Lion Collins Acordei com os primeiros raios de sol entrando pela janela, aquecendo o quarto com uma luz suave. Espreguicei-me, estendendo a mão para o lado, mas a cama estava vazia. Nazli não estava mais aqui. Sentei-me, confuso, e olhei ao redor. Não havia sinal dela. Peguei meu celular e rapidamente disquei seu número. Ela atendeu ao terceiro toque, sua voz suave preenchendo o silêncio. — Lion? — Onde você está? — perguntei, tentando não soar preocupado. — Acordei e você tinha sumido. Ela riu de leve, aquele som que sempre me acalmava. — Desculpe, precisei vir para casa. Estava com saudades da minha irmã, Leyla. Suspirei, relaxando um pouco. — Entendi. Mas sabe que poderia ter me acordado, certo? — Não quis te incomodar, você parecia cansado. — Estou sempre cansado, mas você nunca me incomoda, Nazli. — Fiz uma pausa, tentando transmitir pelo tom o que as palavras não conseguiam. — Vamos jantar hoje à noite? Conheci um restaurante novo e quero te levar. Ela hesito
Luna Collins As semanas desde que Lion voltou para a Turquia passaram como um borrão. Mantínhamos contato constante, ele me ligava entre as cirurgias, e eu fazia o mesmo. Podia ouvir o peso em sua voz nos dias difíceis, mas também sua leveza nas pequenas vitórias. Era um conforto saber que, apesar de nossas vidas movimentadas, sempre nos apoiávamos. Enquanto isso, minha vida com Kerem parecia um sonho. Estávamos morando juntos no apartamento dele, e ele estava mais radiante e carinhoso do que nunca. Naquela manhã, ele insistiu em me levar para um dos seus trabalhos — um projeto de arquitetura que havíamos desenvolvido juntos desde a planta. Quando chegamos à casa, fiquei impressionada ao ver tudo pronto. Cada detalhe refletia o trabalho e o amor que tínhamos colocado ali. — Está perfeito, Kerem. — Sorri, admirando o espaço. — Mas... os clientes estão atrasados? Ele riu, aquele riso que sempre fazia meu coração acelerar. — Eles não vão chegar, amor. Quero te mostrar algo an
Kerem KayaO sangue... Nunca imaginei que algo tão simples e natural pudesse causar tanto pavor. Quando entrei na cozinha e vi Luna no chão, as mãos e a roupa manchadas de vermelho, meu coração parou. — Luna! — gritei, ajoelhando-me ao lado dela. Ela me olhou, mas era como se estivesse distante, perdida em um lugar onde eu não conseguia alcançá-la. — O bebê... — sussurrou, a voz tão baixa que mal consegui ouvir. Meu peito se apertou como se alguém tivesse arrancado o ar dos meus pulmões. Não havia tempo para pensar ou hesitar. Cuidadosamente, passei meus braços ao redor dela e a levantei. — Vai ficar tudo bem, amor. Vou te levar para o hospital. — Minhas palavras saíram mais como um pedido desesperado do que como uma certeza. Luna não respondeu. Não chorou. Não gritou. Apenas ficou ali, imóvel nos meus braços, olhando para o vazio, como se estivesse em transe. Isso me apavorou ainda mais. Abri a porta do carro com dificuldade, ajeitei-a no banco do passageiro e coloquei
Lion Collins Entrar naquela sala era como carregar o peso do mundo em meus ombros. Eu, um médico acostumado a dar más notícias, nunca me senti tão impotente. Desta vez, não era apenas mais um paciente ou uma família desconhecida era a minha irmã. Era Luna. Dr. Mello estava sentado à mesa, com os exames organizados em uma pasta. O semblante dele era sério, mas também gentil, como se soubesse exatamente o impacto que aquelas palavras teriam sobre mim. Ele gesticulou para que eu me sentasse, e a tensão no ar era palpável. — Dr. Lion Collins — começou ele, respeitando minha posição como médico, mas também consciente de que eu estava ali como irmão. — Os resultados dos exames de Luna chegaram. É importante que conversemos sobre eles com franqueza. Inclinei-me ligeiramente, tentando parecer firme, mas a verdade é que meu coração já estava acelerado. — Por favor, seja direto, Dr. Mello. Preciso saber o que aconteceu e o que podemos fazer daqui para frente. Ele suspirou, como se b
