Parte l
Era quinta-feira, eu tomava um conhaque no bar do Manél quando resolvi ir para o hotel descansar.
_Falô Manél, até logo mais.
_Falô Tião.
Atravessei a rua, havia duas meninas na porta do hotel, nem ligaram pra mim. Já sabiam que eu tinha dona. Subi as escadas correndo e ao chegar no corredor, ouvi uma discussão feia. Eram Rosana e Chilena quem discutiam.
_Você nunca vai ser uma atriz, nunca. _Disse Rosana à Chilena.
_Eu serei sim, sua idiota
_Idiota? Idiota é você e...
_Ah, cala sua boca. _Disse Chilena quase chorando.
Rosana entrou em seu quarto e Chilena caminhou até o fundo do corredor e entrou no quarto 16, onde atendia seus clientes. Como eu havia bebido muito, resolvi entrar em meu quarto e tomar um banho para relaxar. Após tomar banho, vesti um calção branco de listras azuis e me deitei na cama que vivia desarrumada. Bateram na porta, atendi, era Chilena.
_O
Desci do trem na antiga Estação da Luz. Fui caminhando até a Rua dos Protestantes. De longe avistei o bar do Manél. Entrei, um homem gordo e com os cabelos compridos amarrados às costas estava nos fundos do bar. _Ei colega, por favor... _Chamei. O homem virou-se de frente e qual não foi minha surpresa, era o Manél. Mais gordo, cabeludo e com o mesmo carisma de sempre. _Tião, seu cachorrão discarado, onde cê tava meu? _E aí mano véio, andou comendo o quê, fubá com fermento? _Cê também mudou meu chapa, tá até com cabelo branco. _Rimos. Era verdade, estava ficando velho. Apesar dos meus 32 anos minha aparência era de uns quarenta. _Então Manél, quais são as novidades? _Ah meu amigo, _Disse ele enquanto me servia uma vodca, _tenho tanta coisa pra te contá. _Dei um gole na vodca que ele me servira e quase engasguei quando ele disse: _Tá sabendo que o hotel fechou? _Quê? _olhei rápido para o outro lado da rua. No luga
Paulo César Batista Bomfim. (Paulinho Dhi Andrade), esta biografia foi escrita na época que Paulinho Dhi Andrade ainda era conhecido pelo codinome: Paulinho Bomfim. Por: Ruy de Oliveira Filho do frentista Ruy Silva Bomfim e da empregada doméstica Eunice Batista Bomfim, ambos baianos, ficou órfão de pai aos seis anos de idade. Aos sete entrou para uma escola estadual, onde se tornou repetente logo no 1° ano escolar por duas vezes. Após passar para o 2° ano escolar teve o mesmo problema. Na verdade, o garoto não prestava muita atenção às aulas, e o motivo parecia ser a fome que o atormentava constantemente, pois numa casa com seis crianças, em que todos passavam fome devido não haver nem mesmo pão velho para comer, ficava difícil se manter atento a qualquer atividade. Paulinho e seus irmãos apanhavam muito do padrasto e de alguns parentes que se achavam no direito de repreendê-los com agressões f
Parte l Julho de 1987, eu estava passando férias na casa de minha avó na companhia de minha noiva Elisa. A casa de minha avó situava-se em São Paulo, no Bairro de São Miguel Paulista, bem próxima à Guarulhos. A mesma era toda feita de tijolos de barro, num modo muito antigo, mas muito bonita e espaçosa. Não sei explicar bem, mas toda casa de vovó tem um jardim, e todo jardim de vovó é bem cuidado. Às vezes pensava que por não ter o que fazer, ela se dedicava a esse tipo de “lazer”. Mas minha adorável velhinha não era nenhuma desocupada. Quando não estava cuidando de seu jardim estava lendo ou preparando um daqueles deliciosos bolos de chocolate com recheio cremoso. Não sinto vergonha de dizer que em três dias ela me ensinou a fazer crochê. Elisa chegou a brincar comigo dizendo que não se casaria com um homem de “atitudes estranhas”. Em menos de dez dias eu a presenteei com um belo agasalho feito por minhas próprias mãos. Minha namorada ficou tão feliz que me
Já era quase noite quando os três chegaram de táxi. Fui correndo ao portão para recebê-los. Levamos Marli para seu quarto e a deixamos dormir até o dia seguinte. Domingo, Marli levantou-se cedo, parecia mais disposta e até se prontificou a ajudar minha avó a preparar o almoço. Estranhamos, mas de qualquer forma ficamos menos preocupados. Durante o almoço conversávamos sobre diversos assuntos: música, filmes, novelas e livros. _Você ainda pretende ser escritor Marrone? _Perguntou minha avó. _Sim vó! _Respondi sorrindo. Meu nome de batismo é Marcos, mas minha querida vovó me chamava de Marrone por causa de uma tia de minha mãe que pelo fato de ser nordestina e querendo me chamar de menino marrom por eu ser moreno acabava me chamando de: “Menino Marroni”. _E que tipo de leitura você mais gosta? _Romance policial. Adoro mistérios de detetives. _Eu prefiro ser qualquer outra coisa menos escritor. _Disse Douglas de rep
