É estranho como o caos, às vezes, pode trazer uma paz momentânea para a mente. Ontem, enquanto estava com Ethan, senti uma tranquilidade que não fazia sentido. A tensão entre nós, as sensações que ele provoca, os pensamentos que ocupa... tudo isso me distraiu o suficiente para que, por algumas horas, eu esquecesse o verdadeiro motivo que me levou até sua casa. Mas a realidade nunca demora a nos encontrar. Quando me vi sozinha no quarto, ela veio com força, aterrorizante. Mesmo após excluir a mensagem de David, suas palavras continuavam roubando o pouco de controle que eu acreditava ter recuperado. “Nos veremos em breve.” Quatro palavras simples, mas poderosas o suficiente para despertar um medo que pensei ter deixado para trás. Medo de alguém que, um dia, eu considerei meu porto seguro. Afinal, David preencheu o vazio deixado por aquele que nunca esteve presente. E mesmo não sendo meu verdadeiro pai, por muitos anos o considerei assim. — Você está bem? — A voz de James me
“Alguns minutos antes. Ethan Hayes”Observo Mia sair da minha sala, resistindo à vontade de esquecer a razão e relembrar o que fizemos ontem. É impossível ignorar as lembranças de seus cabelos presos entre meus dedos e, ao tocá-los novamente para soltá-los, foi difícil lembrar onde estamos.— Mas que porra! — resmungo ao ouvir o som da porta se fechando. — Só posso estar enlouquecendo.Esfrego o rosto com as mãos, tentando retomar o controle dos meus pensamentos. Afrouxo um pouco a gravata, mas ainda assim me sinto sufocado. Preciso me concentrar. Reuniões, relatórios, qualquer coisa que não envolva o perfume dela impregnado no ar.Levanto para guardar uma pasta na prateleira ao lado quando a porta se abre. Não preciso olhar para saber quem é.— Já estava sentindo falta dessas invasões — digo, voltando ao meu lugar e encarando-o.— Se não tivesse me abandonado ontem, não estaria com saudades — James retruca, num tom tão irônico quanto o meu, sentando-se à minha frente. — Como foi com
O tempo é realmente relativo. Em alguns momentos, segundos se passam rápido demais; em outros, parecem durar uma eternidade. Especialmente quando uma frase como “não é o que você está pensando” pode ser dita em dois segundos e mudar toda a sua vida.Não posso arriscar que essa frase seja dita agora.“Mantenha o controle”, ordeno mentalmente, dando um passo à frente.— James, vai continuar parado enquanto sua filha está no chão? — pergunto, usando o tom irônico que ele tanto odeia. — E depois eu que sou o insensível.James revira os olhos e finalmente se abaixa para ajudar Mia. Aproveito que ele fica de costas para atrair a atenção dela. “Calma, está tudo bem”, gesticulo com a boca, sem som. Ela pisca algumas vezes, ainda tensa, mas seu rosto um pouco quando entende a mensagem.— Você está bem? — James pergunta, colocando a mão nas costas dela. Mia assente, arrumando os cabelos com as mãos ainda trêmulas.— Sim — ela murmura, olhando para mim antes de começar a juntar os papéis. — Esta
“Mia Bennett” Quando as palavras saem da boca de Ethan, sinto como se todo o ar tivesse sido sugado da sala. Minha garganta aperta, meus olhos queimam, mas me recuso a deixar as lágrimas caírem. Abro a boca para responder, mas a frieza em seu olhar, a certeza em sua voz… tudo me faz desistir de retrucar. Se ele quer agir assim, tudo bem. Também posso ser fria. — Você tem razão — digo, no tom mais indiferente que consigo. — É melhor assim. Quando ele desvia o olhar para os papéis que trouxe, levanto devagar, agindo como se suas palavras não tivessem acabado de destruir algo dentro de mim. Como se eu realmente não me importasse. Como se fosse fácil fingir que nada aconteceu. Mas quando estou prestes a sair, algo em mim trava. Minhas pernas se recusam a continuar, e minhas mãos tremem levemente. Por que ele tem esse poder? Por que, mesmo agora, sinto que ele está tão perto e tão longe ao mesmo tempo? — Pode me responder uma coisa? — pergunto, me virando lentamente para encará-lo. Et
