Natasha
Lucinda entrou no meu quarto com a expressão preocupada. Ela estava elegantemente vestida, com um vestido verde escuro, os cabelos negros arrumados em um coque.
— Filha, você não está sem fome de novo? Você está doente?
Afastei um instante os sentimentos tão ruins que me rodeavam. Estava tentando me esquivar de todos. Com os pensamentos longes apenas a encarei.
Mamãe se sentou na beirada da cama, e me encarou.
—Desde que veio da festa de Raquel está estranha. Eu deveria ter ouvido seu pai. Você não deveria ter ido.
O pior que ela estava certa, maldita hora que fui àquela festa, agora eu sentia como se meu coração fosse rasgado por dentro.
— Mamãe. Eu me sinto muito ociosa. Muito fechada nessa casa.
—E o curso de Francês que está fazendo?
—Você acha
No dia seguinte acordei resoluta a mudar minha condição. E mentalmente preparada para enfrentar meu pai, pois ele não ia gostar nada de eu sair para trabalhar. Um dia tivemos uma briga feia por causa disso, ele tinha me dito que era humilhante para ele ver sua filha arrumar emprego em alguma empresa sendo que tínhamos a empresa da família. Ele sempre me segurou com esse argumento, mas agora chega!Depois de descer e tomar café, eu voltei para o meu quarto e comecei a cadastrar o meu currículo nas agências. Na parte experiência deixei em branco, morrendo de vontade de inventar alguma mentira sobre o estágio, que eu "não tinha feito."A tardezinha, eu estava tentando ler um livro na biblioteca.—Natasha, você ainda não se trocou? Francisco vem te pegar, filha. —Mamãe me perguntou logo que entrou.— Eu vou assim mamãe.Lucinda me olh
Natasha— Natasha?Eu abri meus olhos.—O que houve? Por que ficou tão abalada ao vê-lo? Você gosta desse rapaz? Ele parece mais do que um primo de sua amiga para você. —Francisco me encarava como se pela primeira vez tivesse me visto.Eu enxuguei rapidamente, uma lágrima que desceu. Num misto de sentimentos, preocupada, ansiosa, triste, procurei Gregory com os olhos e não o encontrei.Voltei minha atenção para Francisco que me estudava. O ar parecia carregado, cheio de uma névoa escura.—Eu o amo. Mas como viu, ele não pertence ao nosso mundo e meu pai não o aceitaria. Com medo de represarias, eu o afastei de mim. —Eu disse com voz fraca.Ele se recostou mais na cadeira, pensativo.—Foi por isso saiu da sua festa daquele jeito. Você tinha acabado de terminar com a relaç&atild
O carro entrou e depois avançou na rua de Raquel.— Deus, por favor, me ajude! —Falei para mim mesma quando vi o carro de Gregory estacionado em frente à casa dela. Roger parou atrás dele.—Obrigada Roger. Eu te ligo, pois não sei a hora que sairei daqui. —O dispensei, com fé que tudo iria dar certo.—Está certo, senhorita.Desci do carro alisando meu vestido. Resolvi ir mais feminina. Tinha optado por um vestido branco com estampas delicadas amarelas e pretas. Uma sandália de couro cru e uma pequena bolsa preta, onde estava minha carteira, batom e meu celular. Deixei meus cabelos negros soltos.As horas tinham se arrastado, graças a Deus, mamãe não tinha voltado ainda, então saí tranquila de casa.Roger deu ré no carro e com um aceno foi embora. Abri o portãozinho e entrei no jardim. Depois liguei para o celular de
Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.Friedrich NietzscheEu já andava meio chateada. Tinha mandado tantos currículos e nada. Nunca pensei que fosse tão difícil conseguir um emprego, emocionalmente eu me desesperava e isso era só o começo da luta que eu ia enfrentar ao lado de Gregory. Não queria passar essa imagem de dondoca inútil. Depender dele, sabendo de sua condição financeira.Era horrível! Gostaria de estar trabalhando quando eu fosse morar com ele. Crescer profissionalmente ao lado dele era o meu objetivo.Afastei meus pensamentos quando Roger estacionou em frente à casa de Raquel.Raquel sempre que me recebia, tinha aquele olhar crítico.Não sei por que ela se incomodava tanto com tudo isso?O problema era meu! Eu o amava e
NatashaEu abri os olhos, aérea. Olhei tudo confusa. O meu quarto estava iluminado com o abajur. Eu me sentei e me lembrei da discussão na sala, tonta, me sentindo dopada, estranha, caí nos travesseiros novamente. Tudo rodava.Uma senhora surgiu, estava de branco.Uma enfermeira?— Olá Natasha. Eu sou a enfermeira Ronda Smith, eu estou aqui para cuidar de você. Você precisa de alguma coisa.— Por que eu estou me sentindo tão estranha?— Depois que você desmaiou, seu pai chamou um médico. Ele tranquilizou seu pai, disse que você teve um mal-estar passageiro. Mas como você anda muito nervosa, você está sob efeito de calmante.Eu sentia minha bexiga cheia.— Preciso ir ao banheiro.A enfermeira me ajudou, me pegando pelo braço. Quando caminhava percebi que estava de cami
NatashaFazia uma semana que eu tinha ligado para Gregory, desde esse dia não tinha conseguido mais falar com ele. Mas hoje a sorte estava do meu lado. Percebi isso, quando entrei no quarto de mamãe e vi o celular dela no criado-mudo. Na ponta dos pés caminhei até o banheiro, pela fresta da porta a vi esparramada na banheira com pepinos nos olhos.Sorri.Com o celular na mão saí do quarto dela e fui até o meu. Fechei a porta e ansiosa, liguei para Raquel.O que meu pai pensava?Que o fato de me proibir sair, ou fazer ligação, ou qualquer coisa que eles fizessem, arrancaria Gregory do meu coração?Não, estavam redondamente enganados. Gregory era a minha vida, e eu não ia abrir mão dela.O celular dela tocou três vezes.—Alô.— Raquel?&md
NatashaEntramos no Shopping. Roger ficaria nos aguardando no estacionamento.Quando pegamos o elevador eu fitei mamãe que me encarava.—O que foi Natasha? Você me parece nervosa.Eu a encarei séria. Ela ergueu as sobrancelhas, esperando pela minha resposta.—Pensativa. — Eu finalmente murmurei.—A peça que assistimos juntas te fez pensar nele?Eu balancei minha cabeça desolada.—Não preciso de uma peça de teatro para pensar nele, isso é uma constância.Ela bufou.—Esqueça esse homem. Eu não o conheço, mas pelo que seu pai...—Mamãe! Pare, por favor! Meu pai pareceu um nazista. Preconceituoso. Ele não deveria se chamar Arnold, mas Adolf.Ele ficou imóvel.—Deixa seu pai ouvir isso. Ser comparado com Adolf Hitler? A
Um dia depois, eu estava eu ali, chorando até meus olhos incharem a ponto de mal conseguir fechá-los. Mamãe tinha me dito que depois da briga, meu pai chamou Jonas para dar uma olhada em Gregory, mas as palavras dela não me deram nenhum refrigério.Gritos histéricos de minha mãe e urros do meu pai começaram no quarto deles.Eles deviam estar brigando por minha causa. Me levantei da cama e abri minha porta.—Você tem que fazer ela comer! —Eu ouvi meu pai dizer.—Você acha que não tenho conversado com ela? Ela está depressiva. A menina só chora.—Vou conversar com ela. —Ele disse seco.Eu fechei a porta e pulei na cama e me cobri. Ouvi passos pesados no corredor, me agarrei ainda mais às cobertas, pensando nas palavras duras que ele me diria.A porta se abriu, meu pai me olhou com o rosto pesado,