Theo
Chego ao aeroporto Charles de Gaulle muitas horas antes do meu voo, mas não consigo segurar a ansiedade. Preciso chegar ao Brasil, ficar perto de Catarina e ver, com os meus próprios olhos, que ela está bem. Também tenho de protegê-la daquele monstro: tenho certeza de que ele está apenas esperando a oportunidade perfeita para se livrar da mulher que eu amo. Como o check-in ainda não está aberto, sento em um restaurante e continuo idealizando o meu reencontro com Cat: como pretendo justificar as minhas atitudes e, principalmente, como estou disposto a pedir perdão repetidas vezes, até o fim dos meus dias, se preciso for.
Quando chega o horário de fazer o check-in e despachar as malas, recebo a informação de que, por conta de uma forte tempestade, os voos estão temporariamente suspensos. Isso significa que posso não viajar hoje ou, na melhor das hipóteses, embarcar muito depois do horário marcado. Fico desesperado porque ca
Catarina Espero o início da tarde, quando o quarto costuma ficar vazio, sem médicos nem enfermeiras perambulando por ele. Tiro os acessos do meu braço, com cuidado, pego a roupa que o canalha deixou aqui e sigo, confiante, fingindo ser uma simples visitante do hospital. Não encaro ninguém nos olhos e não vacilo, em nenhum momento, para não dar chance de ser interpelada. Quando dou o primeiro passo para fora do hospital, volto a respirar, sentindo um alívio me inundar. Pego um táxi e peço que ele me espere na esquina daquele antro que, até hoje, foi a minha casa. Depois de ter certeza de que o lugar está vazio, pego a chave sobressalente, escondida embaixo do capacho, e entro para procurar a minha bolsa. Reúno os meus documentos, faço uma mala com as roupas essenciais e resgato as minhas economias escondidas no pote de farinha. Volto apressada para o carro e sigo direto para a rodoviária. Não encontro uma passagem direta para B
TheoMeu voo chega ao aeroporto do Galeão e, assim que passo pela imigração e recupero as minhas malas, pego um táxi para Mendes. São cerca de duas horas de viagem, sem trânsito. Graças a Deus, o tráfego está livre e chego no tempo previsto. Tento ligar para Arthur, mas não consigo falar com meu padrinho. Então, sigo direto para o hospital, com malas e tudo.Chegando lá, corro para o balcão de informações e pergunto notícias da paciente “Catarina Leal”. A recepcionista faz um olhar esquisito, cochicha algo com a colega que está ao lado e quer saber o que sou de Cat. Na hora, mil possibilidades passam pela minha cabeça, mas, infelizmente, nenhuma que eu possa usar aqui. Então, digo que sou primo em primeiro grau. A mulher chega mais perto de mim e, quase sussurrando, informa que C
Catarina Estou há uma semana em Belo Horizonte e já fiz duas entrevistas de emprego. Tenho me alimentado bem e até já marquei uma consulta com uma ginecologista/obstetra. Sinto que tudo está entrando nos eixos. Agora, só falta conseguir um emprego e, pela primeira vez em toda a minha vida, ser inteiramente responsável por cada um dos meus passos. A única coisa que ainda me atrapalha é a tristeza que sinto pelo que aconteceu com os meus pais. Apesar de estar dormindo bem melhor do que de costume, ainda acordo sobressaltada em algumas noites, revivendo o horror da morte deles. É como se ficasse presa em um pesadelo repetitivo, que gira em looping pelo meu subconsciente traumatizado. Sei que vai ser difícil me livrar dessas imagens e que, muito provavelmente, nunca vou superar totalmente essa perda. Mas preciso seguir em frente. Estou fazendo o almoço quando o meu telefone toca. Sinto um arrepio inevitável de me
