Meu celular tocou. Corri em direção ao quarto e o atendi.
—Bom dia.
Meu coração se agitou no peito.
—Gregory!
—Não posso falar por muito tempo, liguei para saber como está se saindo. Já está pensando em pegar sua mala e sair correndo?
Eu ri.
—Claro que não! Que ideia. Eu estou bancando a dona de casa, e sonhando em te ajudar financeiramente, conseguindo um emprego.
—Não consigo imaginá-lo como dona de casa. Acho que sua imagem cercada por aquele luxo todo colaborou para isso. Espero que consiga o emprego. Sei que não está sendo fácil.
— Vou sobreviver.
—Está certo. Hoje eu levarei o jantar, não precisa se preocupar em fazê-lo.
Eu olhei para o céu e agradeci a Deus.
—Ótimo. Te amo.
—Eu também, você
No dia seguinte, acordei tarde. Nem tinha visto Gregory sair. Pensando nas cenas da noite anterior, sorri na penumbra me sentindo feliz. A imagem dele, tão lindo e viril me levando a loucura, me fez apertar o travesseiro dele à procura de seu cheiro. Aspirei com prazer o cheirinho do homem da minha vida.Depois de brigar com os registros do chuveiro regulando o frio e o quente tomei banho. Vesti uma calça jeans, uma camiseta rosa com desenhos abstratos pretos e calcei os tênis.Arrumei a cama, abri todas as janelas e depois de tomar um café puro com bolachas salgadas, peguei algumas libras e saí para comprar jornal na banca que eu tinha avistado da janela do nosso quarto.Quando alcancei à calçada, fitei tudo ao meu redor. O bairro me pareceu melhor do que aquele dia que fugi de casa.Na banca, peguei o jornal e um livro de receitas. O senhor rechonchudo, que deveria ser o dono, fixou seus olhos
NatashaA chuva tamborilava na janela do quarto. As lágrimas vieram junto com um sorriso. As palavras dele e ele ali, me envolvendo ternamente com seus braços. O cuidado presente ali me passava à sensação que tudo daria certo, era questão de tempo.—Me espere que eu já volto.Alguns minutos depois Gregory voltava com uma agulha. Ele espetou a grande bolha tirando o líquido com cuidado que tinha se formado dentro dela.—Pronto.Eu lhe dei um abraço rápido e me afastando sorri para o homem maravilhoso que me olhava com grande amor nos olhos.Os trovões cortavam o céu bem ao longe deixando o cenário ainda mais apaixonante. A luz amena do quarto colaborava muito para o romantismo.—Te amo... — Eu fechei olhos ao sentir os lábios de Gregory em meu pescoço.— Eu tamb&eac
NatashaQuatro semanas se passaram desde aquele terrível dia que deu tudo errado na cozinha, ainda tinha a marca da queimadura no meu pé. Aos poucos Gregory foi me ensinando os truques culinários. Com suas lições, percebi que tudo era questão de jeito, noção e bom senso.E claro, anotei tudo.Para minha surpresa, até que aprendi rápido. Hoje eu não morria mais de fome. Sabia fazer um arroz soltinho, purê de batatas, omelete, macarronada e com a carne moída aprendi fazer molho à bolonhesa, além de não me atrapalhar mais em fazer uso da frigideira para fritar as coisas.E achei interessante que tudo que aprendia na cozinha, abria o horizonte para fazer outros tipos de pratos, como se uma coisa levasse a outra.Quanto a trabalho, estava desanimada. Tinha feito três entrevistas e em todas elas, fui reconhec
Duas semanas depois... Os dias se passaram lentamente. Eu me sentia muito solitária. Gregory estava dedicando todo o seu tempo estudando piano. Os finais de semanas ele trabalhava, e quando tinha folga era toda voltada para os ensaios. Gregory sempre se mostrou um companheiro calmo, observador e inteligente. Seu amor era expressado com palavras e carinho, que me deixavam segura e confiante. Um amante generoso e sensível. Se não fosse pelo seu tempo tão escasso, com certeza eu estaria mais feliz. Eu estava fazendo um café na cozinha quando a campainha soou. Hoje era aniversário de mamãe, eu ia à tarde visita-la. Eu tinha combinado com ela às seis horas. Será que eu tinha ouvido errado? Era muito cedo para Roger me pegar... Ao olhar pelo olho mágico, fiquei surpresa em ver Henry e Raquel. Desde que me casei com Gregory, as pessoas tinham sumido de nossas vidas. Apenas o pai de Raquel, dias atrás veio n
