Chegada de Adriely

Dias depois…

27-07-22

Theo havia me convidado para nos encontrarmos esta noite, pois ele estaria na cidade a trabalho. Depois de me arrumar, o encontrei em um café popular, mas que nessa hora estava menos movimentado e por isso podíamos conversar sem o risco de alguém nos atrapalhar. Com um olhar ansioso, iniciei a conversa:

— Theo, você conseguiu descobrir algo que possa nos ajudar a sair dessa situação? - Notei suspirar e negar com a cabeça. 

— Erica, eu tenho tentado de todas as formas, mas até agora não encontrei uma solução. Precisamos ter um pouco mais de paciência. Não podemos agir de forma impulsiva.

Abaixei o olhar, sentindo-me desanimada com a resposta, mas sabia que precisava confiar no irmão.

— Eu sei, Theo, mas cada dia que passa parece uma eternidade nessa casa. Eu não sei quanto mais consigo suportar.

Theo colocou a mão sobre a minha, transmitindo-me um pouco de conforto.

— Eu entendo, Erica. Mas precisamos manter a calma e a cautela. Vou continuar procurando uma solução, prometo.

— Obrigada, Theo. Eu confio em você. Vou tentar ser paciente, mas por favor, não demore muito. Ele… quer que eu gere um filho dele. 

O olhar que Theo me lançou, fez com que meus batimentos cardíacos desaceleram. 

— Você sabia? - Perguntei com medo. 

— Fiquei sabendo na noite em que você se casou, quando ouvi uma conversa do nosso pai com o doutor Gomez. Sinto muito.

— Eu não posso ter um filho sem amor, Theo. 

— Sei disso, minha irmã. Mas você precisará ter paciência e enrolar um pouco. Olha, mas para que nada aconteça, vou te passar o número de um amigo que é ginecologista. Você tem uma consulta com ele e começa a tomar anticoncepcional. 

— Não é perigoso o Murilo descobrir? 

— Será um risco que teremos que correr. Não te quero presa a esse homem, com um filho e sem amor. Você já sofreu demais nessa vida, merece encontrar um homem que te faça feliz. 

Um sorriso singelo surgiu em meus lábios enquanto sentia meu coração aquecer com a atenção do meu irmão. 

— Tudo bem. 

Após conversarmos um pouco mais, Carlos me levou para o aeroporto, onde encontraria Adriely, que estaria vindo de viagem. 

Enquanto aguardava ansiosamente no saguão, observava atentamente cada pessoa que saía da área de desembarque. Meu coração disparou quando finalmente avistei Adrielly atravessando a multidão, carregando sua bagagem com um sorriso radiante no rosto. 

Sem pensar duas vezes, corri em sua direção e ela, no momento que me aproximei, abriu os braços me recebendo de forma calorosa. Sei que não tem tanto tempo assim que não nos vimos, mas o que vem acontecendo comigo me deixou tão perturbada que vê-la causou um turbilhão de emoções. 

— Adriely, que saudades! - Disse, sentindo um alívio enorme por tê-la aqui. 

— Erica, eu também estava morrendo de saudades! Como você está?

Sorri, sentindo-me verdadeiramente feliz pela primeira vez em muito tempo.

— Estou bem, agora que você está aqui. Vamos embora daqui para que você possa descansar, amanhã teremos um grande dia. 

Apresentei Adriely a Carlos e ele nos ajudou a colocar as bagagens no porta malas. Sentei-me no fundo com minha amiga e, até chegarmos à mansão, alugamos os ouvidos de Carlos, que apenas sorria com as loucuras contadas por Adriely. 

Adriely observava maravilhada pela janela do carro enquanto se aproximavam da imponente mansão de Murilo. Seus olhos se arregalaram de surpresa ao contemplar a grandiosidade da residência, que se destacava majestosamente entre os jardins bem cuidados.

Ela vinha de uma boa família, mas nada se comparava à riqueza de Murilo e seus antepassados. 

Ao entrarmos na mansão, guiei Adriely até o quarto de visitas onde ela iria ficar, que era ao lado do meu. Minha amiga mal conseguia conter sua empolgação enquanto explorava o elegante ambiente reservado para ela. 

