NELLY
Duas semanas depois...
— Tem certeza que quer fazer isso? — Kiara indaga pela quarta vez em menos de duas horas, cesso meus passos perante o portão automático e a olho de lado, a pegando no flagra enquanto checa meu abdômen. Aperto a alça da mala e a trago para frente do meu corpo. Ótimo, ela está desconfiada.
— Sim. — Afirmo, certa de que essa é a melhor decisão.
NELLY Não bato, apenas giro a maçaneta e abro a porta. Meus olhos varrem cada centímetro da sala até encontrar a mulher que me trouxe ao mundo e o homem que amo sentados juntos no sofá, muito perto um do outro. Ambos me olham em choque, como se estivessem vendo um fantasma e simplesmente não acreditassem nisso. — Interrompo? — Pergunto, focando nas mãos dele apertando os ombros dela. Nenhum dos dois fala nada, apenas permanecem parados na mesma posição sem desviar os olhos de mim. — Nelly. — David pronuncia meu nome como costumava fazer quando estávamos sozinhos, trancados no seu quarto ou enrolados no chão da sua sala. Só que dessa vez nenhum calor atravessa meu corpo, na verdade, acontece o efeito contrário. — Filha? — Kaciana fala e ganha minha atenção, principalmente pela escolher do substantivo. Ela suspira alto, levando a mão ao peito em um apelo que me deixa confusa. — Onde você estava? — Questiona, tornando sua voz mais dura. — Vocês dois estão juntos? — A ignoro, olhando
DAVID — Você não vai atrás dela?— Fecho minhas mãos em punhos e conto até dez, não bato em mulher, mesmo ela sendo um lixo de ser humano como Kaciana. Me mantenho parado no mesmo lugar, vidrado no elevador, falando pra mim mesmo ir atrás da garota com minha mente e secar cada uma de suas lágrimas. Mas... Eu não posso. Não quando sou o principal causador da sua dor. —
NELLYMinhas pálpebras estão pesadas e preciso me esforçar mais que o normal para abrir os olhos, quando o faço, parece que não o fiz. Tudo está escuro e se não fosse por uma brecha no telhado do que acredito ser um galpão abandonado, eu não enxergaria minha melhor amiga caída e amarrada ao meu lado. O barulho de saltos esmagando folhas secas e batendo contra o piso desgastado faz com que eu a procure nas sombras, não preciso de tempo para lembrar o que aconteceu quando deixei a sala de David.— Onde está Kiara, sua louca? — Uma raiva descomunal surge em mim quando lembro do seu rosto assustado um pouco antes de Carlota a bater com o bastão de
NELLY— Me solta, sua louca! —Alice grita, fazendo os olhos da nossa algoz apertarem. Se ela continuar desafiando-a assim, não conseguiremos fugir.— Você é tão chata, Alice. Estou cansada da sua voz.— Dane-se, vadia louca.Carlota lhe dá um olhar de desdém e mexe na própria roupa, limpando uma sujeira invisível do vestido justo. Aproveito a distração para fazer uma nova varredura do local, buscando alguma saída. Concluo que devemos está em uma área afastada da cidade, uma antiga fábrica ou depósito. Também tem muitas folhas no chão pra ignorar, com certeza existem árvores por perto.—
NELLYContinuo me forçando a manter minha mente sã, se não por mim, que seja pelo pequeno ser em meu ventre. Passei anos acreditando que era fraca, indigna de amor quando na verdade o problema estava nas pessoas ao meu redor. Minha mãe era doente, Carlota era doente, Eduardo nunca foi capaz de fazer as próprias escolhas e nem mesmo Alice escapa dessa lista. Consigo enxergar agora, todos esses anos mantendo relacionamentos tóxicos me fez incapaz de esperar algo maior, melhor. Estou dançando com minhas memórias, abrindo todas as portas que mantive fechadas para enfrentar os monstros, não posso contar com o príncipe dessa vez. Essa luta é minha e sou a única que pode derrotar o dragão.
NELLY— Achei que o amasse. — Falo e Carlota sorrir vitoriosa. Algo no seu olhar me deixa apavorada.— Amar alguém não significa que você não é capaz de machucá-lo.— Diz, dando um longo olhar na direção de David. Fico presa DAVIDQuarenta e cinco minutos antes…Eu não sabia se o plano ia funcionar, mas era minha única esperança e o tempo estava passando. Fui relapso quando não revoguei o contrato de Carlota imediatamente e a deixei voltar pra minha vida, pra vida de Nelly. DAVID— Preciso mesmo usar isso? — Identifico a voz de Eduardo.— Eu gosto. — Johna diz, uivando como um animal selvagem. Uma risada feminina, então voltei a pé.— Preciso que fique acordado. — Carlota diz em tom suave e água gelada é jogada contra meu rosto. Me debato contra os braços de um deles, lembrando que vim aqui com um objetivo e não posso sair sem ela. Minha Nelly.Capítulo 61
Capítulo 62