POV LUNA SWAN
Melissa segurou a risada.
—Vá tomar um banho, conversaremos depois.
Antes de sair do quarto, abracei minha cunhada rapidamente, o que a fez me xingar dos piores nomes existentes. Minha gargalhada a perseguiu até que eu finalmente chegasse ao meu quarto, indo direto ao banheiro, definitivamente necessitava de um banho com espuma e óleos perfumados, as águas dos rios não eram o bastante às vezes.
Depois de um longo banho relaxante, com os cabelos limpos e a pele cheirosa do meu hidratante favorito de frutas vermelhas, parei diante do espelho somente por um instante. Eu tinha emagrecido nos últimos meses, minha cintura afinou e as curvas do meu corpo diminuíram. Quando mais tempo passava transformada, menos humana me tornava. O brilho selvagem em meus olhos verdes comprovavam que parte da minha loba permanecia desperta.
Lucca sempre me disse que eu era parecida com nossa mãe, mas eu mal tinha lembranças dela, nada além dos cabelos negros como o céu noturno. Meu irmão havíamos herdado os mesmos olhos verdes caramelizados de papai, assim como os cabelos castanhos espessos. Pisquei, afastando aquela sensibilidade que ameaçou tomar meu rosto. Vesti um conjunto de moletom antes de sair do quarto.
A Longhair parecia melhor, a febre tinha diminuído e a cor voltava ao seu rosto.
—Ela vai sobreviver?
—Eu não a conheço, mas ela é uma guerreira, está lutando bravamente contra o veneno em seu sangue para sobreviver—comentou Sarah, observando—a.
Peguei um pano úmido para tentar limpar o sangue seco no rosto da Longhair.
—Gosto de dizer que nós, fêmeas, temos uma força extraordinária, independente da espécie, que nos mantém vivas.
Lucca entrou no quarto em silêncio, depositando um beijo nos cabelos da parceira.
A Longhair tinha uma parência tão frágil e delicada, como se o sol tivesse banhado os cabelos loiros dela. Entretanto, havia uma força incomum no seu sangue que me surpreendeu. Ela estava lutando contra a morte que chamava seu nome, seu enfraquecido coração batia com força.
—Ela é uma sobrevivente—sussurrei para mim mesma.
Melissa coçou a garganta.
—Eu preparei o café da manhã para vocês na mesa, Arthur está os esperando.
Eu reconsiderei me afastar da raposa, mas quando meu estômago se contorceu de fome, não resisti ao cheiro da comida deliciosa feita pelas mãos dividias de Melissa. Enquanto minha loba adorava a carne animal, eu amava waffles doces e recheados. Não era atoa que sentíamos uma fome absurda em todo o momento.
A visão do macho praticamente debruçado sobre a mesa, os cabelos castanhos bagunçados e a cara amassada de sono que me fez sorrir. Ele bocejou demoradamente com uma xícara de café preto na mão.
—Finalmente a princesinha Ballard resolveu voltar para casa.
Ergui minha cabeça com um leve sorriso provocante se abrindo no canto de meus lábios. Soprei uma mecha castanha de meu cabelo que caiu sobre meus olhos e encarei Arthur, o desgraçado sorria com deboche para mim.
—Ora, não me diga que sentiu minha falta?—Perguntei com sarcasmo.
Arthur fitou meu irmão com a mão no queixo.
—Como a encontrou? Atolada na lama como um animal selvagem?
Lucca engasgou com seu café.
—Quase isso.
Cerrei meus olhos em sua direção, mas meu irmão já devorava sua panqueca com mel novamente.
—Acho que eu iria adorar te atolar na lama, idiota—ralhei para o filho de Tom e Melissa, que apenas sorriu para mim com a boca cheia de pão.
Despejei uma calda doce de chocolate exagerada no waffles em meu prato, quase dando pulinhos de felicidade, aquela era minha comida favorita dos humanos. Suspirei ao levar a massa deliciosa até minha boca.
—Eu amo isso—disse embolada.
—Pela Lua! Mastiga isso antes. Não está mais na floresta para agir como um animal selvagem, meu bem—Arthur reclamou comigo.
Continuei mastigando o waffles ao responder Arthur com um gesto vulgar, Lucca se engasgou do outro lado da mesa. Ele ainda não tinha se livrado da camisa suja de sangue e foi o cheiro da Longhair que atraiu a atenção de Arthur.
—Você está cheirando a raposa, Lucca. Não me diga que andou pulando a cerca? Se Sarah descobrir, ela te castra e com toda razão.
Meu irmão apenas o fuzilou com os olhos, mas continuou mastigando sua panqueca despreocupada.
—A aldeia das Longhairs ao sul do território foi completamente destruída, transformada em cinzas.
Arthur me fitou com o semblante confuso.
—Descobriram o que aconteceu?
—Ainda não.
Espetei outro pedaço de waffle, adicionando algumas frutas picadas. Arthur abaixou o olhar para seu prato.
—Mataram todas?
Lucca e eu trocamos olhares silenciosos. Meu irmão largou os talheres.
