Bato suavemente na porta do quarto da Marcela.“Pode entrar”Abro a porta e ela está deitada em sua cama, quando se vira, seu rosto não parece muito feliz em me ver. “O que você quer agora, Urias?”Fecho a porta atrás de mim e adentro, mesmo sem sua permissão.“Urias, acho que nossa conversa há pouco já deixou tudo claro, não temos mais nada a falar”Ela tem uma poltrona em um canto. Vou até a poltrona e a trago para mais perto da cama, sem falar nada. “Urias, você está me ouvindo?”Olho para ela, parece cansada. Acho que não está sendo nada fácil essa sua nova jornada. Observo o quarto e no cantinho tem um lindo berço, cheio de coisinhas de bebê. Acho que é ali onde Pérola anda dormindo. Mas não vim admirar a decoração do quarto, vim abrir meu coração.Passo uma das mãos em minha cabeça, encontrando um ponto por onde começar a falar. “Só te peço que me deixe falar, não me faça perguntas ainda, apenas me escute… consegue fazer isso, Marcela?”Ela parece perdida, pois não faz id
Paro por um momento para reorganizar as coisas em minha mente.Respiro fundo e continuo:“Desci do táxi acompanhado do Ícaro… e fui andando em direção à sala da minha casa. Havia muita gente em volta; alguns vizinhos, ao me verem, começaram a falar: ‘Meu Deus, ele chegou!... Coitado!... Parece que ele ainda não sabe!’... Achei estranho tudo aquilo, mas continuei andando… Pessoas entravam e saíam de dentro da minha sala, e eu não entendia aquela movimentação toda… Um policial quis me barrar, mas disse que era Urias Martelli, o dono da casa… Ele passou a mão pelo rosto e avisou via rádio que eu havia chegado… Outro policial se aproximou e se apresentou como Sargento Fulano de Tal. Não guardei o nome dele… Ele pediu para eu o acompanhar… Antes de entrar, vimos nossa mãe chorando desesperadamente… Ícaro foi até ela me deixando, enquanto eu seguia o policial”“Meu Deus, me ajude a terminar esta história”, faço esta oração silenciosa em minha mente. Pois estou sentindo aquele maldito pânico
Por Marcela A tragédia que se abateu sobre Urias me deixou em choque. Ver o sofrimento dele era como testemunhar a dor de um irmão querido. Eu não podia ficar parada sem fazer nada.Enquanto Urias mergulhava na escuridão da perda, eu estava lá, ao seu lado, tentando oferecer conforto da melhor maneira que podia, nem que fosse apenas com meu silêncio. Suas lágrimas dilaceraram meu coração, e sua dor reverberou dentro de mim como uma melodia triste e angustiante.Eu o via lutar para encontrar sentido naquilo que aconteceu, para compreender como a vida pode ser tão cruel e injusta. E em meio ao caos de suas emoções, ele buscava desesperadamente por respostas, por um vislumbre de esperança em um mundo de desolação.Agora eu entendia porque ele se tornou tão avesso à convivência com outras pessoas. Agora ficou claro para mim, porque se refugiou na fazenda. Eu o ouvia enquanto ele falava, eu não podia apagar sua dor, mas podia estar lá por ele, oferecendo meu ombro para chorar e meu
Não vou perder tempo, mando mensagem para Moni falando que estou a caminho. E começo discretamente a arrumar algumas coisas essenciais para mim e Pérola, planejando alguns dias fora. Antes de partir, deixei uma carta para Urias explicando minhas razões e expressando meu amor e apoio a ele.Vou até o quarto do meu pai, ele conhece a filha que tem e sabe como eu funciono.Preciso de espaço, preciso organizar as coisas na minha cabeça. Ele até sugere em vir comigo, mas peço que fique, pois Erika pode precisar da ajuda dele na minha empresa. E assim partimos para a fazenda, deixando Urias descansar e enfrentar seus próprios demônios. Enquanto viajamos, eu e minha pequena, reflito sobre nosso relacionamento e como posso ajudá-lo a se curar e encontrar felicidade novamente.Por Urias Acordo perdido sem saber onde estou. Vejo que já amanheceu e me dou conta que não estou no meu quarto. Vejo o bercinho da Pérola no canto e lembro, que adormeci no colo da Marcela. Sento-me na cama e ao
