Prólogo.
Desespero.
Era o único sentimento que me dominava, naquele momento, enquanto yo lutava com os meus últimos resquícios de força e lucidez para sobreviver e alcançar a superfície. Contudo, todas as tentativas estavam sendo débeis e inúteis, ao mesmo tempo em que sentia o meu corpo pesar e afundar ainda mais para a profundeza das águas gélidas, turvas e violentas do rio Murky Waters.
Medo.
Tentei mover os braços e pernas em direção a luz embaçada sobre a minha cabeça, que ficava cada vez mais distante, contudo falhei miseravelmente de novo. A minha mente estava ficando esquisita de uma forma inexplicável e desconhecida por mim, assim como sentia a minha garganta queimando demasiadamente. O pouco ar começou a acabar na medida em que o meu corpo morria com mais velocidade e sem controle nenhum por mim.
Inconsciência.
Yo queria lutar, me agarrar com desespero ao meu último suspiro de existência e continuar viva. Entretanto, sabia que era o meu fim. Já não existia mais nenhuma força no meu corpo ferido, exausto e tomado por uma terrível hipotermia. Inúmeras vezes, lutei e nadei contra as correntezas violentas do rio, durante ao tempo em que o meu corpo era lançado para todos os lados como se fosse de uma boneca velha de trapos. Minha mente ia apagando com rapidez assim como as minhas investidas de alcançar o topo. Por fim, apenas sentia a inconsciência chegando, como a ceifadora da minha curta vida, com um sorriso temeroso e impetuoso.
Então, era assim a morte por afogamento?
No! Esse não seria o meu fim!
A morte me fitava com os seus olhos vazios, sem mais nenhum resquício de humanidade e totalmente irracionais. O seu caminhar era vacilante e lento, contudo as suas pernas podres continuavam trazendo a carcaça ambulante, sem um dos braços e parte do estômago pendendo para fora do seu abdômen, na minha direção. A sua boca, com enormes dentes amarelos, abriu-se em um grunhido animalesco e o cheiro fétido alcançou-me como um aviso mórbido de que aquela praga, que um dia fora uma pessoa como yo, poderia me condenar a ter um final como o seu e me tornar uma morta viva.
Como yo poderia me tornar uma deles se a minha alma havia sido assassinada e morta meses antes?
Um sorriso sem vida nasceu nos meus lábios, enquanto bradava a minha katana no ar, antes de cravar a lâmina afiada e polida na cabeça da zombie sem hesitar, eliminando-a logo em seguida.
O apocalipse zumbi abateu todo o planeta como uma praga destruidora que era, deixando apenas os mais fortes de pé enquanto os mais fracos eram extintos e retornavam a ‘’vida’’ como seres irracionais, perigosos e mortais. Agora, quem perecia de qualquer forma, poderia ser transformar em um morto vivo.
Apenas a lei dos mais fortes existia, e yo era uma renascida das sombras.
Capítulo 1.Visitas indesejadas.03 de outubro, 2017.— Ainda não sabemos ao certo quem está espalhando tais vídeos falsos, mas as autoridades pedem calma e compreensão à todos. A polícia está em busca do grupo de hackers terroristas que está tentando espalhar o pavor entre a população estadunidense. — A repórter murmurou com uma expressão, aparentemente, não muito convencida das próprias palavras. — Voltamos ao estúdio com você, Robert. — Forçou um sorriso e a sua imagem desapareceu na tela da grande televisão pendurada na parede dos fundos.Franzi as sobrancelhas, incomodada. Os meus pensamentos ficaram inquietos pelo recente noticiário, contudo apenas encarei as portas duplas de vidro da lanchonete e obriguei-me a esquecer os &uacut
Capítulo 2.Lute como uma garota do UFC.03 de outubro, 2017.Repentinamente, a lanchonete havia sido preenchida por clientes, e a minha tarde de tédio indo embora na mesma velocidade. Yo me movia por entre as mesas com agilidade, enquanto distribuía sorrisos falsos e simpatia forçada para algumas pessoas mal-humoradas que sequer fitavam o meu rosto para retribuir o meu cumprimento antes, verdadeiramente, alegre.— Vocês viram o vídeo que mandei no grupo? — Questionou um adolescente animado. Ele mostrava o celular para os seus outros dois amigos que estavam sentado na sua frente. — Será mesmo que o cara estava comendo literalmente a mulher viva? — Murmurou, assustado, atraindo ainda mais a minha atenção para o trio.Vi de esguelha a garota revirar os olhos, com uma express&atild
