POV LUNA SWAN
As matilhas entraram em guerra, em busca de mais poder e dominância, até entre os próprios Ballards, causando a extinção da nossa espécie. Todo Puro que existia fora morto durante os dias da rebelião. Foi um massacre que ficará marcado com sangue para sempre em nossa história. O dia em que a ganância e ambição dizimou uma espécie de criaturas.
A rebelião destruiu nosso lar, queimou nossas casas e tornou nossas crianças órfãs. Meus pais foram brutalmente assassinados por betas ambiciosos que roubaram suas essências de Puros e todo o poder que existia em nosso sangue. Tudo por causa da ganância. Eles planejaram por anos aquela rebelião e quando aconteceu, meu irmão e eu fomos os únicos sobreviventes do banho de sangue que destruiu nossa matilha.
Lucca e eu somos os únicos sobreviventes que restou de nossa linhagem. Por causa disso fomos obrigados a fugir e viver como nômades, fugindo, se escondendo como criminosos, como se não tivessemos nenhum valor. Eu, como última fêmea Pura, corria riscos constantes. Aprendi da pior forma a me manter viva, preservar minha própria segurança e da minha família.
Um Sangue Puro tem habilidades superiores a um lobo comum.
Podemos controlar nossa transformação e usar nossos poderes em forma humana. Nós somos seres imortais, vivemos por anos, décadas e até séculos, apenas podemos ser mortos por decapitação, fogo ou uma adaga de prata pura. Temos dificuldades em viver em matilhas por termos problemas em sermos submissos aos nossos Alfas, somos extremamente dominantes. Envelhecemos até certa idade e depois somos congelados no tempo, e continuamos com a mesma aparência enquanto vivermos.Os Puros se sentem mais à vontade em nossa forma animal por causa de nossos instintos. Eu tinha o costume de passar a maior parte dos meus dias em forma lupina, correndo e caçando pela floresta. Era uma forma de não sucumbir ao abismo escuro que me rondava, esperando apenas por um momento de fraqueza para me engolir com sua escuridão.
Quando nossos pais foram mortos, Lucca e eu viramos alvos de caça, mas Melissa e Tom Swan, amigos fiéis e leais aos meus pais, nos ajudaram a fugir e nos adotaram como seus filhos, nos concedendo novas identidades para recomeçar.
Fomos obrigados a aderir uma vida agitada, sempre em fuga, viajando por todo o mundo, em busca de um lugar para chamar de lar. Atualmente conseguimos abrigo em uma pequena aldeia nas montanhas, entre uma matilha de lobos isolados dos humanos.Antes me chamavam de Arabella Ballard, filha de Alfas, uma Pura legítima, mas agora me tornei Luna Swan, uma rebelde solitária sem poder ou valor. Minha identidade devia ser protegida a todo custo.
O cheiro familiar do nosso vilarejo me chamou para a realidade. Localizado em uma clareira no centro de um território verdejante, nossa vila era um conjunto de pequenas casas, chalés e comércios, vivíamos a base dos alimentos de nossas próprias plantações, nossa carne vinha da natureza. Era um lugar confortável para se viver em meio a natureza. Livres de humanos enxeridos e sociedades ridículas.
Segui pelo caminho mais reservado até minha casa, evitando os olhares do povo ao me ver voltando depois de meses sem dar notícias. Tom praticamente correu em nossa direção quando sentiu nosso cheiro, havia um misto de preocupação e alívio no rosto do macho que jogou seus braços ao redor do meu corpo, se certificando que eu estava bem.
—Você nos deu um tremendo susto, Luna, por que não deu notícias durante esses dois meses, menina?—Perguntou ele me abraçando mais forte, com a mesma força esmagadora de Lucca que me tirou o ar.
—Eu estou viva, não estou?—Grunhi sem fôlego, por causa do seu abraço.
A raposa nos braços de Lucca se contorceu, vapor subia da sua boca, ela queimava em febre. Fiz uma careta ao ver a infecção que se espalhava pelos cortes feitos no corpo dela.
—O que diabos é isso?—indagou Tom, a boca fina retorcida.
—Uma Longhair?—arrisquei perguntar, quase sendo acertada por um chute do meu irmão.
Tom inclinou a cabeça, cheirando a raposa.
—Por que trouxeram uma Longhair ferida para nosso vilarejo? Isso pode resultar em uma guerra com o povo dela.
Chiei ao tocar o rosto em chamas dela.
