[ Patricia]
Durante os primeiros minutos da viagem, se ouvia apenas o som do motor do carro preenchia o espaço, mas dentro de mim uma tempestade se formava. Olhava pela janela, perdida em pensamentos, quando senti o olhar de Nathan sobre mim.
— No que você está pensando? — perguntou com a voz suave, desviando os olhos da estrada por um instante para me encarar.
Sorri timidamente, mas logo desviei o olhar, focando na estrada à frente. Respirei fundo antes de responder.
— Por que você disse aquilo… sobre nós sermos namorados? — minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.
Nathan sorriu de forma calorosa, e, por um momento, me vi hipnotizada por aquele sorr
[Lucas]A noite estava sendo incrível. Ver Patrícia, mesmo que de longe, foi indescritível. Ela estava linda no palco, tão à vontade, tão ela. Aquele mundo parecia abraçá-la de um jeito que eu nunca consegui. Era como se, sob as luzes suaves e os aplausos da plateia, ela pudesse ser quem realmente era, sem medo, sem reservas.— No que está pensando, amor? Você está tão calado desde que saímos do teatro. — A voz de Lara me trouxe de volta à realidade.Desviei o olhar da estrada e sorri de leve, tentando afastar os pensamentos que me atormentavam.— Estava lembrando da apresentação. Foi encantadora. Nunca tinha assistido a um espetáculo de balé antes… Hoje vi várias crianças de roupas cor-de-rosa e coloridas. Foi… diferente, mas muito legal. — respondi, mantendo um tom casual.Lara sorriu de lado, concordando.— Sim, a Ester tem um dom. Ensinar crianças não deve ser nada fácil. — comentou, olhando pela janela do carro.Notei como ela evitou mencionar o nome de Patrícia. Talvez soubesse
[ Patricia]Enquanto fazia meu pedido, Nathan inclinou-se discretamente em minha direção, sua voz soando baixa e divertida apenas para que eu ouvisse:— Tem certeza de que não quer ser minha namorada? Porque, pelo que vejo, algumas pessoas nesta mesa não estão gostando da nossa amizade.Seu comentário me fez sorrir, e tentei disfarçar, mexendo distraidamente na borda do copo.— Nathan, para com isso, você está sendo infantil. — Respondi em um tom brincalhão, mas não pude evitar o leve rubor em minhas bochechas.O jantar foi servido, e entre o tilintar dos talheres contra os pratos e o burburinho animado dos outros clientes, a conversa na nossa mesa seguia leve até Miguel, com sua curiosidade habitual, me pegou de surpresa:— Você e a Patrícia se conhecem de onde?Levei o copo de água à boca, mas a pergunta repentina quase me fez engasgar. Disfarcei rapidamente e notei Lucas pousando os talheres no prato, atento à resposta.— Eu sou dono do Night Club, e Patrícia começou a frequentar.
[ Patricia] Voltei minha atenção para a comida, tentando ignorar a presença sufocante de Lara e seus olhares silenciosos e carregados de algo que eu não conseguia decifrar. Não era só ciúme de Lucas, havia algo mais ali, algo que me escapava, mas me corroía por dentro.Sentindo a pressão crescer, pedi licença e me retirei. No banheiro, respirei fundo, deixando a água fria escorrer pelas mãos antes de pressioná-las contra minha nuca tensa. O reflexo no espelho me fez encarar as marcas escuras dos dedos de Marcus ainda visíveis em minha pele pálida. Uma lembrança que eu desejava esquecer, mas que teimava em permanecer.De repente, gritos abafados ecoaram no restaurante. Meu coração disparou. Sai apressada do banheiro e fui te encontro na mesa onde meus pais e Nathan estavam, poucos passos antes de chegar na mesa senti uma algo que não consegui identificar.Algo atingiu minha pele como se o próprio ar tivesse ganhado forma e decidido me atravessar. Não houve aviso, não houve tempo para
[Ester]O barulho dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos, como se tudo estivesse acontecendo em câmera lenta. O restaurante, que minutos atrás estava repleto de risadas e conversas, agora era puro caos. Pessoas gritavam, corriam, se abaixavam atrás de mesas, e eu... eu estava congelada.Foi então que a vi.Patrícia estava no chão, seu vestido salmão manchado por uma mancha vermelha cada vez maior. A cena parecia irreal, como se eu estivesse presa em um pesadelo do qual não conseguia acordar. Meus pés estavam colados ao chão, o ar parecia não chegar aos meus pulmões.— Patrícia... — sussurrei, sem sequer perceber que tinha dito seu nome em voz alta.Nathan estava ajoelhado ao lado dela, pressionando sua ferida com força, seus olhos carregados de desespero e determinação. Ele gritava palavras que eu não conseguia entender, sua voz abafada pelo zumbido em minha cabeça.Meu coração batia tão forte que parecia querer escapar do meu peito. De todas as possibilidades, de todas as discussões
