Valentina
— Senhorita, ficamos felizes em saber sobre o interesse em auxiliar a ala da pediatria em nosso hospital. Ter escolhido Rio das Pedras para usar como cidade teste é um orgulho para todos nós.
O meu encontro com Silvia, a diretora-geral do hospital e maternidade São Vicente foi proveitoso e tenho a certeza que o meu pai vai se orgulhar do trabalho que estou fazendo e de como eu consegui conduzir a reunião.
— Garanto a você que teremos uma boa parceria de trabalho. E falo isso como a neta do doutor Ricardo Martinez e não como a filha do presidente.
Disse com sinceridade para a mulher.
— Só em saber do interesse, em colocar em prática o projeto do governo é algo que nos alegra bastante.
Verifiquei a hora no meu relógio de pulso. Passava um pouco das onze da manhã. Eu teria uma reunião com a coordenadora do CRAS do município. Ela é quem me levaria até o orfanato da cidade, para que eu pudesse conhecer e assim repassar para a minha mãe o conversado. Mamãe, tem em mente um projeto para ampliar a ajuda de custo para orfanatos mantidos por centros religiosos. É um dos projetos que nasceu no segundo governo do papai e que agora ela deseja levar para todo o Brasil. A escolha de Rio das Pedras, foi justamente por saber que uma líder religiosa, mantém uma casa que cuida de crianças abandonadas há mais de trinta anos. O local foi criado por sua mãe e após a morte da mulher, sua filha passou a cuidar.
— Preciso ir agora. Mas saiba que gostei muito de conversar contigo e anotei tudo que achei necessário para começar a organização. Preciso apenas conversar com o diretor do hospital, o doutor Marcos é quem dá o aval para tudo. Mas de verdade, pelo pouco que vi, acredito que a parceria para os residentes sendo feita aqui, será interessante, pois dessa forma podemos ter convênio com mais hospitais e os municípios com poucos habitantes, acaba sendo favorecido para cirurgias importantes que precisam muitas vezes ser feitas na capital.
— Concordo com a senhorita. Até mesmo cirurgias simples, muita das vezes precisamos encaminhar os pacientes para Piracicaba. O hospital geral de lá, tem um aparato maior do que o nosso em questão de cirurgias.
— Acredito que muito em breve, mudará muitas coisas por aqui. Agora preciso ir. Tenho mais uma reunião marcada às quinze horas com a Thais.
Comentei, guardando a minha agenda e o meu celular dentro da minha bolsa. O ogro deve estar me esperando do lado de fora e dane-se por isso. Ainda não consegui engolir o que Diego fez ontem a noite e eu nem mesmo entendo o motivo disso. Eu não deveria ficar chateada por dormir sozinha, sem a presença do meu segurança. Na verdade, ele é apenas um funcionário do meu pai, nada além disso. Entretanto, senti-me incomodada no instante em que ele avisou que dormiria na caminhonete a ter que dividir um quarto comigo.
— Vou ficar no aguardo da sua visita em São Paulo, pode avisar a minha secretária da data, que ficarei feliz em te levar para um almoço.
Respondi sorrindo, pegando as minhas coisas, despedindo-me dela e seguindo em direção ao estacionamento. Para minha sorte, papai não ligou para mim, mas tenho a certeza que o Diego havia passado todo o relatório ao presidente. Eu poderia muito bem voltar amanhã mesmo para São Paulo após visitar o orfanato, porém ficaria até domingo, dessa forma posso descansar um pouco e também aproveitar para conhecer melhor a cidade. Não desejo uma visita médica e sim conhecer melhor as crianças e todo o trabalho feito no lugar. Enquanto caminho até o estacionamento, penso em como será a noite de hoje. De certo aquele ogro dormirá outra vez no carro e se ele quer ficar com dor no pescoço é problema dele e não meu. Parei para olhar o meu celular que vibrou na bolsa. Ao pegar o aparelho, vi o nome do Mateus na notificação de mensagem. Li o que ele havia enviado, sem responder. A reclamação por viajar com o segurança e que Natália estava reclamando por ele aceitar um absurdo desses. Guardei o celular, pois não quero ter que ficar lidando com o meu namorado e suas birras infantis, enquanto estou viajando a trabalho. Deparei-me com Diego do lado de fora da caminhonete, os braços cruzados sobre o peito, a calça jeans justa, as coxas e a camisa polo preta e os óculos de sol ocultando os olhos dele. Parei por um segundo, sentindo as pernas bambas e o coração acelerar ao olhar aquela visão.
