Como combinado, os médicos deram alta para meu irmão e este foi direto para a casa da Marcela. Ele queria que eu fosse junto, mas achei melhor ele ir com nossa mãe. Fiquei de falar com ele depois que estivesse instalado. Já tarde da noite, meu telefone toca, é uma chamada de vídeo do Ícaro. "E aí?", saio falando. "Você já sabia, não sabia?", Ícaro já vai falando. "Sabia do quê?", pergunto. "Ah, para seu merda, você sabia que o Hugo era meu pai", dispara meu irmão já irritado."Ei, calma, é tão ruim assim?" Me ajeito na cama enquanto vejo Ícaro coçar a cabeça. "Não é que é ruim, mas caramba, na minha idade, saber que meu pai não era meu pai, é complicado""Não é que seu pai não era seu pai, ele é seu pai! E isso não vai mudar... mas agora você tem mais um pai, cara""Eu sei, eu vejo assim, mas é estranho!" "Coisas que os adultos fazem e que mesmo nos tornando adultos, ainda não entendemos" "É bem isso!" "E como foi com o Hugo?", pergunto. "Hugo é o Hugo, com um coração maior
Assim que nossa maratona de filmes acaba, ajudo Marcela a recolher nossa bagunça. Hugo nos deseja boa noite e me pergunta se eu não quero ficar."Ah, Hugo, a casa já está cheia, meu irmão já está ocupando muito do espaço de vocês.""Para com isso, cara, aqui somos família! Você sempre será muito bem-vindo em nossa casa! Decidi, Marcela, filha, arrume o quarto de hóspedes, por favor. Amanhã é sábado mesmo, vou fazer um churrasco para nós, aproveitando que Ícaro está bem melhor. Vamos aproveitar o dia quente que teremos"E dizendo isso, Hugo segue para seu quarto.Me parece que Marcela não se importa que seu pai decida as coisas em casa, o que acho interessante, pois, por mais que a casa seja dela, ela nunca se opõe ao Hugo.Levamos toda a bagunça para a cozinha, e acabo ajudando ela com tudo, pois é o mínimo que posso fazer.Seguimos fazendo as coisas, cada um em seu próprio silêncio.Depois, Marcela me pede tranquilamente para subir com ela até o quarto que estarei ocupando. Ela deixa
Trocamos carícias ardentes, explorando os limites do prazer e da entrega mútua. Cada toque, cada movimento, nos levando mais fundo nesse abismo de desejo insaciável. E então, quando atingimos o clímax do êxtase, desabamos na cama, extasiados e exaustos, nossos corpos ainda tremendo com a intensidade do que acabamos de compartilhar. No entanto, no silêncio que se segue, a realidade cruel se impõe sobre nós, como uma sombra escura pairando sobre nossa felicidade momentânea. A consciência do que acabamos de fazer me atinge com força, trazendo à tona todas as dúvidas e temores que tenho lutado para ignorar. Não posso me permitir cair nesse abismo novamente, não posso me entregar a um relacionamento que sei que está fadado ao fracasso. Marcela merece mais do que eu posso oferecer, mais do que essa vida de segredos e arrependimentos. Com um peso no coração, me visto, ignorando os olhos dela em mim. Não quero falar nada! Não tenho o que falar, essa é a verdade! Mas nosso silêncio s
Adentrei minha sala e indiquei uma cadeira para que ela se sentasse. Observando-a mais de perto, percebi sua expressão determinada, o olhar curioso e a postura confiante. Era evidente que ela estava ali com um propósito claro, e isso me intrigava."Então, sobre o que gostaria de saber mais?"A jovem jornalista não perdeu tempo e começou a fazer uma série de perguntas sobre a história da empresa, o processo de produção do vinho, as estratégias de marketing e distribuição, entre outros aspectos. Respondi a cada uma delas com sinceridade e detalhes, impressionado com o profissionalismo e o interesse genuíno dela.À medida que a entrevista avançava, pude perceber que havia mais do que apenas curiosidade jornalística naquela visita. Eva demonstrava um profundo apreço pela arte da vinicultura e um respeito genuíno pela tradição e pela qualidade dos produtos da nossa empresa.Enquanto conversávamos, o tempo parecia voar. Trocamos ideias, experiências e até mesmo algumas risadas. Sua ener
