POV LUNA SWAN
Meu irmão se aproximou o suficiente para sussurrar ao meu ouvido.
—Não vamos nos separar de novo, não estamos mais em segurança depois do ataque à aldeia das Longhairs. Sem riscos desnecessários, irmãzinha.
Enrijeci em apreensão. Lucca me guiou até uma região quieta da floresta, permanecemos em silêncio até alcançarmos uma área segura para conversarmos com privacidade.
—Me conte o que pensa.
Me sentei na raiz de uma árvore antiga. Puxei minhas pernas até pressioná—las em meu peito.
—Nosso vilarejo é o mais próximo da aldeia destruída da raposa, não acredito em coincidências.
Meu irmão ocupou o lugar vago ao meu lado.
—Ela foi ferida por prata banhada em acônito. Isso é usado na caça de lobos e não de Longhairs.
—Acredita que éramos o alvo?
Deitei minha cabeça no ombro de Lucca, ele cheirava a casa, a segurança e o conforto.
—Eu não sei. Odiaria ter que fugir de novo, finalmente estamos nos estabilizando aqui.
Lucca olhou para o céu sobre nossas cabeças, os pensamentos voando.
—Sinto falta de casa.
Segurei o colar pendurado ao redor do meu pescoço, o pingente era a cabeça de um lobo uivando. Lucca tinha um igual, o último presente que ganhamos dos nossos pais antes de presenciarmos o assassinato. Uma pequena lembrança afetiva do lar.
—Você é minha casa, nossa família é meu lar, não aqueles que nos caçam há anos.
Meu irmão rompeu em um suspiro pesado, som que manifestava todo o peso e cansaço que ele suportava há anos.
—A rebelião nos quebrou, Luna.
—Os próprios lobos causaram a rebelião—não escondi a amargura em minha voz.
—Tudo era diferente antes, sabia?
—Não sinto falta de algo que não me lembro.
Lucca rodou o pingente em sua mão.
—Eles roubaram seu direito de nascença, sua herança ao assumir a matilha dos Crescentes. Eles tiraram tudo de nós, Lucca.
—E um dia eles irão pagar, eu te prometo isso. A dívida será cobrada e a justiça feita.
—Essa é uma promessa, irmão?
—É um juramento, irmã. Nós vingaremos aqueles que foram mortos injustamente.
Passei o restante da manhã e início da tarde conversando com Lucca, sendo atualizada sobre os últimos acontecimentos dos meses que passei transformada. Nada que pudesse despertar meu interesse, somente nascimentos de filhotes e casamentos de parceiros. Meu irmão foi interrompido quando Arthur nos encontrou, e o macho não parecia nada contente.
—O que houve?
Ansiedade fluía do lobo, ele se mostrava bastante inquieto.
—A raposa acordou.
Não esperei um segundo sequer antes de correr na direção de casa, subindo as escadas, pulando os degraus. Becky me xingou quando entrei rapidamente no quarto, quase causando um infarto em Melissa. Parei há alguns metros de distância da raposa, ela não se sentia segura na presença de lobos, era bem óbvio.
A Longhair estudou meu rosto, buscando uma resposta para as dúvidas em sua mente. No fundo da imensidão azul dos olhos da raposa, eu reconheci o luto e o medo que ela tentava esconder de cada um de nós, mas eu conhecia muito bem a dor que agora ela carregava no peito, a dor de ter sua família morta brutalmente, seus entes queridos sendo arrancados dos seus braços. Um tipo de dor que não diminuía com o tempo, somente se acostumava.
"Ela presenciou o massacre do próprio povo, não podemos esquecer disso."
—Quem é você?—Perguntou num sussurro, ressentida com minha presença.
—Meu nome é Luna Swan, e esse é meu irmão, Lucca—apontei para o lobo ao meu lado.
Lucca era uma sombra ameaçadora em meus ombros, sua desconfiança não passou despercebida pela raposa. Ela não sabia o motivo pelo qual meu irmão nunca baixava a guarda perante desconhecidos.
