Capítulo 4

Já no avião, eu tentei relaxar e não pensar muito, apenas tentei ficar calma e aguardar o que aí vem. Uma vida nova (ter um padrasto) me espera.

            - Você não acha que as pessoas são muito estranhas? - Olhei ao meu lado e vi um homem loiro de olhos azuis sorrindo para mim. Ele estava com um livro nas mãos.

            - Eu tenho a certeza disso, e a prova são dos que me rodeiam. - Falei me encostando no assento, e fechando os olhos.

             - Você não gosta muito de conversar não é?

             - Acertou em uma parte.

             - Não gosta de conversar é com certas pessoas!- Ele corrigiu.

             - Isso mesmo. Se nota tanto assim?

             - Eu não sei, foi só uma opinião. - Senti ele fechando o livro.

- Que tipo de pessoas você gosta de conversar?

            - Vários!

            - Ok. Que tipo de pessoas você não gosta de conversar?

           - Hipócritas, mentirosos, arrogantes, sem escrúpulos, e insensíveis. - Tudo isso atribuo aos homens.

           - Uau! Felizmente eu não sou nada disso. - Ele disse me fazendo abrir os olhos e arqueiar uma sobrancelha para ele.

           - Claro que não diria que é! Em 100% da população, 86% não admite seus defeitos e os humildes que correspondem a 14 % admitem. Isso não é verídico, apenas do meu ponto de vista.

          - Está querendo dizer que eu tenho um desses defeitos que acabou de citar?

           - Pode até ter todos eles, mas o que eu quero dizer, é que, não confiamos nas pessoas pelo facto de não saber o que se passa nas suas cabeças.

          - Isso é verdade, mas...

          - Confiança é uma coisa difícil de ser adquirida, e a desconfiança mais fácil.

          - Você é... digamos que sábia. A sabedoria adquiri-se por vontade.

          - Não concordo. Há pessoas que desejam saber só por saber, e isso é curiosidade; outras, para alcançarem fama, e isso é vaidade; outras, para enriquecerem com a sua ciência, e isso é um negócio torpe; outras, para serem edificadas, e isso é prudência; outras, para edificarem os outros, e isso é caridade.

           - Você é impressionante. Alguma vez alguém disse isso a você?

          - Muitas vezes. Mas eu não ligo. Agora, por favor, me deixa dormir?

          - Está bem. Não te incomodo.

      

*****

        Depois de aterrarmos, eu subi num táxi.

         Quantas saudades eu tive de Casa! Estou em casa novamente e isso é tão bom. Não há nada como a nossa casa, ou no meu caso, a casa da minha mãe.

          Verifiquei o meu celular e vi apenas mensagens de Michele . Mal saí da Argentina e ela mandou umas nove. Aquela mulher maluca!

          O táxi pára na frente da casa da minha mãe. É engraçado. Já não moramos em Chicago, mas sim em Los Angeles. Eu entro caminho até a porta principal e toco a campainha. 

                      

Narração por Celina

   

Como os tempos mudam! Até parece que foi ontem que eu ainda brincava de boneca. Hoje tenho 39 e vou me casar.

          A vida deu muitas voltas. Num dia odiava os homens, e noutro me apaixono loucamente por um. E espero que isso não seja difícil para Gabriela. Ela sofre muito por causa do pai, e ela não gosta de homens. E agora vamos morar com um. Espero que ela consiga mudar de pensamentos, tal como eu fiz. Finalmente consigo confiar em Santiago, e confesso que foi difícil.

          Ainda me lembro de quando me apaixonei por Rhyan. Tinha 15 anos de idade. Estudava na mesma escola que Rhyan, e éramos amigos. Grandes amigos.

         Rhyan e eu saímos todos os dias para passear, e cada dia que passava eu sentia algo mais que amizade. Eu confiava nele mais do que ninguém, e minha mãe me dizia para ter cuidado, mas eu pensava que Rhyan era perfeito. Que não cometia erros. Era tão inocente que algumas pessoas me viam como santinha.

          Depois de um bom tempo, nós começamos a namorar. Rhyan dizia coisas lindas para mim. Me dava muitos presentes, me levava sempre para passear. Tudo parecia tão perfeito e bonito, até aquele dia chuvoso.