Caramba, por poucos centímetros ela não acertou meu amigo. Faltou muito pouco mesmo! Mas isso não vai ficar assim. Me recomponho da forma que dá e saio atrás dela. Vejo que está na calçada, esperando que lhe tragam seu carro. Me apresso para alcançá-la. Seu carro chega. E quando ela vai abrir a porta, a viro, colocando-a contra o carro, e chego bem perto do seu rosto."Só vou deixar essa passar batida porque, infelizmente, você é irmã do meu irmão. Mas tenha certeza que não haverá próxima!!!"Ela me encara com raiva nos olhos, enquanto solta:"É só você ficar longe de mim e tudo ficará bem!"A encaro, pois minha paciência está prestes a ir ralo abaixo. "Então, é só você não se abrir tanto para mim!"Quando me dou conta, seus cinco dedos estão se espalhando pelo meu rosto com muita força. Sinto meus olhos fecharem com o impacto e ganho um pouco de distância entre nós. E antes dela entrar em seu carro, me diz: "O último biscoito do pacote é aquele mais esfarelado, mais quebra
"Papai, vocês fizeram isso???" perguntou Marcela, visivelmente surpresa."Foi uma possibilidade que surgiu, filha. Se pudéssemos ter mais um filho para salvar Ícaro, faríamos com alegria", respondeu seu pai."Mas papai, seria mais um filho!", exclamou Marcela, demonstrando sua preocupação."Sim Marcela, mas seria um filho gerado em meio ao amor de uma família. Não seria apenas mais um membro, mas sim aquele que poderia salvar a vida do seu irmão", explicou seu pai."Mas infelizmente, Marcela, eu e Hugo não podemos. Eu não tenho mais nenhum dos ovários devido a um problema que tive anos atrás", acrescentou minha mãe."Se vocês não podem ter filhos, qual seria a alternativa?", perguntou sua filha."Infelizmente, Marcela, só podemos contar com a sorte de encontrar um doador compatível", respondeu o médico, trazendo uma dose de realidade à conversa.Que situação desesperadora!Essa espera angustiante, essa incerteza que nos consome até os ossos. A ideia de depender da sorte para encontrar
Ser responsável por uma vida, por ser um ser humano que depende de mim para tudo... é assustador!Além disso, não tenho certeza se Marcela compreende a complexidade e as consequências de ter um filho juntos. Não se trata apenas de fornecer material genético; é preciso estar emocionalmente preparado, disposto a assumir responsabilidades, a cuidar, educar e amar uma criança. E será que estamos prontos para isso?Eu falo por mim, não estou pronto! E nunca estarei! Mas, ao mesmo tempo, vejo o sofrimento do meu irmão, Ícaro, e o desespero da nossa família. A esperança de que um transplante possa salvar sua vida parece cada vez mais distante. Se existe uma chance de ajudá-lo, de dar-lhe uma segunda chance, será que posso ignorá-la?Não tenho respostas para essas perguntas. Estou perdido em meio a um turbilhão de emoções, medos e dúvidas. Preciso encontrar uma maneira de lidar com essa situação, de tomar uma decisão que seja a melhor para todos, principalmente para Ícaro. Mas, por e
Vejo quando ela respira fundo, provavelmente segurando a língua para não falar demais."Bom, não há um jeito fácil de falar sobre isso, então vamos lá..."Não mexo um músculo do meu rosto e sigo como estou, sentado em minha cadeira, observando-a em minha sala."Fiz todos os exames que o médico havia indicado e hoje fui para a consulta com o ginecologista. Estávamos já com todo o planejamento pronto, mas infelizmente as coisas não puderam seguir como o planejado"Sério isso? Sério… que estou ouvindo isso?!? ELA fez os exames, ELA falou com os médicos e ELA, juntamente com eles, mudaram o planejamento. E agora, muito provavelmente, vem atrás de mim para me envolver sei lá com o que, porque algo deu errado. Isso me enerva, pois mais uma vez ela deixa claríssimo que não sou nada nesse processo."Então, a sua ideia de gerar uma criança foi uma bela furada! Você saiu querendo ser a salvadora da história e agora muito provavelmente está querendo minha ajuda para limpar a sua merda"Ela