Primeiro dia no trabalho

Ajeito a blusa no corpo pela milésima vez quando entro no hall do apartamento luxuoso, a sensação de que esse lugar não era para mim me domina, na medida em que paro em frente ao elevador para chamá-lo. Quando as portas se abrem, uma mulher está dentro dele, ela me encara dos pés a cabeça, antes de entortar a boca e sair da caixa de aço.

Solto um suspiro e entro nele, apertando rapidamente o botão do andar onde o Sr. White morava. Espero que eles me arrumem um uniforme.

Quando as portas se abrem, tenho acesso a outro hall, onde havia um belo sofá e algumas plantas. Caminho até a única porta que havia ali, apertando a campainha.

- Pontual. - é o que o White diz, assim que abre a porta para mim.

Ele usava uma camisa social com alguns botões abertos, mas nada que desse para ver o seu peitoral, seus pés estavam descalços e ele já estava com a calça. Aparentemente estava se arrumando para sair.

- Bom dia, sr. White.

- Bom dia. - Ele abre espaço para que eu possa entrar no apartamento, e assim eu faço. Sentindo seu perfume extremamente forte ao passar pelo seu corpo, tendo a sensação de que eu conhecia esse cheiro de algum lugar.

A porta é fechada atrás de mim e ele passa pelo meu corpo, enquanto os meus olhos encaram a enorme sala de estar, bem diferente da minha casa.

- Nós nos conhecemos, Jones? - pergunta do nada, atraindo a minha atenção para si.

Franzo o meu cenho, não entendendo muito bem a sua pergunta.

- Ontem foi a primeira vez que eu te vi, Sr. White.

Ele assente e desvia os olhos de mim.

- Certo. - Uma pequena careta se forma em seu rosto, como se não estivesse satisfeito com a minha resposta. - Venha, eu vou te apresentar tudo antes de sair.

Acompanho os seus passos pelo apartamento, ficando surpresa com cada ambiente em que entramos e com o tamanho do local.

- Cecilia costuma acordar por volta das oito horas da manhã, ela não acorda com muita fome, mas é recomendado que coma alguma fruta antes de almoço. - Explica quando chegamos na cozinha, apontando para uma fruteira enorme. - Apenas pique a fruta que ela quiser e dê para ela.

- Tudo bem. E o almoço dela?

Ele solta um pigarro e encara o relógio em seu pulso.

- Eu iria deixá-la responsável pela preparação do almoço da Cecilia, mas achei que teria muito trabalho, então pedi que uma pessoa viesse todos os dias para cozinhar. Ela virá um pouco antes do almoço e irá embora logo após a comida estar pronta. já deixei tudo especificado para ela, sobre o que a menina deve comer, ou não.

- Algo mais que eu deva saber? - junto as minhas duas mãos em frente ao corpo.

Ele abre a boca para responder, mas o barulho de um toque estridente de celular o interrompe, White ergue o dedo indicador me pedindo um minuto. Ele agarra o celular no bolso da calça e o atende rapidamente.

- Ainda estou em casa. - Pausa. - Tudo bem, estou a caminho.

Seus olhos encontram os meus, assim que a ligação é finalizada.

- Eu tinha a pretensão de ficar aqui até ela acordar para fazer as devidas apresentações, mas houve um imprevisto. - Ele passa por mim em passos rápidos, voltando para a sala de estar, onde os seus sapatos e o seu paletó estavam.

White se senta na beira de um dos sofás e calça os sapatos.

- Mas sr. White, ela não vai estranhar a minha presença aqui? - a minha pergunta sai mais apreensiva do que eu gostaria.

Eu era uma completa estranha para essa criança, o ideal seria que alguém em quem ela confia me apresentasse e garantisse que sou alguém de confiança, antes que eu tivesse acesso a ela.

- Provavelmente vai. Mas ela já está acostumada a ter pessoas estranhas por perto, então irá aceitar rápido a ideia. - Ele veste o paletó e fecha os últimos botões da camisa. - Ligue para a minha secretária se tiver qualquer imprevisto, deixei o número em cima de uma das bancadas da cozinha.

Ele pega as chaves e caminha em direção a porta em passos rápidos.

- Tenha um bom dia, sr. White. - é a única coisa que consigo dizer antes dele sair e fechar a porta sem me dar nenhuma resposta. - Babaca. - Digo para mim mesma.

Como ele poderia ser tão distante assim em relação a filha?

