Os médicos são rápidos no resgate, mas para mim estão demorando uma eternidade. Os segundos parecem horas. Hugo segue desfalecido em suas pernas, tentando acompanhar o que estão fazendo com sua filha. Estou tomado pelo medo. “A vítima está com a saturação baixa, vamos, vamos, não podemos perder tempo!”, ouço um dos socorristas dizer. Meu Deus, ajude! Cuide da Marcela! Percebo alguém se aproximando correndo. “Marcela!!!”, grita e sei que é Alexandre desesperado, alguns policiais o seguram. “Me deixem passar, eu conheço a moça, me deixem passar!!!”, grita ele desesperado. Tanto Hugo quanto eu olhamos para ele, e os policiais que criaram um cordão de isolamento na área do acidente, nos observam. Balanço a cabeça, afirmando que ele é conhecido, e eles o deixam passar. “Meu Deus!!! meu Deus… Marcela, meu Deus amado!”, se desespera Alexandre. Hugo está ajoelhado, observando toda a movimentação, eu estou sentado na guia, tão inerte quanto Hugo. Alexandre se abaixa e acaba senta
Todos olhamos para ela. “Marcela ficará bem e o bebê também, estão me ouvindo, vai ficar tudo bem, porque Deus está cuidando de tudo lá dentro, ouviram, Deus está cuidando de tudo!” Hugo acena concordando, Alexandre também e eu, eu respiro fundo, tornando em mim as palavras que minha mãe falou em minha própria verdade. Já se passaram algumas horas e ainda não temos notícias. Percebo uma movimentação vinda do corredor e vejo meu irmão caminhando apressadamente de mãos dadas com a Erika."O que você está fazendo aqui?", questiona minha mãe assim que os viu, avançando rapidamente em direção a eles."É minha irmã, como ela está?", pergunta Ícaro desesperado, ignorando a bronca da nossa mãe."Ícaro, você não devia estar aqui, filho!", insiste Syrah."Como não, mamãe? É minha irmã e nosso amigo Antúrio que estão aqui!", responde ele nervoso."Alguma notícia?", pergunta Ícaro mais uma vez. Vejo que Erika está se desfazendo em lágrimas."Ainda nada, filho!", diz Hugo, levantando-se, enqu
“Obrigado Deus!” e senti meu coração pela primeira vez nessas horas, sentir paz e conforto.Diante do desconhecido que se estende diante de mim, sinto-me perdido e incapaz de vislumbrar o que o futuro me reserva. Minha alma estava mergulhada na mais intensa dor que já experimentei em anos, e a incerteza do que virá a seguir me assombra.Amar Marcela é uma parte essencial de quem sou, mas agora confronto com a realidade de que o bebê que ela acabará de ter, pertence a outra pessoa. Esta situação desafia todos os meus conceitos e expectativas, deixando-me completamente sem rumo.Apesar de tudo, encontro um raio de esperança em meio à escuridão: a gratidão por Deus ter preservado a vida de Marcela e seu bebê. Este é um lembrete poderoso de que, mesmo nos momentos mais sombrios, há uma luz que nos guia e nos sustenta.Acabei deixando a sala para ir ao banheiro, e quando estou voltando, me encontro com o médico responsável pela Marcela.Seu semblante sério e o tom grave de sua voz indic
Ao deixar a UTI, percebi que algo mudou dentro de mim. Não sei explicar exatamente o que é, mas sinto como se tivesse encontrado um propósito maior na vida. Esse momento com o botãozinho foi como um despertar para uma nova realidade, uma que eu nunca imaginei viver.Enquanto segurava aquela pequena vida em meus braços, senti algo dentro de mim se transformar, como se uma chama adormecida tivesse sido reacendida.Não estava preparado para esse turbilhão de emoções, mas agora percebo que cada passo do caminho, cada desafio e obstáculo que enfrentei, levou-me a este momento. Parece que Deus, em sua infinita sabedoria, já havia planejado esse encontro muito antes de eu sequer imaginar.Segurar a princesinha pela primeira vez foi mais do que um simples encontro; foi uma revelação, uma confirmação de que a vida é cheia de surpresas e milagres. Eu estava ali, testemunhando o milagre da vida em sua forma mais pura, e isso mudou algo fundamental dentro de mim.Agora, olhando para trás, vej
