Heloísa MouraO ar parece sair de meus pulmões. Eu tento respirar fundo, mas cada tentativa só faz meu peito se apertar ainda mais. As palavras do meu pai não apenas ecoam dentro de mim – elas me esmagam. Ele não acredita em mim. Ele sequer me ouve.O silêncio na mesa pesa como uma sentença. O que começou como um almoço de família se transformou em um tribunal onde eu sou a ré e não há defesa possível. Meu estômago se revira, um nó se forma em minha garganta, e o medo me paralisa. Como chegamos aqui? Como permitimos que isso acontecesse?Vittorio está ao meu lado, tentando conter a tempestade com palavras gentis, mas meu pai já decidiu. Se houver uma gravidez, Matteo será obrigado a se casar comigo. Essa declaração, simples e devastadora, me atinge como um golpe. Como ele pode dizer isso? Como ele pode sequer considerar uma solução tão fria, tão cruel? Como se eu fosse um problema a ser resolvido. Como se meu destino pudesse ser selado com uma única ordem sua.Eu engulo em seco, senti
Heloisa MouraMinha voz sai fraca, como se admitir isso em voz alta tornasse tudo mais real, mais impossível de ignorar. Minha mãe me encara com um olhar suave, mas firme, repleto de compreensão e, ao mesmo tempo, de preocupação.— Eu sei, filha. O amor, às vezes, nos toma de surpresa. Mas você precisa estar preparada para as consequências.Engulo em seco, sentindo o nó em minha garganta apertar ainda mais. Meu coração bate tão forte que tenho medo que ela consiga ouvi-lo. As palavras dela giram em minha mente, me atingindo com uma força que eu não esperava. Consequências. Essa palavra nunca pareceu tão aterrorizante.— Eu… eu não sei o que fazer — admito, baixando o olhar para minhas mãos trêmulas. — E se for verdade? Se eu realmente estiver grávida?Minha mãe suspira e se senta ao meu lado, pegando minhas mãos entre as suas. O calor de seu toque me traz um conforto momentâneo, mas a tempestade dentro de mim ainda não se dissipa.— Se for verdade, você não estará sozinha. — Sua voz é
Vittorio Bianchi O sol ainda não nasceu completamente, mas a luz suave da manhã já começa a se infiltrar pelas frestas da cortina. O quarto está mergulhado em um silêncio tranquilo, interrompido apenas pela respiração ritmada de Heloísa, que dorme em meus braços, a cabeça descansando contra meu peito. Por um instante, tudo parece calmo. Como se o mundo lá fora não existisse. Como se não houvesse medo, segredos ou consequências esperando para cair sobre nós. Só ela e eu. E a incerteza que, de alguma forma, já carrega um peso diferente dentro de mim. Minha mão se move antes mesmo que eu perceba, deslizando suavemente até a barriga dela. Um carinho instintivo, um gesto que deveria ser inconsciente, mas que carrega mais significado do que consigo expressar. Meu polegar traça círculos lentos contra o tecido fino da blusa dela, e um calor desconhecido se espalha pelo meu peito. Eu nem sei se há mesmo uma vida crescendo ali. Se o destino já escreveu esse capítulo para nós. Mas, no f
Heloísa Moura Estou ansiosa, hoje minha vida mudará para sempre, escutar o Vittorio falando que ama nosso filho sem mesmo saber se realmente ele está aqui em meu ventre me da força para falar tudo de uma vez para o papai. Involuntariamente passo minhas mãos pela barriga, meu Deus como pode ser? Também já o amo mesmo sem ter certeza, é a realização de um sonho. Minha vida ao lado do Vittorio não será fácil, meu pai não vai aceitar de primeira, mas como a mamãe falou vamos dar tempo ao tempo. Término de me arrumar e desço as escadas, o Vittorio está lindo, minha mãe e meu pai estão juntos todos me esperando quando escuto a voz daquela mulher e o que ela fala me faz segurar firme no corrimão da escada, caso contrário eu cairia. — Estou grávida. Essas foram as únicas palavras que consegui escutar as demais não passaram de um borrão, chamou o Vittorio e vejo os olhos de encontro aos meus e a única palavra que sai da minha boca depois disso é: — Vamos mãe. Saio daquela casa
