VALDIR
Entro no estabelecimento carregando uma maleta contendo uma pasta verde, vestindo o meu mais novo e muito bem cortado terno.
- Agente Federal Juliano Holtz. - Mostro a minha falsa carteira de agente. A secretária segurou na mão por alguns instantes e depois me devolveu.
- Pois não, agente, em que posso ser útil? - A moça me sorriu sedutora.
Dou uma olhada para os lado e dou graças por não ter pessoas no local, sorrio para a secretária e digo:
- Quero uma reunião com seu chefe, agora. - Falo firme.
- Aguarde alguns minutinhos agente, irei informar a sua presença. - Ela pega o telefone para ligar, mas, eu cuidei para que não funcionasse. - Espere-me aqui por gentileza agente.
A secretária foi em direção ao corredor que a levaria ao escritório principal.
Dou mais algumas olhadas ao redor e para a minha satisfação ainda não tem ninguém. Entro rapidamente no cantinho da secretária e escondo a pasta verde em um local que ela não veja tão facilmente. Volto para a minha posição e alguns segundos depois ela retornou.
- Será um prazer para o senhor Steven recebê-lo, agente. - Me sorri e eu a sigo rumo ao escritório do tal Steven.
***
- Mais um trabalho cumprido, parabéns Valdir! - Meu chefe parabeniza-me assim que relatei o sucesso de minha missão.
- Acabou de chegar mais um trabalho, Valdir... Um pouco diferente do que você está acostumado, mas, vai lhe render muito bem. - Faz suspense.
- O que vai ser dessa vez? Por acaso terei de me disfarçar de terrorista? - Sentei-me rindo na cadeira em frente a mesa de Richard ancioso para essa nova aventura.
***
Valdir:
É, por essa eu não esperava. Os clientes conseguem me surpreender, é uma encomenda mais bizarra que a outra.
- Eu não sou um prostituto, Richard! - Me defendi assim que meu chefe encomendou o trabalho.
Richard revira os olhos e em seguida se senta em sua poltrona de patrão, me observando com ironia.
- Você também não é modelo meu amigo, muito menos um bandido francês! - Richard zomba rindo enquanto balança as mãos.
Realmente eu não sou um modelo e nunca fui, mas me inscrevi em uma agência de modelos e roubei um pendrive para um cliente. Não sou um bandido francês, mas me infiltrei em uma máfia e coletei provas para um advogado. Eu sou um ator secreto. Aquele que os clientes contratam para fazer o trabalho sujo, nada do tipo torturar pessoas ou matar, mas, roubos eu já fiz, é o meu serviço e eles me pagam muito bem. Entrei nesse ramo através de uma academia de artes marciais, há uns treze anos atrás eu era apenas um garoto lutando por medalhas e quem sabe ser alguém na vida, um dos clientes da agência que eu trabalho atualmente uma vez assistiu uma de minhas lutas, se interessou no meu perfil e me encomendou um trabalho, ele ofereceu o que eu estava acostumado a receber em um ano, é claro que fiquei extasiado e animado com a proposta, nem me importei quando eu soube que o trabalho era eu ter que simular um assalto na casa do prefeito, e foi assim que eu entrei na ASI(Ator Secreto Infiltrado). Somos cinco atores e duas atrizes. Estou acostumado com a adrenalina e com o perigo. Por isso eu não estava nem mesmo cogitando na possibilidade de eu aceitar aquele trabalho que Richard me atarefou. Mas o que ele disse está certo, eu não sou nada, mas também posso ser tudo. Ou seja, eu posso ser um prostituto. Merda.
Bom, não que eu não goste de me deitar com as mulheres, mas, não gosta da ideia de ter que fazer isso de formas erradas, envolvendo mentiras.
- Que porra Richard, mas e o Jef? Por que não manda ele? - Richard pôs as mãos na cabeça pensando, mas eu sei que é pura encenação, ele faz isso sempre.
- Jef é casado, você sabe Valdir, e também você é mais bonito que ele. - Richard é um enorme de um gay com um metro e oitenta de altura, magrelo e o cabelo arrepiado, um viado muito legal e atraente, se eu fosse gay ele seria o meu tipo. Mas nesse momento eu desejo muito que ele fosse hétero. - Não podemos falhar nessa encomenda, você tem que fazer com que a vadia te beije e vá para a cama com você, fui claro? E óbvio, não se esqueça de filmar. - Eu realmente pareço um prostituto recebendo ordens do seu cafetão. Quase esmurrei ele. E para completar, ele não para de me cantar com os olhos.
Saio dali o mais rápido possível, ele é legal às vezes, como todo gay, mas como todo chefe ele também é um pé no saco.
Volto para minha casa muito frustrado por ter que fazer essa merda de serviço.
Espero que ela seja bonita pelo menos, para o cara ter que pagar para alguém dar em cima dela ela deve ser feia pra caralho.
Felícia:
- Júlia, o que eu faço amiga? Eu o odeio demais Julia, me ajuda a sair dessa? - Supliquei pela quinta vez nessa semana para minha melhor amiga, e como toda vez ela me dá a mesma resposta:
- Felícia, venha para a minha casa já que você não quer ir para a casa de seus pais! É simples, quer que eu vá te buscar ai agora? - Meu coração dispara com a possibilidade de eu ser livre e feliz.