—O clã dela foi dizimado, não sabemos o que aconteceu, ela é a única sobrevivente da aldeia destruída.
Um vinco se formou entre as sobrancelhas de Tom.
—Caçadores? Não recebemos nenhum alerta dos vigias, não tivemos nenhum ataque nos últimos três meses.
Elevei os ombros, mastigando o canto dos meus lábios com os dentes.
—Somente teremos uma resposta se salvarmos a vida da raposa, mas não acredito que os caçadores teriam êxito ao massacrar todo o clã de Longhairs.
Tom esfregou a testa.
—Levem ela para dentro, relatarei o ocorrido para os anciões, devemos tomar medidas protetivas diante dessa ameaça.
—Irei assim que puder—avisou Lucca.
Ao passar pela porta, senti um corpo magro se jogar contra meu corpo, reconheci imediatamente aqueles fios castanhos.
—Luna, pensei que havia morrido e nem teve o despacho de se despedir—grunhiu a fêmea me esmagando e eu sorri de lado.
—E quem levaria lírios ao meu enterro?—Indaguei me afastando dela.
Sarah cerrou os olhos, e me acertou um peteleco no nariz.
—Você e seu humor terrível—bateu no meu ombro.
O sorriso de Sarah vacilou ao ver Lucca adentrando a casa com a Longhair banhada em sangue e fervilhando em febre.
—Preciso que salve a vida dela, por favor. Te explicarei tudo com calma depois, mas devemos curá—la o mais rápido possível.
Becky estalou os dedos das mãos, uma sombra pairando em seus olhos que eu não consegui decifrar.
—Leve a raposa para o quarto de hóspedes—ordenou, sendo rapidamente atendida por Lucca que praticamente voou escada acima. Segui a companheira do meu irmão e fiquei na porta do cômodo, vendo Lucca repousar a Longhair com cuidado no colchão da cama.
—O que precisa?—meu irmão perguntou, sua camiseta cinza suja do sangue da raposa, ele não pareceu se importar.
Becky apertou as mãos, franzindo o cenho ao visualizar o frágil estado de saúde da Longhair.
—Traga minhas ervas medicinais, tudo que encontrar, as poções e elixis. Não demore.
Lucca pulou pela janela e disparou na busca dos ingredientes solicitados. Sarah tirou o casaco sujo de Lucca que cobria a raposa e estendeu um pano limpo sobre ela. Minha cunhada analisou as feridas e torceu o nariz.
—Ela foi envenenada por alguma erva tóxica. Me traga água gelada e toalhas limpas para limpar as feridas para receber o bálsamo.
Não ousei questionar as orientações de Sarah, ela era a melhor naquele assunto. Tinha acabado de chegar na dispensa em busca de uma tijela para encher de água fria, quando Melissa apareceu, primeiro me abraçando e depois brigando comigo.
—Não fique tanto tempo desaparecida, quer me matar do coração?
—Longe de mim querer isso.
Melissa me ajudou com as tolhas limpas enquanto eu levei a água gelada para o andar superior, retornando ao quarto de hóspedes. Sarah amassava algumas ervas com um cheiro horrível, meu estômago deu um nó, a aparência era pior ainda. Molhei o pano e o coloquei sobre a testa da raposa, ela rangia os dentes, convulcionando levemente sobre o colchão.
Um líquido prateado escorria de um buraco de bala perto de sua clavícula, toquei o líquido com as pontas dos dedos e sibilei. Ela foi atingida por prata envenenada, o cheiro de acônito quase entupiu meu nariz. As Longhairs não eram o alvo principal do bando que as atacou, eles foram armados para caçar lobos e não raposas.
Um calafrio atravessou minha coluna.
Sarah me estendeu uma caneca, e o cheiro do líquido quase me fez vomitar.
—O que raios é isso?
—Não é para você, faça—a tomar, vai ajudar a controlar a temperatura do corpo dela.
Torci o nariz, erguendo a cabeça da raposa e forçando o líquido pelos seus lábios. Ela tossiu, tentando fugir, mas bastou ouvir meu rosnado para engolir aquela mistura esquisita de ervas, despencando no travesseiro em seguida, as pálpebras inquietas.
—O mal que atingiu as Longhairs, chegará até nós?—perguntou Sarah, jogando mais ervas na tijela, despejando água potável.
Não hesitei ao responder.
—Ninguém sairá ferido, não vou permitir.
Os ombros de Becky tremeram quando ela soltou uma risada fria.
