Escolhemos um berço lindo que servirá até como uma mini cama conforme ele ou ela for crescendo. Meu pai queria comprar outras coisas, mas achei melhor apenas o berço. Já desocupei uma cômoda onde estamos colocando as roupinhas que Rosália faz questão de cuidar. Syrah comprou roupa de cama para o berço, e papai já foi montando assim que o berço chegou. A vovó do meu brotinho me ajudou a montar as coisinhas no berço. Agora sim, parece que minha ficha está caindo. Escolhi um papel de parede unissex, que lembra uma revoada de pássaros no céu clarinho. As almofadas do berço são em tons pasteis, entre o azul, amarelo e verde. A luminária é em formato de um tronco de árvore. Meu pai colocou o mobile no centro do berço. Ele mandou fazer, são vários cachinhos de uva entre bichinhos da floresta, uma graça!Meu pai me disse que era importante para o herdeiro já se acostumar com a paixão da nossa família. Isso me emocionou, pois vi meu pai e a avó do meu brotinho emocionados. Sei que a
A atmosfera do hospital era sempre densa, impregnada com o aroma de antissépticos e a palpável tensão que envolve as enfermarias. No entanto, naquele dia, eu sentia um misto de esperança e nervosismo ao adentrar aquele ambiente. O propósito da minha visita era tão gigante que parecia preencher cada canto do espaço com uma expectativa silenciosa.Respirei fundo e avancei pelos corredores familiares, guiada pela memória e pelo coração. Cheguei ao quarto de Ícaro e parei por um momento para reunir coragem. Minha mão tremia ao tocar a maçaneta, e, antes que pudesse pensar duas vezes, empurrei a porta.Ao vê-lo, uma onda de alívio e alegria me invadiu. Seus olhos, apesar do cansaço, brilhavam com a luz da recuperação. “Marcela, que saudade, maninha!” Sua voz era fraca, mas o calor humano era inegável.Sem hesitar, aproximei-me para abraçá-lo, sentindo o conforto do seu corpo familiar. No entanto, ao sentir a diferença em minha forma, seus olhos se arregalaram em confusão.“Mas esper
E nos abraçamos rindo da brincadeira que ele fez.Nem havia percebido que Urias havia chegado com eles. Por essa eu não esperava.“Olá Urias”, falo educadamente.Ele apenas acena com a cabeça, mantendo seu olhar em minha barriga. Todos notam seu interesse e meu pai sai falando para quebrar o clima. “Meus amores vou subir e tomar um banho. Ícaro seu quarto está do mesmo jeitinho que você deixou filho. Fique à vontade. Urias, se precisar usar o quarto de hóspedes, já sabe. Voltou em poucos minutos”E dizendo isso meu pai sobe as escadas para os quartos.“Vem Ícaro, vou te ajudar com essas malas”, diz Syrah caminhando para o quarto do meu irmão. E eu volto para a cozinha, deixando Urias sozinho na sala. O que? Achou que eu fosse fazer sala para ele? Mas não mesmo, prefiro encarar a bacia de cebola que me aguarda, do que ficar ali, feito um enfeite na sala, pois Urias é incapaz de ser sociável. Nosso jantar foi perfeito! Ícaro amou poder comer um pouco de tudo que ama comer. Ros
Sinto algo acariciar suavemente meu rosto, um toque leve, mas inconfundível. Reconheço o aroma que me envolve e sei que é Urias. Mantenho meus olhos fechados, fingindo estar adormecida, enquanto percebo sua presença e o calor de seu olhar sobre mim. A sensação é reconfortante e, ao mesmo tempo, faz com que eu involuntariamente aperte minhas pernas contra mim. Urias tem um poder sobre mim que não sei explicar, parece que meu corpo se rende a sua presença numa facilidade, nunca vivi isso com outra pessoa. Sinto sua mão deslizar pelo ar acima de mim, uma carícia quase mágica que não chega a me tocar fisicamente, mas de alguma forma, sinto seu calor. A mão dele desliza até pousar suavemente sobre minha barriga, que se inclina levemente para o lado."Era para você ser meu. Era para sermos uma família!", sussurra Urias para minha barriga. "Mas eu não sirvo para ser parte de uma família, pois fui quebrado em muitos pedaços há muito tempo", diz em meio a tristeza. Urias parece mais tr
É um macacão amarelinho com detalhes verdes clarinhos. Tem na frente um ursinho filhotinho rodeado por cachinhos de uva, como se estivesse cantando de alegria."É essa, Marcela, essa será a saída que você colocará no seu brotinho quando sair do hospital com ele", disse ela eufórica. Fico emocionada, pois mais perfeita não poderia ser. A saída vem com uma mantinha cheia de cachinhos de uva pequenininhos. "Esses hormônios me tornaram uma chorona!", acabo dizendo para minha amiga, que, quando olho para ela, também está chorando. “Esses hormônios de grávida acabam alcançando todo mundo”E nos abraçamos emocionadas e felizes. Os dias seguintes… As semanas estão passando depressa demais. Minha barriga não para de crescer e meu brotinho vive pulando feliz dentro dela. Meu pai, meu irmão e a Syrah ficaram eufóricos quando mostrei o que nosso brotinho estava fazendo dentro da minha barriga. Claro que não contei para ninguém que Urias foi o primeiro a ver e sentir nosso filho mexendo.