Caminho até a cozinha, encontrando com facilidade o papel com o número da secretária dele, agarro o meu celular e salvo o contato dela. Espero não precisar usá-lo em nenhuma situação.

Deixo a minha bolsa em uma das banquetas e volto para a sala, retirando os meus tênis e os deixando em um canto escondido. Era quase oito horas, então meus olhos encaram a escada que levava para o segundo andar, supondo que o quarto dela ficava lá. Nem isso ele havia me dito.

Solto um suspiro antes de subir os degraus; encontrando um enorme corredor a minha frente, assim que eles acabam, com várias portas.

Começo abrindo uma por uma, encontrando alguns quartos exatamente iguais; um banheiro e um quarto que eu supus ser o do White, mas não passei muito tempo dentro dele para ter certeza. A última porta que eu encontro finalmente parece ser o certo, já que havia um abajur muito fofo sobre um dos móveis, dando um certo ar familiar no local, mesmo que o quarto em si fosse idêntico aos outros que eu havia visto anteriormente.

Me aproximo em passos lentos até a cama de casal, observando que a garotinha havia começado a se mexer. Me sento em um espaço vago e a observo por um tempo, até ver os seus olhos abrirem.

- Bom dia, Cecilia. - Abro um sorriso simpático, notando que o seu cenho se franze e ela coça levemente os olhinhos. - Meu nome é Bella, eu vou fazer companhia para você.

- Tudo bem. - Ela diz baixinho.

- Está com fome? - a sua resposta é apenas um balançar de cabeça. - Ótimo! Vamos lavar o rostinho, escovar os dentes e descer para o café.

Depois de tirá-la da cama, lavar seu rosto e escovar os seus dentes. Eu finalmente desço com ela, segurando a sua mão com cuidado.

- Qual fruta você quer comer hoje? - pergunto, a colocando sentada em uma das banquetas.

Ela precisava de um lugar mais seguro para se sentar.

Sua pequena mão levanta e ela aponta para uma maça. Concordo e pego a fruta, começando a picar ela em um pote, indo até a garotinha.

- Você come sozinha? - ela nega com a cabeça e eu assinto, começando a dar a fruta na sua boca.

Cecilia é uma garotinha calada, extremamente obediente e observadora, ela não questiona em nenhum momento quem eu sou, mas seus olhos atentos observam cada passo meu com atenção.

- Você gosta de brincar de algo? - questiono quando já estamos na sala, sentadas no tapete felpudo. - Ela concorda com a cabeça. - Do quê? Nós podemos brincar juntas. - Sugiro sorridente e ela me olha por uns segundos.

Cecilia se levanta e caminha até uma mochila cor de rosa que estava apoiada próxima a tv. Ela traz a mochila até mim e se senta novamente, a abrindo e retirando um livro de colorir e um estojo.

- Ah, então você gosta de colorir.

A pequena garotinha abre em uma página e começa a pintar um ursinho, me entregando alguns lápis para que eu a ajudasse.

- Você é muito boa nisso! Onde aprendeu? Na escolinha?

- Mamãe. – é a única palavra que ela diz.

- Sua mamãe deve ser incrível, espero conhecê-la logo.

Passamos boa parte da tarde pintando em um completo silêncio, apenas a minha voz ecoava pelo apartamento de vez em quando, em uma tentativa falha de interagir com a criança.

A porta da sala começa a ser destrancada e percebo que a Cecília ergue os olhos no mesmo instante.

Sr. White passa por ela e eu sinto uma frustração instantânea, achei que fosse a mãe dela.

- Boa tarde. – ele diz formal.

Cecília volta os olhos para o desenho, deixando de se importar com a sua presença.

- Boa tarde, sr.

- Como foi a tarde? Deu tudo certo? – ele abre os primeiros botões da camisa e retira o paletó.

- Foi bem. E deu tudo certo.

- E você, Cecília? Gostou da sua nova babá?

Ela apenas dá de ombros, mantendo a sua atenção no desenho. Observo a interação fria dos dois com uma pulga atrás da orelha.

Os olhos do Sr. White encontram os meus.

- Não preciso mais dos seus serviços por hoje, Jones. Pode se retirar. – ele fala sério, encerrando qualquer pensamento que eu estivesse tendo.

- Certo. Estarei aqui amanhã no mesmo horário. – levanto em um pulo e encaro a Cecília. – Tchau, Cecília. Amanhã a gente pinta mais.

Ela não reage, o que me faz engolir seco. Pego as minhas coisas, calço os meus sapatos e saio do apartamento sem olhar para trás.

Que clima estranho.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App