—Encontramos uma sobrevivente, a Longhair estava muito ferida, Sarah está ajudando—a no quarto de hóspedes com Melissa.
O humor do macho mudou drasticamente. O temperamento lupino dele fervilhou em seus olhos escurecidos.
—Vocês trouxeram uma criatura traiçoeira para nossa casa?
Passei a língua pelos meus dentes, compreendendo a fúria inflamável dentro de Arthur.
—As Longhairs não são nossas inimigas, Arthur, e ela precisava de um curandeiro.
—Sarah sequer é uma curandeira, não fez o juramente de salvar qualquer vida, independente da espécie.
—Cuidado com o que diz—advertiu Lucca.
Arthur bufou uma respiração.
—Você não pode confiar nela.
—E eu não confio, mas preciso saber quem atacou o clã. Não vou permitir que seu maldito ódio pelas Longhairs coloque nossa família em risco.
Arthur bateu os punhos na mesa, e lutou contra seu gênio tempestuoso.
—Sei que você não gosta dessa raça, mas confie em mim, por favor. Você não precisa conviver com ela, é temporário.
As narinas do lobo inflaram por causa de sua respiração forte. Ele enfiou os dedos nos cabelos bagunçados.
—Mantenha aquela coisa longe de mim ou posso matá—la acidentalmente.
Arthur desapareceu da cozinha, batendo a porta ao sair do cômodo. Esfreguei minhas têmporas que latejavam de forma insuportável. Lucca continuou comendo suas panquecas com mel e café sem açúcar, santa hipocrisia.
—Arthur nunca vai confiar em uma Longhair depois do que fizeram com ele.
Terminei meu chá de ervas, e belisquei algumas frutas doces.
—Você devia ter me deixado matar aquela Longhair, ela merecia depois de ter nos traído daquela forma.
—Teríamos iniciado uma guerra com as raposas e acabado com o tratado de paz que conseguimos com muito esforço.
Mastiguei o último pedaço de waffles antes de responder:
—E agora o clã todo está morto, o que adiantou?
Finalizamos o café da manhã em silêncio, meu humor não era um dos melhores naquela manhã agitada. Lucca me seguiu até a porta da casa.
—Por que está me seguindo?
—Onde vai?
—Caminhar, não está vendo?
—Vou com você.
—Não pedi por companhia.
—E eu não pedi sua opinião, eu comuniquei que vou com você.
Soquei seu ombro diante da sua grosseria, mas Lucca continuou atrás de mim.
—Lucca! Me deixe em paz.
♡♡♡♡
POV LUNA SWANMeu irmão se aproximou o suficiente para sussurrar ao meu ouvido.—Não vamos nos separar de novo, não estamos mais em segurança depois do ataque à aldeia das Longhairs. Sem riscos desnecessários, irmãzinha.Enrijeci em apreensão. Lucca me guiou até uma região quieta da floresta, permanecemos em silêncio até alcançarmos uma área segura para conversarmos com privacidade.—Me conte o que pensa.Me sentei na raiz de uma árvore antiga. Puxei minhas pernas até pressioná—las em meu peito.—Nosso vilarejo é o mais próximo da aldeia destruída da raposa, não acredito em coincidências.Meu irmão ocupou o lugar vago ao meu lado. —Ela foi ferida por prata banhada em acônito. Isso é usado na caça de lobos e não de Longhairs.—Acredita que éramos o alvo?Deitei minha cabeça no ombro de Lucca, ele cheirava a casa, a segurança e o conforto.—Eu não sei. Odiaria ter que fugir de novo, finalmente estamos nos estabilizando aqui.Lucca olhou para o céu sobre nossas cabeças, os pensamentos v
POV LUNA SWAN —Eu vou te contar algo, mas se você espalhar para outras pessoas, nos tornaremos seu maior inimigo. Ela arqueou uma sobrancelha. —Meu povo foi morto e minha família assassinada por lobos. Por qual razão eu iria querer tê—los como inimigos? Não sou tola. Uma faísca de raiva fervilhou nos olhos dela, direcionada a minha raça. Empurrei meus cabelos para o lado e me virei, revelando a lua crescente gravada em minha nuca, o fardo do meu nascimento que eu lutava para esconder de todos. A Longhair empalideceu, os olhos arregalados em espanto e os lábios abertos. —Vocês são os irmãos Ballards que os lobos caçavam. Sarah abraçou o parceiro, mas meu irmão parecia tão perturbado como eu. Ele piscou quando Becky o sacudiu, recobrando a clara lucidez. —Fomos encontrados. Fugiremos novamente ou ficaremos para lutar pelo nosso lar? —Estou farto de fugir como se fossemos criminosos
POV LUNA SWANEu saltei da cama, impossibilitada de permanecer quieta. Irritação borbulhava em meu sangue, calor subiu pelo meu rosto.—Eu não vou aceitar a reivindicação de um estranho que pensa ter algum poder sobre mim.—Não é uma questão de escolha e sim de dever com sua linhagem.Uma risada fria deixou meus lábios.—Eu não devo nada a linhagem Ballard, não tenho nenhuma dívida com a raça que me persegue e atormenta há anos. Eu não devo nada a ninguém.Tom também se levantou, o rosto vermelho.—Estou tentando te proteger, Luna, tente entender, por favor. Eu não sou forte o bastante para te proteger do mal que se aproxima, muito menos Lucca é capaz. Somente o Lycan pode te prover proteção e cuidado, ninguém, jamais, i