[Patricia]Eu via tudo de cima, como se estivesse flutuando. O restaurante estava um caos ao meu redor, pessoas correndo, gritos, mesas viradas, cacos de vidro espalhados pelo chão. Mas nada disso parecia importar. Minha atenção estava fixa ali... em mim mesma.Meu corpo estava no chão, imóvel, os olhos semicerrados, a pele pálida contrastando com o vermelho intenso que se espalhava pelo tecido do meu vestido. O sangue... tanto sangue.Nathan estava ajoelhado ao meu lado, pressionando a ferida com as mãos trêmulas mas firmes sobre o ferimento, os olhos arregalados, repletos de desespero. Sua boca se movia rapidamente, chamando meu nome, tentando me manter consciente. Ele me sacudia levemente, implorando por uma resposta que eu não conseguia dar.Lucas estava ali também, ao lado dele, parecendo congelado no tempo. Seu rosto estava pálido, e nos olhos dele havia algo que eu não via há muito tempo: medo. Ele segurava minha mão com tanta força, como se quisesse me ancorar ali, como se sua
[ Ester]Horas se passaram desde que Patrícia entrou na sala de cirurgia. O tempo parecia ter congelado, e a sala de espera se tornara uma prisão sufocante, onde a esperança e o desespero travavam uma batalha silenciosa dentro de mim. Ninguém vinha nos dar notícias, e cada vez que uma enfermeira passava, corríamos para perguntar, apenas para ouvir a mesma resposta fria e impessoal:— Patrícia ainda está na cirurgia. Assim que o médico terminar, virá informar vocês.Eu queria gritar. Queria dizer a Patrícia que me perdoasse, que eu a amava, que ela era minha irmã de alma. Mas nada disso importava agora. Eu só queria que ela ficasse bem. Mesmo que nunca mais quisesse olhar na minha cara, tudo o que importava era que ela sobrevivesse.Fechei os olhos, e o flashback veio como uma onda impiedosa. O som dos tiros ainda ecoava nos meus ouvidos, o restaurante mergulhado no caos, e Patrícia... Patrícia levando a mão ao abdômen, os olhos arregalados em choque, caindo lentamente diante de mim. E
Lucas sentia o mundo ruir ao seu redor. A notícia havia sido devastadora, arrancando dele qualquer resquício de esperança. Sua noiva, seu futuro, seu amor havia partido de forma brutal e repentina em um acidente de carro. No corredor do hospital, os sons dos monitores e passos apressados soavam distantes, abafados pelo peso do luto que o sufocava. As paredes pareciam se fechar ao redor, como se quisessem esmagá-lo. Ele não conseguia encarar os pais ou os sogros, que também choravam em silêncio. O vazio em seus olhos espelhava o próprio vazio que sentia. “Com licença”, murmurou, sem realmente esperar uma resposta. Precisava sair dali, encontrar ar para respirar, mesmo que por um instante. No elevador, Lucas apoiou a testa contra a parede metálica, a superfície gelada um breve alívio para o calor sufocante da dor que o consumia. Quando as portas estavam prestes a se fechar, uma mulher entrou apressadamente. Ela evitava contato visual, enxugando discretamente as lágrimas que escorriam
Patrícia agradeceu com um aceno tímido e murmurou: — Obrigada… de verdade.Lucas apenas assentiu, observando enquanto ela se afastava lentamente, os passos hesitantes carregando o peso de sua dor. Ele ficou parado no terraço, o vento ainda frio batendo contra seu rosto, como se tentasse despertá-lo de um pesadelo que não tinha fim.Quando as portas do elevador se fecharam atrás dela, o silêncio pareceu ainda mais opressor. Lucas ergueu os olhos para o céu nublado, buscando respostas que não vinham. — Por quê? — pensou ele, os lábios se movendo sem som. — Por que ela? Por que agora?A imagem de Milena veio à sua mente. Seu sorriso brilhante, os planos que faziam juntos, as risadas que compartilhavam. Tudo parecia tão próximo e, ao mesmo tempo, inatingível. A perda era como uma ferida aberta, latejante e insuportável.Ele permaneceu ali por algum tempo, tentando encontrar sentido no caos. Mas as respostas não vieram, e Lucas soube que talvez nunca viriam. Respirou fundo, ainda sentindo