CAPÍTULO 59

ANTÔNIA

O meu tom de voz aumenta a cada palavra proferida, Hafiq não rebate e não discute, me olhando surpreso pela minha reação. Ele tenta me abraçar e eu me desvencilho, eu já estou no meu limite com essa conversa inútil.

Uma crise de choro me toma de surpresa e eu não consigo mais parar.

Vê-la para quê? Ligar para ela já é esquisito pra cacete, eu nem consigo chamá-la de mãe.

Quantos anos faz? Treze anos. Treze anos que a gente mal se fala, e eu sinto que estar cara a cara com ela é como tentar transpor inutilmente um abismo.

Eu não estou preparada para me lembrar do cheiro de cachaça de Pedro, das mãos asquerosas em minha pele e principalmente de minha mãe, deitada em seu quarto, fingindo que dormia, enquanto ele me usava do jeito que bem quisesse.

Eu quero esquecer a sujeira da minha infância, quero me sentir limpa, será possível que esse sujeito insistente não consegue entender isso?

Hafiq me puxa da cadeira
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