         Rhyam tinha apenas 16 anos mas sabia demais. Nós ficamos numa casa abandonada e foi então que fizemos Gabriela. Dia seguinte, ele terminou comigo e já tinha outra. Isso me machucou muito e me fez ter vontade de matá-lo.

          Um mês depois, eu descobri que estava grávida de Gabriela. Contei para Rhyan, mas ele disse que não queria saber.

          Meus pais descobriram e conversaram com os pais dele, mas ele se recusou a estar perto dela. Os meses passaram, Rhyan não me acompanhava nas consultas pré-natais, sempre que me via me xingava, e quando Gabriela nasceu, ele não apareceu no hospital, e ficou um ano sem vê-la.

          No primeiro aniversário de Gabriela , ele apareceu na festa para arruinar tudo. No quinto aniversário, ele ofereceu para ela um ursinho de pelúcia sem cabeça, no décimo, foi simplesmente para dizer coisas horríveis para ela. No aniversário de 15 anos, ele apareceu bêbado com uma prostituta e fez um grande escândalo. Gabriela sofreu muito durante esses anos todos.

          Agora ele só liga para ela, mas ainda assim, diz coisas terríveis para ela. Mas ela está tão acostumada que já não a afeta como antes, eu acho.

        Passei durante esses anos todos evitando me machucar novamente e me concentrei apenas em dar uma boa vida para Gabriela. Felizmente minha família sempre foi rica e ela não esteve a falta de nada.

            A campainha tocou e a empregada correu para abrir a porta. Santiago entrou, exuberante como sempre, com uma camisa dobrada até aos cotovelos, calça jeans preta e um sorriso perfeito.

        Levantei do sofá para cumprimentar ele. Ele era alto, negro, e musculoso. Parecia ter menos que 34 anos.

         - Cece! - Ele beijou as minhas bochechas e sorriu para mim.

        - Lohan! Que bom ver você. Finalmente voltou de viagem. Como foi? - Sentamos no sofá.

          - Foi bom, mas tive que voltar. Não posso perder o casamento do meu melhor amigo por nada nesse mundo.

            - Eu acho que ele não casaria se não estivesse presente. - Rimos.

           A campainha voltou a tocar. Ambos olhamos para a porta, e novamente a empregada foi abrir.

                       

Narração por Gabriela

           - Boa tarde Gabriela. - Dilce sorriu para mim assim que abriu a porta. Felizmente não mudou de empregada. Conheço Dilce desde que tinha quinze anos. Abracei ela.

           - Oi Dilce. - Ela se afastou para olhar para mím.

           - Você está tão grande. Vamos entrar. - Entrei e vi minha mãe e um homem se levantarem. Será que é seu noivo?

        Sorri e fui abraçar minha mãe. Ela é como eu. Loira, magra, mas ao invés de olhos verdes, ela tem olhos castanhos.

         - Filha!

         - Mãe!

         Me virei para encarar o desconhecido na minha frente. Ele sorriu e estendeu a sua mão para mim.

           - Olá Gabriela, eu sou o Lohan. - Olhei para sua mão pendurado. Isso é coisa de outro mundo. Um homem me tratando bem?

         - Olá. - Apertei sua mão. Ele ampliou o seu sorriso.

           - Sua mãe fala muito sobre você! - Ele diz. Deve ser, sem dúvida, o noivo dela.

           - Também fala muito sobre você. - Disse.

            - Sério? Eu não fazia ideia. - Lohan disse sorrindo para Celina.

           - Eu também não sabia. - Celina respondeu franzindo o cenho.

           - Não me digam que começaram a festa sem mim. - Ouvi uma voz maravilhosamente grave e sexy e passos nas escadas e me virei imediatamente.

          Um homem de cabelos pretos deliciosamente bagunçado, com uma pólo branca e calças Jeans azul escuro, com um corpo de perder o fôlego, desceu os últimos degraus com uma mão no bolso e outra passando pelo seu cabelo sedoso, e em seu rosto um sorriso deslumbrante. A personificação da beleza masculina.

         Ele chegou até mim ainda sorrindo. Fiquei emburrada.

          - Muito prazer em conhecê-la, Gabriela. - Seu sorriso desapareceu, e seu rosto ficou sério. Ainda assim era lindo.

- Sou Santiago. O noivo da sua mãe.

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