—Você não pode proteger o mundo inteiro, Luna.
Engoli em seco, minha garganta oscilando.
—Não me importo com o mundo, somente com nossa família.
Fitei a janela aberta do quarto, visualizando a manhã ensolarada do outro lado. O riso das crianças alcançou meus ouvidos e um peso recaiu em minhas costas. Eu sabia o risco que aquela matilha corria ao nos abrigar, nossa presença era como um alvo, um perigo constante aos moradores da aldeia.
A mão suave de Melissa tocou meus ombros tensos.
—Você está segura, Luna.
Eu tentei sorrir para tranquilizá—la, mas não fui capaz.
—Eu nunca estarei em segurança, Melissa, meu passado sempre me perseguirá enquanto eu viver.
Becky fez um bálsamo natural de ervas e começou a passar nas feridas infeccionadas da raposa.
—Não querendo acabar com o clima emotivo, mas você está fedendo, Luna.
Fiz uma careta, ela ergueu as sobrancelhas.
—Esperava estar cheirando a lírios depois de dois meses na sujeira da floresta como uma besta primitiva?
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POV LUNA SWANMelissa segurou a risada.—Vá tomar um banho, conversaremos depois.Antes de sair do quarto, abracei minha cunhada rapidamente, o que a fez me xingar dos piores nomes existentes. Minha gargalhada a perseguiu até que eu finalmente chegasse ao meu quarto, indo direto ao banheiro, definitivamente necessitava de um banho com espuma e óleos perfumados, as águas dos rios não eram o bastante às vezes.Depois de um longo banho relaxante, com os cabelos limpos e a pele cheirosa do meu hidratante favorito de frutas vermelhas, parei diante do espelho somente por um instante. Eu tinha emagrecido nos últimos meses, minha cintura afinou e as curvas do meu corpo diminuíram. Quando mais tempo passava transformada, menos humana me tornava. O brilho selvagem em meus olhos verdes comprovavam que parte da minha loba permanecia desperta. Lucca sempre me disse que eu era parecida com nossa mãe, mas eu mal tinha lembranças dela, nada além dos cabelos negros como o céu noturno. Meu irmão havía
POV LUNA SWANMeu irmão se aproximou o suficiente para sussurrar ao meu ouvido.—Não vamos nos separar de novo, não estamos mais em segurança depois do ataque à aldeia das Longhairs. Sem riscos desnecessários, irmãzinha.Enrijeci em apreensão. Lucca me guiou até uma região quieta da floresta, permanecemos em silêncio até alcançarmos uma área segura para conversarmos com privacidade.—Me conte o que pensa.Me sentei na raiz de uma árvore antiga. Puxei minhas pernas até pressioná—las em meu peito.—Nosso vilarejo é o mais próximo da aldeia destruída da raposa, não acredito em coincidências.Meu irmão ocupou o lugar vago ao meu lado. —Ela foi ferida por prata banhada em acônito. Isso é usado na caça de lobos e não de Longhairs.—Acredita que éramos o alvo?Deitei minha cabeça no ombro de Lucca, ele cheirava a casa, a segurança e o conforto.—Eu não sei. Odiaria ter que fugir de novo, finalmente estamos nos estabilizando aqui.Lucca olhou para o céu sobre nossas cabeças, os pensamentos v
POV LUNA SWAN —Eu vou te contar algo, mas se você espalhar para outras pessoas, nos tornaremos seu maior inimigo. Ela arqueou uma sobrancelha. —Meu povo foi morto e minha família assassinada por lobos. Por qual razão eu iria querer tê—los como inimigos? Não sou tola. Uma faísca de raiva fervilhou nos olhos dela, direcionada a minha raça. Empurrei meus cabelos para o lado e me virei, revelando a lua crescente gravada em minha nuca, o fardo do meu nascimento que eu lutava para esconder de todos. A Longhair empalideceu, os olhos arregalados em espanto e os lábios abertos. —Vocês são os irmãos Ballards que os lobos caçavam. Sarah abraçou o parceiro, mas meu irmão parecia tão perturbado como eu. Ele piscou quando Becky o sacudiu, recobrando a clara lucidez. —Fomos encontrados. Fugiremos novamente ou ficaremos para lutar pelo nosso lar? —Estou farto de fugir como se fossemos criminosos
