NELLY
— Não me importo com você. —Diz, mas noto incerteza em seu timbre.
Talvez eu esteja certa no fim das contas.
— Aperte o gatilho. — incentivo.
—
NELLYO pai do meu filho ou filha é rápido em suas ações, pega a garota desprevenida e toma a pistola de sua mão, a deixando cair quando Carlota tenta pegar de volta. Percebendo que a situação vai se repetir, me antecipo e entro no meio deles, agachando e tocando o cabo da arma, mas unhas pintadas de vermelho descansam no meu pulso e rasgam minha pele por lá. Ergo a vista, não querendo, mas sabendo quem vou encontrar.— Isso acaba aqui. — Kaciana diz, dando-me um olhar tão significativo que o tempo perde seu valor, se tornando lento, pesado.— Mãe… — Meu tom é sentimental, ignorando que sou seu alvo. A olho como a garota que implorava por mais um abraço, no fundo, estou implorando que não dê esse fim para nossa história. Ela me deu a vida, seu sangue escorre por minhas veias, sou uma parte sua.— Não tenho outra escolha. — Diz, imparcial.— Kaciana. — David a chama, nesse momento ele já desistiu de Carlota e está ao lado da minha progenitora. — Não faça nada que irá se arrepender depo
NELLY— Onde está minha mãe? — pergunto.— Fugiu logo após o disparo. — Alice revela e acompanho seu olhar para a porta aberta. Outra corrente fria passa e arrepia os cabelos dos meus braços.Ela fugiu após matar Carlota.Isso é bom ou ruim?— Foi legítima defesa. — David fala após longos minutos de silêncio, suas íris negras cravadas em mim, confiantes e determinadas. O rosto inchado e cheio de hematomas. — Carlota nos sequestrou e ameaçou tirar a vida da minha mulher e filho, Kaciana só agiu por instinto. — Acrescenta e não deixo passar suas palavras.— Legítima defesa. — Alice repete e sinto os olhos de Eduardo em mim, em David. Seja lá o que ele está pensando, não vai discutir.— Sua mãe estava junto com Carlota nesse plano, Nelly. A conversa dela com minha irmã deixou claro que existia uma parceria e, além disso, vimos uma mulher quando chegamos aqui. Kaciana é perigosa. — Diz, a voz ainda embargada pelo choro. Não o digo que concordo com ele, porque algo dentro não sabe ao certo
DAVIDDeixo o quarto da mulher que amo com o coração destroçado, passamos por muito em um curto intervalo e não quero lhe causar mais estresse. Terei de ser cauteloso a partir de agora, tive uma conversa séria com o médico e descobri que a gravidez pode ser de risco. Nelly foi exposta a uma situação de tensão e qualquer discussão mais calorosa pode provocar complicações, contudo, não estou desistindo dela, de nós. Tenho um longo caminho para obter seu perdão e farei tudo o que pede. Vou até o banheiro e lavo o rosto, tenho marcas severas na região da boca e olho. O lado posi
DAVIDPasso o dia de molho em casa, ligando para a recepção do hospital a cada quinze minutos em busca de notícias, até que sou encaminhado para falar diretamente com a enfermeira dela, a mesma que conversei mais cedo e recebo informações que me acalmam. Ligo também para o hospital onde Kiara está internado e fico aliviado em saber que apesar da pancada que na cabeça seu estado não é grave, pelo contrário, não houve sequelas e logo poderá sair. Estava receoso em contar para Nelly sobre o estado da amiga. Edu também me liga e revela suas preocupações com Kaciana, que, aparentemente, contou uma versão única sobre seu envolvimento com Carlota e o sequestro para o delegado.
NELLY— Não precisa ficar. —digo, desviando o olhar das íris prata para a bandeja com restos de alimentos que Carmem acabou de esquecer em cima da cômoda. O que é estranho, levando em consideração o quanto ela insistiu com a outra enfermeira que faria essa tarefa.— NELLY— Alice. — chamei, então ela me olhou e sussurrou algo que compreendi como um ‘Não posso’ e foi embora.Mas antes disso, Edu e ela tiveram uma troca silenciosa que deve ter durado menos de cinco segundos e foi o suficiente para ele se desprender do segurança e persegui-la como um louco. Capítulo 70
NELLYEstou desistindo de você, de nós. De tudo. A frase ecoa dentro da minha cabeça, enquanto assisto Gerald, o personagem principal do melhor filme de romance que o cinema francês já produziu. Ele se desfaz em lágrimas, sentado no último banco do casamento de sua amiga de infância, quando ela finalmente diz sim para o único homem em todos os cem minutos de filmagem que não fez pouca caso de sua gagueira. Eu deveria ficar triste pelo desfecho da história, mas não estou. Giulia sempre priorizou o amigo, deu-lhe todos os primeiros lugares em sua vida e ele nunca foi recíproco, sempre trazendo justificativas fracas para seu comportamento de merda.Ela o superou, no entanto.Então acordei essa manhã e não consegui esquecer a frase final do filme, quando é finalmente revelado o conteúdo da carta que Giulia escreveu para Gerald antes de se casar, tive de reprisar o filme, o que nos leva ao presente. Meus olhos estão inchados pelo choro e culpo os hormônios da gravidez agindo com força, p
NELLYAlice sorriu sem revelar os dentes, um sorriso nervoso e falso que me fez recuar dois passos para trás.— Eu posso entrar? — ela olhou além de mim, espiando sob meu ombro e estudando minha sala.Limpei a garganta, empurrando uma mecha de cabelo para atrás da minha orelha. — Claro.Meus olhos acompanharam seus movimentos até o sofá, então quando ela voltou a me encarar haviam milhares de perguntas em seu olhar. No entanto, uma se destacava e tive que fingir não perceber.Francamente, era muito cedo para uma conversa honesta, minhas feridas estavam apenas começando a cicatrizar e não daria nenhum passo sem ter certeza se era o que queria.— Você quer algo para beber? — tentei sorrir. Tentei.— Um café? — ergui as sobrancelhas, incrédula, mas não falei nada. — Sem açúcar. —acrescentou e quase bufei.— Café. — murmurei, percebendo o quanto alguém pode mudar com o tempo. Quero dizer, Alice nunca foi fã de café e ela, com certeza, não beberia um sem açúcar anos atrás, então quem diab