Theo Depois de dois meses de muito trabalho, eu e Arthur conseguimos reunir provas concretas contra Heitor: o suficiente para mostrar para a cidade e para o resto do mundo o canalha corrupto que ele é. Ligo para Cibelle, a jornalista que investiga o caso dele há anos e que já foi responsável por tornar públicos muitos podres do sistema judiciário. Conto as últimas novidades e envio, por e-mail, cópias de tudo aquilo que meu padrinho conseguiu apurar. É o bastante para que ela dê um furo de reportagem e desbanque o todo-poderoso Heitor na sociedade, desmistificando a sua imagem de homem honrado. Desde a briga que tivemos na casa dele, tenho evitado circular pelas ruas. Ainda estou surpreso por não ter havido nenhum tipo de retaliação, principalmente considerando o poder que ele tem. Mas a sua vaidade é maior do que qualquer outra coisa e, com certeza, a sua ânsia por evitar escândalo falou mais alto. Basta ter como parâmetro a
Catarina Estou no computador do trabalho quando vejo a notícia sobre a morte de Heitor. Fico chocada e, ao mesmo tempo, tomada por um alívio enorme. Começo a ler a matéria e descubro sobre o escândalo envolvendo o seu nome e sobre a suspeita de suicídio. Se isso for mesmo confirmado, ele terá morrido exatamente como seu pai. A vida é mesmo repleta de ironias e dá muitas voltas. Tem uma menção a Theo na reportagem, dizendo que ele estava deixando a casa quando o disparo aconteceu. Gelo na hora, imaginando o motivo que o levou de volta a Mendes e a razão para estar visitando Heitor. Fico me perguntando o que eles podem ter conversado para o encontro terminar com um tiro na cabeça. Completamente atordoada com tudo o que descubro, sinto vontade de procurar Theo. Chego a cogitar fazer uma ligação para ele, revelar que será pai e dizer onde estou morando. Mas, após passar o d
Theo O meu chefe me chama para uma reunião privada e fico ansioso para saber do que se trata. Chegando lá, ele elogia a minha performance nos últimos meses e informa que, por conta do meu excelente desempenho, vou ser promovido e ganhar quase trinta por cento a mais a partir do mês que vem. Fico radiante, agradeço muito e me dou conta de que estou conseguindo alavancar a minha carreira e conquistar, gradativamente, a minha independência. Penso em Catarina e em como ela teria orgulho de mim neste momento. Onde será que ela está e o que deve estar fazendo? Será que ainda pensa em mim? Faço esses questionamentos todo santo dia e, sem nenhuma exceção, fico completamente sem resposta. Chego em casa cansado, mas satisfeito. É muito bom poder descansar em um lugar que tem a minha cara e reflete a minha energia. Tudo que tem aqui
Catarina 2018 Henrique vai completar dois aninhos na semana que vem. Às vezes, nem consigo acreditar que o tempo passou tão rápido. Ele é uma criança adorável e esperta, que ri o tempo todo e se ajusta a qualquer ambiente. Dorme bem, come que nem um leão e é muito carinhoso. Agora que está bem crescido, as semelhanças físicas com o pai são gritantes: os cabelos castanho-claros e os olhos verdes como uma límpida e brilhante esmeralda. Toda vez que ele me encara com profundidade, faz com que eu pense em Theo. Ele se tornou uma lembrança boa, que provoca uma saudade gostosa. Não sinto mais nenhum tipo de raiva e até consigo entender que foi muita pressão para ele, com tão pouca idade. Não que isso justifique a maneira como ele me deixou, mas pelo menos ameniza o estrago que isso causou em mim. &nbs
Theo 2018 Consegui fechar um negócio milionário para a empresa e, com certeza, vou ganhar um bônus que vai compensar toda a dedicação dos últimos tempos. Nas duas semanas que passaram, virei noites para dar conta do projeto e praticamente abandonei a minha vida pessoal. Natália tem reclamado que quase não apareço em casa, sempre me cobrando por mais atenção. Gosto muito dela e de tudo o que construímos juntos, mas me incomoda essa mania de querer sempre mais, como se o que eu ofereço nunca fosse o suficiente. Namoramos há quase um ano e já moramos juntos há cinco meses. Ela entrou na minha vida e, quando me dei conta, já estava dentro da minha casa. Agora, fala o tempo todo em casar, em fazer uma enorme festa e até em ter filhos. Estou feliz, mas, quando fecho os olhos, não me imagino ao seu lado pela vida inteir