Chegamos em São Paulo no fim da tarde de segunda-feira. Saímos de Ilhabela logo após o café da manhã e a viagem foi tranquila, com algumas paradas pelo caminho. Quando chegamos, fui para meu apartamento e a Ana me avisou que estava trazendo o Pedro.Minha mente ainda estava confusa com a noite anterior. O beijo com o Caio havia sido um desvio temporário dos meus sentimentos, mas não apagava o que eu sentia por Fernando. A raiva e a mágoa continuavam. Queria que fosse fácil assim, beijar outra pessoa e fazer os sentimentos desaparecerem, mas não era. Após o beijo, Caio foi um verdadeiro cavalheiro, me deixou na porta do hotel e trocamos números, na esperança de um possível reencontro.Sabia que precisava voltar para enfrentar o que estava por vir. A viagem de volta foi solitária e silenciosa, cheia de pensamentos conflitantes sobre Fernando e o que o futuro nos reservava.Quando a campainha do meu apartamento tocou, abri a porta sorridente, esperando ver a Ana e o Pedro. Em vez disso,
Eu sempre fui uma pessoa cautelosa, mas às vezes arriscar era necessário. E dessa vez, me permitir sonhar um pouco mais parecia o caminho certo. A ideia de abrir uma sociedade com a Ana estava crescendo em mim, florescendo como uma promessa de algo novo e revigorante. A verdade é que eu precisava me distrair. E a Ana, com sua energia contagiante, parecia a parceira ideal para essa nova fase. Marquei de encontrar com ela em um café charmoso, não muito longe da loja. O lugar era acolhedor, com mesas de madeira rústica e luz suave entrando pelas janelas grandes, um refúgio perfeito para conversas importantes. Eu estava nervosa, ansiosa para compartilhar minha decisão, mas ao mesmo tempo com medo das incertezas que ela traria. Quando Ana entrou no café, logo a vi. Seu cabelo estava diferente, mais curto e significativamente mais claro. O loiro cintilava sob a luz, realçando ainda mais sua beleza natural. Ela parecia radiante, uma força vibrante que chamava a atenção de todos ao redor.
Trinta dias. Foi o prazo que estipulamos para abrir o ateliê, e ele passou como um furacão. Parecia que algo estava sempre dando errado: um vestido rasgava no último ajuste, um fornecedor atrasava a entrega de tecidos essenciais, e eu perdi a conta das vezes em que tive que refazer um bordado às pressas. Mas, no fim das contas, tudo se encaixou. O caos, de alguma forma, se transformou em perfeição.Entro no ateliê e sou recebida pelo suave aroma de lavanda, que se mistura com o cheiro fresco dos tecidos novos. As araras, elegantemente dispostas, exibem nossas peças com um capricho impecável: vestidos de seda com detalhes em renda, terninhos sob medida e uma coleção especial de vestidos de festa que brilham sob a luz natural que entra pelas amplas janelas. As paredes em tons de creme, a madeira clara e uma parede de tijolinhos exposta conferem um toque rústico, mas sofisticado ao ambiente. Cada canto parece sussurrar que estamos prontas.— Estoure logo essa garrafa de champanhe! — Ana
— Mamãe, quando você vai ver a vovó Lene? — Pedro pergunta, assim que o pego na escola.Eu havia me mudado temporariamente para Belo Horizonte, para acompanhar de perto o ateliê junto com a Ana. Aos poucos, estava me adaptando ao ritmo mais tranquilo da cidade. São Paulo sempre me parecia agitada demais, e, embora eu já tivesse morado lá, a calmaria de Belo Horizonte começava a fazer sentido para mim. Talvez porque, pela primeira vez, eu sentisse que esse era um espaço que eu estava criando para mim e para o Pedro.Essa mudança não tinha nada a ver com o Fernando. Era sobre as minhas escolhas e o bem-estar do meu filho. Aqui, ele podia passar mais tempo com o pai, fazer atividades ao ar livre, ter uma rotina mais leve. E eu? Bom, eu também passava mais tempo com ele do que conseguia antes.— Amor, a mamãe está trabalhando na loja agora, e não sei quando vou poder visitar a vovó Irene — respondi, enquanto dirigia de volta para casa, no condomínio que havia alugado, bem próximo ao ateli
