Os pássaros já cantavam alto quando Yulla acordou. Estava com a cabeça encostada em algumas mochilas macias dos caminhantes onde eles guardavam suas ervas medicinais. Ela esfregou os olhos, procurou por Cam e não o encontrou aos arredores.
Já haviam se passado 10 dias desde que ela enfrentara Ereshkigal. Suas forças vitais estavam enfraquecidas, seus olhos mortos e avermelhados, seus lábios ressecados não importasse o quanto ela os hidratasse, e os caminhantes temiam que ela morresse antes que chegassem até a deusa.
Yulla gemeu de dor. Sefiron a olhou em pânico achando que ela estava nas ultimas.
–Onde Cam está? – ela pergunta com a voz quase inaudível.
Três meses, três meses já havia se passado desde o inesquecível e feliz banho no rio. E Yulla tinha a certeza que os sentimentos que ela sentia por Cam não eram mais os de gratidão e admiração, estava se tornando algo a mais.Seu coração pulava quando o via e ela quase sempre prendia a respiração quando ele se aproximava.Mesmo com tudo isso, o seu corpo ainda estava com problemas em reagir bem à proximidade com o Coração da deusa, apesar dos momentos engraçados ao lado de Cam e (ela não queria admitir) ao lado de alguns experientes caminhantes, seu corpo sofria cada dia mais, tanto que nos últimos tempos ela não conseguia sequer caminhar já que seus ossos e terminações ne
Yulla suspirava aquele ar puro e seus pulmões doíam quando fazia isso. Cam a olhou com o canto de olho, ele devia admitir que estava ficando paranoico em relação à saúde de Yulla, mas não poderia evitar aquilo.Cada movimento que ela fazia, ele se virava para olhá-la, cada som que ela fazia para ele era um gemido de dor ou de morte (o que não deixava de ser de dor), aquilo o estava deixando enlouquecido de tal forma que até mesmo Yulla, fraca como estava, conseguia perceber os movimentos paranoicos dele e já estava começando a ficar incomodada com sua forma de agir.Naquele dia, apesar do ar parecer rarefeito e ardente para ela, até que ela se sentia melhor, ao menos conseguia montar no cavalo e guia-lo entre as arvores, coisa que a
Quando Yulla viu aqueles seres de aparência curiosa não pensou em outra coisa a não ser gritar, gritar muito. Mas depois de sua gritaria, o medo foi dando lugar a curiosidade, eles não a atacaram como imaginara que fariam, pelo contrário. Eles a desamarram, então ela pode analisa-los bem de perto.Tinham mais de dois metros de altura, de pelagens marrom-avermelhada grossas, pés grandes e espalhados, garras amedrontadoras e práticas, dentes saltados, nariz subido e pontudo, enormes chifres que mais pareciam galhos de árvores e brilhantes olhos azuis que transmitiam toda a ternura que eles pareciam sentir por Yulla. Um dos três grandalhões peludos se abaixou para olhar o rosto de Yulla mais de perto e ela pode sentir o rosto dele em suas mãos quando o tocou.
Aquelas criaturas tinham um jeito engraçado de comemorar algo, isso Cam tinha que admitir. Parecia que todos tinham uma dança coreografada, era algo fantástico e bonito. Ele sorriu enquanto bebia o néctar que Yulla tanto falara para ele naquela tarde. Ela lhe contara tudo que havia acontecido, o problema com Sefiron e o resgate dos seres sagrados. A noite já estava alta e parecia que nunca teria fim.– Como você pode ter tanta certeza que eles são seres sagrados?– Eles me disseram. – Yulla deu de ombros como se aquela resposta fosse a coisa mais simples do mundo.Ele a observou por alguns instantes.– Eles disseram a você? – e
Como ela fora tão idiota a ponto de achar que Cam nutria algo mais do que amizade por ela? Se sentia uma completa idiota. Estava bem claro que quando ele entrasse em contato com seu passado ele iria querer voltar para ele. Ela cobriu a boca para abafar o choro, nem sabia por que estava chorando, devia estar feliz por ele reencontrar seu caminho.Os caminhantes tem um voto de castidade... Ela lembrou do que ele disse naquele dia no rio. Parecia que havia sido há muito tempo. Yulla enxugou os olhos lacrimejantes com as costas das mãos. Já havia amanhecido há muito tempo, o sol já estava bem alto. Ela estava encostada em uma árvore antiga e forte, sua cabeça doía de tanto que pensara e chorara na noite passada.Ela perdera o que ela achara que ainda tinh
O corpo estava quentinho e agradável. As dores haviam sumido, tudo em seu ser parecia estar mais forte do que nunca. Ela respirou aquele ar agradável e correu pelo campo, seu coração mais acelerado do que nunca. O sol estava radiante no céu, borboletas azuis voavam na frente de Yulla e algumas se enroscavam em seus cabelos soltos, o vento batia em seu rosto e ela acreditava estar no paraíso. Estava distraída até ver um ser brilhante a sua frente.Tinha o formato de um corpo feminino, mas brilhava tanto como o sol, o que impedia Yulla de olhá-la por muito tempo. Quando falou sua voz era suave e tranquila:– Você precisa continuar, se deseja a salvação.Yulla cerrou os olhos: o qu
Não sabia dizer a quanto tempo estava naquele lugar fétido e imundo, só sabia que quando saísse de lá a garota e todos que a acompanhavam pagariam bem caro por aquilo, principalmente o rapaz de olhos azuis que jogou a maldita pedra mística em sua direção, aquela face ela jamais esqueceria pois fora motivo de sua desgraça, de sua estadia no inferno.Ela sabia também qual era o motivo dele na terra, o que a deixava ainda mais raivosa já que não conseguira fazer com que ele se afastasse de seu destino a quatro anos humanos atrás. Estava um pouco decepcionada consigo, teria que recompensar mais na frente.Ereshkigal foi empurrada por um dos monstros gosmentos e verdes que estavam por ali a deixando mais mal cheirosa ainda. Já est
Existem momentos na vida em que as pessoas querem sumir, dar um tempo de tudo e pensar melhor do que fazer daqui pra frente, mas no caso de Yulla ela queria ter continuado morta do que descoberto algumas coisas.Estava tudo surreal para ela agora, até mesmo Cam do seu lado. Era como se ele não estivesse ali, era como se ela não estivesse ali. Ela suspirou chamando a atenção de Cam que apertou sua mão quase dizendo: "Ei, estou aqui". Ela agradeceu mentalmente a ele por não ter feito perguntas, pois ela não sabia se seria capaz de responde-las como ele gostaria. E o beijo que eles tiveram... bem, o beijo tornara as coisas apenas piores. Era incrível como uma coisa que ela quisera tanto pudesse fazer com que ela sofresse mais ainda.Ela escutou