Três meses se passaram depois que fiz amor com Ary Meyer na cozinha do doce Jasmim. Três meses se passaram desde a última vez em que vira seu rosto. E novamente eu voltei para o automático ao pisar os pés na casa da minha vó, voltei a ser a âncora que todos precisavam e na rotina conturbada que minha vida se retornou, eu parei de me enxergar no espelho. Desde que soubera do estado da minha vó eu nunca mais pegara em minha câmera para tirar uma foto, apenas para observar o sorriso do Ary sem camisa sob a luz do luar numa cama de hotel ao meu lado, ou quando ele estava distraído na única vez em que me permiti andar em algo que flutuasse sob as águas desde minha última missão fracassada. Eu esqueci os meus planos e passei a cuidar dos planos da minha mãe e da alegria da minha vó. Dona Catia havia voltado para casa. Ela estava melhor conosco, comendo a comida que gostava, ao lado das pessoas que a amavam. A casa começou a receber muitas visitas, a família passou a vir nos ver e eu sentia
Quando meus homens entraram na casa tudo que eu sentia era o sangue ferver em minhas veias, entrei com a arma empunhada. Silenciosamente seguíamos as coordenada um dos outros, eu estava coberto e embora eu ainda sentisse a fisgada em meu braço esquerdo e ainda conseguisse me lembrar do rosto de pavor da minha mãe ao me ver sangrando, eu esperava ansiosamente por este momento. Pelo momento em que eu veria a cara do homem que me traiu, que armou a emboscada. Subimos as escadas e fomos até o seu quarto, num único ponta pé a porta se abriu. Ele não tinha como saber que estavam ali porque os seus homens foram apagados por uma arma com silenciador. A cara de assustado dele ao ser acordado com sua porta sendo arrombada foi demais. Uma mulher estava nua sobre sua cama. Sua expressão era de pavor.— Olá, meu caro amigo. — Falei entrando depois de dois dos meus homens. — Surpreso em me ver?Ele me encarou assustado.— Eu imagino que sim. — Falei pensativo. — Mas aqui estamos nós, eu estava ansi
A noite caiu rapidamente e logo a casa estava cheia com todos os nossos parentes. O velório aconteceu como todos acontecem. Todos chorando e se despedindo do corpo. Eu abraçava um e outro, apertava suas mãos e lhe dizia que ela faleceu dormindo, feliz porque agora estaria descansando. Que estava tudo bem, que ela sofreu demais e que agora estava descansando num lugar melhor. Eu disse isso tantas vezes que perdi a conta. Minha mãe passou todo o velório sedada, e ver o seu olhar sobre o corpo de minha vó me destruía. Dona Marília estava destroçada. Dona Catia por outro lado continuava dormindo em seu vestido branco de noiva, e com flores de Jasmim e cattleyas por todo o caixão. As duas flores preferidas de minha vó. Carlos disse que havia sido escolha dela. Eu não me permiti sair do seu lado nem por um segundo. E Adam só saiu do nosso lado quando o seu celular tocou e ele se afastou para atender. Eu sabia quem era, mas naquele momento não me importava.Passamos toda a noite velando o co
Quando só ficaram os mais próximos, eu pedi que dona Giovanna levasse minha mãe para casa. Ela estava abalada demais para ficar ali. Dona Giovanna concordou, e o único momento em que o vi se afastar de mim foi quando ele foi até os seguranças dar ordens. Vi metade dos seguranças seguindo minha mãe e dona Giovanna no carro e outra metade ficaram ali com ele formando um novo estado de alerta. Eu sabia que aquilo era mais do que necessário. Algumas pessoas tentavam entender o que ele estava falando com o segurança, mas suas ordens eram em alemão e em tom baixo e educado. O mais engraçado é que enquanto eu estava passando pela dor de perder mais uma pessoa importante em minha vida, as pessoas estavam tentando identificar quem era Ary. Vi o olhar desconfiado de alguns quando Ary falou algo em alemão para Adam e o mesmo respondeu.— Precisa de mim? — Adam veio até a mim.— Aonde você vai? — Perguntei.— Vou escoltar dona Giovanna. — Ele falou. — Confiança.— Tudo bem. — Sorri sabendo que el
