A volta para casa foi tranquila, mas profundamente reflexiva. Ao longo daquelas longas horas de estrada, enquanto o asfalto se estendia à minha frente, meu coração parecia pesar de uma forma inesperada. Estar na casa dos meus pais havia sido um alívio, uma pausa das tensões do dia a dia. Lá, entre as conversas sobre o passado e as brincadeiras familiares, me senti novamente como a menininha que cresceu sob a proteção deles. Como eu sentia falta daqueles momentos… Dirigir servia de terapia para mim. Havia algo no movimento constante da estrada, na solidão e no barulho do motor, que trazia uma sensação de alívio. À medida que as horas passavam, minha mente vagava, e a estrada diante de mim parecia refletir meu próprio caminho emocional. As cinco horas de viagem de volta para casa tiveram um efeito quase curativo. Cada quilômetro percorrido era como um passo em direção a uma versão mais tranquila de mim mesma, mas também me forçava a confrontar o que ainda estava em meu coração. Eu sa
Na manhã seguinte, logo cedo, estava com algumas pessoas que trabalhariam na obra do escritório. Era o início de uma grande reforma. Teríamos que derrubar algumas paredes para expandir os espaços e reestruturar tudo. A sala comercial já era grande, mas com as mudanças, o lugar ganharia uma sensação de amplitude ainda maior.Eu estava concentrada, mostrei o projeto no tablet para os pedreiros, que começaram a sugerir algumas modificações. Cada ajuste parecia pequeno à primeira vista, mas para mim, cada detalhe fazia a diferença. Aos poucos, fui fazendo as alterações necessárias, observando atentamente o que poderia melhorar. - Vamos iniciar, então. - O chefe da obra disse, e eu assenti, sentindo uma mistura de empolgação e responsabilidade. A obra estava finalmente começando.Minutos depois, o som da quebradeira das paredes encheu o ambiente, um barulho constante que quase me fez perder o foco. Foi quando o Henrique chegou, interrompendo um pouco a energia caótica do lugar. - Bom dia
A ideia do rastreador martelava em minha cabeça por dias, uma sensação que não me abandonava. Por mais que tentasse ignorar, algo dentro de mim insistia em gritar que aquilo fazia sentido. Alonso teria sido capaz de colocar um rastreador no meu carro enquanto ainda estávamos casados? A princípio, parecia absurdo, mas, quanto mais eu pensava, mais percebia que era exatamente o tipo de coisa que ele faria. Afinal, ele já havia me traído, mentido e manipulado… Invadir minha privacidade seria só mais um passo na sua lista de atitudes tóxicas. Respiro fundo, tentando organizar os pensamentos. Não podia deixar isso me consumir. Precisava de provas. Algo concreto para confirmar ou descartar de vez essa suspeita. Pego o telefone e procuro o número do Fernando, meu primo, que estava em Belo Horizonte resolvendo assuntos da fazenda. — Oi, Fernando? É a Cíntia. Está ocupado? — Pergunto assim que ele atende, minha voz carregada de preocupação. — Não, Cindy. Estou resolvendo algumas coisas po
— Foi encontrado um rastreador na parte interna do carro. — O mecânico informa, segurando o pequeno dispositivo entre os dedos engraxados. Eu encaro o objeto, sentindo meu estômago se revirar. Meu coração acelera, e uma mistura de raiva e desconforto invade meu corpo. Fernando, ao meu lado, se inclina para olhar melhor, com o rosto fechado. — Eu não acredito. — Ele murmura, a voz carregada de indignação. — Esse cara realmente passou dos limites. Seguro a bolsa com força, tentando controlar minhas emoções. — E agora? — Minha voz sai mais baixa do que eu pretendia. — Isso pode ser usado contra ele? O mecânico dá de ombros, claramente alheio à complexidade da situação. — Bem, rastrear alguém sem permissão é ilegal, dependendo do motivo. Mas eu sugiro que vocês procurem um advogado para saber exatamente como proceder. Fernando balança a cabeça, parecendo ainda mais irritado. — Ela já tem um advogado. E ele vai querer saber disso. — Ele me lança um olhar significativo. — Vo
Depois de estacionar o carro do Felipe no ateliê da Carol, onde ele e os outros já nos esperavam, desço rapidamente para entregar as chaves. Ele agradece com um sorriso, mas não demora muito, já que todos pareciam ansiosos para começar a viagem. Enquanto Henrique aguarda ao volante, nos reunimos brevemente para alinhar os detalhes finais. Carol, sempre prática, pergunta: — Vamos parar em algum lugar no caminho ou seguimos direto? — Só se for algo urgente. — Responde Felipe, verificando o relógio. — Os carros estão abastecidos e já estamos um pouco atrasados. Henrique, do meu lado, concorda com um aceno. — É melhor seguir direto, assim chegamos antes do anoitecer. Todos concordamos, e a breve reunião é encerrada. Caminho de volta para o carro, sentindo o olhar de Henrique sobre mim enquanto me acomodo no banco do passageiro. — Tudo certo? — Ele pergunta, ligando o motor. — Tudo. — Respondo, olhando para o retrovisor, onde vejo os outros se preparando para sair. — Vamos nessa.