— Tome um banho e descanse um pouco. Vou me refrescar também e depois preparei um lanche para a gente. 

— Tudo bem. 

Sai do quarto da minha amiga e seguir para o meu. Tomei um banho refrescante e depois desci para preparar um lanche para a gente. Graças a Deus, Maria não estava aqui nesse momento e por isso eu podia fazer minhas coisas. 

Separei os ingredientes, pronta para preparar os sanduíches quando a figura de Maria surgiu. Ela olhou para a mesa e depois para mim. 

— Oh, não se preocupe, senhorita Erica. Eu cuidarei de tudo. Você só precisa relaxar e deixar comigo. - Maria disse com um sorriso gentil, recusando qualquer tentativa de ajuda por minha parte..

Sem alternativa, apenas concordei e me sentei para esperar Maria preparar o lanche. Mas eu sentia uma mistura de gratidão pela bondade de Maria e frustração por minha própria impotência naquela casa.

Quando finalmente tudo estava pronto,  peguei a bandeja com o lanche e comecei a subir as escadas em direção ao quarto de Adriely. No entanto, meu coração deu um salto quando me deparei com Murilo saindo de seu próprio quarto.

Nossos olhares se encontraram por um breve momento, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha diante da frieza implacável em seu olhar. 

Ele desviou o olhar para a bandeja em minhas mãos e depois voltou a me encarar. 

— Adriely chegou, ela está no quarto de hóspedes ao lado do meu. 

— Esta noite você irá para o meu quarto.

— Hoje? Mas… - Murilo deu um passo na minha direção, acabando de vez com a distância que havia entre nós. 

— Permiti que sua amiga ficasse aqui, mas isso não significa que você deixará de cumprir com seus deveres.  

Suspirei, acenando levemente enquanto o observava se afastar e sair. Olhei para suas costas largas até que sumiu ao descer as escadas. 

Eu tenho que arrumar um jeito de não me envolver com ele até que eu comece a tomar as pílulas. 

Minha mente trabalhou em alguma possibilidade e ao chegar no quarto, decidi falar com Adirley. 

— Amiga, se ele descobrir pode acabar com você e o coitado do médico. 

— Eu sei, mas não quero engravidar dessa forma. Theo disse que vai encontrar um jeito de me tirar daqui e até lá, tenho que evitar ter um filho com Murilo. 

— Mas, pelo pouco que eu sei, você precisa ficar um mês sem ter relação sem proteção e só depois o remédio fará efeito. 

— Sei disso, mas eu tenho que fazer. 

Suspiro, sentindo-me cansada. 

— Sei disso e seja lá qual for a sua decisão, estarei ao seu lado. 

No dia seguinte, acordamos cedo e nos preparamos para encontrar com a Lívia. Ela marcou o lugar de encontro em um restaurante popular e Adriely estava empolgada para conhecê-la, principalmente para comer os seus doces.

Liberei Carlos, pois o coitado não precisava passar o dia todo carregando três mulheres por toda a cidade. Ele pareceu relutante no primeiro momento, mas logo aceitou e foi para a sua casa. 

Encontramos Lívia em um charmoso café perto da praia de Copacabana. Lívia, estava radiante com a oportunidade de mostrar a nós duas os pontos turísticos favoritos da cidade.

— Adriely, esta é Lívia, uma amiga muito querida. Lívia, essa é minha melhor amiga, Adriely. - As apresentei, com um sorriso caloroso.

— Prazer em conhecê-la, Adriely! - Lívia cumprimentou, estendendo a mão com entusiasmo. - Erica sempre fala de você.

Adriely retribuiu o cumprimento com um sorriso educado.

— O prazer é meu, Lívia. Erica também me contou muito sobre você.

As duas sorriam e me senti bem vendo que elas se deram bem. 

— Bem-vindas ao Rio de Janeiro, meninas! Estou tão animada para mostrar a vocês alguns dos meus lugares favoritos da cidade. - Lívia disse com um sorriso gigante. — Confesso que também estava precisando disso. 

— Estamos ansiosas para conhecer, Lívia! O que você planejou para o nosso passeio? - Perguntei, também desfrutando da mesma empolgação. 

