Suas mãos podem curar, suas mãos podem ferir
Eu não tenho uma escolha, mas eu ainda escolho você
- E então nós viajamos pelo país todo, atravessando os estados até chegar em Nova York, pro show mais incrível do mundo! – Clementine praticamente berra a última parte, e eu olho para David, que parece estar se divertindo tanto quanto eu.
- Show de quem? – ele pergunta, enfiando mais uma garfada de omelete na boca.
- McFly, baby! Era McBusted até algum tempo atrás, mas, vocês sabem, né? Músicos são bipolares. – ela fala, balançando o garfo no ar. – Eu que o diga! Lembram do meu amigo Buzz? – ela olha para Magda, que balança a cabeça afirmativamente. – Ele se casou!
- Mas já? – Magda pergunta, surpresa. – Ele não tinh
Não deixe eu me afogar, não me deixe afogar nas ondas, ohEu poderia ser encontrado, eu poderia ser o que você salvou- Como você tá, Leo? – mamãe pergunta, mexendo em meus cabelos. Estou deitado em seu colo desde que acordei e segui para a cozinha. Magda não estava em casa, enviara uma mensagem avisando que dormiria no hotel onde Clementine estava hospedada, então éramos só nós dois em casa, além dos gatos, perdidos em algum lugar por aí.- Estou bem, mãe. – eu falo, fechando os olhos e me deliciando com o cafuné.- Tem certeza? Não minta pra mim, Leo. – ela puxa minha cabeça de leve, de forma que eu a olhe. – Não mente pra mim.- Eu tô bem, mãe. De verdade. – respondo, sendo sincero. – O Joe voltou.- Eu sei. Passei na cas
Queria que você estivesse lá e me levasse pra casaEntão, eu não teria que me sentir sozinhoAssim que abro a porta, Marco entra de supetão. Não me cumprimenta, o que eu já esperava que não fosse acontecer, e se joga no sofá, olhando-me. Parece curioso.- E então? – pergunta, fazendo um sinal de deboche para mostrar a si mesmo. – Estou aqui, desembucha, lunático.- Não sou lunático. – suspiro, fechando a porta.- Tanto faz, o que você quer? Ah, já sei! Agora que meu querido irmão voltou, quer entrar nas graças dele, é isso? Escuta aqui, Leo Maluquinho, eu não tô nem ai pro seu relacionamento com o meu irmão e não quero ter nada a ver com isso, ok? Vocês dois já ferraram com tudo o que tinham pra ferrar.- Eu n&atild
O que você diriaSe você pudesse dizerTudo o que você precisavaPara quem você precisava?Desperto com uma música irritantemente conhecida, e quando abro os olhos, percebo que vem do meu celular. Bufando, estico o braço para alcançá-lo, e cometo o erro de atender sem ver quem é primeiro.- LEEEEEEEEEEO!!! – a voz esganiçada de Clementine estoura em meu ouvido, me fazendo gemer. – ESTOU TÃO ORGULHOSA DE VOCÊ, MEU AMOR! – ouço uma voz mais baixa no fundo, provavelmente de minha irmã. Logo depois, Clementine solta um muxoxo e é Magda quem fala.- Oi, maninho. Estamos aqui no Burguer Plaza, você quer encontrar a gente? Contei pra Clem dos seus novos planos e estamos fazendo novos planos sobre a SUA vida sem você, então, por favor, venha! – demoro para responder, sem forçar para sequer m
Eu perco minha voz quando eu olho para vocêNão é possível fazer um barulho embora eu esteja tentandoDizer-lhe todas as palavras certasEspero as palavras certas- Já faz cinco minutos, Leo. – Alexandre ri, ainda esperando que eu fale alguma coisa. Não sei como começar. “Então, eu meio que gosto de você, mas também gosto de outro cara, e como nenhum de vocês me conhece o suficiente para saber o quanto estou quebrado, quero afastar os dois e chorar sozinho? Ah, e tive ciúmes de ver você abraçando uma loira que eu não sei quem é e nem tenho como saber, porque não é da minha conta, mas eu sou mesquinho?” Eu não poderia falar isso, e nem mesmo mencionar meu passado, poderia? Não sei, não conheço Alexandre o suficiente para fazê-lo, não sei o que ele faz na casa de Lea,
Sinta o momento ao seu redorE o silêncio que te rodeiaO tempo que você tem é sagradoNão espere e desperdiceEles não podem tirar isso de você Estou esgotado e praticamente me arrastando quando deixo o Burguer Plaza. Alexandre se ofereceu para me acompanhar até a minha casa, mas recusei. Preciso de um tempo sozinho agora. Meu peito está apertado e estou tentando não pensar que posso facilmente ter um ataque de pânico no meio da rua, com desconhecidos ao meu redor. Caminho rápido, evitando olhar para os lados. Conversar com Alexandre tirou um peso dos meus ombros, um peso que eu não sabia que poderia ser tirado. Ele me abraçou, deixou que eu chorasse em seu ombro e me consolou com palavras reconfortantes. Eu não sabia que precisava tanto que a
Tudo é temporárioAté mesmo a tristeza que você carregaEntão me diga, você está bem? Você diz que está bemEu estou bem agora, estou com você- Estou orgulhoso de você, Leo, estou mesmo. – sinto-me corar sob o olhar atencioso do Dr. Soares. – Querer voltar a estudar... Não tenho palavras para expressar o quanto estou feliz com isso, e imagino que sua mãe sinta o mesmo.- Eu ainda não contei pra ela. – falo, torcendo os dedos. – Não quero falar até ter certeza de que vai mesmo acontecer.- Compreendo. Você planeja sair do projeto, das crianças?- Não, quero continuar. – afirmo com tanta convicção que ele ri.- Muito bem. Antes de tomar qualquer decisão, eu preciso saber como você e
Você não pode cair mais longeMais longe do chãoEntão, junte-se agora, amorAssim como você era antesAntes...Já faziam semanas, e ainda não parecia real. Éramos fantasmas nos arrastando pela casa, Magda e mamãe se matando no trabalho para não pensar no que acontecera, eu faltando à escola. Nada mais importava, de qualquer maneira. O carro havia sido atingido na traseira, ao lado esquerdo, e caíra do viaduto. Dois homens mortos. Meu pai e meu irmão. Mortos. Não havia sido acidente, mas como Rogério era um pai de família adorado por todos, um cidadão de bem e jurara não ter visto o carro no escuro, o que não fazia sentido com os faróis de ambos os carros acesos, foi pego por homicídio culposo. Sem intenção de matar. Uma grande me
O tempo não vai voar, é como se eu estivesse paralisada por eleEu gostaria de ser eu mesma novamente, mas ainda estou tentando me achar- Lea quer que organizemos um sarau para comemorar – Alexandre abre aspas com os dedos – “a recuperação contínua de todas as belas almas que conhecemos graças ao projeto”, e claro, quer que você participe com alguma atração.- Eu? Mas eu não sei fazer nada. – guincho, já ficando preocupado.- Você não escreve? – Alexandre pergunta, descendo do ônibus primeiro. Sigo-o e começamos nossa caminhada até a casa de Lea. Alguns voluntários novos buscaram as crianças mais cedo hoje, então a caminhada é silenciosa e um pouco entediante, quem diria que eu sentiria falta dos gritos, empurrões e canções?