- Eu queria tanto Ju... - Ela fica muda do outro lado da linha. - Mas você sabe o que isso faria com meu pai, meu Deus o que eu faço Julia? Diz-me o que fazer? - De novo eu fiz a mesma pergunta para a coitada da minha amiga, que desta vez reagiu diferente:
- Você quer saber o que você deve fazer? Seja mulher de verdade! Assuma o que você tem em baixo de suas pernas! - Me assustei com a ousadia dela, fazia tempo que ela não me dava um pito.
- Co-como assim Julia? - Perguntei temerosa, sentindo medo do que poderá me acontecer seja qual for a ideia que a Ju teve.
- Hoje já está tarde, mas amanhã de manhã às sete horas eu estarei ai na sua casa. E eu não quero nem saber se Lucas vai achar ruim ou não, vamos sair. Preciso desligar ok? Tchau até amanhã cedo.
Dessa vez Júlia me deixou surpresa! O que será que ela está planejando para amanhã? Será que ela vai me ajudar a fugir? Levar-me para outra cidade à força? Julia é muito louca às vezes e eu a deixei mais louca ainda, mas também com quem eu iria me desabafar e reclamar do Lucas?
- Está pronto o jantar? - Lucas apareceu de repente, assustando-me.
Ele está incrivelmente mais assustador do que o normal.
- Sim, já pode jantar Lucas, seria mais fácil você ir até a cozinha conferir se a nossa cozinheira teria terminado, não concorda? - Soltei essa patada estressada, mas logo me arrependi quando levei um tapa ardido na cara que me derrubou no chão.
Eu sou muito idiota mesmo, por que inventei de responder ele? Eu nunca aprendo!
Nossa... Como dói.
- Para você se lembrar de quem eu sou! E da próxima vez que me tratar assim você irá ficar dois meses sem ver os seus pais, eu fui claro? - Lucas me ameaçou e cuspiu em mim, me deixando caída e com o rosto vermelho pelo tapa forte que eu já tinha me esquecido por uns três meses de como era.
Espero que Júlia tenha planejado me levar da cidade, pois o mais longe que eu ficar deste demônio é o melhor para mim.
Eu não aguento mais!
Está insuportável viver assim.
É, provavelmente ser feliz não é para mim...
Felícia- Nunca me falou deste tal amigo, por que eu tenho que fazer companhia a ele? - Questiono meu marido que ajeita a gravata em sua camisa social.Gosto muito de quando ele viaja, assim eu posso ser feliz por alguns dias.- E quando que eu lhe dou satisfações das pessoas que eu conheço ou deixo de conhecer? Apenas faça ele se sentir em casa, creio que ele irá se instalar em algum hotel, mas quero que você insista para que ele fique aqui em casa, estou sendo claro? Ele é muito importante pra mim e eu lamento não poder recebê-lo pessoalmente, mas voltarei logo, enquanto isso trate o bem, entendeu? - Lucas me lançou um olhar daqueles que ele olha quando está me ameaçando, tudo tem que ser na base de ameaça para este endiabrado?Eu o odeio!- Sim, quando você volta? - Eu não quero ficar fazendo sala para uma pessoa que eu nem ao menos conheço, e amigo de meu marido ainda por cima, com certeza
Valdir- Lucas Quinei? O presidente das corporações Wilsson? - Eu não sabia que ele também era cliente nosso, ele todo certinho e metido, não pensei que jogasse sujo.- Sim, já esteve com ele? Ele quer se divorciar da mulher, ela tem muitos amantes e ele se cansou disso, como vingança vai deixá-la sem nada na separação, e é por isso que precisamos de uma cena comprometedora da senhora Felícia Quinei, entendeu garanhão? Com uma prova de que a senhora Quinei pula a cerca, ela não terá direito a nada da fortuna deles, que é muito grande por ventura, e é por isso que a recompensa desse trabalho lhe renderá quinhentos mil em dinheiro vivo. - Richard me encarou malicioso.- Ok! Se ela o trai, merece mesmo ficar sem nada, mas tem que ser eu? - Apesar de quinhentos mil em dinheiro me ser muito atraente, ainda tenho minha dignidade em não vender o meu corpo.Ou será que isso é besteira?- Já passamos p
Felícia- Meu Deus, Jú! Já são sete e meia! Rodney chegará às oito horas, precisamos nos apressar, anda logo! - Tentei fazer com que Júlia se apressasse, mas ela demorou mais uns quinze minutos ainda no game em que ela se viciou, estamos no shopping quase o dia inteiro, e a maioria do tempo passamos aqui.- Olha, se quiser eu posso posar com você amanhã, hoje sinto muito mesmo amiga, mas você sabe que tenho plantão. - Júlia diz assim que estaciona em frente à minha casa.- É claro que vou querer Jú, eu nem conheço esse cara que Lucas quer que eu atenda, promete que vai vim amanhã depois do seu trabalho? - Júlia é enfermeira.- Prometo, xau beijos e, amiga, se este tal Rodney for inconveniente, você sabe que não precisa hospedá-lo, não sabe? - Júlia leva seu olhar para além de mim. - Será que aquele carro estacionado ali é o tal Rodney? - Ela diz e eu me viro para olhar também.- Droga, estou atrasad
