NICHOLASO suor frio desce pelas minhas costas e uma gota cai da minha testa quando eu abaixo a cabeça. Onze e meia e nada da Ellen aparecer. Dizer que eu estou nervoso é uma grande piada. Nervoso eu fiquei no dia da minha graduação na Universidade de Miami. Nervoso eu fiquei no dia em que minha filha nasceu. Nervoso eu fiquei no dia em que pedi Ellen em casamento. O que eu estou sentindo hoje não tem muita relação com aquele tipo de nervosismo. Estou quase em pânico. Apesar do clima mais ameno do fim de setembro, eu pareço estar dentro de um caldeirão fervente porque agora até mesmo minhas mãos suam.O padre perto de mim tenta me tranquilizar, dizendo que é normal a noiva atrasar e embora eu mesmo saiba que isso é verdade, uma sensação ruim se instala na minha barriga, afinal todo mundo já está aqui. Alguns parentes distantes da família dela e alguns da minha. Os nossos amigos. Os nossos pais. E a imprensa modesta que eu permiti que registrasse o momento. Só ela não está. A Bow Bridg
Três horas depois sou eu quem não aguenta mais sorrir tanto e manter as mãos longe da bunda dela – que parece ter ficado mais apetitosa de ontem pra hoje. E quando a música tocada muda de fina e clássica para algo mais sensual com o passar do tempo e Ellen começa a dançar de forma provocante, – só pra me atiçar, eu tenho certeza – eu preciso começar a pensar em nabos e verrugas ou acabarei tendo uma ereção imoral na frente de todos os presentes.Mas eu também posso jogar sujo. Lembro-me de como ela ficou no dia em que eu a pedi em casamento. Ela pulou em cima de mim com uma fome voraz não muito longe daqui e eu sei que não foi só por causa do pedido, mas por causa de como o pedido foi feito. Eu cantei pra ela e ela ficou louca. Então com uma ideia diabólica na cabeça, vou até os músicos e peço para que eles me acompanhem em uma canção.As cabeças imediatamente viram-se para mim quando eu chamo a atenção. Na certa, esperam um discurso ou alguma palavra de agradecimento ao discurso mara
ELLENQuatro malditas horas na delegacia, ouvindo nada mais do que o ponteiro do relógio na parede. Tem um guarda na porta do lado de fora e um do lado de dentro, me vigiando como se eu fosse a pior criminosa do mundo. É inacreditável que estejam me tratando assim. Caramba, sequer um copo de água me foi oferecido. Eles não têm como saber que tudo o que eu comi hoje foi um copo de leite com alguns biscoitos, mas porra, todos sabem pelos jornais que eu estou grávida. De forma que quando meu limite de paciência chega ao auge, eu atiro para o policial que me vigia da porta como um falcão.— Me trouxeram aqui pra você ficar me encarando por quatro horas? Não podiam fazer isso na minha casa? Ou quando eu voltasse da minha lua de mel?Ele apenas me encara por mais um tempo, calado, e então como um gesto de impaciência, eu faço a mesma coisa, mas com uma sobrancelha inquisidora bem arqueada.— Os detetives estão ocupados no momento com o senhor Hoffman, senhora. — ele responde por fim — Em br
— Ellen...— Você não matou o Mike, Nick. Eu sei.— Não, não matei. Mas eles têm razão pra achar que eu sou suspeito.— Por que?Ele leva o copo à boca novamente, mas eu o tiro das suas mãos e guardo.— Você não precisa disso. — sento no seu colo de frente pra ele e seguro seu rosto — Agora me conta.— Eu vi o Mike naquela noite. Pouco tempo antes de o acharem morto, na verdade.— Sério? Depois que você foi resolver o problema de que falou?— Ele era o problema do qual eu falei pra você. Desculpa ter mentido, mas é que eu descobri uma coisa sobre ele que me encheu de tanta raiva que eu não pensei direito no que eu estava fazendo.— O que descobriu?— Ele foi o responsável por tudo, amor. Não só por contratar o Asher, mas também por tirar o seu pai da prisão e por forjar a morte do Logan. Tudo isso foi ele. Ele queria me atingir e estava querendo te ferir pra isso. Eu fiquei com tanto ódio que tudo o que eu queria era matá-lo com as minhas próprias mãos.— Mas não matou. Isso é o que v