Nazli YlmazO ar frio da Inglaterra parecia cortar minha pele enquanto eu caminhava pelos corredores do hospital, mas o frio externo não era nada comparado à tempestade que se formava dentro de mim. Cada passo me levava mais perto de Lion, mais perto da dor que ele estava enfrentando, e, ainda assim, eu sentia que nunca chegaria a tempo. Meu coração parecia pulsar fora do peito. Então eu o vi. Ele estava ali, parado no meio do corredor, com a mão na cabeça, os ombros caídos, como se carregasse o peso do mundo. Lion, o homem que sempre era tão forte, tão inabalável, agora parecia perdido, tão pequeno. Meu coração se partiu naquele momento. Sem pensar duas vezes, corri até ele. — Lion... — sussurrei, e quando ele ergueu os olhos para mim, vi algo que nunca tinha visto antes: fragilidade. Ele não disse nada. Eu também não. Apenas o abracei. Passei meus braços ao redor dele, envolvendo-o com tudo o que eu tinha, como se pudesse protegê-lo daquela dor que o consumia. Ele cedeu, de
Kerem KayaO frio de Londres ainda parecia cortar minha pele enquanto caminhávamos para o apartamento de Luna. Ao meu lado, ela estava em silêncio, perdida nos próprios pensamentos. Cada passo ecoava no vazio do momento, carregado de uma dor silenciosa que nenhum de nós sabia como aliviar. Quando chegamos ao apartamento, a deixei lá com seu irmão e cunhada e fui até o meu para pegar algumas roupas e senti um peso diferente no ar. Havia um cheiro de lembranças e memórias congeladas no tempo, como se o espaço ainda guardasse o eco de uma vida que agora parecia distante. Entrei , passando os dedos pelas molduras das portas, pelos móveis. Eu fiquei parado por um instante, apenas observando. Eu já fui forte, mas naquele momento, me senti tão frágil. — Está tudo do mesmo jeito —murmurei. — Como se nada tivesse mudado. Mas tudo havia mudado, não ousei ir até a cozinha, fui até o meu quarto peguei uma mala e coloquei minhas roupas depois fui para o apartamento da Luna.Ela estava no
Luna CollinsApós o jantar, o silêncio reinava enquanto subíamos para o quarto.O apartamento ainda ecoava os sons distantes de risadas e conversas, mas dentro de mim, tudo era um caos. Fechei a porta atrás de nós, observando Kerem enquanto ele sentava na beira da cama, parecendo exausto, mas com os olhos ainda cheios de algo que me fazia amá-lo ainda mais: paciência. Ele não perguntou nada, apenas esperou, como sempre fazia, respeitando o tempo que eu precisava para falar. Aproximei-me devagar e segurei suas mãos, sentindo a textura quente e firme que tantas vezes havia me sustentado. — Kerem... — comecei, minha voz um sussurro. — Quero que a gente vá até a casa. Ele ergueu os olhos, surpreso. — A casa? A nossa casa? Assenti, o peso do significado dessa decisão caindo sobre mim. — Preciso estar lá. Preciso sentir... algo, qualquer coisa que me faça lembrar que ainda podemos ter um futuro. Kerem não hesitou. Ele apenas levantou e pegou o casaco, pronto para me acompanhar
Lion Collins Voltar para a Turquia com Luna e Nazli foi um misto de alívio e preocupação. Alívio porque, de alguma forma, estar na Turquia sempre trouxe conforto para mim, e preocupação porque, apesar de aceitar a decisão de Luna de lidar com a perda à sua maneira, eu sabia que deixar Kerem para trás havia deixado um vazio em sua alma. Ela o amava profundamente, mas a dor era um peso que ela precisava carregar sozinha por um tempo. Ainda no avião, revisei as mensagens de Kerem. Ele havia me mandado várias, todas cheias de preocupação. Ligou muitas vezes também, mas Luna nunca respondeu. Assim que chegamos à Turquia, enquanto Luna se acomodava, liguei para ele. — Kerem, ela está comigo, e está na Turquia — falei direto, tentando ser firme, mas não frio. Do outro lado da linha, ouvi o som de sua respiração pesada antes que ele respondesse: — Como ela está, Lion? Por favor, diga-me que está bem. — Ela está bem o suficiente, Kerem. Mas eu preciso pedir algo. Por um tempo, não