Sai de casa deixando Tessália pensar nas neuras dela, sabia que pra ficar comigo era mais que só dizer, não vou abrir mão da minha vida, mesmo gostando dela. Não tem vida pra mim sem ser no tráfico, ela foi criada diferente, não tem mudança para mim, uma vez no crime sempre no crime, é nele que garanto a minha vida, tiro a minha renda, garanto pra os meus.Ela ficou no barraco, não ia apertar a mente, nunca fui de forçar ninguém cojntra a vontade, ou dá porque quer, ou não dá pô. Fiquei na biqueira com os moleques, a chuva não parou, varou a noite quase toda. Já era madrugada alta, a chuva caia, estava sentado fazendo as contas de tudo. – Rodrigo?Levantei a cabeça olhei pra porta, lhe vendo com meu casaco, cabelos pingando, toda molhada. – O que tu veio fazer aqui? – Ia ficar gripada, tinha certeza, nem sabia como veio de lá pra cá, a calça toda molhada, mas encharcada até o meio das canelas. – Fica comigo vai. – Pediu meio chorosa, os moleques não deram um pio, arrastei a cadeira pra
Eu não saberia dizer nem o que aconteceu, simplesmente travei quando ouvi do meu tio que ele faria aquilo comigo, era o meu tio Isaac Romano, o homem que tocava em nossas cabeças enquanto brincavámos, pedia beijos na bochecha, me colocava sentada em seu colo na missa na igreja.Estava o tempo inteiro com o meu pai, com a minha mãe, ele me viu crescer, junto com a sua filha, e quando todos o acusava, eu era a única a dizer que não, a achar que ele só queria ajudar, quando me induziu a ser garota de programa numa boate, para descobrir o que eu jamais descobriria, quem matou o meu pai.Eu me perdi em meu mundo por dias, Camilla tinha razão, eu fui criada com muitas regalias, não conheci nada da vida, e ali estava a prova, o meu pai morreu eu fui tão facilmente levada por uma conversa, a minha mãe foi violentada de todas as formas, pelo homem que ela chamou por muito tempo de cunhado.E agora, ela estava no hospital, e mais uma vez, eu travei, eu me tranquei em meu mundo, como metodo de defe
Eu perdi o morro, os amigos sumiram, nem a minha irmã que eu criei vem me visitar, seis meses nesse lugar, aqui é pior, a gente ver de tudo, morte, briga, droga, tráfico, nada que eu não esteja acostumado.Em seis meses, Tessália me visita uma vez no mês, eu não quero que ela se exponha deste jeito, sei que a vistória é pesada, que eles hulmilham, que eles tocam e as vezes abusam, ouço os caras dizer na hora do banho de sol, e por mais que eu lhe diga que não é pra vim, ela vem.O meu garoto já tem cinco meses, Antony, o moleque acabou tornando uma garota em mãe, e ela nem teve ele, mas pelo sorriso, pelas história que conta, e o brilho nos olhos dela toda vez que vem, tenho medo, de que ela ame mais a ele que a mim, porque sei que lá fora, é a unica cabeça que ainda lembra quem eu sou, quem eu fui, o resto foi de passagem.Até agora não marcaram a data do julgamento, apesar da mãe dela, ter deposto a meu favor, dizer que lhe defendi, que ela ia morrer, apresentar laudos e todo o resto,
Vendo desta maneira, o peso de responsabilidades apenas umentam, dezoito anos, já? Deixarei de ser a menininha do papai, a garotinha da mamãe, mas também, com os dezoito anos vem muitas responsabilidades, firmar noivado, faculdade, contas para pagar, planos de casa, filhos e etc. Olhei em volta, e como eu, ele pensava no mesmo, apenas lhe vi lamentar enquanto continuava me olhando apoiado ao balcão, a música tão animada ao fundo meio que perdeu o ritmo no momento para mim, as luzes piscantes, seus cabelos que ganham novo tom de grisalhando, seu corpo forte, voluntarioso na blusa branca de mangas compridas social, a calça jeans, seus olhos verdes deixaram de me olhar somente quando retirou o celular do bolso, apontou para os fundos, indicando que ir atender lá.Compreendendo que poderia ser importante, apenas balancei a cabeça num, sim, pedindo que não fosse mais uma daquelas ligações demoradas, apesar dos receios da idade nova, não poderia negar que é a festa dos sonhos, hoje faço m
