Capítulo 4.
Nunca mais me toque.
11 de outubro, 2017.
A imagem do vídeo era um pouco turva e meio trêmula. Contudo, mantive o meu olhar preso na cena amadora que se desenrolava em um beco sujo e mal iluminado de alguma cidade, da qual o nome não era citado em todos os locais que procurei, nos Estados Unidos. Mesmo que fosse um pouco complicado, era possível ver um homem, com um enorme ferimento exposto no lado esquerdo do seu pescoço, agachado ao mesmo tempo em que comia alguma coisa, que aparentemente era outra pessoa em meio ao um lugar abandonado.
Enruguei a testa e umedeci meus lábios ressecados com a ponta da língua. A minha respiração pareceu ficar entalada na garganta e um arrepio indesejado de puro terror subiu pela minha espinha quando o câmera amador fez um barulho, quase inaudível para m
Capítulo 5.Décimo oitavo aniversário.31 de outubro, 2017.Em controvérsia a minha vida com alguns clichês irritantemente adolescentes, yo odiava algumas, para não dizer várias, coisas que outras pessoas da minha idade tanto amavam. Ir em alguma festa regrada a álcool e outros vícios ilícitos, com música alta, corpos dançantes e suados espremidos em um local, geralmente, quase claustrofóbico estava no tópico cinco dos meus desagrados pessoais, com certeza.O quão clichê seria se yo dissesse que gostaria de estar no conforto do meu lar lendo um bom livro ou vendo algum filme de ação?Irritantemente clichê, eu sei.Como diria minha abuela, Dulce Maria, com uma expressão de zombaria e uma pitada ácida de deboche na voz s&aac
Capítulo 6.Halloween.31 de outubro, 2017.I Atualmente IO choro alto e desesperado de Gabrielle rompia a quietude excessiva e perturbadora da noite, deixando-me ainda mais ansiosa, confusa e agitada. Passei as mãos pelos meus cabelos, em um tique de puro nervosismo, ao mesmo tempo em que meus olhos estavam presos no corpo sem vida à poucos passos de nós três.Yo também sentia vontade de chorar, mas não conseguia derramar nenhuma lágrima ou ter qualquer reação racional.— O... o... o que faremos? — Elena ousou indagar, com a voz angustiada e embargada, pois também chorava baixinho agarrada na coreana. — Eu...eu... — Calou-se, soltando um soluço estrangulado que magoou meu coração.— Sinceramente, yo no sé.
Capítulo 7.O começo do fim da humanidade.03 de outubro, 2017.Até meu décimo oitavo aniversário, nunca pensei em quando ou como morreria, afinal mal tinha começado a viver a minha vida adulta. Contudo, repentinamente vi, enfrentei e quase tive minha existência ceifada de forma tão abrupta por um adolescente morto vivo da minha idade. Se yo fechasse os olhos e me concentrasse um pouco mais, conseguiria sentir o peso do seu corpo forte sobre o meu, os braços fraquejando com os meus últimos resquícios de força, e o cheiro da morte vindo da sua boca aberta e mortal pronta para arrancar um pedaço meu.Ele era um zumbie.No fim, os supostos vídeos eram reais. As pessoas estavam virando zombies e cometendo canibalismo sem a menor explicação, de fato. E eu e as minhas
Capítulo 8.O meio do fim.09 de novembro, 2017.10:30.Yo poderia contar nos dedos de uma única mão as vezes em que tive medo, ou senti qualquer outra sensação que chegasse perto desse sentimento ruim que pudesse transparecer para quem estive ao meu redor. Sempre fui uma alma velha e ranzinza presa em um corpo de uma adolescente, como minha abuela gostava de afirmar com um sorriso debochado nos lábios pintados de carmesim. Quase, continuamente, conseguia manter as próprias minhas emoções sob o meu controle de ferro e longe da percepção alheia. Talvez, por essa razão, eram as raríssimas ocasiões em que temi por alguma coisa, desde a minha família até a mim mesma, e alguém percebeu.Contudo, a vida tinha me dado um
Capítulo 9.O fim – part. 1.07 de novembro, 2017.Era como se yo estivesse deixando pedaços meus para trás, sobrando apenas uma profunda e dolorosa amargura no meu interior. A cada centímetro em que os pneus da picape da minha madre avançavam na pista molhada pela recente chuva, um bolo crescia na minha garganta. Sentia uma enorme vontade de me debulhar em lágrimas na tentativa de aliviar um pouco o peso melancólico que pairava sobre meus ombros desde o dia anterior. Contudo, não conseguia demostrar nenhum sentimento, ou emoção.Me sentia tão confusa, completamente perdida em mim mesma.Em passo contrário ao imenso peso confuso e controverso de sentimentos no meu amago, era como se um vazio desesperador e angustiante crescesse demasiadamente rápido no meu pe
Capítulo 9.O fim – part. 2.07 de novembro, 2017.Franzi o cenho e encarei Laura com assombro. Vi, perplexa e confusa, a minha madre puxar uma pistola do cós da sua calça jeans e colocar um silenciador na ponta em seguida. Ela engatilhou-a e postou a arma preta na sua frente, segurando-a com ambas as mãos com uma segurança invejável, ao mesmo tempo em que começou a subir os poucos degraus da escada. De repente, ela parou na varanda e virou-se na nossa direção, pedindo silêncio com um dedo contra os lábios antes de voltar a avançar.Por um instante, fiquei sem reação alguma além de encarar as costas tensas de minha progenitora. Acordei do meu torpor com o toque suave de Elena sobre a minha mão, que permanecia no seu braço, fazendo-me olhá-la em segui
Capítulo 9.O fim – part. 3.As grossas e dolorosas lágrimas escorriam pelas minhas bochechas em silêncio.— Vovó! — O grito rasgou do fundo meu peito, enquanto eu me arrastava na direção delas. — Abuela, isso...isso...Yo não aceito isso! — Fechei os olhos com força, socando o chão gélido e áspero com os meus punhos fechados. — Yo não posso te perder! — Afirmei, desesperada e devastada, ao fitar a sua expressão serena. Em nenhum momento, a chuva dava alguma trégua.— Por fav...or, cálma...te, m...mi ángel. — Mi abuela pediu, carinhosa. Ela esticou um braço e a sua mão, tatuada e levemente enrugada, cobriu as minhas sujas com alguns resquícios de sangue que a chuva ainda não havia lavad
Capítulo 11.A peregrina.03 de janeiro, 2020.O crepúsculo já dava o seu ar da graça quando consegui, após três dias cansativos e muito desgastantes, encontrar uma minúscula cidadezinha perdida em algum lugar no estado do Colorado. O céu, antes azulado e com poucas nuvens, agora dava espaço para um lindo tom de amarelo-alaranjado, ao mesmo tempo em que o fraco sol se escondia em meio as altas copas das árvores e montanhas ao longe de onde yo me encontrava. Aos poucos, a noite ia caindo e o frio tornando-se mais intenso na mesma medida.Entrei no primeiro bairro que encontrei ao virar à esquerda três vezes, após contornar uns cinco zombeis que perambulavam inertes e sem rumo pelos caminhos tomados de lixo, folhas secas e histórias perdidas ao longo dos últimos dois ano