CAPÍTULO 26
Quase um mês se passou desde a sua saída de Silvestre. Aquele seu retorno não era para investigar e nem tirar fotos, muito menos inventar uma identidade falsa. Se tudo acontecesse tal qual o planejamento, os próximos dias seriam movimentados naquela região. Parou o carro a poucos metros da entrada do Povoado. Passou alguns minutos observando a bela paisagem. Acelerou novamente o veículo e pegou a estrada de Torrões. Pouco antes do meio dia, Galeano estava instalado na casa Paroquial.
— Qual será a reação da moça?
— Espero que no final ela entenda todo o processo.
— Seria muito bom para Marcos. Ele ficaria feliz.
— Só nos cabe esperar, padre.
— É verdade meu filho. Logo saberemos como as coisas aconteceram — deu uma pausa como se estivesse escolhendo as palavras seguintes. — Este advogado é mesmo de confiança? — quis saber padre Lucas.
— Um rapaz sério. Bem casado, bom esposo e pai de
CAPÍTULO 27 Dois dias de liberdade. Apenas quarenta e oito horas para sua vida mudar novamente. O que fazer por Severino? Pobre coitado! No final de tudo ele seria o grande condenado. Seria obrigado a viver rodeado por estranhos. Quando os policiais chegassem para buscá-la pediria que intercedessem pelo sogro. Planejara arrumar tudo na tarde daquele dia. Levaria pouca coisa para a prisão, pois sabia que lá não poderia usar as suas roupas de casa. Cobriria o corpo com a farda penitenciária. Melissa não chorou como nas outras vezes. Prometera a si que não choraria mais. Precisava acelerar o ritmo se quisesse cumprir o que planejara para aquele dia. Melissa ouviu uma voz lhe chamando. Ela ficou em silêncio na tentativa de ouvir novamente seu nome ser pronunciado. Após ter certeza que havia um visitante na porteira, se encaminhou à entrada da fazenda. Tamanha foi a surpresa, que a fez recuar alguns passos. Pensou em dar-lhe as costas, mas preferiu
CAPÍTULO 28 Galeano acordou assustado. Pensou que havia perdido a hora. Era madrugada. O frio penetrava nas extremidades do lençol. Dormira mal. Sentia-se cansado. Estava com pressentimento que o dia seria movimentado e distante do planejado. Suspeita confirmada quando chegou a hora da partida e Melissa lhe disse que não iria mais. — Não posso ir. — Por quê? — Mesmo que eu me esforce não consigo acreditar mais em você. Desculpe-me. — Tudo bem — falou Galeano pegando a mochila e saindo na moto em alta velocidade. Deixando para traz a mulher que conseguiu curar suas feridas do passado. Passou os últimos três dias em companhia daquela que o fazia feliz. Não ousou beija-la, temia ser recusado, fato consumado na primeira noite. Tinha esperanças que aos poucos ela cedesse. Esperança aniquilada naquela manhã. Sabia que havia machucado aquela mulher além do limite. Pelo retrovisor via a cortina de poeira ofuscando
CAPÍTULO 29Estava feliz. Aquela semana havia mudado totalmente a sua realidade. Ganhou uma nova chance de provar a inocência e reencontrara seu irmão. Não conseguia esconder a felicidade, estava estampada em sua fisionomia. Melissa acordou cedo, trabalhava a todo vapor para deixar a mesa pronta quando os outros acordassem. A chuva não desistia, o dia amanhecera sem sol. O frio beirava o insuportável. Padre Lucas planejava ir embora à tarde, não podia se ausentar da paróquia por muito tempo. Marcos e Jussara planejavam ficar por uma semana, o que alegrou Melissa. Ainda não tinha agradecido Galeano. Reconhecia que foi severa demais com ele.***Todos os assentos da mesa estavam ocupados. Os barulhos de vozes humanas davam vida ao ambiente. Severino foi contagiado pela recente alegria e recebera a lucidez de presente. Todos falavam ao mesmo tempo, exceç&atild
CAPÍTULO 30 Sentia-se vazia pela ausência de Severino. Apenas o gado preenchia a lacuna deixada pelos humanos. Ainda tinha algumas horas de escuridão. Preferiu fazer café do que voltar a deitar. De xícara na mão contemplou o raiar do sol, anunciando a chegada de mais um dia e com ele os medos dos fantasmas do passado. A partir daquela data estaria vulnerável, quando a notícia da partida de Severino se espalhasse seria uma presa fácil para os predadores masculinos da região. Melissa se arrependia por não ter pedido para Galeano ficar. Era orgulhosa demais. Amava-o, disto tinha certeza, mas não alimentava ilusões de um dia tê-lo definitivamente em sua vida. Numa tentativa desesperada de afugentar a solidão ligou o rádio, deparando-se com o noticiário do Jornal da Manhã de uma rádio de Torrões: — Após denúncia feita pela revista É Notícia, a polícia em posse de um mandado de busca e apreensão encontrou diversas irregularidades na faze
