NELLY
— Não precisa ficar. —digo, desviando o olhar das íris prata para a bandeja com restos de alimentos que Carmem acabou de esquecer em cima da cômoda. O que é estranho, levando em consideração o quanto ela insistiu com a outra enfermeira que faria essa tarefa.
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NELLY— Alice. — chamei, então ela me olhou e sussurrou algo que compreendi como um ‘Não posso’ e foi embora.Mas antes disso, Edu e ela tiveram uma troca silenciosa que deve ter durado menos de cinco segundos e foi o suficiente para ele se desprender do segurança e persegui-la como um louco.
NELLYEstou desistindo de você, de nós. De tudo. A frase ecoa dentro da minha cabeça, enquanto assisto Gerald, o personagem principal do melhor filme de romance que o cinema francês já produziu. Ele se desfaz em lágrimas, sentado no último banco do casamento de sua amiga de infância, quando ela finalmente diz sim para o único homem em todos os cem minutos de filmagem que não fez pouca caso de sua gagueira. Eu deveria ficar triste pelo desfecho da história, mas não estou. Giulia sempre priorizou o amigo, deu-lhe todos os primeiros lugares em sua vida e ele nunca foi recíproco, sempre trazendo justificativas fracas para seu comportamento de merda.Ela o superou, no entanto.Então acordei essa manhã e não consegui esquecer a frase final do filme, quando é finalmente revelado o conteúdo da carta que Giulia escreveu para Gerald antes de se casar, tive de reprisar o filme, o que nos leva ao presente. Meus olhos estão inchados pelo choro e culpo os hormônios da gravidez agindo com força, p
NELLYAlice sorriu sem revelar os dentes, um sorriso nervoso e falso que me fez recuar dois passos para trás.— Eu posso entrar? — ela olhou além de mim, espiando sob meu ombro e estudando minha sala.Limpei a garganta, empurrando uma mecha de cabelo para atrás da minha orelha. — Claro.Meus olhos acompanharam seus movimentos até o sofá, então quando ela voltou a me encarar haviam milhares de perguntas em seu olhar. No entanto, uma se destacava e tive que fingir não perceber.Francamente, era muito cedo para uma conversa honesta, minhas feridas estavam apenas começando a cicatrizar e não daria nenhum passo sem ter certeza se era o que queria.— Você quer algo para beber? — tentei sorrir. Tentei.— Um café? — ergui as sobrancelhas, incrédula, mas não falei nada. — Sem açúcar. —acrescentou e quase bufei.— Café. — murmurei, percebendo o quanto alguém pode mudar com o tempo. Quero dizer, Alice nunca foi fã de café e ela, com certeza, não beberia um sem açúcar anos atrás, então quem diab
DAVIDAlguns minutos antes...Eu pressiono o telefone contra meu rosto assim que vejo a mulher parada na frente da porta de Nelly, por sorte, ou azar, ela também encontra meus olhos e mantém a mão suspensa no ar. Kaciana é rápida em corrigir a postura e disfarçar a expressão de desgosto quando me aproximo, mas capturo seu braço em um aperto forte mesmo assim.
NELLY— O que aconteceu com ela? — David se abaixa do meu lado, checando o pulso de Alice enquanto eu mantenho a cabeça dela no meu colo e tento não surtar.— Ela desmaiou, precisamos levá-la ao hospital. — eu digo, urgência e pânico marcando minha voz, olhando para o rosto pálido da minha melhor amiga e sangue marcando sua roupa. Os dedos de David tocaram os
NELLYMentirosa.É tudo em que consigo pensar enquanto encaro a tela da televisão, e assisto Brandlyn tirar a camisa vagarosamente. Nesse momento, Madson, a garota obcecada por Brandlyn e irmã da namorada do cara, se engasga com pipoca, e todos correm para ajudá-la, é nesse momento também que pulo do sofá e desligo a TV. Eu não preciso assistir o final para saber como termina.Em algum momento nos próximos
NELLYPosso ouvir sua respiração através do celular e, não preciso usar a imaginação para saber que sua expressão está fechada em uma careta desgostosa agora.Conto os segundos enquanto ficamos em silêncio e me seguro para não chamar seu nome novamente.— Estou começando a me preocupar, Nelly. Essa é a segunda vez que você esquece um compromisso. — ele diz e franzo a testa.— DAVIDEu me sinto como um maldito farsante enxugando suas lágrimas, então quando ela pergunta com a voz suave o que fiz, sei que este será o nosso fim. Porque ela não vai me perdoar após me ouvir. Aperto seu ombro e a trago para mim, aproveitando para inspirar seu cheiro.Ela estremece.— Eu ainda te afeto. — sussurro contra o seu cabelo, permitindo-me sorrir quando ela estremece novamente. Talvez eu ainda tenha chance, então.— David, por favor.Nelly se move nos meus braços, colocando espaço entre nós, mas ficando perto o suficiente para que eu ainda possa enxergar a mancha vermelha nas suas bochechas e pescoço pelo choro. Limpo a garganta, precisando de um ou dez segundos para decidir se isso é uma boa ideia, confessar que fui o responsável pela partida de sua mãe e arriscar ficar sem ela. Estou tão perto de reconquistá-la. Posso sentir isso.— Eu…Minha garota franze a testa, começando a parecer impaciente com a espera.— O quê?Balanço a cabeça, pulando para fora do sofá em um moCapítulo 77