Passo o resto do dia tentando me manter o mais distante possível da sala de Ethan. Ao menos, ele respeitou meu claro distanciamento e evitou me chamar desnecessariamente. Ou talvez quisesse a sala vazia para às vezes em que Miranda passou por lá.Olho para o relógio: 17h40. Vinte minutos e poderei ir embora, me enfiar debaixo do chuveiro e tentar lavar toda essa confusão da minha cabeça.— Mia? — A voz de James me surpreende. Levanto os olhos e o encontro parado ao lado da minha mesa, com as mãos nos bolsos e um sorriso sem jeito. — Você tem algum compromisso hoje à noite?— Não — respondo, franzindo a testa. — Por quê?— Bem… — Ele tira uma das mãos do bolso e coça a nuca, num gesto que me lembra o meu próprio quando estou nervosa. — Ganhei dois ingressos para o jogo dos Bulls hoje. Sei que não conversamos muito sobre isso, mas você gosta de basquete?— Na verdade, sim — digo, sorrindo. — Jogava um pouco no colégio.— Sério? — pergunta, sorrindo enquanto seus olhos brilham. — Eu tamb
“Mia Bennett”Uma semana.Sete dias, dezesseis horas e aproximadamente quarenta minutos desde que Ethan decidiu por nós.Não que eu esteja contando, claro. Só que cada minuto parece durar uma eternidade quando você precisa fingir que alguém é apenas seu chefe. Fingir que essa pessoa nunca te beijou, te tocou ou te fez sentir coisas que você nunca sentiu antes.Mas estou me saindo bem. Melhor do que esperava, na verdade. Descobri que é mais fácil lidar com Ethan quando foco apenas no trabalho. Relatórios, reuniões, e-mails… tudo é simples quando você se ocupa ao ponto de não conseguir pensar.Exceto quando ele está perto demais. Ou quando seu perfume invade meus sentidos. Ou quando preciso entrar em sua sala e encontro Miranda por lá, sempre com aquele sorriso que grita vitória.Ela está se esforçando, claramente. Desde que nos viu no estacionamento, no dia da minha crise, parece ter decidido que sua missão de vida é esfregar na minha cara o quanto é íntima de Ethan. Parece que criou u
“Ethan Hayes”Uma semana fingindo que Mia é apenas minha assistente pessoal. Uma semana tentando ignorar como seu perfume me atrai sempre que ela entra na sala. Como seus olhos evitam os meus. Como suas respostas são perfeitamente profissionais, sem um único pingo de emoção.Em outros tempos, eu teria a distração perfeita. Agora, é como se todas as outras tivessem perdido a graça.Então, como se a semana já não fosse complicada o suficiente, Theo aparece, mostrando que a ideia genial de James não era apenas algo aleatório após umas taças de vinho.— O tour pode esperar — concluo, sem direito, sem pensar.Mia me encara, surpresa, mas em seu olhar há aquele brilho que me faz lembrar de como ela usou Theo para me provocar em Malibu. Lá eu já não tinha o direito de me sentir afetado, quem dirá agora, depois da minha decisão de me afastar.— Acho que vou me atrasar um pouco para o almoço, Theo — ela diz, sorrindo como se eu nem estivesse aqui.— Claro, sem problema — Theo responde. — Mas n
“Mia Bennett”Saio da sala de Ethan, mantendo o sorriso no rosto até chegar ao banheiro. Só então permito que minhas mãos tremam, que minha respiração saia irregular, que o autocontrole que lutei para manter na frente dele finalmente se desfaça.Apoio as mãos na bancada de mármore e encaro meu reflexo no espelho. Minhas bochechas continuam vermelhas graças às palavras dele.— Idiota convencido — resmungo, abrindo a torneira.Ethan e sua capacidade de me desestabilizar com algumas palavras sussurradas. Eu e a minha fraqueza em permitir que ele tenha esse efeito sobre mim. Somos dois idiotas presos a algo que insiste em continuar nos atraindo.Meu celular vibra no bolso, impedindo que eu dê alguns tapas no meu rosto para ver se acordo para a realidade. Ao pegá-lo, encontro uma mensagem de James.“Mia, estou com Alec e Theo. Se ainda não almoçou, se junte a nós.”Mordo o lábio, pensativa. Depois da cena com Ethan, talvez seja bom mesmo me afastar um pouco da Nexus. Respirar ar fresco. Es