CAPÍTULO 31 Se suas suspeitas fossem confirmadas, naquela noite o adversário daria um passo em falso. Hospedara-se no mesmo quarto. Foi um pedido aceito por dona Carminha. Necessitava jogar habilmente e daquela vez seria com as suas cartas. Ditaria o ritmo da partida e o valor da aposta. Galeano chegara naquela manhã ao povoado. Ao passar na rua os olhares se voltavam para ele como se fosse um astro de cinema, esportista ou personalidade política. Fez questão de chegar à plena luz do dia. Tal manobra facilitaria para que a informação chegasse ao destinatário. Suspeitas confirmadas quando voltou para o quarto depois do jantar e de muito conversar com dona Carminha, ação não praticada da vez anterior que se hospedara ali. Sentara-se num ângulo perfeito para saber quem entrava e quem poderia sair, tanto da Pousada como da cozinha. Calculou cada ação desejada. Se estivesse correto nas deduções, sua cama estaria ocupada por uma velha conhecida. Ao
CAPÍTULO 32 Precisava agir rápido. Sabia que o cerco se fechava. Era uma questão de tempo para descobrirem tudo. Verônica sabia que fugir não adiantava. Precisava ainda cumprir a intimação, na manhã seguinte seria ouvida pela polícia. Quando o dia amanhecesse mandaria o filho para a casa da mãe, na cidade de Santo Antonio. Olhou para Vicente que roncava no sofá da sala. Ali estava a sua salvação. Na hora certa contaria a sua versão dos fatos. A ideia havia sido sua, mas foi ele quem executou. Foi a face de Vicente que todos viram nas esferas burocráticas dos Cartórios de Registro Civil e de Notas & Averbações. Era ele quem estava na filmagem fazendo a transferência bancária para a sua conta. Planejara tudo nos mínimos detalhes. Se jogasse a carta certa no momento propício, ganharia não só a batalha, mas também a guerra. Teria que continuar convencendo Vicente a permanecer no povoado. Outro fator importante era jogar no mesmo ritmo de Márci
CAPÍTULO 33 A vida muitas vezes sucumbe nas parafernálias do egoísmo humano. Quase sempre se prefere sofrer que aderir ao outro. É mais fácil desistir do que recomeçar uma história. Deixam-se coordenar pelas feridas do passado, sem saber que a cura pode estar no presente. Neste dilema estava Melissa no olho do furacão sentimental em plena erupção. Os dias se tornavam negros. As manhãs cinzentas e a solidão sua conselheira diária. Muitas vezes se pegava desejando o retorno de Galeano. Desejo amputado pelo orgulho. Dizia a si mesma que era melhor viver sozinha, do que submissa novamente aos caprichos masculinos. Seguia à risca a rotina que planejara logo após a viagem de Severino. Deixaria o tempo seguir o próprio curso, não planejava nada modificar, estava disposta a aceitar os prováveis obstáculos. Redobrara a vigilância contra as investidas de Carlos. Apesar de há muito ele não aparecer, mesmo assim não baixava guarda. Diariamente, quando o m
CAPÍTULO 34 Tentava juntar todas as informações do quebra-cabeça. Analisava mentalmente cada palavra dita por Márcia na noite anterior. Depois que ela saiu da casa de Verônica, eles foram direto para a pousada. Daquela vez não aconteceu como das vezes anteriores. Ela soluçava como uma criança assustada. — Verônica não é filha de Vicente, eles são amantes. A certidão de nascimento é falsa, assim como os demais documentos das propriedades e procurações — disse-lhe Márcia. — Como você sabe dessas coisas? — Eu conheço Verônica desde o primário. Estudamos na mesma sala e lembro perfeitamente quando o pai dela morreu. Até faltou aula neste dia para ir ao velório do pai em Santo Antonio. — Ela nasceu em Santo Antonio? — Sim, mas ainda era pequena quando veio morar aqui no povoado. — E com quem ela morava aqui em Silvestre? — Com a avó materna — Márcia tossiu várias vezes repetidamente antes de p