POV LUNA SWANEu saltei da cama, impossibilitada de permanecer quieta. Irritação borbulhava em meu sangue, calor subiu pelo meu rosto.—Eu não vou aceitar a reivindicação de um estranho que pensa ter algum poder sobre mim.—Não é uma questão de escolha e sim de dever com sua linhagem.Uma risada fria deixou meus lábios.—Eu não devo nada a linhagem Ballard, não tenho nenhuma dívida com a raça que me persegue e atormenta há anos. Eu não devo nada a ninguém.Tom também se levantou, o rosto vermelho.—Estou tentando te proteger, Luna, tente entender, por favor. Eu não sou forte o bastante para te proteger do mal que se aproxima, muito menos Lucca é capaz. Somente o Lycan pode te prover proteção e cuidado, ninguém, jamais, i
POV LUNA SWAN —Ei, sou eu, guardiã da floresta—debochou Lucca, saindo dentre as árvores. Bufei, fazendo a fumaça escapar de meu focinho. Lucca carregava uma mochila nas costas e parecia feliz em me ver, um pequeno sorriso aberto no canto dos lábios. Éramos tão diferentes, similares na aparência, mas opostos no temperamento. Lucca, por ser o mais velho e ter sido criado para se tornar o líder de uma matilha, sempre foi controlado e responsável que eu, uma bomba relógio impulsiva e imprevisível. Lucca passou sua mão pelo meu pelo, fazendo um carinho maravilhoso com a ponta de seus dedos, roçando suas unhas. Ele repousou sua testa na minha e sua respiração pesada sacudiu meus ombros. Fechei os olhos por um instante. —O Supremo está chegando. Eu me afastei ao ouvir suas palavras e rosnei para Lucca, mostrando minhas presas e deixando nítida minha ameaça. Tinha esquecido desse maldito assunto e Lucca aparece
POV LUNA SWAN—Lucca Ballard, primogênito de Mikael e Ellen Ballard.Meu corpo tremeu em arrepios com a voz do Lycan. Encontrei Lisa perto de Sarah próximos a casa, o rosto da Longhair estava branco, ela somente observava aquele circo de horrores.—Lycan—Lucca se limitou a uma pequena inclinação com a cabeça, mas nem isso eu faria.Toda a atenção do Lycan foi atraída em minha direção novamente. Estiquei os ombros ao vê—lo caminhar em minha direção, esbanjando poder e domínio em cada passo, os músculos marcados pela camisa escura. Minhas bochechas queimaram ao ser o alvo do Supremo. O rosto do macho, lapidado perfeitamente por uma divindade imortal em contraste aos cabelos negros, se assemelhava a uma pedra de gelo ao parar em minha frente.O Lycan era o Alfa Supremo, e mesmo assim est
POV SARAH SWAN—Os boatos não mentem. Ela é realmente uma selvagem. —Comentou o beta do Supremo, tendo o cuidado para suas próprias palavras não causarem mais uma confusão.Tom esfregou as mãos, Melissa segurando—o pelo braço.—Vamos entrar, vocês devem estar cansados da longa viagem—declarou Melissa com doçura na voz.—Luna e Lucca voltarão logo—acrescentou Tom.Ninguém ousou contestar o convite de Tom. Meu estômago se revirava furiosamente devido ao café da manhã de poucas horas atrás. O cheiro de machos diferentes em nossa casa me incomodou.—Por que tem uma Longhair entre vocês?—Indagou o beta, reconhecendo o cheiro da raposa.Lisa soprou um fio loiro diante dos olhos.—Minha aldeia foi atacada dias atrás por um
POV SARAH SWAN —Não serei intimidado por uma fêmea, seu lugar é de submissão e servidão, nada além disso. Luna gargalhou, um som tão frio que me causou arrepios. —O fato de sermos fêmeas não nos torna inferiores a vocês, machos. Não temos que ser corrigidas ou educadas, não somos animais para serem domesticadas, afinal, eu posso te colocar de quatro aos meus pés facilmente. Lisa tossiu para disfarçar o riso, a raposinha tinha um humor terrível. —Vocês foram criadas para nos servir, procriar e saciar nossos desejos, apenas isso. Saiba seu lugar, loba rebelde. O Lycan somente observava a interação entre Luna e seu lobo, não esboçou qualquer reação ou proferiu uma palavra. Ele parecia analisar o comportamento de Luna, estudava o gênio impulsivo dela ao ser confrontada daquela forma. —Eu não nasci para servir nenhum macho. Sou uma pura legítima, a última que restou. E da próxima vez que abri