Passo a mão e não sinto nada!Passo a mão de novo e nada!Meu Deus não! Meu pai do céu, isso não, isso não meu Deus. Não pode ser! Deus…E a moça percebe que estou tendo outra crise de pânico.“Marcela olhe para mim, está tudo bem. Tenta se controlar, porque se não conseguir terei que seda-la. Olha para mim, respira assim. Vamos lá…” E ela sai me ajudando com a respiração.Respirando comigo várias e várias vezes. Aquilo vai me ajudando a controlar, ao menos, a respiração. Meus Deus, onde está meu brotinho?!?É a única coisa que consigo pensar."Onde… onde… meu…” Tento falar mas minha voz está embargada.Respiro fundo, preciso saber onde ele está.A enfermeira percebe minha aflição e tenta me acalmar, orientando-me a respirar profundamente. Mas a incerteza e a angústia são avassaladoras. Onde está meu brotinho?As lágrimas começam a cair com o medo que me percorre."O brotinho... Como está meu brotinho?", finalmente consegui articular, minha voz fraca e trêmula.A enfermeira R
Estranho, nenhum deles mencionou Urias, mas eu sabia que ele devia estar por perto. Sentia sua presença, como se estivesse comigo o tempo todo. Não consigo explicar, mas tenho certeza de que ele não me deixou sozinha nem por um minuto sequer.Isso me fez abrir a gaveta onde havia trancado minhas lembranças do Urias, prometendo a mim mesma que não permitiria que ele voltasse à minha vida. Mas agora, diante da sua presença persistente, tudo isso parece desmoronar. Não sei explicar, mas senti seu desespero, sua urgência em me ajudar, me socorrer, me tirar de dentro do carro. Tudo havia acontecido tão rápido, e minha percepção estava totalmente voltada para ele.Lembro de ouvir sua voz falando sobre minha filha, elogiando sua beleza, até mesmo dizendo que teve a alegria de pegar ela no colo. Mas será que tudo isso foi uma alucinação? Um sonho talvez? Ou um delírio? Já ouvi casos que a pessoa fantasia quando está em um momento trágico como esse que estou passando. Por mais real
Rose me ajuda a sentar, e então ela coloca minha pequena no meu colo.Meu Deus, como ela é linda!Eu já sabia, porque todos falaram isso para mim. Mas ela é ainda mais do que eu imaginava. Cheguei a ver algumas fotos que meu pai e meu irmão tiraram dela, mas estar aqui agora, segurando-a nos meus braços, é mil vezes melhor.Urias está nos olhando, tranquilo como nunca o vi antes. Ele senta ao nosso lado, e ficamos os três em um silêncio reconfortante. Enfermeira Rose sai do quarto, e eu me vejo incapaz de dizer qualquer coisa.Nem em meus melhores sonhos, eu esperava estar aqui, com minha filha e seu pai, mesmo ele não sabendo que é o pai dela. A delicadeza com a qual ele está lidando com tudo isso é incrível. Vejo como ele está emocionado e feliz, assim como eu.Ficamos ali, os três, observando os detalhes da nossa pequena.E então, sei exatamente como chamá-la.“Meu amor, você é tão perfeita. Tão incrível! Tão especial… Seu nome sempre nos fará lembrar da sua preciosidade… Voc
Enquanto eu pegava os pratos na cozinha, percebi Urias entrando na sala de jantar, acompanhado de perto por sua "amiga". Puxa, por essa eu não esperava!Desde aquele dia que me visitou no hospital não o vi mais.E ver ele acompanhado, mexe comigo. Meu coração afunda ao vê-los juntos, e a mistura de ciúmes e ressentimento borbulha dentro de mim. "O que ela está fazendo aqui?", sussurro para mim mesma, mal conseguindo conter a raiva em minha voz. Papai disse que seria um almoço só entre nós, e ele traz essa menina junto. Droga!Vi Urias se aproximando, possivelmente querendo me cumprimentar, mas eu mal conseguia forçar um sorriso, quem dirá dizer: Oi, como vai?, isso já era demais para mim. Meus olhos faiscavam de indignação, enquanto lutava para manter minhas emoções sob controle.Graças a Deus, nosso irmão apareceu e o arrastou para o quintal, onde papai cuidava da churrasqueira. Ufaaaa! Mas acho que esse será um dia daqueles!Enquanto o almoço prosseguia, a tensão entre mim