— Pare de ficar olhando para ele. Além de ser um chato, mal-humorado e ogro de carteirinha. O homem é muito mais velho do que você e o funcionário de confiança do seu pai.
Falei para mim mesma, enquanto me aproximo dele. Ao notar a minha presença, descruzou os braços, mantendo sua pose de durão como sempre.
— Vamos almoçar agora!
É a primeira coisa que o homem diz ao me ver chegar. Ele nem mesmo quer saber como foi a reunião para relatar ao chefe dele?
— Não estou com fome ainda. Daremos uma volta pelo centro da cidade primeiro e depois encontraremos um restaurante para almoçar. A reunião com a coordenadora é somente às quinze horas. Temos tempo mais do que suficiente para um passeio e o almoço.
Enquanto entro no carro, confesso que senti vontade de dizer que eu iria dirigir, contudo, estava sem vontade alguma e não faria isso apenas para deixar Diego irritado. Coloquei o cinto, observando de lado ele entrar no carro, fazer o mesmo e depois ligar o veículo dando partida. O silêncio no carro me deixa inquieta, porém eu não falarei nada além do necessário com ele. Enquanto ele segue em direção ao centro, pego o celular da bolsa, enviando uma mensagem no grupo que tenho com os meus irmãos. Ignorei a chamada de vídeo do Mateus, arquivando a conversa. Responderia depois que eu resolvesse o que vim fazer aqui.
Valentina: Oi, meus amores. Como vocês estão?
Digitei, esperando um dos dois responder primeiro. Vejo que Leandro é quem está digitando.
Meu lindo: Estou bem e você? Sofia se encontra em aula, eu estou em casa porque acordei com dor de cabeça hoje.
Leandro respondeu. Esperava que não fosse nada grave com meu irmãozinho.
Valentina: Tomou medicação? Avisou a mamãe que você passou mal?
Meu lindo: Avisei sim. Sabe que a vovó está sempre fazendo os escândalos dela. Antes que a Sofia vá te contar, avisarei logo. O Mateus jantou aqui, conversou com o vovô e disse que não concordou com a sua viagem ao lado do segurança.
Agora tá explicado a insistência dele.
Valentina: Ele me mandou mensagens e ligou, porém, não quero comentar sobre isso agora. A gente conversa quando eu voltar.
Respondi, recebendo um emoji de coração. Guardei o celular na bolsa, tentando controlar a raiva que estou sentindo no momento.
— Aconteceu algo?
Viro o rosto para o lado, vendo Diego me olhando preocupado. Quis dar uma resposta malcriada, porém apesar de tudo, o homem não tem culpa do meu namoro fracassado, então não é justo descontar nele a raiva que estou sentindo.
— O meu irmão não acordou muito bem hoje. Estava conversando com ele por mensagem.
Respondi, virando o rosto de lado, vendo a paisagem das ruas através do vidro fumê.
— Você tem um local específico para ir, ou posso estacionar o carro em qualquer lugar?
Diego perguntou.
— Pode estacionar em qualquer rua. Quero apenas dar um passeio, antes do almoço. Apesar da reunião ter sido tranquila, quero conhecer um pouco a cidade, visto que amanhã terei um dia cheio lá no orfanato.
Comentei, com um sorriso para ele, que automaticamente voltou sua atenção para o trânsito. Não consigo entender, porque sempre que sou legal com esse ogro, ele se fecha de tal forma que parece até que sorrir para o homem é sinônimo de ofensa. Quer saber, que ele fique com essa cara fechada, aproveitarei o tempo que tenho antes do almoço e quem sabe andando pelas ruas do centro, acabe encontrando um restaurante legal para comer e descansar um pouco, antes de entrar em reunião novamente, mais tarde.
