Caramba, por poucos centímetros ela não acertou meu amigo. Faltou muito pouco mesmo! Mas isso não vai ficar assim. Me recomponho da forma que dá e saio atrás dela. Vejo que está na calçada, esperando que lhe tragam seu carro. Me apresso para alcançá-la. Seu carro chega. E quando ela vai abrir a porta, a viro, colocando-a contra o carro, e chego bem perto do seu rosto."Só vou deixar essa passar batida porque, infelizmente, você é irmã do meu irmão. Mas tenha certeza que não haverá próxima!!!"Ela me encara com raiva nos olhos, enquanto solta:"É só você ficar longe de mim e tudo ficará bem!"A encaro, pois minha paciência está prestes a ir ralo abaixo. "Então, é só você não se abrir tanto para mim!"Quando me dou conta, seus cinco dedos estão se espalhando pelo meu rosto com muita força. Sinto meus olhos fecharem com o impacto e ganho um pouco de distância entre nós. E antes dela entrar em seu carro, me diz: "O último biscoito do pacote é aquele mais esfarelado, mais quebra
"Papai, vocês fizeram isso???" perguntou Marcela, visivelmente surpresa."Foi uma possibilidade que surgiu, filha. Se pudéssemos ter mais um filho para salvar Ícaro, faríamos com alegria", respondeu seu pai."Mas papai, seria mais um filho!", exclamou Marcela, demonstrando sua preocupação."Sim Marcela, mas seria um filho gerado em meio ao amor de uma família. Não seria apenas mais um membro, mas sim aquele que poderia salvar a vida do seu irmão", explicou seu pai."Mas infelizmente, Marcela, eu e Hugo não podemos. Eu não tenho mais nenhum dos ovários devido a um problema que tive anos atrás", acrescentou minha mãe."Se vocês não podem ter filhos, qual seria a alternativa?", perguntou sua filha."Infelizmente, Marcela, só podemos contar com a sorte de encontrar um doador compatível", respondeu o médico, trazendo uma dose de realidade à conversa.Que situação desesperadora!Essa espera angustiante, essa incerteza que nos consome até os ossos. A ideia de depender da sorte para encontrar
Ser responsável por uma vida, por ser um ser humano que depende de mim para tudo... é assustador!Além disso, não tenho certeza se Marcela compreende a complexidade e as consequências de ter um filho juntos. Não se trata apenas de fornecer material genético; é preciso estar emocionalmente preparado, disposto a assumir responsabilidades, a cuidar, educar e amar uma criança. E será que estamos prontos para isso?Eu falo por mim, não estou pronto! E nunca estarei! Mas, ao mesmo tempo, vejo o sofrimento do meu irmão, Ícaro, e o desespero da nossa família. A esperança de que um transplante possa salvar sua vida parece cada vez mais distante. Se existe uma chance de ajudá-lo, de dar-lhe uma segunda chance, será que posso ignorá-la?Não tenho respostas para essas perguntas. Estou perdido em meio a um turbilhão de emoções, medos e dúvidas. Preciso encontrar uma maneira de lidar com essa situação, de tomar uma decisão que seja a melhor para todos, principalmente para Ícaro. Mas, por e
Vejo quando ela respira fundo, provavelmente segurando a língua para não falar demais."Bom, não há um jeito fácil de falar sobre isso, então vamos lá..."Não mexo um músculo do meu rosto e sigo como estou, sentado em minha cadeira, observando-a em minha sala."Fiz todos os exames que o médico havia indicado e hoje fui para a consulta com o ginecologista. Estávamos já com todo o planejamento pronto, mas infelizmente as coisas não puderam seguir como o planejado"Sério isso? Sério… que estou ouvindo isso?!? ELA fez os exames, ELA falou com os médicos e ELA, juntamente com eles, mudaram o planejamento. E agora, muito provavelmente, vem atrás de mim para me envolver sei lá com o que, porque algo deu errado. Isso me enerva, pois mais uma vez ela deixa claríssimo que não sou nada nesse processo."Então, a sua ideia de gerar uma criança foi uma bela furada! Você saiu querendo ser a salvadora da história e agora muito provavelmente está querendo minha ajuda para limpar a sua merda"Ela