Valdir- Lucas me avisou que não estaria aqui, infelizmente, mas que em breve irá voltar e, eu ficarei um mês aqui com vocês! - Digo assim que me assento na bela poltrona em que Felícia me acomodou.- Ele realmente lamentou muito essa reunião de trabalho ter aparecido em um momento tão inoportuno, ele preza muito o senhor e me deixou ordens extremas de lhe fazer companhia e de lhe tratar muito bem até que ele volte, então tenho muitos programas preparados para o senhor, e espero que não se chateie enquanto meu esposo estiver fora. - Felícia se sentou a poltrona na minha frente e encarou-me com um olhar que não consegui me decidir se era de desprezo ou de desgosto, poderia ser os dois misturados. - Mas me diga a sua versão de como se conheceram? Lucas não diz coisa com coisa às vezes e não é sempre que consigo entender as suas histórias. - Felícia passou a mão pelos cabelos, se surpreendeu com algo, e sorriu nervosa.<
ValdirAgora consigo entender o porquê de Lucas Quinei querer se vingar dessa mulher, tão bela e perfeita que ninguém suspeitaria de seu caráter. Eu mesmo, se não soubesse de seus atos, cairia em seu anzol feito um patinho. Tão linda com este vestido vermelho curto até o meio das coxas, discreto e sedutor, ela soube combinar a cor do vestido com a sandália azulada entrelaçada em suas pernas. E este pescoço? Tão delicado, elegante e convidativo ao mesmo tempo.- Que lugar agradável senhor Rodney. - Felícia me tira dos meus pensamentos.- Será mais agradável quando me chamar apenas de Rodney, já não tínhamos combinado isso? - Sorrio enquanto encaro seus olhos amêndoas.- Preciso lhe dizer que, não estou acostumada a estar a sós com outro homem que não seja meu marido, e isso me deixa desconfortável, e sem mencionar que o senhor fica me olhando deste jeito, como se estivesse me paquerando, esta me paquerando senhor Rod
ValdirEu me levantei as seis horas da manhã e fiz a minha caminhada matinal. Quando retorno já são sete e quarenta, e como a Felícia ainda não se levantou eu aproveito para ligar na agência e passar o relatório para Richard, como eu sempre faço...- Eu até estava relutante em completar o serviço Richard, mas a mulher é uma tremenda de uma vadia! Ela realmente merece o que vai acontecera a ela. - Dou o relatório para Richard de meu progresso da noite anterior pelo telefone. - É muito linda, isso eu tenho que admitir, a danada é a mulher mais linda que eu já vi em toda a minha vida! - Digo empolgado- Não seja exagerado Valdir, a coitada é uma desnutrida que não entende nada de moda! - Richard altera a voz ao dizer isso.- Você a conhece? - Pergunto interessado.- N-não, mas as pessoas que a conhecem dizem isso, que ela nem é tão bonita e só consegue amantes pelo dinheiro que
ValdirEstamos indo na casa dos pais de Felícia, com o carro e motorista dela, não que eu não tenha oferecido levá-la em meu carro, mas ela foi teimosa e aqui estou eu.É por causa do trabalho, por isso tenho que ficar aqui sentindo este perfume pecaminoso, que cheira a sensualidade ao meu lado.E este vestido rodado de renda branca? Como ela consegue ser tão sexy e delicada ao mesmo tempo?- Como seus pais se chamam? - Investi em um assunto encarando seus olhos amêndoas, pois esse silêncio está me pregando peças.- Ricardo e Patrícia. - Responde desviando o olhar.- Belos nomes. - Continuo encarando ela que me olhou engraçada.- É muita gentileza sua Rodney, obrigada. - Sorri divertida.Continuamos conversando até a casa dos pais dela, que por sinal é uma mansão também, bem mais grande e bonita que a casa da Felícia. Eu não sou pobre, m
FelíciaNão foi nada como eu imaginei... Sempre pensei que meu pai teria um ataque no coração e teria que ir para a UTI quando tivesse a mínima suspeita de que eu e Lucas não estávamos bem... Mas ele não ficou tão mal e, isso significa que eu não vou matá-lo quando me separar de Lucas!Meu Deus, se eu soubesse disso eu teria feito antes!Eu não estava com a intenção de lhes ser tão direta hoje, mas não suportei ver meu pai falar tão bem de Lucas e minha mãe dizer novamente que quer um neto... Foi demais. A presença de Rodney foi de grande ajuda, talvez seja por isso que me senti mais segura ao confessar, seja como for meu pais já estão cientes de que eu e Lucas podemos nos separar, na verdade vamos nos separar.- Seus pais não ficaram muito felizes com a idéia de vocês se separarem. - Rodney se sentou ao meu lado no banco do jardim em que brinquei durante toda a minha infância, quando eu ainda era ingênu