Em nosso quarto, Elisa parecia pensativa como, se algo a estivesse incomodando. Perguntei-lhe o que estava acontecendo, demorou um pouco para que me respondesse. _Li o bilhete que a Marli escreveu pra você, _Droga, o bilhete! Eu deveria ter destruído o pedaço de papel, mas... _acho que sei o motivo da depressão de nossa amiga. Expliquei a ela que minha avó havia encontrado o bilhete no corredor e entregou-me com a mesma observação que acabara de fazer. Elisa me deu um abraço e me beijou no lado esquerdo do rosto. Pegando um dos seus comprimidos me ofereceu um, eu aceitei. Elisa passou sua mão esquerda em meu rosto e disse: _Não se preocupe, sei que nossa amiga está doente. O que me preocupa mesmo é o fato de ter sido o Douglas quem achou o bilhete na sala de leitura. Como ele simplesmente me entregou, sem nada dizer, pensei que fosse pra mim, então eu o li. Sim, fora Douglas quem viu minha avó achando o bilhete no chão do corredor. Lembrei-me de o ter visto p
No velório havia poucas pessoas. Somente os vizinhos mais antigos de minha avó e nós da “família”. Enquanto acontecia o enterro de minha avó no cemitério da Saudade, um novo crime acontecia na Cidade Pedro Nunes. O senhor Manézinho esposo de Dona Gertrudes estava tomando uma cerveja no boteco do Jacó quando chegou o Querosene. O bandido vendo que somente o velhinho tomava cerveja achou ruim e perguntou se ele era melhor que os outros. O senhor Manézinho levantou-se do banquinho e encarou o bandido. Querosene ofendido pegou o velhinho pela gola da camisa e disse: _Velho idiota, quem pensa que é? __Meu nome é Manezinho! Em seguida sem que o bandido percebesse o velhinho puxou um punhal de sua cintura e o introduziu todo na barriga de Querosene. O bandido tremeu e parecendo estar perdendo as forças dos braços soltou a gola da camisa do senhor Manézinho e caiu para trás. Em seguida tentou se levantar e ao conseguir caminhou cambaleante até o meio da rua e desta v
Eu não poderia estar errado de forma alguma. Acabara de descobrir quem matara minha avó. Lágrimas, caras fechadas e bebedeiras não conseguiram me enganar de maneira alguma. Ao contrário, só me fizeram trabalhar menos. Enfim, a hora da verdade havia chegado. Quando me virei Douglas estava em pé na porta da cozinha olhando-me, ele segurava uma faca com a mão direita. De repente deu-me as costas e se dirigiu para o interior da cozinha pegando uma laranja da fruteira sobre a mesa descascando-a. Confesso que levei um susto ao vê-lo com a faca na mão. O policial chegou acompanhado de mais dois investigadores. Elisa apareceu no topo da escada curiosa para saber quem havia chegado. Percebi que ela ficou um pouco surpresa ao ver os policiais entrando na casa. Pedi para que chamasse Marli. _Ela está descansando! _Respondeu-me ela com certa aspereza na voz e nos braços trêmulos apoiados no corrimão. Ao ameaçar eu mesmo ir buscá-la Elisa resolveu atender meu pedido. Assim que todos esta
Ali, diante de nossos olhos, duas mulheres mortas e o cheiro concreto de pólvora, como se fossem espectros abandonando tais corpos, rodopiava uma volta inteira antes de se esvair pela janela. Douglas não sabia o que dizer a respeito da arma _A arma tem registro? _Perguntou o policial Jorge. Douglas balançou a cabeça negativamente e nos explicou como a conseguira. Ele nos disse que a comprou no boteco do Jacó. Segundo ele um rapaz lhe ofereceu a arma por uma bagatela, e acreditando precisar de uma acabou comprando-a. O policial careca olhou para as duas meninas caídas perto da janela com uma expressão de pena e tristeza. E como se quisesse me consolar pôs sua mão direita em meu ombro esquerdo e deu um leve aperto. No enterro das meninas, como em qualquer enterro, algumas pessoas choravam e outras se mantinham sérias. O que não faltou de forma alguma foram os olhares em minha direção. As mesmas pessoas que estiveram no enterro de minha avó também estavam ali, e haviam