Capítulo 4 – Jogando conversa fora

A história de nós dois

Capítulo 4 – Jogando conversa fora

Ella Williams

— Vamos pedir pizza, não quer ficar?

Claire e Daisy já entraram para a casa. São pouco mais de nove horas, mas meu amigo permanece no meu carro. Seu olhar pedinte parece ler a minha mente e desvendar o meu compromisso.

— Tentador para uma segunda-feira, mas eu vou deixar para a próxima. — Inclino meu corpo em sua direção, deixo dois beijinhos, um em cada lado do seu rosto e o abraço forte. — Estamos bem, né?

— Ficaríamos melhores se você não recusasse a minha pizza, mas tudo ok. — Separa o abraço e sorri para mim. — Manda mensagem quando chegar em casa. — E, um beijo na testa depois, Ed já está correndo para dentro de sua casa e eu acelerando até o endereço que Chad me deu escrito em um papel lá na escola.

No caminho até o endereço que não é muito longe da minha casa, ligo para minha mãe e consigo avisar rapidamente que vou demorar um pouco mais na casa dos Davies. Sim, uma mentira. Porém, explicar para eles a verdade vai gerar uma pequena discussão e lição de moral que eu não estou com cabeça. Não hoje. Outro dia, eu me disponho para conversar com minha mãe e explicar tudo o que está acontecendo e, só assim, ela vai me entender.

Essa é uma das coisas que eu amo na minha mãe. Ela sempre me entende. E não é porque ela é liberal, pois ela não é, mas é porque ela confia em mim e sabe que jamais faria uma besteira para decepcioná-los. Afinal, eu sou apenas uma adolescente saindo da bolha onde ficou presa por anos. Eu sei o certo e errado, sei do meu caráter e não estou disposta a fazer nada que me faça questionar quem eu realmente sou. Eu apenas quero viver um pouco, conhecer pessoas novas e me desafiar. Apenas isso.

Quando chego ao endereço, consigo ver Chad recostado em sua moto e com o celular no ouvido. Ele parece discutir com alguém, digo isso pois o vejo gesticular freneticamente enquanto murmura algumas palavras inaudíveis. Estaciono o meu carro pouco depois dele e saio do mesmo trancando-o depois. Quando me vê, Chad desliga o celular rapidamente, guarda-o em seu bolso e se aproxima de mim.

— Por pouco eu pensei que você não viria. — Ele me abraça novamente, como mais cedo, seu beijo em meu pescoço parece ser uma marca fixa de Chad Spencer.

— Eu perdi a hora. — Sorrio sem graça afastando-me um pouco dele incomodada com esse costume chato de Chad.

Eu tento andar em direção à casa, mas Chad me segura pela minha mão e me impede de caminhar, fazendo-me virar para ele.

— Não gosta quando eu te beijo? — Pergunta com um sorriso de lado e seus olhos azuis brilham ao me olharem.

Chad é lindo, lindo demais, mas algumas atitudes me deixam desconfortável. Nos falamos o quê? Há um dia?

— Você é assim com todas? Digo, beija sempre o pescoço das meninas que cumprimenta?

— Ciúmes? — Uma risada irônica escapa por seus lábios e o garoto cruza os braços fortes na frente de seu peito.

— Não, repulsa mesmo. — Pisco pra ele. — É que é um pouco estranho isso de beijo no pescoço.

— Nunca foi beijada assim, Ella? — Seu polegar alcança um fio da minha franja que escapa do rabo de cavalo do meu cabelo e leva-a para atrás da minha orelha.

— Sim. — Minto.

O mais perto do beijo de um homem que já recebi, foi um selinho em Edward quando estávamos nos abraçando um dia, fomos beijar a bochecha um do outro ao mesmo tempo e acabamos por nos beijar. Um selinho. Rápido, delicado e casto. Sim, as definições de boca virgem foram atualizadas.

— Não é o que parece... — Ele sorri para mim em forma de provocação. — Sabe, eu gosto do fato de você ser assim. Difícil, resistente, diferente das outras. É um bom desafio, Ella.

— Eu não sou um jogo, Spencer. — Declaro séria, mas recebo mais um riso em resposta.

— Hey, vocês não vêm?! — Do segundo andar, com um cigarro em mãos, uma menina que sempre anda com Chad e os amigos, grita para nós dois.

— Vamos lá? — Chad passa um dos seus braços sobre os meus ombros e me abraça de lado caminhando comigo para dentro da casa de Emily. — Aquela era Maureen, melhor amiga de Emily. — Chad sussurra ao pé do meu ouvido enquanto me carrega para dentro da casa.

Eu até brigaria com ele por tanta proximidade, tanto toque físico, tantos gestos que às vezes me parecem provocativos, mas há alguma coisa no perfume dele que me faz ficar calada, quase que sem forças, embriagada.

— Pensei que já tinha levado a novata para casa, Chad. — Um jogador de futebol, se eu me lembro bem, ficante fixo de Emily, deixa a garota de lado e vem em nossa direção, cumprimentando Chad antes de vir até mim e sorrir maliciosamente. — Tudo bem, novata? Sou Harry...