"Ela tem a capacidade de priorizar as necessidades dos outros com tanta facilidade... já falei disso várias vezes com o pai dela... é uma característica que não se encontra com tanta frequência” "De verdade, mamãe, Marcela é única!" E assim continuei conversando com minha mãe por um tempo. Pela primeira vez em anos, a serenidade permeou nossas conversas. Parecia que a animosidade que antes predominava tinha dado lugar à compreensão e ao carinho.Hora de colocar uma vírgula em uma situação e com isso seguir em frente.Caminho lentamente pelas ladeiras sombreadas em meio ao verde desse lugar, os passos pesados ecoando entre as estruturas de concreto em volta de mim. O sol já começa a se pôr, lançando uma luz dourada sobre o campo tranquilo.Enfim, chego ao último lugar de descanso da minha esposa, um pequeno monumento de mármore branco cercado por flores frescas. A cada passo, lembranças dolorosas ressurgem em minha mente, como fragmentos de um passado que não consigo deixar par
Alguns dias depois…Ao ir até a sala da minha mãe para discutir sobre o contrato da nova transportadora, percebo que a porta está entreaberta e escuto vozes familiares vindo lá de dentro. Minha mãe está conversando com Hugo, o pai da Marcela."Não fique preocupado, Marcela está com Moni e Gregori" diz minha mãe, tentando confortar Hugo."Eu sei, mas minha casa está tão vazia sem elas" , responde ele, com um tom de melancolia na voz."Já te ofereci um quarto lá em casa" , sugere minha mãe, tentando animá-lo."Syrah, não é isso! Sinto falta da nossa neta," confessa Hugo, revelando algo que me deixa intrigado.Neta? Será que ouvi corretamente? Será que Hugo se referiu à minha mãe como avó postiça? Mas por que ele diria isso?"Eu também sinto falta da nossa bonequinha. Mas se nossos filhos pudessem se entender" murmura minha mãe, deixando escapar um tom de tristeza."Falei com Marcela mais uma vez sobre ela esconder isso do Urias. Ele tem o direito de saber que Pérola é sua filha," re
Eu estava a caminho da nossa fazenda, onde Marcela havia se refugiado há alguns dias. O lugar que antes era um refúgio de paz e amor agora parecia carregar o peso de nossos problemas não resolvidos. Meu coração estava apertado, sufocado pela culpa e pelo arrependimento, enquanto eu dirigia através da tempestade que rugia do lado de fora.A chuva caía implacavelmente, batendo contra o pára-brisa com uma força quase violenta, como se o próprio céu estivesse chorando por nossos problemas. Enquanto as emoções ferviam dentro de mim, cada gota de chuva parecia um lembrete doloroso dos erros que cometi, das vezes que magoei Marcela e a afastei de mim.Eu me sentia um merda, por ter tratado assim a mãe da minha filha. Como fui egoísta! Como dificultei as coisas. Mas agora, estava determinado a consertar as coisas, mesmo que isso significasse enfrentar uma tempestade literalmente. O rugido do trovão ecoava dentro do carro, competindo com o tumulto de pensamentos que preenchiam minha men
Por Urias Ela me olha, mantendo sua indiferença em seu olhar. "E por que eu deveria te perdoar?" ela pergunta, sua voz carregada de dor e decepção. "Você me tratou como se eu não significasse nada para você. Como se tudo o que acabamos compartilhando, foi apenas um momento e nada mais. Como posso confiar em você agora?", as palavras dela me atingiram como um raio, cortando-me em dois pedaços. Eu sabia que não havia desculpas para o que fiz, nenhum jeito de mudar o passado. Tudo o que podia fazer era implorar por uma segunda chance, mesmo que não a merecesse."Eu sei que errei, Marcela", eu disse, minha voz falhando com emoção. "Mas… mass… a verdade, a verdade Marcela é que eu te amo! Eu nunca quis te machucar, eu só... eu só estava com medo! Medo de me entregar, medo de me machucar novamente. Medo de perder. A merda que vivi me transformou em um farrapo de pessoa"Ela olhou para mim, seus olhos cheios de tristeza. "Eu também estava com medo, Urias", ela admitiu. "Mas isso não