— Já está tudo certo com a mercadoria que saiu daqui da transportadora ontem, Fernando. — Felipe me avisa e eu assinto.Tivemos um desvio na rota e não estávamos conseguindo localizar o caminhão que se desviou do caminho programado. Os pneus do caminhão furaram em uma área de difícil acesso, mas conseguimos localizá-lo e o café chegou ao destino final.— Já podemos encerrar por hoje; era o problema que tínhamos para resolver e os convidados da mãe já estão chegando.De repente, me animo com isso. Será que a Carol estaria aqui? Eu queria pelo menos passar algum tempo em sua presença. Eu havia errado com ela, mas estava disposto a aceitar qualquer coisa que ela me oferecesse — uma conversa, uma troca de olhares ou apenas alguns minutos com ela.— A Carol veio? — Pergunto.— Você nem disfarça o quanto está na merda, não é? — Meu irmão desdenha e eu fico calado.Eu era o responsável pela situação; ela não tinha culpa de nada e havia sido muito compreensiva comigo.— A Carol está aí, seu b
A luz suave da manhã se infiltrava pela janela, criando pequenos feixes de sol que iluminavam o quarto. O som tranquilo da fazenda contrastava com a dor que latejava no meu pé. Pedro se mexia sonolento ao meu lado, seu corpo pequeno ainda enrolado nas cobertas. O efeito do álcool da noite anterior havia passado, mas o desconforto físico permanecia. Eu tentava me levantar, mas ao mover meu pé, a dor voltou de forma aguda, como um lembrete de que o repouso era inevitável. O acidente de carro já havia me forçado a parar antes, e agora a queda do cavalo me colocava novamente numa situação de vulnerabilidade que eu detestava. Suspirei, frustrada com minha própria condição. Eu sempre fui uma pessoa agitada, incapaz de ficar parada. Meu mundo era de movimento constante – sempre criando, desenhando, gerenciando o ateliê. Ficar presa em uma cama era um tormento. Ouvi uma batida suave na porta, interrompendo meus pensamentos. Eu esperava que fosse uma das empregadas da fazenda, mas, ao dar p
O fim de semana chegava ao fim, e a luz do sol se espalhava lentamente pelo horizonte, tingindo o céu de tons quentes. O clima fresco tornava o ambiente acolhedor enquanto eu observava Ana, com Pedro deitado em meu colo, prestes a adormecer. Havia conversado com a minha mãe mais cedo sobre o acidente, e ela prontamente se ofereceu para vir, mas insisti que ficasse em São Paulo, cuidando do ateliê. Não era nada grave, e eu me sentia bem. A Irene e a Mari tinham ido a São Paulo resolver algumas pendências do escritório, e o Felipe e o Fernando ficaram aqui, o que nos deixava sozinhos no casarão, além dos funcionários. — Detesto os finais de domingo — Ana disse, expressando o que eu sentia. Esses momentos eram sempre calmos, quase dolorosos, e estávamos sem saber o que fazer. — Vamos fazer alguma coisa — ela propôs, levantando-se animada. — Ana, não se esqueceu do meu pé? — rebati, apontando para o curativo. — Eu queria sair um pouco, mas não vamos fazer isso. — Ela estava deter
Na manhã seguinte, acordo cedo. A Ana iria para o ateliê em BH, mas concordamos que eu ficaria por aqui. O Pedro ainda estava em período de adaptação na escola nova e não seria bom faltar, então ela levou o Pedro com ela. Eu havia tomado um banho e estava sentada no quarto com um livro na mão, meu pé ainda latejava, e eu não conseguia descer as escadas. — Carol? — Fernando pergunta entrando no quarto, sua voz suave, mas cheia de presença. — Bom dia, Fernando — digo, fechando o livro e o encarando. — Estou indo para a transportadora, quer ir comigo? Podemos tomar café lá — ele sugere, com um sorriso leve. Eu hesito por um momento. Não queria passar o dia sozinha no casarão, e o Felipe também saiu cedo para trabalhar, a Ana falou que ele iria resolver algumas questões da vinícola. Se eu resolvesse ficar, estaria completamente sozinha, exceto pelos funcionários. — Ainda não estou conseguindo andar direito... — murmuro, olhando para meu pé enfaixado. — Não tem problema, vou passar