NICHOLASDepois da entrevista com a Global Business Magazine sobre o futuro da Hoffman Holdings Enterprises agora que eu sou o principal suspeito de um homicídio, passo no hotel onde o Robert está hospedado pra saber como foi sua breve estadia na delegacia após eu ser levado também. Ele me mandou uma mensagem assim que um par de policiais o levou e ficou por pouco mais de uma hora falando qualquer bobagem que eles queriam saber. Vários convidados do meu jantar de ensaio, além dos padrinhos e madrinhas foram levados na verdade, com exceção do Benjamin e da Victoria, que tiveram que voltar às pressas à São Francisco para cuidar de um problema inesperado.É totalmente inadmissível que meus convidados tenham sido tratados dessa forma. Eu ter sido levado para dar esclarecimentos, eu posso entender, mas a Ellen e os demais é totalmente abuso de poder. O que eles poderiam saber sobre mim ou sobre a morte do Mike? Com sorte, meu advogado vai poder reverter a situação e colocar a porra desses
— Eu pedi pra o Paul mandá-lo voltar amanhã. Disse que hoje não estaria disponível. Eu precisava te mostrar isso aqui.Ellen nos mostra uma cópia do vídeo que pegou com a Amber na sala de segurança da HHE – é claro que ela não me ouviria e iria correndo procurar algo pra me salvar – e sinceramente eu fico um pouco mais aliviado com o seu conteúdo, embora de início eu não admita.— Não me leve à mal, amor, mas eu não acho que o vídeo de um cara com um capuz entrando no meu prédio vai tirar aqueles malas da minha cola.— Não seja mal agradecido, Nicholas. Sua mulher aqui conseguiu uma boa prova a seu favor. — Robert sai em defesa da nova senhora Hoffman.— Ainda bem que alguém aprecia o meu trabalho. — Ellen diz, sarcástica.— O problema não é esse e você sabe, amor. Se a polícia achar que você está interessada demais, mexendo demais ou perguntando demais, pode acabar voltando as atenções pra você e eu não quero isso.— Relaxa. A única pessoa comigo era a Amber. E pelo empenho dela em e
ELLENPouco tempo depois de o Nick sair pra confrontar seus pais sobre sua mais recente decepção em relação a eles, a assistente dele, Amber, me liga e diz que tem uma coisa urgente que eu preciso ver. Parece que trata-se de um vídeo ainda melhor que o que achamos ontem. O que é ótimo, já que com aquele, dificilmente conseguiremos alguma coisa a favor do Nick. Mas antes que eu possa sair de casa, Paul me diz que o detetive que veio aqui ontem está novamente na recepção.Sem ter muito o que fazer, e não querendo que ele ache que eu tenho alguma coisa a esconder por não vê-lo, peço que o mande subir. Gostaria que o meu advogado estivesse aqui ou pelo menos o Nick, mas como nenhum dos dois está disponível no momento, resolvo encarar essa sozinha. Quando ele chega à minha porta, eu o mando entrar e lhe ofereço algo para tomar.— Obrigado, senhora Hoffman, mas eu não pretendo demorar muito.Mesmo assim eu vou à cozinha pegar uma garrafa de chá gelado pra mim enquanto ele fica na sala. Eu q
— Quem é Ian? — eu pergunto enquanto tomo um gole de chá pra tentar fazer descer o pedaço de torta que fica preso na minha garganta com o tom que ele acabou de usar para falar desse Ian.— É o chefe de segurança da empresa. Ele pediu uma folga em cima da hora, sabe. Mas cá pra nós, parece até que ele está fugindo de alguém. Não atende o telefone, não foi ao rh para arrumar os papéis da dispensa, não pediu nem mesmo o dinheiro que a empresa lhe deve por tempo de serviço prestado.Huum. Interessante isso. Então esse Ian, chefe de segurança, sumiu logo depois da morte do Mike? E mais ainda, a fita de vídeo da câmera que gravou o assassinato dele sumiu também? Talvez se eu fosse a Ellen antes do Nick, ingênua e crédula na bondade das pessoas, eu poderia até acreditar que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas agora eu sou uma nova Ellen. Não tem como você passar tanto tempo com alguém tão desconfiado e não acabar aprendendo uma coisa ou duas.Mas se esse tal Ian estiver envolvido c