Heloísa Moura. Sem dizer uma palavra sequer, subi para meu quarto, ao atravessar a porta lá estava ele, como se estivesse ali por horas. — Amor, estava te esperando. — O rosto dele mostrava o quanto estava destruído. — qual foi o resultado? — Vittorio… — me aproximo dele e ele me abraça pela cintura depositando um beijo no meu ventre. — foi positivo, estou esperando um bebê nosso, fruto do nosso amor. O abraço dele era quente, firme, como se estivesse tentando me segurar para que eu não fugisse outra vez. Senti os lábios de Vittorio contra meu ventre e, por um instante, desejei me entregar àquele momento, esquecer tudo ao nosso redor e apenas sentir. Mas a realidade nos cercava como uma tempestade prestes a nos engolir. Acariciei seus cabelos, sentindo o corpo dele estremecer levemente contra o meu. Quando ele levantou o rosto para me encarar, vi seus olhos marejados. — Um bebê… — Ele sussurrou, como se ainda estivesse processando a ideia. Assenti, um pequeno sorriso s
Vittorio Bianchi Vê Heloísa saindo pela porta da minha casa levou com ela o meu coração mas sem pensar muito subi para o meu quarto agora repleto das coisas da Liliane arrumo algumas peças de roupas em uma pequena mala e saio de lá sem olhar para trás, debaixo do mesmo teto que ela não fico. Fui para um hotel e lá fiquei até o lançamento do Passione. Isso mesmo coloquei o nome do nosso espumante de Passione, ele traduz tudo que passei com a Heloísa. Seis meses se passaram e estou morando no quarto de um hotel, a Heloísa não me atende mas se como o destino quisesse me levar para os braços dela mais uma vez recebi uma proposta irrecusável apresentar o Passione em uma feira de vinhos artesanais. Nova Iorque. O simples nome já fazia meu peito se apertar. Não sabia se era sorte ou ironia do destino, mas essa oportunidade era tudo que eu precisava para estar perto de Heloísa novamente. No avião, com uma taça do próprio Passione em mãos, encarei a cidade através da pequena janel
Heloisa MouraA voz dele me pegou desprevenida. O som grave, carregado de algo que não consegui definir de imediato, fez meu coração falhar uma batida.— Vittorio…?Pisquei algumas vezes, sentindo um turbilhão de emoções se chocar dentro de mim. Não, não podia ser ele. Não depois de tanto tempo. Mas ele estava ali, ajoelhado ao lado da minha cama, os olhos escuros e intensos cravados em mim, como se não acreditasse que eu ainda existia.Por um segundo, um único segundo, meu peito se aqueceu com a lembrança do que fomos. Mas logo depois, a raiva me dominou. O que ele estava fazendo aqui? Depois de seis meses de silêncio, após me abandonar como se eu não significasse nada? Preferir ficar ao lado daquela mulher...Me endireitei na cama, sentindo Augustus se mover ao meu lado. Ele fechou o livro que estava lendo e me lançou um olhar preocupado antes de encarar Vittorio.— O que você está fazendo aqui? — minha voz saiu firme, carregada de incredulidade.Os olhos dele brilharam, e algo em s
Heloísa Moura Seis meses antes…A viagem até minha casa foi mais longa do que imaginava, o jatinho não parecia ser apenas para minha pequena família e sim, aparentava que estávamos em um voo comercial com todos os assentos completos.O silêncio no jatinho era sufocante. Meu pai cruzava os braços, o maxilar travado, enquanto minha mãe suspirava pesadamente ao meu lado. Desde que a confirmação da minha gravidez saiu da boca dela, ele parecia uma bomba prestes a explodir.— Quem é ele, Heloísa? — Sua voz cortou o silêncio como uma lâmina.Fingi não ouvir, mantendo o olhar perdido na janela, observando as nuvens abaixo de nós.— Heloísa! — ele repetiu, mais alto.— Pai, eu já disse, isso não importa agora.— Como assim não importa? — Sua incredulidade era quase palpável. — Um neto meu está para nascer e você quer que eu simplesmente aceite que não sei nada sobre o pai?Minha mãe tocou o braço dele em um pedido mudo para que se acalmasse, mas ele a ignorou.— Ele sabe? Esse… esse sujeito