Coincidência do destino ou não, Alice se dá conta de que está diante do marido da irmã de Richard, ao se lembrar que ele havia dito que toda a sua família morava na Califórnia.— Creio que nunca tenha ouvido falar desse nome — responde Alice fingindo certa naturalidade.— Tem razão, que louco estou sendo em fazer essa pergunta, me esquecendo de que Londres é enorme — Steve ri. — Me perdoe por isso, às vezes acabo falando mais do que deveria.— Não há problema — explica.— Mesmo assim, o meu cunhado me disse muitas coisas boas sobre Londres — revela. — Embora ele tenha voltado de lá um pouco estranho. — Sua última frase sai como um sussurro, de modo que pareceu que Steve estava refletindo.— Estranho?— Sim, deve ter acontecido alguma coisa com ele nesse período que esteve por lá, contudo, o Richard é reservado demais para comentar sobre.— Ah… — reflete. — Claro. — Alice não sabe o que dizer, embora queira saber muito mais sobre o assunto.— Me desculpa, mais uma vez estou falando coi
Há um silêncio ensurdecedor dos dois lados da linha, pois cada um está tendo e sentindo as suas próprias emoções por ouvir a voz do outro.— Alice Taylor — Richard diz formalmente. — Quanto tempo.— Sim, faz um tempinho — ela responde. — Quase seis meses para ser exata — complementa. Richard volta a ficar em silêncio e aquilo acaba ficando um pouco constrangedor. — Como você está, Richard?— Ocupado — responde rapidamente.— Estou te atrapalhando? — questiona. — Se quiser, posso te ligar em outro momento.— Não precisa. Qual o motivo da sua ligação? — pergunta.— Pensei muito em te ligar antes — diz ela.— Creio que deva ter ficado muito ocupada com o seu adorável Endrick — diz ele, num tom de voz nada amigável. — Afinal de contas, como foi a viagem? — questiona.— Isso já faz tempo — responde, sentindo a indiferença da voz de Richard.— E como ele está?— Ele faleceu — responde triste.— Agora entendo o motivo de sua ligação — ri nervoso. — Acredito que com a morte dele deva ter se l
Ao chegar na sala de seu apartamento, Richard se depara com a sua irmã Elis e seus sobrinhos de um ano, Theodore e Filippe.— Já estão prontos? — Elis pergunta, não deixando de notar o quão próxima Madeline está de Richard.— Sim, o Richard disse que podemos ir.— Preciso que me ajude com os meninos, Richard, pode carregar um deles para mim? — pergunta Elis.— Claro.Richard se afasta de Madeline e pega Filippe no colo, o que deixa Madeline um pouco chateada, pois ela queria ficar mais perto dele.— Não desgrude dele nem por um segundo — diz Elis, pegando o outro gêmeo.Todos saem do apartamento bem arrumados, afinal a ocasião merecia tal feito, pois estavam indo comemorar o aniversário de vinte nove anos de Richard. Atenta àquela comemoração, Madeline, que era a sua melhor amiga desde infância, decidiu preparar um jantar para ele, com a presença de toda a família.Aproveitando que Richard segurava o sobrinho com apenas um braço, Madeline se aproxima para segurar a mão dele que está l
Os cinco chegam ao restaurante escolhido da noite e encontram tudo vazio.— Chegamos muito cedo? — Richard questiona.— Reservei o restaurante apenas para nós — revela Madeline. — Acho que uma data tão especial deveria ser comemorada com mais calma. — Ele sorri, agradecido com a gentileza e atenção dela.Richard conheceu Madeline na escola quando ainda tinha oito anos. Na volta para casa, descobriram morarem na mesma direção, de modo que começaram a ir juntos para casa. Assim, a amizade dos dois nasceu. Richard sempre ia à casa dela e vice-versa, com o tempo, as duas famílias também se tornaram amigas.Ao contrário de Richard, que sempre demonstrou querer cultivar apenas a amizade, Madeline já dava sinais de que sentia algo mais por ele. Com medo de perder a amizade de Richard, ela nunca se declarou, pois sabia que receberia a rejeição. Dessa forma, Madeline optou por manter seu amor oculto, o tratando como um amigo até que um dia ele demonstrasse o desejo de querer algo mais além.—