GregoryArnold Bertolini se aproximou de mim com uma aura de hostilidade em volta dele. Se ele queria que isso me embaraçasse, de alguma maneira, ele errou em pensar que eu me intimidaria.—Podemos bancar os civilizados na frente todos, mas quero que saiba que esse casamento aconteceu a meu contragosto. Eu não consigo assimilar o que minha filha viu em você. Mas acredito que é questão de tempo, e ela abrirá os olhos.—Senhor Bertolini, desculpe-me, mas não vou discutir com o senhor. Não adianta me fazer ameaças vazias.—Ameaças vazias? É nítido que minha filha não está feliz.Eu estreitei meus olhos.—Ela te disse isso? —Questionei, sem acreditar que Natasha tivesse dito.Arnold rangeu os dentes.—Não, mas eu conheço minha menina como ninguém. Eu
“Ser profundamente amado por alguém nos dá força; amar alguém profundamente nos dá coragem”. LaoTséGregoryCom olhos ardendo pela falta de sono, e os nervos à flor da pele fiquei parado observando a mulher que amo dormir. Sempre a vi como uma mulher determinada e forte, mas ela parecia tão frágil agora...Fechei os olhos com tristeza pensando no meu tempo escasso. Senti uma pontada no coração, uma dor quase física me dando conta que dou migalhas para a mulher que é a minha vida.Meu coração estava pequeno dentro do peito me acusando do quanto eu estou em falta com ela. Eu me dividia como marido, funcionário e pianista. Divisões de tempo injustas. Seu pudesse, meu maior tempo seria como marido, depois os ensaios e por último o trabalho. Mas não funcionava assim,eu trabalhava
Gregory —Estou indo, Rafael. —Eu disse para o gerente do restaurante. —Até amanhã. Rafael apenas acenou com a cabeça e eu não via a hora de sair daquele lugar, na calçada esperei para atravessar a rua e ir em direção ao meu carro que estava estacionado do outro lado dela. Antes de atravessar, ouvi um grito assustado, eu virei a cabeça, foi quando vi uma mulher sendo levada para um beco por um dos caras do clube dos motociclistas que tinha a mão num aperto forte em volta do seu pescoço. Fiquei momentaneamente sem saber o que fazer. Se eu chamasse a polícia, levaria muito tempo para eles chegarem. Aquela minha indecisão acabou quando ouvi novamente ela gritar. Sem pensar em nada, fui em direção ao beco. O merda estava lá, com a calça abaixada, pronto a estuprá-la. Senti uma mistura de raiva e adrenalina. —Seu pedaço de merda, larga ela. A garota me olhou horrorizada, seus olhos brilhavam com as lágrimas. El
GregoryÀ tarde, deitado na cama enquanto Natasha fazia café na cozinha, o som estava ligado reproduzindo Mozart - Yeol Eum Son. Eu abria e fechava minha mão, tentando me acostumar com o repuxado que ficou na pele conforme eu a movimentava.Tinha combinado de me reunir depois do almoço com o maestro para um pequeno ensaio. Eu me sentia confiante, eu tinha a plena certeza que amanhã eu estaria bem.A imagem de minha mãe surgiu na minha frente com saudade....Suspirei.Ela tinha falecido após um súbito enfarto quando eu era ainda bem jovem. Tão jovem...Eu gostaria tanto que ela estivesse viva para assistir minha apresentação, e se orgulhar de mim... engraçado que o mesmo sentimento eu não tinha pelo meu pai. A verdade era uma só, eu me importava com quem realmente sempre acreditou em mim. E minha mãe sempre me dizia: "um d