Capítulo 3.Fragilidade.07 de outubro, 2017.Parei o punho à poucos centímetros da madeira escura e respirei fundo. Deveria ser o centésimo nas últimas horas. Me preparava, tanto emocional quanto mentalmente, para bater na porta daquela casa e saber o que havia acontecido com a minha melhor amiga na última semana. Foram 4 dias sem nenhum contato ou sequer qualquer miséria notícia de Elena, o que me deixou bastante preocupada e inquieta com o seu sumiço. Ela nunca passava mais de 24 horas sem me mandar qualquer mensagem de texto, áudio ou um meme idiota que encontrou não sei aonde.Mi corazón implorava em vê-la.No entanto, hesitei e pensei muito antes de aparecer do nada, pois o seu progenitor me odiava e desaprovava a nossa amizade. Ele sempre deixou bem
Capítulo 4.Nunca mais me toque.11 de outubro, 2017.A imagem do vídeo era um pouco turva e meio trêmula. Contudo, mantive o meu olhar preso na cena amadora que se desenrolava em um beco sujo e mal iluminado de alguma cidade, da qual o nome não era citado em todos os locais que procurei, nos Estados Unidos. Mesmo que fosse um pouco complicado, era possível ver um homem, com um enorme ferimento exposto no lado esquerdo do seu pescoço, agachado ao mesmo tempo em que comia alguma coisa, que aparentemente era outra pessoa em meio ao um lugar abandonado.Enruguei a testa e umedeci meus lábios ressecados com a ponta da língua. A minha respiração pareceu ficar entalada na garganta e um arrepio indesejado de puro terror subiu pela minha espinha quando o câmera amador fez um barulho, quase inaudível para m
Capítulo 5.Décimo oitavo aniversário.31 de outubro, 2017.Em controvérsia a minha vida com alguns clichês irritantemente adolescentes, yo odiava algumas, para não dizer várias, coisas que outras pessoas da minha idade tanto amavam. Ir em alguma festa regrada a álcool e outros vícios ilícitos, com música alta, corpos dançantes e suados espremidos em um local, geralmente, quase claustrofóbico estava no tópico cinco dos meus desagrados pessoais, com certeza.O quão clichê seria se yo dissesse que gostaria de estar no conforto do meu lar lendo um bom livro ou vendo algum filme de ação?Irritantemente clichê, eu sei.Como diria minha abuela, Dulce Maria, com uma expressão de zombaria e uma pitada ácida de deboche na voz s&aac
Capítulo 6.Halloween.31 de outubro, 2017.I Atualmente IO choro alto e desesperado de Gabrielle rompia a quietude excessiva e perturbadora da noite, deixando-me ainda mais ansiosa, confusa e agitada. Passei as mãos pelos meus cabelos, em um tique de puro nervosismo, ao mesmo tempo em que meus olhos estavam presos no corpo sem vida à poucos passos de nós três.Yo também sentia vontade de chorar, mas não conseguia derramar nenhuma lágrima ou ter qualquer reação racional.— O... o... o que faremos? — Elena ousou indagar, com a voz angustiada e embargada, pois também chorava baixinho agarrada na coreana. — Eu...eu... — Calou-se, soltando um soluço estrangulado que magoou meu coração.— Sinceramente, yo no sé.
Capítulo 7.O começo do fim da humanidade.03 de outubro, 2017.Até meu décimo oitavo aniversário, nunca pensei em quando ou como morreria, afinal mal tinha começado a viver a minha vida adulta. Contudo, repentinamente vi, enfrentei e quase tive minha existência ceifada de forma tão abrupta por um adolescente morto vivo da minha idade. Se yo fechasse os olhos e me concentrasse um pouco mais, conseguiria sentir o peso do seu corpo forte sobre o meu, os braços fraquejando com os meus últimos resquícios de força, e o cheiro da morte vindo da sua boca aberta e mortal pronta para arrancar um pedaço meu.Ele era um zumbie.No fim, os supostos vídeos eram reais. As pessoas estavam virando zombies e cometendo canibalismo sem a menor explicação, de fato. E eu e as minhas
Capítulo 8.O meio do fim.09 de novembro, 2017.10:30.Yo poderia contar nos dedos de uma única mão as vezes em que tive medo, ou senti qualquer outra sensação que chegasse perto desse sentimento ruim que pudesse transparecer para quem estive ao meu redor. Sempre fui uma alma velha e ranzinza presa em um corpo de uma adolescente, como minha abuela gostava de afirmar com um sorriso debochado nos lábios pintados de carmesim. Quase, continuamente, conseguia manter as próprias minhas emoções sob o meu controle de ferro e longe da percepção alheia. Talvez, por essa razão, eram as raríssimas ocasiões em que temi por alguma coisa, desde a minha família até a mim mesma, e alguém percebeu.Contudo, a vida tinha me dado um