“Então, vai, fala… o que aconteceu lá atrás que você não consegue encarar seu hoje?”, desafiei, minhas próprias emoções à flor da pele enquanto observava Urias travar uma batalha interna diante de mim.Vejo Urias sentir cada golpe que minhas palavras dão nele. Seus olhos revelam uma mistura de dor, culpa e angústia enquanto ele luta para encontrar uma resposta que não parece vir.Ele passa suas mãos por seu cabelo, na busca de encontrar seu autocontrole, mas sua respiração pesada e o tremor em suas mãos denunciam a agonia que ele tenta esconder.“Ok, Urias! Abrace seu passado e fique com ele. Nunca conseguiremos ser nada, além de dois conhecidos”, despejei minhas palavras com uma mistura de amargura e tristeza, a dor queimando em meu peito.“Espere, Marcela, não é fácil para mim…”, ele tenta argumentar, mas minhas palavras cortantes o interromperam.“Chega, agora sou eu que te falo… vá viver sua vida e me esqueça! Por mais que tenhamos sentimentos um pelo outro, você prefere seguir ca
Bato suavemente na porta do quarto da Marcela.“Pode entrar”Abro a porta e ela está deitada em sua cama, quando se vira, seu rosto não parece muito feliz em me ver. “O que você quer agora, Urias?”Fecho a porta atrás de mim e adentro, mesmo sem sua permissão.“Urias, acho que nossa conversa há pouco já deixou tudo claro, não temos mais nada a falar”Ela tem uma poltrona em um canto. Vou até a poltrona e a trago para mais perto da cama, sem falar nada. “Urias, você está me ouvindo?”Olho para ela, parece cansada. Acho que não está sendo nada fácil essa sua nova jornada. Observo o quarto e no cantinho tem um lindo berço, cheio de coisinhas de bebê. Acho que é ali onde Pérola anda dormindo. Mas não vim admirar a decoração do quarto, vim abrir meu coração.Passo uma das mãos em minha cabeça, encontrando um ponto por onde começar a falar. “Só te peço que me deixe falar, não me faça perguntas ainda, apenas me escute… consegue fazer isso, Marcela?”Ela parece perdida, pois não faz id
Paro por um momento para reorganizar as coisas em minha mente.Respiro fundo e continuo:“Desci do táxi acompanhado do Ícaro… e fui andando em direção à sala da minha casa. Havia muita gente em volta; alguns vizinhos, ao me verem, começaram a falar: ‘Meu Deus, ele chegou!... Coitado!... Parece que ele ainda não sabe!’... Achei estranho tudo aquilo, mas continuei andando… Pessoas entravam e saíam de dentro da minha sala, e eu não entendia aquela movimentação toda… Um policial quis me barrar, mas disse que era Urias Martelli, o dono da casa… Ele passou a mão pelo rosto e avisou via rádio que eu havia chegado… Outro policial se aproximou e se apresentou como Sargento Fulano de Tal. Não guardei o nome dele… Ele pediu para eu o acompanhar… Antes de entrar, vimos nossa mãe chorando desesperadamente… Ícaro foi até ela me deixando, enquanto eu seguia o policial”“Meu Deus, me ajude a terminar esta história”, faço esta oração silenciosa em minha mente. Pois estou sentindo aquele maldito pânico
Por Marcela A tragédia que se abateu sobre Urias me deixou em choque. Ver o sofrimento dele era como testemunhar a dor de um irmão querido. Eu não podia ficar parada sem fazer nada.Enquanto Urias mergulhava na escuridão da perda, eu estava lá, ao seu lado, tentando oferecer conforto da melhor maneira que podia, nem que fosse apenas com meu silêncio. Suas lágrimas dilaceraram meu coração, e sua dor reverberou dentro de mim como uma melodia triste e angustiante.Eu o via lutar para encontrar sentido naquilo que aconteceu, para compreender como a vida pode ser tão cruel e injusta. E em meio ao caos de suas emoções, ele buscava desesperadamente por respostas, por um vislumbre de esperança em um mundo de desolação.Agora eu entendia porque ele se tornou tão avesso à convivência com outras pessoas. Agora ficou claro para mim, porque se refugiou na fazenda. Eu o ouvia enquanto ele falava, eu não podia apagar sua dor, mas podia estar lá por ele, oferecendo meu ombro para chorar e meu