—Vocês salvaram minha vida, obrigada—sua voz saiu fraca, sem força.
A Longhair fitou as próprias mãos retorcidas sobre suas coxas, como se não suportasse olhar em minha direção.
—O que aconteceu com seu povo?—meu irmão não foi exatamente gentil com sua pergunta.
Ela levantou o queixo, os cabelos sujos cobrindo parte do rosto ainda machucado.
—Como pode me perguntar isso, quando foi sua raça que nos atacou, lobo?
Lucca endureceu com a acusação.
—Você foi atacada por lobos?
Os olhos da Longhair dispararam em minha direção.
—Eu não entendo o motivo pelo qual salvaram minha vida.
Arthur surgiu na porta, mas se recusou a entrar no quarto, observou a Longhair com desprezo nítido em sua feição áspera.
—Me faço a mesma pergunta.
O macho se encostou na ombreira da porta.
—Filho, por favor—pediu Melissa em voz baixa.
Dei um passo à frente e a Longhair empertigou. Não arrisquei me aproximar mais e ela se recusar a nos contar a verdade.
—Não somos os responsáveis pelo ataque à sua aldeia, vivemos em paz há meses. Estamos buscando respostas sobre os culpados e puni—los pelo que fizeram, impedindo que façam o mesmo entre outros clãs.
Os olhos da Longhair pareciam perfurar os meus.
—Como posso confiar em você? Uma loba?
—Você tem outra opção, por acaso?
—Somos os únicos capazes de te ajudar—finalizou Lucca, controlando seu próprio gênio.
Sarah se aproximou com o bálsamo novamente e com um sorriso gentil no rosto, entregou o pequeno pote para a raposa.
—Não lutamos tanto para salvar sua vida para te matar, não faz sentido, sabia?
A raposa pegou o pote e o cheirou, as narinas dilatadas.
—É bálsamo para suas feridas, te ajudará na cicatrização.
Mesmo desconfiada, a Longhair aceitou o bálsamo, murmurando um agradecimento em voz baixa. Ela encheu o dedo da pasta fedida e levou até o ferimento em sua clavícula, sibilando pela ardência.
—Fomos atacados por um bando de lobos furiosos. Minha líder tentou acalmar a fúria daqueles animais, mas foi em vão. A matilha caçava dois irmãos nascidos em uma linhagem especial da sua raça.
Um punho envolveu meu coração.
—Os lobos nascidos desta linhagem são identificados por uma marca de lua crescente na nuca. E quando afirmamos que nunca tínhamos os visto, os lobos nos atacaram com fúria e impiedade. Eles estavam em maior número, não fomos capazes de nos protegermos. Todo meu povo foi morto injustamente, assassinados a sangue frio.
Busquei o rosto do meu irmão, avistando—o tão petrificado como eu, imóvel. Fechei as mãos em punhos, cravando minhas unhas com tanta força contra minha pele que sangue escorreu entre meus dedos e pingou no chão.
—Eles me machucaram até me deixarem inconsciente, pensaram que eu estava morta e fugiram. Depois de algumas horas vocês apareceram e salvaram minha vida.
A raposa estava certa em nos desprezar, eu não a julgava. Todo seu morto foi assassinado por minha culpa, vidas inocentes ceifadas injustamente.
Cerrei os dentes com força para controlar minhas emoções e engoli o nó em minha garganta. Não podia sucumbir.—Você tem um nome?
Ela bateu os cílios dourados.
—Ballard.
Era definitivo. Havíamos sido encontrados depois de seis meses vivendo naquela matilha. E agora, todos estavam em constante perigo porque nossa localização foi descoberta. Meus joelhos ameaçaram falhar diante daquela ameaça.
"Não importa quem virá atrás de nós, os mataremos sem piedade. Não seremos capturadas, nunca!"
—Eu não acredito!
—Merda.
A Longhair encolheu os ombros.
—O que foi?
Uma inquietação incomum dominou meus pensamentos, minha mente se tornou um lugar barulhento, eu mal conseguia reconhecer a voz da minha própria loba. Sarah tocou meu braço com cuidado, como se notasse a agitação dentro de mim.