DiegoParei o carro em um estacionamento privativo que encontrei. O clima no carro com Valentina foi tenso e a garota estava com raiva por eu ir dormir no carro, entretanto existem limites que não se podem ultrapassar e eu estou ultrapassando muitos, desde o momento que comecei a fazer a sua segurança. Notei que algo aconteceu enquanto prestava atenção a conversa dela por mensagem e não era a saúde do irmão. O presidente me ligou enquanto a filha se encontrava em reunião, perguntando como Valentina estava, se estava gostando da pousada, o horário que saímos e como os donos estavam tratando a garota. Respondi, com sinceridade, a todas as perguntas e me incomodou quando o senhor comentou que o pirralho daquele Mateus ligou, reclamando da namorada viajando comigo. Ouvir o presidente, se desculpar, que confia plenamente no meu trabalho, que sabe como sou um homem correto e que não poderia ter segurança melhor para cuidar da sua filha mais velha. Toda aquela inventar uma desculpa, sei que
ValentinaO sábado amanheceu ensolarado e eu me preparava para sair, enquanto Diego me aguardava na recepção. A segunda noite dormindo aqui, não foi de todo estranha. Enquanto fiquei na cama de casal, Diego dormiu no colchão de solteiro como deveria ter sido na primeira noite. Ontem, depois do almoço, me encontrei com Thais em seu escritório, conversamos sobre o projeto de ajuda para orfanatos e hoje estou indo visitar o abrigo mantido pelo centro de caridade Nosso Lar. Um local dirigido pela mãe Inácia. Líder religiosa de um centro Umbandista respeitado na cidade. Sua mãe foi quem iniciou tudo, quase sessenta anos atrás e após sua morte, a filha foi quem assumiu tudo. O centro, além de lidar com as crianças órfãs, mantém também um centro de reabilitação que conta com ajuda dos próprios filhos e visitantes que trabalham na área da saúde. Foi muito gratificante conhecer por fotos e vídeos o trabalho dessa senhora e confesso que me sinto ansiosa para ver de perto como tudo funciona. Con
ValentinaO encontro com mãe Inácia e as crianças foi alegre demais. Almoçamos entre risos e conversas. Os mais velhos, contaram sua história para mim, enquanto Diego permaneceu calado o tempo todo, respondendo somente quando necessário. Apesar da cara fechada dele, notei um sorriso discreto em seus lábios, quando Clarinha, a caçula, foi andando a passos lentos até onde Diego estava. Ao assistir à cena, me perguntei se Diego não desejava filhos, ter uma família, já que até onde todo mundo sabe ele é um solteirão convicto. Mãe Inácia fez algumas perguntas, que Diego respondia somente o necessário. Confesso que foi bastante engraçado ver a senhora interrogando o ogro, que respondia praticamente forçado tudo que ela perguntava. Agora estamos na estrada de volta para a pousada. Olhei o GPS em meu celular, percebendo que a cachoeira que Fabrício me disse, está próxima de onde estamos. Sei que Diego vai surtar quando eu pedir para ele desviar o caminho, para que eu possa conhecer o lugar, p
DiegoMulher petulante e mimada! É isso que aquela coisinha teimosa é.Resmungo no carro, tentando controlar a raiva que estou sentindo agora. Valentina, como sempre, avisou em cima da hora que queria conhecer a cachoeira das pedras, mudando o nosso percurso sem avisar com antecedência. Ela sabe muito bem, como detesto mudança de planos e sempre prezo pela organização tanto na minha vida pessoal quanto na profissional. Eu sempre providenciei os lugares que o senhor Leonardo gostava de ir com a esposa, restaurantes, teatros, shows, qualquer lugar que o homem desejava visitar, eu conversava com a gerência horas antes para que ao chegar no local, encontrasse tudo pronto para recebê-lo. Isso levo comigo há anos, mas agora aquela garota anda testando todos os meus limites, fazendo com que eu faça coisas que jamais faria em qualquer situação. Decidi ficar no carro, aguardando a diversão dela acabar, entretanto, o bom senso falou mais alto, fazendo com que eu acabe mudando de ideia, saindo d