— Tess, Tess… — Afasto a mão assim que ele se aproxima, tentando ajeitar a sua roupa com uma mão, empurro a mão que tenta me tocar, ao lhe ver titubear, saio em seguida, não consigo dizer nada, não agora, as lágrimas descem, isso é tão… tão nojento, saio correndo do banheiro, como o resto da boate, seja lá quem for que esteja aqui, agora nada e nem ninguém importa, apenas corro.— Tess? Tess — Ouço gritos, vozes me chamando, saio com pressa até bater num peito forte, o cheiro diferente inunda meu nariz, as mãos me seguram com firmeza pela cintura.— Ei! — Ouço uma voz firme no meu ouvido, tento me desvencilhar, mas as mãos ainda me seguram forte. — Me solte! — Digo em lágrimas, esperava tudo esta noite, menos descobrir que minha melhor amiga desde a infância e meu namorado me traíssem.— Desculpa, conhece? — Ergo a cabeça para o olha nos olhos, um homem alto, negro, cabelos crespo preto me olha sério, desvio o olhar do dele, tento me soltar outra vez. — Eu mandei me soltar! — Sai num
— Qual foi zé ruela? — Atendi o celular tocando algumas vezes, observando o meu morro de cá de cima, longe de qualquer olho do inimigo, as casas que se empilham uma a uma forma a minha favela, sejam elas coloridas, ou reboco, outras apenas no bloco, tudo é casa, tudo é povo. — Vai ter invasão aí cara! — A notícia me pegou de surpresa, fazendo o calor vir na cara, pago uma nota para esses fila da puta, e eles vêm para cá?— Que ideias é essa rapaz? — Pergunto indignado, querendo me atualizar dessa notícia.— É pow, tô te avisando agora, porque acabei de saber, não tava no plantão ontem, os colegas estavam comentando entre si, sabe como é né? — Não deixo ao menos se explicar, tô ligado que esses bagulhos não acontecem assim de uma hora para outra, sempre tem um motivo, é uma parada de semanas e até meses para fazer.— Que dia? Hora? E quem tá por trás dessas ideias aí?Escutei os passos caminhando em minha direção, a mulher loira de cabelos cacheados, se aproximou de top vermelho e short
Eu quero sumir, desaparecer do mundo, de tudo agora, cheguei em casa sem querer ver ninguém, o que fiz da minha vida? Me perguntei decepcionada com tudo, comigo mesma, joguei um momento lindo fora, com um desconhecido, tudo dentro de mim, arde, dói agora, parece que fui rasgada ao meio.Tomei um longo banho, sentindo-me usada, tudo ardendo por dentro, aquele homem era um completo animal, fiquei bastante tempo no chuveiro, a água caindo se misturando as lágrimas, que deixei rolar, todos os momentos maravilhosos que tivemos, cada promessa, cada palavra, conversa, planos Messias trocou tudo por uma transa? Ainda mais com Camilla, e eu tola, me atirei na merda como uma vadia.A dor em meu peito só aumentou doendo profundamente, respirei fundo, enrolando o cabelo molhado na toalha, deito-me em seguida, chorei até dormir. Senti o meu corpo balançar, ser empurrado, abrir os olhos, na minha frente estava a última pessoa que eu queria ver no momento. — Tess, Tess é sério, eu... — Camila começo
Nada mudou na favela, embora imagino que o morro esteja visado por gente grande, pela facção rival, foram cinco policiais mortos na invasão, um dos grandes também se foi nesse bagulho aí, fiquei sem informação do DP todos os dois que me informava dos bagulhos se foi, um deles fui eu que matei, o outro que me avisou a tempo, não teria porque morrer estava fazendo o combinado.Os dias foram de silêncio na favela, todo mundo pisando miudinho, todos na maciota, mostrar que eles não conseguem ter tão fácil acesso a mim assim, é bom, mas só aumenta a sede deles por mim, o que não terão nunca. Tivemos que comprar outro policial, mas o cara é chato pra cacete, oferecido demais, liga demais, me incomoda muito, tenho que mandar dá uma prensa nele fila-da-puta.— Fala Romano! — Atendi a ligação no meio dos parceiros, os moleques fazendo a pesagem, embalando a mercadoria, dividindo pra levar pra casa, cada um cuidar do seu, é um trampo como outro qualquer, cada um com o seu comércio, vende a seu