Ficamos em nosso próprio silêncio por um tempo, até que ouço: "A vida é engraçada... quando menos esperamos, nos surpreendemos!"Mantenho minha boca fechada e deixo ele seguir falando, mas percebo que ele bebeu mais do que está acostumado, sua voz está estranha, mole e lenta. "Eu poderia… Eu… ou melhor, eu deveria ser o pai dessa criança! Mas o destino me deu um rodo mais uma vez e fiquei… fiquei para trás, de novo!"Fico espantada, não esperava ter essa conversa com ele. "Não precisa me olhar assim, donzela. Era… era… Era para ser eu, você e essa… essa criança linda!... mas como sempre, estraguei… estraguei tudo de novo!”, e dizendo isso balança a cabeça se repreendendo. Meu Deus, me ajude, o que vou falar para ele?!?Urias está mais bêbado do que eu esperava. "Shiii, não precisa se preocupar, donzela! Sei que... sei que sou um merda mesmo...""Não fale assim de você, Urias!", o repreendo. "Falo... falo sim, fui perder... fui perder você para aquele... aquele frango!""Urias!
Por Urias Eu não esperava encontrar a Marcela na porta do nosso prédio ao sair da empresa. Desde a festa em minha casa, não nos vimos mais, e isso já faz alguns dias. Acho que naquele dia em casa, falei até um pouco mais do que devia. Acabei exagerando com as taças de vinho, e minha língua criou vida própria. Mas vê-la assim mexe comigo mais do que qualquer coisa. Quando a vejo ao lado do Alexandre, o frango, fico ainda mais furioso! No entanto, é uma grata surpresa vê-la aqui hoje, e demonstro isso sorrindo quando nossos olhares se encontram. Ela sorri de volta. Seu sorriso aquece meu coração de uma maneira única.Mas de repente, ouço um estrondo e vejo o carro dela ser arrastado por uma carreta desgovernada. A carreta saiu empurrando o carro onde Marcela está com toda força, levando junto tudo o que encontra pelo caminho, numa força violenta! Meu Deus! Isso não pode ser real! Tudo acontece tão rápido que mal consigo me mover. O carro em que Marcela está começa a rodar
Os médicos são rápidos no resgate, mas para mim estão demorando uma eternidade. Os segundos parecem horas. Hugo segue desfalecido em suas pernas, tentando acompanhar o que estão fazendo com sua filha. Estou tomado pelo medo. “A vítima está com a saturação baixa, vamos, vamos, não podemos perder tempo!”, ouço um dos socorristas dizer. Meu Deus, ajude! Cuide da Marcela! Percebo alguém se aproximando correndo. “Marcela!!!”, grita e sei que é Alexandre desesperado, alguns policiais o seguram. “Me deixem passar, eu conheço a moça, me deixem passar!!!”, grita ele desesperado. Tanto Hugo quanto eu olhamos para ele, e os policiais que criaram um cordão de isolamento na área do acidente, nos observam. Balanço a cabeça, afirmando que ele é conhecido, e eles o deixam passar. “Meu Deus!!! meu Deus… Marcela, meu Deus amado!”, se desespera Alexandre. Hugo está ajoelhado, observando toda a movimentação, eu estou sentado na guia, tão inerte quanto Hugo. Alexandre se abaixa e acaba senta