— Eu sei o seu nome e não sou novata. — Ignoro sua mão estendida para mim e decido caminhar até o sofá depois de pegar uma cerveja na mesa de centro. — Oi, meninas. — Aceno para elas ao sentar-me no sofá ao lado com a cerveja em mãos.

Não, eu nunca bebi, mas preciso fingir costume.

— Deixa que eu abro. — Chad senta-se ao meu lado, tira a garrafa da minha mão, abre-a com nenhuma dificuldade e, depois de dar uma bela golada na bebida, me devolve a garrafa.

— Pensei que não viria, Ella. — Maureen declara descendo as escadas com um cara abraçado à sua cintura.

— Eu estava a fim de jogar conversa fora. — Dou um gole na bebida depois de responder a morena.

Por segundos eu me arrependo. Horrível, horrível, horrível! Nossa, como eu queria fazer uma careta agora, ou até mesmo cuspir tudo isso no carpete caríssimo do chão da sala de Lily.

— E aquele seu amigo? Sua sombra, né? Ele não quis vir? — Emily pergunta.

— Não é o estilo dele. — Declaro. — E eu não o convidei, sabe?

— Vocês namoram? — Maureen senta-se no chão, ao lado do namorado e pergunta.

— O que te leva a pensar nisso? — Chad pergunta ao meu lado. — O cara é um estranho. O que te leva a pensar que ela namora com aquilo?

— O que te leva a pensar que ele é estranho? — Viro-me para ele enfurecida.

— Ahh para, Chad. Ele até que é gatinho, vai... — É a vez de Emily falar.

— Ele só parece... — Chad busca palavras para se defender. — Vocês simplesmente não combinam. Sei lá, seriam estranhos juntos.

— Somos apenas amigos. — Afirmo. — Não o chame de estranho nunca mais. Você não o conhece.

— Uiii, Chad! Levou um fora feio! — Harry zoa o amigo que mostra o dedo do meio em resposta.

— Desculpa, gatinha. — Chad pisca para mim.

— Então, você e Chad estão saindo há muito tempo? — Jake, o garoto agarrado em Maureen, logo fala.

Bom, garoto não... Ele parece, no mínimo ser cinco anos mais velho que nós. Moreno, tatuado e com um cabelo perfeitamente cortado em um pequeno topete. Seus olhos são castanhos bem claros e, minha nossa, ele é um perfeito Deus grego.

— Saindo com ele? — Pergunto encarando o ruivo ao meu lado.

— Não estamos saindo. — Chad responde por mim. — Ainda.

— E, se continuarmos desse jeito, não sairemos nunca. — Afirmo revirando os olhos.

— Calma, Ella. Os meninos estão assim, porque Chad nunca traz ninguém aqui, entende? Você é a primeira garota que ele pede pra trazer aqui em casa. — Emily esclarece. — Porque, como você deve saber, Chad não é um cara muito legal.  

— Sobre eu te chamar de novata... — Harry volta a falar. — É que eu não lembrava de você no colégio. — Justifica-se.

— Eu era meio que invisível mesmo. — Dou de ombros rindo.

A verdade é que as pessoas só enxergam quem elas querem e quando querem.

— Último ano, Harry. Eu só... só decidi sair das sombras, mudar um pouquinho.

— Então, querida Ella, seja bem-vinda ao time. — Maureen levanta-se do chão e ergue a garrafa de cerveja propondo-nos um brinde.

Nós brindamos e, aos poucos, voltamos aos nossos lugares. Conversas aleatórias surgem, mais bebidas, oferecem a mim mais bebidas que são dispensadas com a desculpa de que eu estou dirigindo, umas brincadeiras bobas compõem a nossa noite e, quando eu dou conta de tudo, já é meia noite e o meu celular toca freneticamente.

— Minha mãe. — Passo a mão pelo rosto ao ver o nome de dona Rosie a piscar freneticamente sobre a tela.  — Gente eu... Eu tenho que ir. — Levanto-me rapidamente.

— Mamãe tá chamando, é? — É a vez de Jake zombar de mim.

— Cala a boca, cara... — Chad me defende e se coloca em pé ao meu lado. — Vem, eu vou te levar lá fora.

— Tchau, gente... Obrigada pelo convite. — Aceno para todos, mas a essa altura, existe mais erva no cérebro deles, do que neurônios.

Chad, dessa vez, me guia até o meu carro sem me abraçar e em silêncio, o que me faz estranhar um pouco, mas não discuto.

— Espero que realmente tenha gostado. — Ele diz quando eu destravo o carro e estou prestes a entrar no mesmo.

Chad está com a suas mãos no bolso e seus olhos azuis não me encaram, ele apenas, encara os próprios pés.

— Eu gostei sim, gatinho. — Uso o apelido que ele costuma usar para me chamar e atraio o seu olhar. — Só não força a barra, ok? — Pisco para ele que sorri mais uma vez de lado.

— Te vejo amanhã na escola?

— Sempre. — E, com uma buzina, eu me despeço do lindo ruivo de olhos azuis e palavras idiotas.

Chad Spencer pode ser uma boa pessoa, ele só precisa parar de agir como um idiota mulherengo.

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