JASMIMDepois da missa de sétimo dia resolvemos que era hora de voltar para casa. Era o que minha vó queria, que não parássemos nossas vidas, que vivêssemos tudo aquilo que sempre sonhamos. Minha mãe ainda estava se recuperando, e claro que essa dor nunca passaria, mas aos poucos ela entenderia, aos poucos ela se acostumaria com a saudade. Minha mãe sempre foi muito leal a família, motivo pelo qual ela nunca namorou outra vez... E isso a fazia sofrer mais do que tudo ao perder alguém, mas dona Marília sempre foi uma mulher forte, capaz de se reerguer das cinzas. Quando entrei em minha casa de novo pela primeira vez em três meses, eu percebi o quanto sentia falta daquele lugar. Voltamos a nossa rotina, mesmo que agora a dor fizesse parte dela. Assumi o restaurante para que minha mãe ficasse um pouco mais em casa, e a vi cada dia mais focar em coisas que a faziam bem, como um novo curso de gastronomia a distância. Dona Marília também começou a conversar com dona Giovanna por telefone, a
De repente minha vida se tornou um borrão, como aqueles trailers de filme onde tudo que acontece se passa rapidamente sem direito a controle pra pausar. Foi assim que tudo aconteceu. Quando minha mãe voltou de Angra nós conversamos e eu disse que gostaria de voltar para Portugal, onde minha vó paterna morava. No começo ela relutou, mas depois entendeu a situação e concordou que seria o melhor a se fazer. Eu sabia que aquele momento era delicado para minha mãe, mas eu só tinha duas opções e a primeira ela abominou com todas as forças. Então a segunda pareceu mais humana pra ela.Duas semanas mais se passaram em que eu permaneci evitando Ary com todas as minhas forças, determinada a não ter mais contato algum até que eu pudesse refazer minha vida do outro lado do País. Sim. Eu ainda o amava loucamente e ter que mudar toda a minha vida estava me destruindo. Quando eu achava que já tinha dado merda, tinha mais merda ainda pra dar. Liguei para minha vó e ela aceitou que eu fosse morar com
— O que está acontecendo, Adam? — Perguntei quando o encontrei nos fundos do restaurante.— Perdão, Senhor Meyer. Não posso. — Ele falou. Seu rosto estava apreensivo. — Ela me fez prometer que não lhe daria mais notícias há não ser que precisasse.— Você ainda trabalha pra mim. — Falei tentando entender o que de fato estava acontecendo ali.— Por isso estou aqui lhe dando satisfações. Ela está bem. — Ele suspirou desviando o olhar.— Você está mentindo... — Falei o encarando.— Tudo que posso dizer é que ela está planejando ir embora. Mas se for lhe tirar satisfações, ela disse que não vai mais me deixar participar da vida dela. Ou seja, já era segurança. — Ele falou cerrando o maxilar.— Isso não é um pedido, Adam. — Falei sem acreditar.— Com todo respeito, Sr. Meyer... Ela atirou num traficante, o desarmou em questão de segundos. Fez treinamento militar e soube cobrir seus rastros pessoais. Ela te desafiou dentro de um ambiente recheado de homens armados ao seu comando. O Senhor ac
— Eu vou deixar que você, Meyer, escolha quem vai morrer primeiro. — Silva disse agora me encarando.Eu o encarei e voltei a encará-la, como quem entendeu o recado. Ela tossiu, novamente movimentando as mãos. Um sinal rápido e discreto que passaria desapercebido pelo movimento de seu corpo enquanto tossia. Com o dedo indicador girando três vezes, ela sinalizou para que eu enrolasse.— Vamos negociar! — Falei agora encarando o Silva.— Agora você quer negociar? — Ele riu.— Quero. O que você quer? É só dizer... — Falei.— Depois de queimar meu laboratório e matar muitos dos meus homens? — Ele me encarou agora com olhos estreitos.Assenti.— Você é realmente surpreendente. — Ele riu novamente. — Não vamos prolongar isso. — Ele foi agora para frente do Adam. — Você escolhe, quem você quer ver morrer primeiro?Seu olhar me mostrou o erro. Ele estava longe demais. Ela me encarou apontando a corrente discretamente com a sobrancelha e então o encarou.— Tenho uma proposta. — Falei.— Ora ora