POV LUNA SWAN —Ei, sou eu, guardiã da floresta—debochou Lucca, saindo dentre as árvores. Bufei, fazendo a fumaça escapar de meu focinho. Lucca carregava uma mochila nas costas e parecia feliz em me ver, um pequeno sorriso aberto no canto dos lábios. Éramos tão diferentes, similares na aparência, mas opostos no temperamento. Lucca, por ser o mais velho e ter sido criado para se tornar o líder de uma matilha, sempre foi controlado e responsável que eu, uma bomba relógio impulsiva e imprevisível. Lucca passou sua mão pelo meu pelo, fazendo um carinho maravilhoso com a ponta de seus dedos, roçando suas unhas. Ele repousou sua testa na minha e sua respiração pesada sacudiu meus ombros. Fechei os olhos por um instante. —O Supremo está chegando. Eu me afastei ao ouvir suas palavras e rosnei para Lucca, mostrando minhas presas e deixando nítida minha ameaça. Tinha esquecido desse maldito assunto e Lucca aparece
POV LUNA SWAN—Lucca Ballard, primogênito de Mikael e Ellen Ballard.Meu corpo tremeu em arrepios com a voz do Lycan. Encontrei Lisa perto de Sarah próximos a casa, o rosto da Longhair estava branco, ela somente observava aquele circo de horrores.—Lycan—Lucca se limitou a uma pequena inclinação com a cabeça, mas nem isso eu faria.Toda a atenção do Lycan foi atraída em minha direção novamente. Estiquei os ombros ao vê—lo caminhar em minha direção, esbanjando poder e domínio em cada passo, os músculos marcados pela camisa escura. Minhas bochechas queimaram ao ser o alvo do Supremo. O rosto do macho, lapidado perfeitamente por uma divindade imortal em contraste aos cabelos negros, se assemelhava a uma pedra de gelo ao parar em minha frente.O Lycan era o Alfa Supremo, e mesmo assim est
POV SARAH SWAN—Os boatos não mentem. Ela é realmente uma selvagem. —Comentou o beta do Supremo, tendo o cuidado para suas próprias palavras não causarem mais uma confusão.Tom esfregou as mãos, Melissa segurando—o pelo braço.—Vamos entrar, vocês devem estar cansados da longa viagem—declarou Melissa com doçura na voz.—Luna e Lucca voltarão logo—acrescentou Tom.Ninguém ousou contestar o convite de Tom. Meu estômago se revirava furiosamente devido ao café da manhã de poucas horas atrás. O cheiro de machos diferentes em nossa casa me incomodou.—Por que tem uma Longhair entre vocês?—Indagou o beta, reconhecendo o cheiro da raposa.Lisa soprou um fio loiro diante dos olhos.—Minha aldeia foi atacada dias atrás por um
POV SARAH SWAN —Não serei intimidado por uma fêmea, seu lugar é de submissão e servidão, nada além disso. Luna gargalhou, um som tão frio que me causou arrepios. —O fato de sermos fêmeas não nos torna inferiores a vocês, machos. Não temos que ser corrigidas ou educadas, não somos animais para serem domesticadas, afinal, eu posso te colocar de quatro aos meus pés facilmente. Lisa tossiu para disfarçar o riso, a raposinha tinha um humor terrível. —Vocês foram criadas para nos servir, procriar e saciar nossos desejos, apenas isso. Saiba seu lugar, loba rebelde. O Lycan somente observava a interação entre Luna e seu lobo, não esboçou qualquer reação ou proferiu uma palavra. Ele parecia analisar o comportamento de Luna, estudava o gênio impulsivo dela ao ser confrontada daquela forma. —Eu não nasci para servir nenhum macho. Sou uma pura legítima, a última que restou. E da próxima vez que abri
POV LUNA SWAN Fui apertada com força por duas crianças, que se agarraram na minha cintura, se pendurando. Me abaixei o suficiente para receber uma série de beijos e sorrisos inocentes. Peguei Mila no colo e mantive seu irmão, Diego próximo, meu braço livre sobre os ombros do garotinho. —Você ficou fora por duas luas, tia Luna, um tempão—disse Mila, um pirulito dado por Sarah na boca. Diego mastigava amendoim torrado e cuspiu no ar ao dizer: —Pensamos que algo ruim tinha acontecido. Apertei a bochecha do menino com as pontas dos dedos. —Não seja bobo, Diego, tia Luna é a loba mais forte de todo o mundo. Um temor sacudiu meus joelhos, estampei um sorriso no rosto para os irmãos, concordando silenciosamente. Carreguei Mila junto a Diego até a fogueira, eles falavam juntos sobre a aparição dos homens do Lycan, Diego parecia deslumbrado diante do Supremo, sussurrando sua admiração por ele.