NELLY
— Você está bem? — Ergo meus olhos para encontrar os de Kiara, sem saber o que falar apenas movo a cabeça em negação.— Certo, vem aqui. — Ela me puxa para um abraço, acariciando minhas costas com as pontas de suas unhas como um gato costuma fazer.
— Me tira daqui.— Consigo dizer, sentindo um vazio tão grande no meu peito que fica difícil respirar. — Kiara.
— Shiii... Nós já estamos indo, querida. — Trago
NELLYUm longo momento se passa, e nhenhuma de nós duas desvia o olhar. — Sinto muito decepcioná-la, mas você possui o meu sangue, Nelly. — Ela se vira e me dar as costas, ignorando mais uma vez as lágrimas presente nos meus olhos e a dor no meu peito.Deslizo minhas costas pela madeira da porta, reunindo meus joelhos na altura do meu estômago e ficando na posição até ter minha mente livre. Sem saber quanto tempo passou, lavo meu rosto, reúno minhas coisas em uma mala e co
NELLYCaminho até em casa com os pensamentos longe, sentindo um embrulho no estômago e o vômito vir até a garganta. Me apoio em um muro qualquer e contabilizo quando tempo levarei até entrar no meu apartamento. Meu celular toca na bolsa e ignoro, voltando a caminhar quando me sinto melhor, mas, de repente, a ideia de voltar pra casa e não encontrar ninguém me desanima, meu celular volta a tocar e paro para atender. Surpresa e agindo no automático, confirmo para Octávio que estou no caminho de sua palestra.Onde era mesmo?
NELLYDuas semanas depois...— Tem certeza que quer fazer isso? — Kiara indaga pela quarta vez em menos de duas horas, cesso meus passos perante o portão automático e a olho de lado, a pegando no flagra enquanto checa meu abdômen. Aperto a alça da mala e a trago para frente do meu corpo. Ótimo, ela está desconfiada.— Sim. — Afirmo, certa de que essa é a melhor decisão.
NELLY Não bato, apenas giro a maçaneta e abro a porta. Meus olhos varrem cada centímetro da sala até encontrar a mulher que me trouxe ao mundo e o homem que amo sentados juntos no sofá, muito perto um do outro. Ambos me olham em choque, como se estivessem vendo um fantasma e simplesmente não acreditassem nisso. — Interrompo? — Pergunto, focando nas mãos dele apertando os ombros dela. Nenhum dos dois fala nada, apenas permanecem parados na mesma posição sem desviar os olhos de mim. — Nelly. — David pronuncia meu nome como costumava fazer quando estávamos sozinhos, trancados no seu quarto ou enrolados no chão da sua sala. Só que dessa vez nenhum calor atravessa meu corpo, na verdade, acontece o efeito contrário. — Filha? — Kaciana fala e ganha minha atenção, principalmente pela escolher do substantivo. Ela suspira alto, levando a mão ao peito em um apelo que me deixa confusa. — Onde você estava? — Questiona, tornando sua voz mais dura. — Vocês dois estão juntos? — A ignoro, olhando
DAVID — Você não vai atrás dela?— Fecho minhas mãos em punhos e conto até dez, não bato em mulher, mesmo ela sendo um lixo de ser humano como Kaciana. Me mantenho parado no mesmo lugar, vidrado no elevador, falando pra mim mesmo ir atrás da garota com minha mente e secar cada uma de suas lágrimas. Mas... Eu não posso. Não quando sou o principal causador da sua dor. —
NELLYMinhas pálpebras estão pesadas e preciso me esforçar mais que o normal para abrir os olhos, quando o faço, parece que não o fiz. Tudo está escuro e se não fosse por uma brecha no telhado do que acredito ser um galpão abandonado, eu não enxergaria minha melhor amiga caída e amarrada ao meu lado. O barulho de saltos esmagando folhas secas e batendo contra o piso desgastado faz com que eu a procure nas sombras, não preciso de tempo para lembrar o que aconteceu quando deixei a sala de David.— Onde está Kiara, sua louca? — Uma raiva descomunal surge em mim quando lembro do seu rosto assustado um pouco antes de Carlota a bater com o bastão de
NELLY— Me solta, sua louca! —Alice grita, fazendo os olhos da nossa algoz apertarem. Se ela continuar desafiando-a assim, não conseguiremos fugir.— Você é tão chata, Alice. Estou cansada da sua voz.— Dane-se, vadia louca.Carlota lhe dá um olhar de desdém e mexe na própria roupa, limpando uma sujeira invisível do vestido justo. Aproveito a distração para fazer uma nova varredura do local, buscando alguma saída. Concluo que devemos está em uma área afastada da cidade, uma antiga fábrica ou depósito. Também tem muitas folhas no chão pra ignorar, com certeza existem árvores por perto.—
NELLYContinuo me forçando a manter minha mente sã, se não por mim, que seja pelo pequeno ser em meu ventre. Passei anos acreditando que era fraca, indigna de amor quando na verdade o problema estava nas pessoas ao meu redor. Minha mãe era doente, Carlota era doente, Eduardo nunca foi capaz de fazer as próprias escolhas e nem mesmo Alice escapa dessa lista. Consigo enxergar agora, todos esses anos mantendo relacionamentos tóxicos me fez incapaz de esperar algo maior, melhor. Estou dançando com minhas memórias, abrindo todas as portas que mantive fechadas para enfrentar os monstros, não posso contar com o príncipe dessa vez. Essa luta é minha e sou a única que pode derrotar o dragão.