Sinto o cheiro da mistura de ervas, alho e madeira queimada antes de sair do meu carro à noite, o que me deixa intrigada, mas também muito preocupada. Uma pequena parte de mim espera que o cheiro persistente venha da casa ao lado, mas assim que entro, percebo que vem da minha própria cozinha.
Vejo Harry enquanto caminho pelo corredor. Ele está encostado no fogão com uma colher de pau na mão, sem camisa e uma calça de moletom. Um gorro preto esconde a maior parte de seu cabelo, mas alguns cachos rebeldes ainda escapam na parte inferior. Eu disse a ele uma e outra vez que não é seguro ficar tão perto de uma chama acesa do fogão sem camisa. Ele nunca ouviu.
— O que é isso? — pergunto, entrando na cozinha.
Harry vira a cabeça, me dando um sorriso torto.
— Estou fazendo o jantar.
— Qual é a ocasião? &m
Viro-mecom um sorriso forçado para ele:— Sem vacas.Ele faz beicinho quando pego sua tigela e levo até a pia.Lavo a pilha de pratos que ele deixou, ignorando o suspiro que ele faz.Ele fala sobre essa vaca desde que comprou a casa de campo, mas, já que moramos em Londres em tempo integral, não precisamos ter uma vaca para ficar lá sozinha.— Não me olhe assim — estreito meus olhos para ele quando termino de organizar a cozinha. Ele se encosta na ilha com os braços cruzados.— Assim como?— Com esse beicinho que eu conheço muito bem. E tudo o que você está pensando em fazer para me convencer, não vai funcionar.Não vamos comprar uma vaca — dou um último olhar antes de me virar, me abaixando para colocar a sopa na prateleira de baixo da geladeira. — Já conversamos sobre isso — falo, ig
Eu deveria ter interpretado isso como um convite para dizer a ele que não estou pronta, mas não consigo. Ele parece tão feliz quando fala sobre ter filhos.E eu quero que ele seja feliz.Não estou pronta neste segundo, mas a Dra. Hamilton disse que pode levar até um ano.Quer dizer, pode ser tempo suficiente.Eu posso me contentar com o arquiteto que me custará um braço e uma perna.A padaria estará pronta.Harry ficará feliz.Isso é tudo o que importa.Esses pensamentos escapam da minha mente assim que voltamos para o quarto.Com o peito de Harry pressionado contra minhas costas, ele salpica beijos no meu pescoço, sugando suavemente.Gemo baixinho e ele desabotoa meu sutiã, afastando-se apenas para jogá-lo no chão.Seus lábios estão de volta no meu pescoço em segundos, seus braços me envolvendo.I
Quando quero que as coisas sejam bem feitas, naturalmente, eu mesma faço.Além disso, cortar o custo de um arquiteto e de um engenheiro significa que eu poderia pagar por um forno novo.— Puta merda.Viro-me quando ouço a voz repentina.Eu vou admitir, nos cinco anos que estamos juntos, eu nunca vi uma expressão tão horripilante no rosto de Harry.Nem mesmo nos dias em que... naqueles dias horríveis... ele tinha um olhar tão chocado, os olhos fixos e arregalados enquanto ele tira os óculos de sol do rosto, seu queixo cai no segundo em que avista o caos que consegui causar em uma hora.— Oi, meu amor! — sorrio.— O que... o que diabos você fez? — gagueja, boquiaberto com a nuvem de poeira e os pedaços quebrados de concreto.— Onde... onde você conseguiu uma marreta?Tiro meus óculos de seguran&ccedi
— Ok — digo, e ele desliza a mão sobre meu quadril, me puxando para frente apenas o suficiente para colocar um beijo rápido no canto da minha boca; sinto o gosto de café em seus lábios.Bem quando eu acho que ele irá se afastar, ele me beija novamente, desta vez mais profundo. Suspiro, como sempre, porque mesmo quando temos desentendimentos, ele ainda consegue me tirar o fôlego.— Eu ainda estou muito irritado com você — ele começa — mas você está sexy demais com essa marreta.Reviro os olhos e o empurro, estreitando meu olhar enquanto agarro a marreta com mais força.— Te vejo em casa — digo.Sorrindo, ele beija meus lábios mais uma vez.— E deixe essa coisa aqui.— Mas eu não estava sexy?— Mas também é um pouco assustador — ele ri.— Você
Não entendo porque é tão surpreendente eu querer fazer isso sozinha.— Eu não preciso de um — respondo com um encolher de ombros.— Eu não sei porque você e Harry pensam que eu não posso fazer isso sozinha-— Eu nunca disse que você não conseguiria fazer isso sozinha — Hannah disse calmamente.— Eu sou igual a você.Você sabe disso.Isso é apenas... muito.— Eu sei que é — respondo.— Mas eu quero fazer.Hannah deixa escapar um suspiro lento e toma um gole de sua bebida, e depois assente.— Tudo bem — diz ela.— Não sei como lidar com uma caixa de ferramentas, mas posso ajudá-la a pintar uma parede.Sorrio e decido mudar de assunto:— Você saiu do trabalho mais cedo?— Fiquei até o meio dia —
— Tenho certeza que todos vão entender.Estamos trepando pelo bem maior da humanidade.Faço uma careta.— Isso não é romântico.— Quer dizer, também porque estou loucamente apaixonado por você — ele ri. — Ver você no banho foi a cereja do bolo.Eu o empurro, segurando a toalha com uma mão.— Desça as escadas e deixe eu me vestir.Ele faz uma careta para mim, seu nariz se contorce de desgosto antes de sair do banheiro.Espero até ouvi-lo caminhar pelo nosso quarto e descer as escadas para terminar de me secar.Eu tinha planos de me enrolar no sofá depois do meu banho, mas não seria educado desistir das bebidas em tão pouco tempo, então visto uma calça jeans e um moletom rosa, e quando começo a arrumar meu cabelo, meu telefone toca.A princípio, acho que
— Hoje é domingo. Kath não tem aula de dança aos domingos e a loja de ferramentas está fechada. Eu realmente gostaria que pudéssemos passar o dia juntos.— Eu tenho muito que fazer, Harry. E eu deitei com você ontem.Eu não posso fazer isso de novo.— Não estou pedindo para você ficar deitada — ele responde rapidamente, cruzando os braços e se encosta no balcão.— Eu pensei que nós poderíamos-— Eu quero ficar sozinha — digo e desvio o olhar dele.Tento me ocupar arrumando os potes de coalhada, mas Harry segura meu braço e força minha atenção de volta para ele.Com seus olhos estreitos nos meus, seus lábios em uma linha sombria, sinto minha garganta apertar.Esta não é uma conversa nova.Na verdade, é uma conversa que acontece pelo menos duas veze
— Você tem que parar de fazer isso, Grace. — A voz de Harry me tira dos meus pensamentos.— Fazer o que?— Isso.Eu não sei como te ajudar se você não me deixar entrar. Eu só... eu quero que vocêprecise demim.Ele é meu marido, e eu deveria precisar dele, me apoiar nele e deixá-lo entrar, mas isso é tão pesado que ninguém mais merece sentir o peso disso. Não consigo encontrar nada para dizer a ele, minha cabeça nadando na culpa.Dias como este me deixam tão deprimida que percebo o quão má esposa eu realmente sou.Ele merece alguém melhor do que eu.— Sinto muito — Harry diz, depois de um momento.— Você não tem nada pelo que se desculpar, Harry. Sou eu quem deve desculpas.Você passou por tantos problemas também e estou sendo ingrata.