Depois daquela surpreendente visita da Marcela, nossos caminhos não se cruzaram novamente. A situação do meu irmão exigiu que ele retornasse ao hospital, o que convenientemente facilitou manter a distância entre eu e sua irmã. Felizmente, Marcela pareceu ter aceitado meu pedido para seguir adiante com sua vida e me deixar em paz.Eva acabou se revelando uma excelente companhia, e Augusto apreciou a ideia de não ter apenas cuecas em nossos encontros. Com isso, meus dias têm transcorrido sem grandes acontecimentos, o que, no contexto atual, é uma bênção. Afinal, a ausência de novidades muitas vezes significa que não há más notícias em relação ao estado de saúde de meu irmão.Estou descendo de elevador com Eva, temos um almoço de negócios agora. Uma rede de restaurante quer fazer uma parceria conosco e achei interessante a proposta, chamei Eva para me acompanhar, não queria ir sozinho. Quando estamos saindo, olho para a recepção do prédio no exato momento em que vejo Marcela olhando
Como um falcão que observa sua presa, passei a noite de olho em Marcela e seus amigos. Não conseguia mais desviar meu olhar de seus passos. Augusto até tentou argumentar comigo, mas percebeu que era perda de tempo. Vi quando ela se dirigiu ao banheiro e me apressei em segui-la. Não sabia exatamente o que iria fazer, mas não suportava mais vê-la tão íntima daquele seu “amigo”.Me escondi atrás de um pilar, observando atentamente para não perdê-la de vista. Quando ela veio distraída na minha direção, estendi minha mão e a puxei em minha direção."Ei, o que é isso!", ela gritou, protestando contra o puxão.Percebi que ela não esperava ser puxada daquela maneira e, ao me ver ali, ficou claro que não esperava por aquilo também."Ah, não, só pode ser brincadeira isso!", fala irritada. Continuei olhando para ela enquanto a segurava pelo braço."Quer que me soltar?"Mantive meu olhar fixo nela, e ela claramente ficou perdida sobre o que fazer. Meu coração estava acelerado, minha vontad
Passamos a manhã inteira conversando e já começamos a traçar planos. Minha ideia de produzir um tipo de vinho está se tornando uma realidade tangível, e não há como negar: o amigo da Marcela é extremamente competente e possui um profundo conhecimento sobre vinhedos em regiões de clima frio.Devo confessar, que o frango é bom e tem muito a agregar em nossa empresa. Nunca misturei assuntos e não será agora. Ele é inteligente e sabe que aqui não é lugar para falarmos sobre nada que não seja trabalho.Passei a noite passada conversando com meu irmão por videochamada. Ele ainda está internado, mas as coisas deram uma melhorada. Falei para ele sobre a chegada do amigo do Hugo em nossa empresa, e com isso, Ícaro começou a me mostrar algumas pesquisas que fez. Passamos um bom tempo discutindo as possibilidades que enxergávamos com nosso novo projeto. Essa conversa proporcionou um momento de conexão além da doença para meu irmão, e prometi enviar alguns arquivos para ele dar uma olhada
Um silêncio constrangedor se estabelece, mas Alexandre parece não estar interessado em discussões ou confusões e logo sai falando: "Ah, cara, o Hugo falou tanto sobre essa marca durante a semana que resolvi conhecer. Até a Marcela se animou em vir", ele comenta, mencionando o nome de Marcela.Ignoro sua menção, afinal, ela não significa nada para mim."Hugo sabe das coisas, não é à toa que é quem é", comentei, tentando mudar de assunto."O mestre é o mestre!", completamos em uníssono, e caímos na risada. Porém, decido cutucar a donzela:"Pena que seu legado terminará com ele... pois nem todos conseguem seguir seus passos!", provoco, lançando um olhar significativo para cima da Marcela.Percebo que ela se prepara para me responder, mas Alexandre é mais rápido:"Preciso discordar de você, pois o legado do mestre já está sendo perpetuado, ainda bem!", ele responde, mencionando algo que não entendo completamente.Perpetuado?!?O que isso quer dizer?E quando penso em perguntar, a voz da