Nesse momento, era como se todo o pesadelo com Murilo não acontecesse. Essa noite, ele acabou trabalhando até tarde e não veio para casa, pelo menos não quando eu estava acordada. 

— Bom, vamos começar com um passeio pela praia de Copacabana. É um dos cartões-postais mais famosos da cidade e tenho certeza de que vocês vão adorar.

— Ah, eu sempre quis ver a praia de Copacabana! Mal posso esperar! - Adriely deu pulinhos animados.

— Depois de passarmos um tempo na praia, podemos seguir para o Pão de Açúcar. A vista lá de cima é simplesmente deslumbrante, tenho certeza de que vocês vão se apaixonar.

— Uau, que incrível! Estou ansiosa para ver a cidade lá de cima. - Sabia que eu tinha medo de altura, mas abriria mão para poder viver esse momento com elas. 

— E para terminar o dia com chave de ouro, podemos dar um passeio pelo bairro boêmio de Santa Teresa. É cheio de charme, com suas ruas de paralelepípedos e casarões coloridos.

—  Parece maravilhoso! Estou tão grata por você nos mostrar esses lugares, Lívia.- Disse,  Adriely.

— É um prazer para mim! Vamos aproveitar ao máximo nosso dia juntas e criar memórias incríveis no Rio de Janeiro.

As próximas três horas passamos na praia, depois fomos a um restaurante simples, mas com um tempero maravilhoso de uma amiga da Lívia. 

Seguimos para o nosso próximo destino e eu sabia que o meu corpo estava cansado, mas de jeito nenhum iria correr desse passeio. Finalizamos o tour de hoje na confeitaria doce encanto. 

 O aroma doce de bolos frescos e café recém-torrado preenchia o ambiente, tornando-o ainda mais convidativo.

Adriely não conseguia esconder sua empolgação ao admirar os deliciosos doces expostos no balcão. Seus olhos brilhavam diante da variedade de tortas, cupcakes e brigadeiros.

— Nossa, esses doces parecem incríveis! Mal posso esperar para experimentar um pouco de tudo.

— Fico feliz que você esteja gostando, Adriely! Fique à vontade para escolher o que quiser. Todos os doces são feitos com muito carinho aqui na minha confeitaria.

Enquanto Adriely saboreava cada pedaço de doce com entusiasmo, eu aproveitei para compartilhar algumas das fotos que havia tirado durante o passeio em minhas redes sociais. Queria dividir com meus poucos amigos e seguidores os momentos especiais que vivemos juntas na cidade maravilhosa.

— Olhem só essas fotos que tirei hoje! Acho que conseguimos capturar a essência do Rio de Janeiro, não é mesmo?

— Ficaram incríveis, Erica! Tenho certeza de que todos vão adorar ver um pouco do que experimentamos hoje.

Após comer um pouco dos doces de Lívia e encomendar mais para os netos de Maria e a família de Carlos, nos despedimos dela e fomos para casa. Adriely correu para tomar banho e eu estava me preparando para fazer o mesmo, quando um número desconhecido apareceu em uma chamada no meu celular. 

Estranhando, peguei o aparelho e atendi a ligação. 

— Alô?

— Olá, Erica Medeiros? Aqui quem fala é Oliver Mendes, sou médico ginecologista e amigo do seu irmão, Theo. Ele me passou o seu contato afirmando que você queria uma consulta comigo. 

De repente, me senti nervosa. Tinha medo do que poderia acontecer caso Murilo descobrisse. 

— Oh, sim… Meu irmão te deixou a par da minha situação?

— Sim e sei que o que vamos conversar aqui, é extremamente confidencial. 

Suspirei aliviada, não sei se conseguiria explicar para ele tudo o que venho passando. 

— Você quer iniciar o uso de anticoncepcional, certo? 

— Sim. Algum que seja leve porque não quero ter reações visíveis. 

— Entendo. Antes de continuarmos, você pode me dizer se teve relações sexuais no ultimo mês? 

Engoli em seco, encarando o meu pé com certo desânimo. 

— Sim…

Após nossa conversa, o médico me pediu para fazer um exame de sangue para descartar uma possível grávidez e então entrar em contato com ele novamente para assim, prescrever o medicamento. 

Me joguei na cama, sentindo que a minha vida mais uma vez não estava em minhas mãos. 

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