“Se eu não fosse um covarde de merda, poderia ter tido a chance de viver algo incrível com você. Mas fui um baita babaca, isso sim! Deixei meu maldito passado levar vantagem sobre mim e sufoquei meu coração. Mas a verdade é que eu sou completamente apaixonado por você! Quando te vi pela primeira vez, seu sorriso alcançou algo em mim e como fui besta! Ao invés de aproveitar a chance que possivelmente Deus estava me dando, eu joguei fora! Fui um ser desprezível! Tratei você como não merecia. Falei tanta coisa desagradável para você… Me desculpa! Sei que não mereço perdão pela forma que te tratei tantas vezes. Mas se você conseguir achar espaço para me deixar ao menos de vez em quando ver sua filha e estar perto de vocês, serei o homem mais feliz do mundo”, confesso, sentindo um sorriso bobo surgir em mim. “Marcela, a pequena é linda demais! Perfeita! Está bem, dentro do possível. A doutora acha que não precisará de muitos cuidados. Olha, não fique brava, mas a enfermeira me deixou pegá
Passo a mão e não sinto nada!Passo a mão de novo e nada!Meu Deus não! Meu pai do céu, isso não, isso não meu Deus. Não pode ser! Deus…E a moça percebe que estou tendo outra crise de pânico.“Marcela olhe para mim, está tudo bem. Tenta se controlar, porque se não conseguir terei que seda-la. Olha para mim, respira assim. Vamos lá…” E ela sai me ajudando com a respiração.Respirando comigo várias e várias vezes. Aquilo vai me ajudando a controlar, ao menos, a respiração. Meus Deus, onde está meu brotinho?!?É a única coisa que consigo pensar."Onde… onde… meu…” Tento falar mas minha voz está embargada.Respiro fundo, preciso saber onde ele está.A enfermeira percebe minha aflição e tenta me acalmar, orientando-me a respirar profundamente. Mas a incerteza e a angústia são avassaladoras. Onde está meu brotinho?As lágrimas começam a cair com o medo que me percorre."O brotinho... Como está meu brotinho?", finalmente consegui articular, minha voz fraca e trêmula.A enfermeira R
Estranho, nenhum deles mencionou Urias, mas eu sabia que ele devia estar por perto. Sentia sua presença, como se estivesse comigo o tempo todo. Não consigo explicar, mas tenho certeza de que ele não me deixou sozinha nem por um minuto sequer.Isso me fez abrir a gaveta onde havia trancado minhas lembranças do Urias, prometendo a mim mesma que não permitiria que ele voltasse à minha vida. Mas agora, diante da sua presença persistente, tudo isso parece desmoronar. Não sei explicar, mas senti seu desespero, sua urgência em me ajudar, me socorrer, me tirar de dentro do carro. Tudo havia acontecido tão rápido, e minha percepção estava totalmente voltada para ele.Lembro de ouvir sua voz falando sobre minha filha, elogiando sua beleza, até mesmo dizendo que teve a alegria de pegar ela no colo. Mas será que tudo isso foi uma alucinação? Um sonho talvez? Ou um delírio? Já ouvi casos que a pessoa fantasia quando está em um momento trágico como esse que estou passando. Por mais real
Rose me ajuda a sentar, e então ela coloca minha pequena no meu colo.Meu Deus, como ela é linda!Eu já sabia, porque todos falaram isso para mim. Mas ela é ainda mais do que eu imaginava. Cheguei a ver algumas fotos que meu pai e meu irmão tiraram dela, mas estar aqui agora, segurando-a nos meus braços, é mil vezes melhor.Urias está nos olhando, tranquilo como nunca o vi antes. Ele senta ao nosso lado, e ficamos os três em um silêncio reconfortante. Enfermeira Rose sai do quarto, e eu me vejo incapaz de dizer qualquer coisa.Nem em meus melhores sonhos, eu esperava estar aqui, com minha filha e seu pai, mesmo ele não sabendo que é o pai dela. A delicadeza com a qual ele está lidando com tudo isso é incrível. Vejo como ele está emocionado e feliz, assim como eu.Ficamos ali, os três, observando os detalhes da nossa pequena.E então, sei exatamente como chamá-la.“Meu amor, você é tão perfeita. Tão incrível! Tão especial… Seu nome sempre nos fará lembrar da sua preciosidade… Voc