—Ela merece saber—falou baixinho.
—É arriscado—protestou Lucca.
—Ela não é confiável—proferiu Arthur entre dentes.
—Eu estou aqui, ouvindo vocês perfeitamente—a Longhair se manifestou.
Joguei meus cabelos para trás, esfregando o nariz. Busquei silenciar meus pensamentos agitados.
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POV LUNA SWAN —Eu vou te contar algo, mas se você espalhar para outras pessoas, nos tornaremos seu maior inimigo. Ela arqueou uma sobrancelha. —Meu povo foi morto e minha família assassinada por lobos. Por qual razão eu iria querer tê—los como inimigos? Não sou tola. Uma faísca de raiva fervilhou nos olhos dela, direcionada a minha raça. Empurrei meus cabelos para o lado e me virei, revelando a lua crescente gravada em minha nuca, o fardo do meu nascimento que eu lutava para esconder de todos. A Longhair empalideceu, os olhos arregalados em espanto e os lábios abertos. —Vocês são os irmãos Ballards que os lobos caçavam. Sarah abraçou o parceiro, mas meu irmão parecia tão perturbado como eu. Ele piscou quando Becky o sacudiu, recobrando a clara lucidez. —Fomos encontrados. Fugiremos novamente ou ficaremos para lutar pelo nosso lar? —Estou farto de fugir como se fossemos criminosos
POV LUNA SWANEu saltei da cama, impossibilitada de permanecer quieta. Irritação borbulhava em meu sangue, calor subiu pelo meu rosto.—Eu não vou aceitar a reivindicação de um estranho que pensa ter algum poder sobre mim.—Não é uma questão de escolha e sim de dever com sua linhagem.Uma risada fria deixou meus lábios.—Eu não devo nada a linhagem Ballard, não tenho nenhuma dívida com a raça que me persegue e atormenta há anos. Eu não devo nada a ninguém.Tom também se levantou, o rosto vermelho.—Estou tentando te proteger, Luna, tente entender, por favor. Eu não sou forte o bastante para te proteger do mal que se aproxima, muito menos Lucca é capaz. Somente o Lycan pode te prover proteção e cuidado, ninguém, jamais, i
POV LUNA SWAN —Ei, sou eu, guardiã da floresta—debochou Lucca, saindo dentre as árvores. Bufei, fazendo a fumaça escapar de meu focinho. Lucca carregava uma mochila nas costas e parecia feliz em me ver, um pequeno sorriso aberto no canto dos lábios. Éramos tão diferentes, similares na aparência, mas opostos no temperamento. Lucca, por ser o mais velho e ter sido criado para se tornar o líder de uma matilha, sempre foi controlado e responsável que eu, uma bomba relógio impulsiva e imprevisível. Lucca passou sua mão pelo meu pelo, fazendo um carinho maravilhoso com a ponta de seus dedos, roçando suas unhas. Ele repousou sua testa na minha e sua respiração pesada sacudiu meus ombros. Fechei os olhos por um instante. —O Supremo está chegando. Eu me afastei ao ouvir suas palavras e rosnei para Lucca, mostrando minhas presas e deixando nítida minha ameaça. Tinha esquecido desse maldito assunto e Lucca aparece
POV LUNA SWAN—Lucca Ballard, primogênito de Mikael e Ellen Ballard.Meu corpo tremeu em arrepios com a voz do Lycan. Encontrei Lisa perto de Sarah próximos a casa, o rosto da Longhair estava branco, ela somente observava aquele circo de horrores.—Lycan—Lucca se limitou a uma pequena inclinação com a cabeça, mas nem isso eu faria.Toda a atenção do Lycan foi atraída em minha direção novamente. Estiquei os ombros ao vê—lo caminhar em minha direção, esbanjando poder e domínio em cada passo, os músculos marcados pela camisa escura. Minhas bochechas queimaram ao ser o alvo do Supremo. O rosto do macho, lapidado perfeitamente por uma divindade imortal em contraste aos cabelos negros, se assemelhava a uma pedra de gelo ao parar em minha frente.O Lycan era o Alfa Supremo, e mesmo assim est
