Dante Saimos de casa, e a porta do quarto de Mallory estava trancada. Algo dentro de mim dizia que não era apenas mais uma de suas fugas emocionais, mas eu preferi não dar atenção a esse pressentimento. Quando chegamos à Mansão de Matteo, o silêncio que pairava na casa era inusitado, como se a própria estrutura estivesse temerosa do que poderia acontecer a seguir. Entramos cuidadosamente, os passos sendo abafados pelo grosso tapete que cobria o chão de mármore. No corredor, comecei a notar um cheiro familiar, um odor que, antes de ser processado pela minha mente, me deixou alerta. O silêncio na mansão foi quebrado pela visão dos corpos espalhados pelo chão, sangue de todos os lados, manchando os tapetes e escorrendo pelas paredes como uma marca da destruição que Mallory tinha causado. Leoni estava estirado na base da escada, os olhos arregalados em uma expressão de dor permanente. Seus braços estavam estendidos, mas seus dedos haviam sido petrificados pela morte. O ar estava pesad
Narrado por Mallory Tentava gritar para mim mesma que não era nada do que Matteo havia dito. Mas as palavras, como veneno, se infiltravam lentamente em minha mente, como se uma parte de mim, muito mais escura e profunda, estivesse concordando com ele. Eu queria negar. Queria gritar, mas a verdade, cruel e inescapável, começava a se formar dentro de mim. Eu não era mais quem pensava ser. A escuridão que carregava dentro de mim não era apenas uma sombra, mas uma extensão do que me tornara. Fugir disso seria como tentar escapar da própria sombra.Entrei no carro, a mente girando, o coração pesado, mas o corpo, como um mecanismo automático, se movia. Dirigi até a casa de Dante, o silêncio do caminho ecoando, pesado como uma corrente que me prendia. As palavras de Matteo ainda ressoavam, mas não conseguia mais lutar contra elas. Tudo parecia se misturar, as memórias, as emoções, as escolhas. Eu já não sabia mais o que era real.Chegando à casa de Dante, entrei e fui direto ao banheiro, co
Narrado por Enrico Enrico: A Âncora da TempestadeA casa de Matteo estava mergulhada em um caos que nem mesmo meus anos na máfia poderiam ter me preparado para testemunhar. Sangue espalhado por todos os cantos, corpos amontoados no chão como se a morte tivesse dançado livremente por cada cômodo. Mallory havia transformado aquele lugar em um verdadeiro cenário de terror. E, mesmo com toda a violência que já presenciei, aquilo me desafiava. Era algo além de qualquer expectativa, além de tudo que eu já vi.Lembrei-me das muitas conversas com Dante sobre ela, meus alertas ignorados por ele, dia após dia. “A escuridão vai consumi-la, filho,” eu dizia. E agora, ao ver os rastros de destruição que ela deixava para trás, sabia que minhas previsões se concretizaram.Dante estava abalado, e com razão. Mallory era uma força incontrolável, um caos que ele tentava domar, mas não havia controle sobre ela, não por ele, não por ninguém. E ainda assim, eu sabia que ele jamais desistiria. Ele queria a
Narrado por Dante Quando meu pai me ordenou ir atrás de Mallory, eu sabia que ela já estava longe de mim, não apenas fisicamente, mas emocionalmente. Ela se afastou, e eu mal consegui acompanhar seus passos, como se estivesse buscando algo além de mim, além de nós. Eu a procurei, mas encontrei apenas ruínas, vestígios de quem ela já fora, se esvaindo entre meus dedos como areia.Uma parte de mim ainda acreditava que ela me veria como a pessoa capaz de salvá-la. Mas, no fundo, sabia que isso não passava de uma ilusão. Mallory não precisava de salvação; ela já havia se perdido no caminho da vingança. E, por mais que eu quisesse, eu não poderia curar suas feridas.O primeiro lugar onde procurei foi em casa. A ideia de que ela poderia estar lá, no lugar onde tudo começou, ainda fazia algum sentido. Era o local onde nossa história havia tomado forma, e de alguma forma, eu ainda esperava que ela se mantivesse intacta, que talvez nossa história tivesse algo de bom. Mas quando entrei, a real
