NELLY
O homem parece desolado, fragilizado diante de mim, o oposto do que ele vem me mostrando ao longo desse tempo de convívio, pois a pose de "nada me abala", foi embora e deu lugar a um homem quebrado e cheio de culpa. A falta do brilho em seus olhos foi algo que percebi logo quando fomos reapresentados, pois, o cara que eu idolatrava na adolescência era cheio de vida e bom humor, não havia um dia se quer que eu não ganhasse um sorriso seu, mas julguei que isso tivesse ligação com sua posição de diretor executivo da Bragança.
Eu estava enganada,
DAVIDDescarto a cápsula de café no lixo e bebo todo o conteúdo da xícara, a porra dessa máquina de expresso foi inventada para salvar minha vida, não tem outra explicação, sou viciado confesso em café desde a época da faculdade e nunca aprendi o jeito tradicional de deixá-lo no ponto certo. Meus anos como educador só intensificaram essa paixão, não sei como conseguiria lidar com as noites em claro corrigindo provas e planejando aulas sem uma boa dose de cafeína. O lí
NELLYSe eu tivesse a sorte da Cinderela e uma fada madrinha aparecesse na minha frente, eu pediria para ela arrancar a merda desse sentimento do meu peito, acabar com as ideias ilusórias que estão voltando com tudo desde que o reencontrei, desaparecesse com todo o meu passado e levasse alguns quilos. Minha mente já não está acompanhando a bipolaridade do homem e estou começando a vacilar novamente. Primeiro, ele insinua que não faz a mínima ideia de quem sou, depois demonstra se lembrar sim, aí me propõe amizade e volta a surtar novamente, do nada, por motivo nenhum. Digito com certa rapidez, descontando no teclado do meu notebook toda a minha frustração. Como se a volta de
NELLY— Você vai!— Não vou.— Vai.— Não. — Alice revira os olhos do outro lado da tela do meu celular, se deitando no chão enquanto tenta manter o celular equilibrado na altura do seu rosto e discutir comigo ao mesmo tempo. Meu dedo desliza até o botão de desliga e fico tentada a apertar.— Nem pense nisso. — Rosna do outro lado
DAVIDAcabei de perceber que somos como gasolina e fósforo, esperando o momento certo para explodir. Eu não sei o motivo, mas estamos em constante discordância, incitando o limite um do outro sem nenhum manual ou consciência, apenas por esporte. A presença dela não preenche o vazio no meu peito, mas quase me faz esquecer de toda a merda que me ronda diariamente, ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas, sei que ficar longe dela já não é uma tarefa que eu possa cumprir e juro pela minha mãezinha que tentei. — Quem estará no jantar? — Viro rapidamente para Nelly, descendo os olhos sem querer para seu decote chamativo e me recrimino internamente, forçando minhas íris a focarem na estrada e não nela. — Não sei, minha mãe apenas me intimou. — Dou de ombros, me policiando para não virar o rosto em sua direção novamente e admirar mais um pouco do corpo cheio de curvas, seu vestido está tão colado que possa enxergar cada parte sua sem muito esforço. — Você ao menos sabe o endereço? — Provo
DAVID— Preparada para conhecer o Senhor Octávio Bragança? — Pergunto, percebendo seu olhar curioso depois das falas da minha mãe. — Otávio? O nome dele não deveria ser outro? — Questiona e fico confuso. — Deveria? — Bom, sua mãe usou a termologia "filho", então deduzi que ele teria o mesmo nome que o seu. — Esclarece e rio, achando bonitinho a maneira como ela torce o nariz e contrai os lábios durante sua explicação. — Minha progenitora é louca, podemos tomar de exemplo o fato dela ainda querer controlar a vida do filho de quase quarenta anos. — Brinco, mas falando sério, e ela sorrir, colocando uma mecha solto do cabelo para trás da orelha. — Permita-me. — Peço, fazendo o que ela acabou de fazer com outra mecha solta.— Obrigado. — Foi um prazer. — ofereço-lhe meu braço e ela passa a mão por ele. Nós caminhamos em perfeita sincronia pelo salão de festas, descemos as escadas que dão para o jardim sem nenhum insulto ou agressão física, eu a apresento para o meu pai como a garota
NELLYTer uma crise de ansiedade logo após ser beijada pelo cara dos seus sonhos não é legal, longe disso, mas ao longo dos meus vinte e cinco anos me acostumei a ter esses pequenos momentos de pânico, apesar de quê, a causa desta vez é completamente distinta das anteriores. A grande verdade é que o medo faz parte da minha vida, parte de quem sou. Por esse motivo, sempre resguardei meu psicológico, me mantive em constante alerta, me preparei para ocasiões inesperadas, porque vivenciar diversas situações humilhantes me levaram a ser como uma coluna de ferro. Mas, eu n&atil
DAVIDExiste um determinado momento na vida de todo homem que as coisas mais simples, se tornam as mais importantes. Paramos de lutar contra a gravidade e tudo o que desejamos é mantermos os pés firmes no chão, mas comigo acontece o aposto, quanto mais velho fico e os dias se passam, a necessidade pela intensidade aumenta e a ideia de ter uma rotina é sufocante. Aderi a solidão como estilo de vida e vivo sem a intromissão de ninguém, vou aonde quero e fodo quem quiser. Sem compromisso. Por isso, a ideia de me relacionar com qualquer pessoa beira ao absurdo. Ninguém pode assumir o lugar da minha Lígia, ela é única, a
DAVIDAfasto com certa delicadeza os braços magros de Carlota Maldonado e observo ainda meio incrédulo seu sorriso alargar, a garota passa seu peso de um pé para o outro enquanto brinca com uma mecha de cabelo enrolado entre os dedos e me encara como se eu fosse um amigo íntimo.— O que faz aqui? — Falo de uma vez, retirando nós dois da frente do elevador, guiando-a pelo braço para uma parte mais isolada. Ela solta um riso frouxo e traz a mão para o meu ombro assim que paramos, um de frente pro outro, deslizando para cima e para baixo como se estives