PrólogoA luz da manhã entrava pela janela, mas eu não conseguia sentir seu calor. Sentada na cama desfeita, o silêncio da casa parecia ecoar as palavras que eu não conseguia pronunciar. O coração ainda pulsava acelerado, e a imagem dele, a expressão de desespero e culpa, se repetia em minha mente.“Cíntia, eu nunca quis que você soubesse assim.” As palavras soavam como uma lâmina, cortando o que restava da confiança que construímos ao longo dos anos. A traição não era apenas um ato; era um golpe na alma, uma reviravolta que eu nunca poderia ter imaginado.Levantei-me e fui até a janela, observando a fazenda que agora era tudo o que eu tinha. A terra que um dia parecia um lar agora era um campo de batalha entre o que fui e o que precisava me tornar. Eu fui a esposa obediente e boazinha, mas isso não tinha me levado a lugar nenhum.Lembrei-me das promessas feitas, das risadas compartilhadas. A lembrança do meu ex-marido me enchia de raiva. Por muitas vezes, me questionei onde eu havia
A cidade de Belo Horizonte parecia mais caótica do que nunca naquela manhã. Eu dirigia, tentando ignorar os pensamentos que me atormentavam, quando um carro preto surgiu do nada, fechando meu caminho. — Que idiota! — gritei, o coração acelerado pela raiva. Olhei para o motorista, um homem com expressão confusa, e não pude deixar de me sentir insultada. A última coisa que eu precisava era de mais um estresse. Ele não me viu, mas o olhar que lancei em sua direção foi suficiente para saber que aquele cara não tinha ideia do que estava fazendo. Dirigi em frente, segurando o volante com força, tentando acalmar a tempestade dentro de mim. Um segundo depois, avistei um estacionamento e parei lá. Ao estacionar, respirei fundo e saí do carro. O ateliê da Carol estava logo à frente, e a ideia de vê-la me deixou animada. Ela também mencionara que o advogado que poderia me auxiliar na partilha dos bens chegaria hoje. Era hora de esquecer a raiva por alguns minutos. Empurrei a porta do ate
HenriqueA viagem para Belo Horizonte não era algo que eu esperava fazer tão cedo. Receber o convite da Carol para ajudar uma amiga sua foi uma surpresa, mas recusar? Isso não estava em meus planos. Eu devia isso a ela. Ao mesmo tempo, havia uma inquietação que eu não podia negar, um nó no estômago que me acompanhava desde que recebi a mensagem.Carol e eu tínhamos terminado há muito tempo, mas estar na mesma cidade que ela, sabendo que ela tinha seguido em frente, era algo que eu ainda precisava processar. Afinal, nem sempre um término é tão simples. Ainda mais quando nem houve um relacionamento de fato. Não era o que ela queria; mais tarde eu percebi que ela gostava do Fernando, e essa revelação ainda doía, mesmo que eu tentasse ignorar.Quando ela me pediu ajuda com questões legais, minha primeira reação foi hesitar. Aquelas antigas emoções ainda persistiam, como sombras que eu pensava ter deixado para trás. Talvez orgulho, ou apenas o incômodo de saber que ela estava bem e seguind