Narrado por Mallory Fazia 4 meses que eu havia partido. Quatro meses desde que deixei Dante para trás, sem olhar para trás, com o peso do medo de que minha escuridão o consumisse também. Ele merecia mais, merecia a luz que eu nunca poderia oferecer. Eu sabia que minha partida era necessária, não só por ele, mas também por mim. Não podia continuar arrastando-o para o abismo que eu me tornei.Nos primeiros dias, cada cidade para a qual eu me mudava parecia uma fuga temporária. Eu tentava me esconder de mim mesma, ignorando tudo o que me conectava à minha vida anterior. Mas nada parecia me libertar de quem eu realmente era. Sempre havia uma sensação de vazio, uma angústia constante que me impedia de realmente viver. Até que cheguei em Munique.Há cerca de dois meses, decidi tentar começar de novo. Eu sabia que não seria fácil, mas finalmente aluguei um apartamento. A sensação de estabilidade que eu procurava fazia tempo. Talvez, só talvez, essa cidade me oferecesse a paz que tanto busca
Narrado por Mallory Era de madrugada quando as contrações começaram a apertar. A dor era intensa, mas eu sabia que não havia mais tempo a perder. Levantei-me rapidamente, sentindo uma onda de nervosismo e apreensão me envolver. Tomei um banho rápido, tentando me acalmar enquanto a água quente caía sobre mim, mas o tempo estava contra mim. Peguei tudo o que precisava para o bebê — a bolsa com roupas, fraldas, o que fosse necessário para o hospital. Meu coração batia acelerado, e a ansiedade tomava conta de cada fibra do meu ser.Com um último suspiro, respirei fundo e saí do banheiro. Não sabia como seria essa nova fase, mas sabia que precisava ser forte, por mim e pelo meu filho. Chamei um táxi, e fui até a casa de Sara, de onde partimos para o hospital. A todo momento, eu tentava esconder o quanto minha insegurança me consumia. A viagem parecia eterna. Cada curva, cada movimento do carro, parecia intensificar a dor. Mas eu sabia que não podia voltar atrás, que não havia mais tempo p
Narrado por Dante DANTE – PÁGINA VIRADAO tempo é um inimigo cruel. Ele avança sem piedade, apagando rastros, tornando memórias distantes até parecerem irreais. Mas algumas lembranças não podem ser esquecidas. Algumas pessoas permanecem, mesmo quando tentamos enterrá-las.Fazia quatro anos desde que Mallory desapareceu. Quatro anos sem notícias, sem pistas, sem rastros no submundo que me levassem até ela. Era como se nunca tivesse existido, como se o mundo a tivesse apagado. Mas dentro de mim, ela ainda estava presente. No silêncio da madrugada, no perfume que eu jurava sentir ao virar uma esquina, no vazio insuportável que ela deixou para trás.Eu me perguntava se ela sentia minha falta. Se, em algum momento desses anos, pensou em voltar. Ou se já tinha me apagado da vida dela assim como sumiu da minha.A porta do escritório se abriu sem aviso, e meu pai entrou. Seu olhar severo denunciava que vinha com algo que eu não gostaria de ouvir. Sem se importar com minha expressão fechada,
Narrado por Mallory — Não, Dante… — minha voz saiu mais baixa do que eu esperava, carregada pelo peso do passado. — Quando eu fui embora, eu não sabia que estava grávida. Quando descobri, já estava com quatro meses.Vi seus olhos se estreitarem, e um músculo em sua mandíbula se contraiu. Mas continuei, porque ele merecia a verdade.— Eu tentei te ligar para contar. — Minha garganta apertou, e precisei reunir forças para continuar. — Mas eu não consegui. Eu estava despedaçada, Dante. Machucada, assombrada pelo que fiz… e com medo.Fechei os olhos por um segundo, revivendo os momentos em que encarei o telefone com o número dele na tela, os dedos trêmulos, o coração em guerra. Mas nunca fui capaz de apertar o botão de discagem.Abri os olhos novamente, minha voz saindo como um sussurro carregado de emoção.— Pietro foi minha redenção. Minha luz no meio do caos.Dei um passo para trás sem perceber, e a dor no olhar de Dante foi como uma lâmina atravessando meu peito.— Eu fiz o que achei