Richard sabe que Madeline deve estar a par do acordo que fez com o pai, mesmo assim ela finge não saber, desse modo ele também finge que não prometeu nada.— Acredito que se apaixonar não seja uma escolha e sim algo bem natural — ele responde.Embora tenha feito o acordo com o pai, Richard está confiante de que, mesmo quando complete seus trinta anos, Madeline não o aceitará por saber que ele não a ama.— Mas você é um homem que não dá espaços para o amor, Richard — comenta.— Não é bem assim — responde. — Madeline, serei bem sincero com você — diz ele, aproveitando que continuam sozinhos à mesa. — Se eu pudesse escolher por quem me apaixonaria, pode ter certeza de que eu escolheria você, pois pelo tempo que nos conhecemos, sei o quanto você é uma amiga maravilhosa em todos os sentidos, mas não é assim que as coisas funcionam — explica para ela. — Eu queria muito corresponder às suas expectativas, mas não posso, eu não consigo enxergá-la como mulher, me entende?A frase a deixa um tan
Ainda na sala, Richard olha para o teto e pensa se deve ligar de volta para Alice para saber o real motivo de ela ter lhe ligado. Seus pensamentos estão nela desde que chegou ao apartamento e, embora tenha conversado com Madeline por um tempo, não conseguiu prestar a atenção no que a amiga dizia, por estar pensando em Alice.— Só dessa vez, Alice — sussurra.Deixando de lado o orgulho, ele tira o celular do bolso, disposto a ligar e dizer a ela que a quer de volta, caso ela largasse tudo o que está fazendo na Inglaterra e pegasse o primeiro voo para os Estados Unidos.Procurando o nome de Alice em sua agenda, Richard sente uma enorme adrenalina passeando por suas veias. Ele deseja saber qual será a decisão dela. Quando encontra o nome de Alice, disca o seu número e espera que a ligação seja completa. Entretanto, a sua ligação é interrompida, pois o seu celular notifica que irá desligar por estar sem bateria.— Que droga — pragueja, tentando se levantar, mas não consegue por se sentir t
Entrando em seu quarto, Madeline corre para o banheiro e se tranca ali. Ao tirar o lençol que cobria o corpo, fica de frente ao espelho da pia. Ela encara o seu próprio reflexo, notando as marcas das lágrimas que rolaram por seu rosto, depois volta o olhar para o seu dedão do pé e retira o band-aid que havia colocado no dedo de madrugada. Aquele foi o lugar mais fácil e discreto que encontrou para fazer um corte expressivo o bastante para conseguir uma quantidade de sangue suficiente para manchar o lençol.— Meu Deus, me perdoa por isso — sussurra, sentindo culpa pelo que acabou de fazer. Ela se ajoelha nua no banheiro e junta as mãos em sinal de prece. — Jesus, eu sei que o que fiz foi errado, mas o Senhor sabe o quanto gosto do Richard e o quanto espero por ele. Prometo que, se o Senhor fizer ele se casar comigo, me tornarei uma esposa compreensiva e amorosa que fará de tudo por ele. Me perdoa por essa mentira, eu prometo nunca mais mentir, mas para isso, preciso que me ajude a pesa
A frase de Richard soou como música nos ouvidos de Madeline, que paralisou diante daquela confissão.— Você está falando sério? — ela questiona.— Madeline, sei que a religião é muito importante para você, mas isso não é o fim do mundo. No mundo em que vivemos hoje, um cara não faz questão de se casar com uma mulher virgem e isso não a impediria de arranjar alguém — revela.— Sei disso, mas você entende que esse era o meu propósito desde criança? Richard, isso significa muito para mim, queria me casar com o único homem com quem me deitei.— Sei que significa, só estou te explicando que pode encontrar uma pessoa que não se importe com isso — insiste em explicar.— Eu não quero um segundo homem — repete.— Tudo bem, se acha que não pode conviver com isso, irei me responsabilizar pelo que fiz.— Então se casará comigo? — questiona surpresa.Os pensamentos de Richard viajam em direção à Inglaterra, onde Alice devia estar. Ele sabia que, se firmasse aquele compromisso, nunca mais a veria.