, carregada de ressentimento. — Me solta! — Florence gritou, tentando se desvencilhar. Ela lutou para escapar, mas Ronaldo a empurrou com força sobre a cama. Por causa da força do movimento, o impacto fez com que ela varresse com o braço os documentos que estavam no pé da cama, espalhando papéis pelo chão. Seus olhos caíram sobre uma das folhas, onde viu a assinatura de Ronaldo. Algo naquilo chamou sua atenção. Ignorando a dor em seu corpo, ela pegou o papel e começou a examiná-lo repetidamente. — Essa assinatura é sua? — Florence apontou para a palavra “Avery” no documento. — É. — Ronaldo confirmou, despreocupado, percebendo que era apenas um
Ela sempre acreditou que era Lucian quem não queria vê-las, ela e sua mãe. Para evitar que Estela fosse envolvida ou sofresse as consequências de sua presença, Florence fazia questão de manter distância, levando a filha para longe sempre que possível. Enquanto esses pensamentos tomavam conta de sua mente, um raio cortou o céu, iluminando a capela da família com uma luz sombria e pesada. O som do trovão que veio logo em seguida parecia ecoar direto em seu peito. Florence sentiu como se seu coração tivesse sido perfurado, e a sensação de caos em suas veias a deixou atordoada, como se o sangue estivesse prestes a explodir de tanta pressão. Quando percebeu novamente o que estava acontecendo, Lyra já a havia levado de volta para dentro da casa. Uma toalha seca passava por seus cabelos, limpando a água da chuva que ainda pingava. — Vá logo para o quarto trocar de roupa. — Disse Lyra, com firmeza. Mas, assim que terminou de falar, Lyra se lembrou de que Florence havia se mudado. Para
A capela da família era composta por duas áreas e ficava localizada no ponto mais alto de Águas Serenas. A arquitetura imponente, com vigas de teto altas e majestosas, refletia a grandiosidade do local. Todos os anos, uma fina camada de ouro era aplicada para manter o brilho que simbolizava o poder e a tradição da família. Diante do altar, Theo, que sempre fora um homem rígido e austero, exibia uma expressão de raiva rara e assustadora. Seus olhos frios estavam fixos em Lucian, que permanecia no centro da capela, imóvel. — Você me decepcionou profundamente desta vez! — Theo vociferou, apontando para ele. — Quem vazou o conteúdo do contrato? Lucian, com seus traços marcantes e um olhar distante, parecia alheio ao caos que a tempestade lá fora trazia. A chuva torrencial, que batia forte contra as janelas da capela, parecia incapaz de atingir a frieza que emanava dele. — Ninguém vazou. Foi um descuido meu, e a família Nunes aproveitou a oportunidade. — Você! — Theo gritou, os ol
Ao entrar no quarto, Lucian se deitou de bruços na cama sem dizer uma única palavra. Fernando se aproximou e levantou o casaco que cobria as costas dele. Quando viu a extensão dos ferimentos, ele respirou fundo, surpreso. Embora o segurança tivesse aliviado na intensidade, as três primeiras chicotadas claramente haviam sido aplicadas com força. O chicote molhado, ao entrar em contato com a pele, parecia adicionar farpas invisíveis que rasgavam a carne de forma cruel. — O que deu no Theo dessa vez para te bater assim? — Fernando perguntou, franzindo a testa. — Da última vez foi por causa da Florence e agora... Ele parou no meio da frase, como se algo tivesse lhe ocorrido. — Foi ela de novo? Parece que ela veio ao mundo só para te castigar. Lucian lançou um olhar gélido para Fernando, que imediatamente percebeu que havia ultrapassado os limites. Até Bryan, que estava ao lado, tossiu duas vezes em desaprovação, indicando seu incômodo com o comentário sobre Florence. Constrangi
A chuva caía fina e constante enquanto Bryan atravessava apressado a porta da casa. Ele deu de cara com Florence, que estava parada ali, como se estivesse presa em seus próprios pensamentos. — Bryan. — Florence, você está aqui. Por que está parada na porta? Entre e se sente. — Bryan, há pouco eu e minha mãe vimos você indo para a capela da família. Aconteceu alguma coisa? — Florence perguntou com cautela, escolhendo bem as palavras. Bryan a observou por um instante, depois suspirou levemente. — Flor, se você quer mesmo saber, vá até o quarto do Lucian. Lá você terá sua resposta. Seu olhar carregava um significado oculto, quase como se quisesse alertá-la de algo. O coração de Florence começou a bater mais rápido. Ela sentiu as pernas ficarem fracas e precisou se apoiar no batente da porta. Seus dedos apertaram a madeira com tanta força que parecia que iam perfurá-la, mas ela não sentiu dor alguma. Depois de alguns segundos de silêncio, ela balançou a cabeça, como se estive
Ele ergueu a mão para levar o cigarro aos lábios, e a fumaça branca que escapava formava uma espécie de máscara, escondendo qualquer traço de sua expressão. No silêncio que se instalou entre eles, os olhares se cruzaram. Florence sentiu o peito vazio por um instante. Seus dedos se contraíram levemente enquanto ela forçava a si mesma a manter a calma. Lucian abaixou o olhar, apagando o cigarro no cinzeiro ao seu lado. — Deixe-a ir. Florence desviou o olhar para a água que escorria das folhas das plantas ao seu redor. Suas palavras saíram frias e cortantes: — Obrigada por tudo, tio. Mas, daqui em diante, não preciso mais da sua ajuda. A frase pairou no ar como uma lâmina fria. Lucian parou o movimento de apagar o cigarro por um breve momento, mas logo voltou sua atenção para o que fazia. Seus olhos escuros seguiram o vulto de Florence enquanto ela se afastava, até que o som do celular o trouxe de volta à realidade. — Ainda está vivo? — A voz de Lavínia soou do outro lado da