ValentinaQue beijo gostoso esse homem tem!Diego desliza as mãos enormes pelas minhas costas, parando na minha bunda e acariciando a pele. Quero mais do que esses beijos, entretanto preciso me afastar dele, pois o que estou fazendo é errado. Mesmo que tenha cometido uma loucura, quando puxei o meu segurança para um beijo, corro o risco dele contar tudo para o papai e o senhor Leonardo é capaz de me matar, quando descobrir que ataquei a sua sombra. Ele mordeu o lábio inferior, me arrancando um sorriso e fui pega de surpresa, ao ter ele se afastando de mim. Permaneço de olhos fechados, evitando olhar para o seu rosto. Devo estar vermelha como um pimentão, envergonhada por ser impulsiva num momento de insensatez vindo de mim.— Vista sua roupa, pegue suas coisas e vamos embora daqui.Ouço a voz rouca dele, falando comigo. Abro os olhos encontrando Diego na minha frente, me olhando com o mesmo desejo de minutos atrás, porém com um semblante sério que me causou um arrepio na espinha ao ol
DiegoInferno!Resmungava sozinho no carro enquanto eu dirigia de volta para São Paulo. A viagem terminou de uma forma diferente e isso não é apenas por conta dos beijos trocados com a coisinha teimosa, mas sim devido a tudo que houve. A chegada surpresa do idiota do noivo dela, a ligação do presidente, dando a entender que o casal precisava ficar sozinhos para ter uma reconciliação, além do fato de que o senhor Leonardo, deixou claro que eu não seria mais necessário para fazer a segurança da filha mais velha. Confesso que não entendi o que ele quis dizer, ao afirmar que Mateus, o inútil do genro dele, disse que Valentina se encontra mais do que segura ao seu lado. Toda essa conversa foi ridícula, principalmente devido a tudo que aconteceu para eu acabar tomando conta da garota, sendo que do nada tudo mudou de uma hora para outra. Voltaria para Brasília no dia seguinte, indo em casa somente para buscar minhas coisas e seguir de volta para a capital do país. Raimundo ficaria no meu lug
ValentinaUm mês depois…— Valen, eu combinei com o Leandro de viajarmos para Brasília na próxima semana. Como não teremos aula na quinta e nem na sexta, pegamos o voo na quarta à noite e passamos alguns dias com os nossos pais. Diz que vai conosco?Sofia veio me visitar no hospital, após a aula. Estamos no meu consultório, aproveitando o intervalo para as próximas consultas. Um mês se passou desde a viagem a Rio das Pedras e um mês, sem notícias do Diego. Papai colocou dois seguranças para trabalhar e os dois alternam os dias e agora vou e volto para o trabalho dirigindo meu próprio carro. A mudança que o papai teve surpreendeu a todos, principalmente a minha mãe que não entendia o porquê do marido decidi trazer Diego de volta para Brasília deixando-me livre se é que podemos chamar de liberdade o que eu tenho.— Não sei, você sabe que eu ficaria dois dias sem trabalhar e o chato do Marcos vai correr e contar para o vovô que a diretora anda folgada demais. Acho melhor deixar para a pr
DiegoDe pé, observo o jatinho particular, que traz os três filhos do presidente pousando e sei que não vou conseguir fugir da presença dela durante os dias em que o casal presidencial, terá a companhia dos filhos. Ao descobrir que ela também viria, quis inventar uma desculpa qualquer para não ter que ficar, porém não sou um garoto para fugir dos problemas e muito menos um moleque para não ter compromisso com o trabalho. Por um mês e meio, tentei não pensar naquela garota, nem desejar seu corpo e muito menos fantasiar que estamos na cama, fazendo o que o meu pensamento pervertido deseja. Muito em breve ela estará noiva e não vai demorar para o casamento acontecer. Além de ter que olhar para Valentina, serei obrigado a tolerar a presença do namorado idiota que vem a tiracolo.— Senhor, os filhos do presidente vão desembarcar agora.Caio, um dos meus assistentes, me avisa e aceno com a cabeça, aguardando a chegada deles. Saindo do jatinho, vamos embarcar no helicóptero que levará todos