POV SARAH SWAN—Os boatos não mentem. Ela é realmente uma selvagem. —Comentou o beta do Supremo, tendo o cuidado para suas próprias palavras não causarem mais uma confusão.Tom esfregou as mãos, Melissa segurando—o pelo braço.—Vamos entrar, vocês devem estar cansados da longa viagem—declarou Melissa com doçura na voz.—Luna e Lucca voltarão logo—acrescentou Tom.Ninguém ousou contestar o convite de Tom. Meu estômago se revirava furiosamente devido ao café da manhã de poucas horas atrás. O cheiro de machos diferentes em nossa casa me incomodou.—Por que tem uma Longhair entre vocês?—Indagou o beta, reconhecendo o cheiro da raposa.Lisa soprou um fio loiro diante dos olhos.—Minha aldeia foi atacada dias atrás por um
POV SARAH SWAN —Não serei intimidado por uma fêmea, seu lugar é de submissão e servidão, nada além disso. Luna gargalhou, um som tão frio que me causou arrepios. —O fato de sermos fêmeas não nos torna inferiores a vocês, machos. Não temos que ser corrigidas ou educadas, não somos animais para serem domesticadas, afinal, eu posso te colocar de quatro aos meus pés facilmente. Lisa tossiu para disfarçar o riso, a raposinha tinha um humor terrível. —Vocês foram criadas para nos servir, procriar e saciar nossos desejos, apenas isso. Saiba seu lugar, loba rebelde. O Lycan somente observava a interação entre Luna e seu lobo, não esboçou qualquer reação ou proferiu uma palavra. Ele parecia analisar o comportamento de Luna, estudava o gênio impulsivo dela ao ser confrontada daquela forma. —Eu não nasci para servir nenhum macho. Sou uma pura legítima, a última que restou. E da próxima vez que abri
POV LUNA SWAN Fui apertada com força por duas crianças, que se agarraram na minha cintura, se pendurando. Me abaixei o suficiente para receber uma série de beijos e sorrisos inocentes. Peguei Mila no colo e mantive seu irmão, Diego próximo, meu braço livre sobre os ombros do garotinho. —Você ficou fora por duas luas, tia Luna, um tempão—disse Mila, um pirulito dado por Sarah na boca. Diego mastigava amendoim torrado e cuspiu no ar ao dizer: —Pensamos que algo ruim tinha acontecido. Apertei a bochecha do menino com as pontas dos dedos. —Não seja bobo, Diego, tia Luna é a loba mais forte de todo o mundo. Um temor sacudiu meus joelhos, estampei um sorriso no rosto para os irmãos, concordando silenciosamente. Carreguei Mila junto a Diego até a fogueira, eles falavam juntos sobre a aparição dos homens do Lycan, Diego parecia deslumbrado diante do Supremo, sussurrando sua admiração por ele.
POV LUNA SWAN Lucca chamou meu nome, talvez notando a força que usou para me golpear. Ele veio em minha direção, visivelmente preocupado, ofegando pela luta. —Você está bem? Lucca tocou minhas costas, e eu lhe acertei outra cabeçada. Devolvi o chute em suas costelas, e com outra pirueta acertei um forte chute em sua boca. Cai agachada no chão e joguei meus cabelos para trás. Lucca despencou na terra. —Vai desistir? Sangue escorria pela boca e queixo do meu irmão. —Apenas quando você desistir. Meu irmão não cederia. E eu também não. Aquele enfrente terminaria em sangue derramado e eu estava mais do que animada. Quando acertei um chute em seu joelho, ouvi o berro de Sarah. Ela se intrometeu entre nós dois, as mãos erguidas. —É o suficiente. Não vou ter os miolos do meu parceiro no chão ou as vísceras da minha cunhada queimando na fogueira. Passei o antebraço por minha boca